Um mês depois...

1586 Words
Pedro Estou no bar, cercado por risos e vozes animadas que dançam ao redor, mas não consigo me unir à alegria que parece preencher o espaço. Marcos e os rapazes que trabalham comigo compartilham piadas, mas cada som que chega aos meus ouvidos soa distante, como se estivesse mergulhado numa bolha de tristeza. Desde que Sarah me deixou, a felicidade se tornou uma lembrança distante, um eco distante que não consigo alcançar. Bebo a cerveja gelada, cada gole representando uma tentativa desesperada de afogar a dor que ela me causou. O líquido amargo desce pela minha garganta, e com ele vêm os pensamentos sombrios que se misturam à espuma da bebida. Sinto as palavras ásperas do meu pai reverberando na minha mente como um zumbido constante, mas distante. "Pare de sofrer, Pedro! Sarah nunca se ligaria a um homem como você. Bola para frente!" Ele disse isso com uma frieza que corta mais fundo do que qualquer lâmina. Essas palavras cortantes perfuram a minha alma, alimentando a escuridão que há muito se aninhou dentro de mim. Às vezes, sinto como se a própria tristeza fosse um velho amigo, sempre à espreita, pronto para me acolher quando menos espero. Enquanto tento afastar as palavras dolorosas do meu pai da minha mente, elas continuam a ressoar, como um eco que não se dissipa. "Você nunca será bom o suficiente para a família dela, Pedro. Sempre será um Zé ninguém." A sua voz ressoa na minha cabeça, carregada de desaprovação e desprezo. Cada palavra é um golpe, reabrindo as feridas emocionais que luto para curar desde que conheci Sarah. O peso das suas expectativas sobre mim é um fardo que m*l consigo suportar, e isso se intensifica quando me lembro dela. À minha volta, vejo rostos sorridentes e risadas contagiosas, mas me sinto como um estranho nesse mundo de felicidade aparente. Estou preso em minha própria prisão de tristeza e autopiedade, incapaz de escapar do ciclo vicioso de dor e autodestruição. O riso dos outros parece um insulto à minha dor, e cada risada que ecoa me lembra o que perdi. Marcos, ao meu lado, tenta animar o ambiente, mas sua voz parece distante, como se estivesse falando de dentro de um túnel. Ele balança os ombros, tentando puxar-me para o momento presente. — Vamos lá, cara, levante o astral! A vida continua, você sabe. — Ele diz isso com um tom encorajador, mas suas palavras são apenas um eco distante no meu estado de desespero. Eu me esforço para encontrar alguma solução temporária para aliviar a dor, mas cada gole de cerveja parece apenas aumentar o vazio dentro de mim. A música alta e as risadas ao meu redor tornam-se abafadas enquanto mergulho mais fundo na minha própria melancolia. Uma sensação de impotência se apodera de mim, como se eu estivesse preso em uma tempestade sem saber como escapar. A imagem de Sarah, sorrindo para mim como costumava fazer, é agora apenas uma lembrança distante, perdida nas sombras da minha mente atormentada. O brilho nos olhos dela, a maneira como os seus lábios se curvavam em um sorriso, tudo isso me parece tão inatingível agora. E, em meio a toda essa dor, um vazio imenso cresce dentro de mim, como se a própria essência da felicidade tivesse sido arrancada, deixando apenas a escuridão. Então, Raquel se aproxima, a sua voz suave e sedutora cortando o ar carregado do bar. Ela é uma figura vibrante em meio ao meu estado sombrio, e seu sorriso brilha como uma luz em um túnel escuro. — Ei, Pedro. Posso me juntar a você? — pergunta ela, com um olhar que promete prazer e escapismo. Dou de ombros, a minha mente embriagada tentando se focar. — Claro, sinta-se à vontade. — A resposta sai mais automática do que eu gostaria. — Vejo que você não está no seu melhor humor hoje. Algum problema? — Raquel observa, sua preocupação aparentemente genuína. — É complicado... Coisas de família, sabe como é. — Respondo, um peso na voz, a luta interna se tornando visível em cada palavra. — Ah, entendo. Mas às vezes é bom deixar esses problemas de lado e se divertir um pouco, não acha? — sugere ela, um brilho travesso em seus olhos. — Não estou vivendo dias bons. — Admito, a frustração escapando em um suspiro profundo. — Bem, talvez eu possa ajudar nisso. Afinal, um homem tão charmoso como você não deveria estar se lamentando no canto do bar. — Raquel diz isso com um tom provocante, afasta o meu cabelo do olho, numa intenção clara de me provocar. Eu olho para ela e, embora a ache bonita, o pensamento de Sarah me assombra. A memória da minha ruivinha é um fantasma que não posso exorcizar. — Obrigado pelo elogio, mas não sei