Quinze dias depois...

1217 Words
Sarah Fiquei esperando, dia após dia, meu celular tocar, esperando ouvir as desculpas que nunca vieram. Cada vez que olhava para aquele celular, uma parte de mim ainda esperava por um sinal dele, uma mudança de coração, uma tentativa de consertar o que estava quebrado. No entanto, conforme os dias se arrastavam, ficou claro que ele não faria nenhum esforço para me alcançar. Bloqueei Pedro como uma forma de autopreservação, uma barreira entre nós para evitar mais dor. É engraçado como as coisas mudam. Antes, eu era a que desejava desesperadamente que ele me procurasse, e agora sou eu quem toma a iniciativa de cortar os laços. Não é por falta de amor ou desejo de reconciliação, mas sim por uma necessidade de proteger meu coração e minha sanidade emocional. Se Pedro realmente quiser falar comigo agora, ele terá que encontrar outra maneira, pois meu celular permanecerá em silêncio para suas tentativas de contato. Pedro Duas semanas se passaram desde que Sarah saiu da minha vida, mas eu não tomei a iniciativa de procurá-la. Dei a mim mesmo um tempo, ou pelo menos foi o que pensei. No entanto, é claro que meu orgulho foi quem realmente me impediu de ligar. Esperava secretamente que ela fosse a primeira a fazê-lo, talvez sentindo-se culpada por ter tomado sua decisão unilateralmente, sem considerar meu ponto de vista. Mas agora me deparo com uma situação inesperada: ela me bloqueou. Isso só piora as coisas. Paro a caminhonete em frente ao portão de casa, mas hesito em entrar, perdido em meus pensamentos. As palavras ásperas que trocamos ainda ecoam em minha mente, e o peso da minha raiva se mistura com o arrependimento. Não duvido nada que a minha ruivinha geniosa não me procure nunca mais. Deus! Onde eu estava com a cabeça? Meu pai aparece na varanda, apoiado em suas muletas, e sua presença só aumenta minha agitação. Eu ergo meus olhos e dou com o velho me olhando com uma cara de bicho do mato. — Quanto tempo vai resistir às minhas palavras de ficar nesse emprego de m..., ele começa, mas o interrompo. —Bom dia, pai — cumprimento, tentando evitar discussões. —Bom dia? Um m*l dia. Estou com a artrite atacada hoje. Você deveria estar trabalhando comigo na destilaria. Uma luz me ilumina com o entendimento da minha reação ao saber que ela estudaria longe de mim: eu ando nervoso com o velho, a, o trabalho está puxado. Estamos marcando o gado e vacinando. Separando animais para a festividade e somando-se a isso, saber que ela ficaria quatro anos longe de mim.... Sim. O animal dentro de mim se revelou e eu explodi. Perdi a cabeça e acabei descontando em Sarah. Afasto meus pensamentos não quero que ele me veja sofrendo. Meu pai adora me infernizar. — Pai, não vou discutir isso agora — corto antes que ele insista—Hoje estou de folga. Vou poder te dar uma ajuda. —Hoje? Hoje só não adianta. Filho. Larga esse seu trabalho. Eu e você trabalhando juntos no nosso negócio, o faríamos crescer. Meu pai é um iludido. Aquele mecanismo todo para destilar bebida funciona, mas uma hora vai dar m***a. Não temos licença para funcionar. Vendemos bebida clandestina. Uma coisa é certa: a cachaça do velho é gostosa, o sabor, o aroma é o melhor da região, mas a forma que é produzida e de uma maneira arcaica. Precária. Ele é cabeça dura e não entende isso. —Pai, não vou discutir isso com o senhor. —Se tivesse o seu negócio próprio, prosperando, talvez Sarah não teria ido embora. Você acha que ela vai querer se unir a um zé ninguém? Isso é golpe baixo! Eu travo os meus dentes e aperto as minhas mãos tentando controlar-me. — Pai, Sarah que se dane! — digo para ele, mesmo não sentindo isso. — Acabou. Então se ela ia gostar de mim assim ou assado, não faz diferença. De repente me vem uma voz cheio de revolta: Faça isso uma verdade. Você precisa esquecê-la. Passo por ele e vou em direção a casa. O cheiro de café está no ar. Ele deve ter feito agorinha. Eu me sirvo de um xícara. Meu pai entra na cozinha. — Por que levantou tão cedo então, se não foi por desgosto? Tenho certeza de que ficou a vaguear aí como um zumbi. Sim, levantei cedo porque perdi o sono pensando nela e aproveitei dei um pulo na fazenda; — Levantei cedo porque tem uma vaca que está para dar à luz. Fui lá vê-la —digo, ocultando a outra parte da verdade. — Duvido, você fica aí, se corroendo por ela. Desde que a conheceu virou um ermitão, não saiu com mais nenhuma. Na sua idade? Eu já teria comido um monte sem ela saber. Eu olho para o alto e conto até dez. Então o encaro: — É verdade. Nunca tive olhos para outra mulher. Também, não precisava. Ela era o suficiente para mim, mas como eu disse, acabou. E vou tocar a minha vida. Vou sair mais. O senhor vai ver. —digo já cheio de revolta. —Pedro. Filho. Você poderia dar uma guinada em sua vida. Já pensou, quando ela chegar e ver a destilaria bem? Você tocando o seu negócio. Juntos o faremos crescer. —Pai... —Deus! Será que preciso desenhar? —o que fazemos é algo ilícito. O senhor não enxerga isso? Temos que gastar muito dinheiro para torná-lo lícito. Fora isso, a prefeitura, com certeza, irá desaprovar o layout do lugar. Não tem ventilação. Seus equipamentos são do tempo do vovô. Tudo é muito arcaico. —Quem disse em legalizar? Vamos ganhar dinheiro. Não esse salário de proletário que você ganha. —Pai. Pensa! Vendendo bem as nossas bebidas, ela ficará mais exposta. Quanto mais venda, mais exposição. Aí, vem a vigilância sanitária. A prefeitura, a polícia, o d***o a quatro e eu fico sem o meu emprego e sem o negócio. Meu pai aperta os lábios. —Você é inteligente, dará um jeito de vender as nossas bebidas sem chamar atenção. Deus! —Pai, sem chance! O seu sonho não é o meu. —Essa é boa! Qual é seu sonho, então? Trabalhar para os outros a vida inteira? E quando não tiver mais saúde como eu? Eu lavo a xícara de café e o encaro. —Meu sonho sempre foi casar-me com Sarah. Eu, no fundo, esperei que o pai dela me desse a oportunidade de trabalhar para eles. —Pronto! Falei! Meu pai meneia a cabeça. —Em que mundo você vive? Já viu o tamanho da fazenda deles? Quem é você Pedro? Sabe como eles te veem? Um aproveitador. Uma pessoa que vai querer estar com Sarah para se beneficiar de tudo. Eu passo a mão nos cabelos com raiva e o encaro. —Pai. Hoje eu ire ajudar o senhor. Mas não quero um pio. Esse assunto precisa morrer aqui. De Sarah, da destilaria, do meu trabalho. —Então ficaremos mudo. Eu não tenho outro assunto. —Ótimo, mudos então! Boca fechada! Agora vamos! Meu pai bufa antes de pegar as muletas e sair da cozinha, pega o corredor que o levará para os fundos da nossa casa, onde fica a nossa dita “empresa”.
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