se estou pronto para me divertir hoje. — Respondo, a sinceridade pesando em cada palavra. Raquel coloca a mão no meu braço, seu toque é leve, mas quente. — Vamos lá, Pedro. Deixe-me te fazer esquecer seus problemas por um tempo. Tenho certeza de que posso te fazer se sentir melhor. — Raquel se aproxima um pouco mais, sua presença é quase hipnotizante. — Confie em mim. Vamos viver um pouco, sem preocupações. Eu hesito por um momento, a lembrança de Sarah me assombrando como uma sombra. O que estou fazendo? Mas a promessa de escapismo que Raquel oferece me faz refletir se devo mesmo ficar preso ao passado. Quem sabe ela me traz algum conforto, ainda que seja por algumas horas? A ideia de sentir algo, qualquer coisa que não seja dor, se torna tentadora. Sorrio, de repente me sentindo atraído pela energia vibrante de Raquel. — Sem amarras? — Pergunto, buscando confirmar a liberdade que ela promete. — Sem amarras. — Raquel responde, com um sorriso travesso brincando em seus lábios, e isso me dá um pequeno empurrão em direção à decisão. Pondero por mais alguns segundos, a batalha interna se intensificando, mas finalmente cedo ao impulso de deixar meus problemas de lado, pelo menos por um instante. Eu sei que isso não resolverá nada, mas naquele momento, o alívio imediato é irresistível. — Está bem. — Concordo, cedendo à tentação. — Vamos viver um pouco, sem preocupações. Raquel sorri, satisfeita por ter conquistado minha companhia na noite. Juntos, mergulhamos na atmosfera do bar, abandonando as preocupações e as memórias dolorosas, pelo menos por enquanto. A música embala nossos corpos, e me sinto flutuar entre a tristeza e a alegria que a presença dela provoca. — É assim que se fala. Garanto que você não vai se arrepender. — Ela diz, e, mesmo sem ter certeza, um lampejo de esperança surge em meu peito. Levanto o copo de cerveja: — Então, vamos brindar a uma noite cheia de surpresas. — O brinde ecoa como uma promessa de novos começos. — Às surpresas e à vida! — Raquel responde, seus olhos brilhando como estrelas. E assim, envolvidos pela promessa de uma noite diferente, bebemos juntos e dançamos. A atmosfera descontraída do bar aos poucos me envolve, e por um breve momento, consigo abandonar as preocupações e tristezas que me assombram. Saímos do bar juntos, envolvidos em uma névoa de desejo. O álcool queimando em minhas veias, obscurecendo minha mente e amortecendo a dor. Em um motel próximo, na calada da noite, nos perdemos um no outro. Os sentimentos são confusos, mas o desejo é palpável, uma chama que arde em meio à escuridão que me cerca. No calor do momento, entregamo-nos ao desejo, abandonando os grilhões da tristeza e da solidão. Coloco a c*******a e me perco nos braços dela, numa fuga desesperada da realidade sombria que me cerca. Cada toque, cada suspiro, é um lembrete do que perdi, mas também um alívio temporário que me faz esquecer, mesmo que por pouco tempo. Mas, como todas as coisas nesta vida, o êxtase do prazer é efêmero. Quando o amanhecer chega, sou invadido pela ressaca física e emocional. O sol invade o quarto, trazendo à tona não só a luz, mas também a realidade que eu tentei tão desesperadamente evitar. Raquel olha para mim com um sorriso que parece desvanecer. — Bom dia, dorminhoco. Como se sente? — Ela pergunta, sua voz doce contrastando com a dor que sinto. — Cansado. — Respondo, a palavra saindo como um sussurro, carregada de uma fragilidade que me faz sentir exposto. — Ah, a ressaca batendo, não é? Mas foi uma noite e tanto, não foi? Ainda bem que é domingo. Podemos passar o dia na cama, almoçar juntos... — A esperança na voz dela é palpável, mas algo dentro de mim se revira. — Desculpe frustrar seus planos, mas depois de um bom banho, eu pretendo ir para casa e me recompor para enfrentar o dia seguinte. — Falo, a necessidade de ser honesto com meus sentimentos pesando em cada palavra. — Você está me dispensando? — O tom de Raquel muda, e a decepção em seu rosto é quase palpável. — Na verdade, Raquel, desculpe dizer, mas eu nem sei o que estou fazendo aqui. — Minha resposta é quase automática, minha mente ainda emaranhada em pensamentos turbulentos. Ela respira fundo, tentando manter a compostura diante da rejeição. Sinto um peso no peito ao vê-la assim, uma dor que não esperava sentir. Decido suavizar a situação. — Posso tomar banho primeiro? — Pergunto, buscando um momento de pausa para organizar meus pensamentos. Ela força novamente o sorriso, resignada. — Tudo bem, pode ir, não estou com pressa de sair.
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