Seis meses separados...

1567 Words
Sarah Sarah Na casa de minha tia, envolvida em uma rotina que se torna familiar, uma sensação de contentamento mistura-se com a inquietação que habita meu peito. Estou prestes a fazer uma escolha que pode mudar tudo: voltar a procurar Pedro. Seis meses se passaram desde que ele se foi, e a saudade pulsa dentro de mim como um tambor, constante e rítmico, um lembrete incessante da ausência dele. O desejo de resolver as coisas, de sentir sua presença ao meu lado novamente, me consome. Depois das aulas, enquanto caminho pela rua em direção à casa, meu coração pulsa em um ritmo acelerado, ansioso pelas palavras que quero compartilhar. m*l posso esperar para vê-lo novamente, para confrontar os sentimentos que deixamos em aberto. No entanto, o destino, sempre imprevisível, decide que meu reencontro com Pedro não será tão simples. Ao subir a escada de casa, minha mente está absorta em pensamentos sobre o que direi, como olharei em seus olhos e confessarei a saudade que me atormenta. Mas, em um instante, tudo muda. Um passo em falso, e estou no chão. O mundo gira ao meu redor, e a dor cortante que sinto ao torcer o pé é a minha realidade imediata. É como se a vida tivesse parado por um breve momento, e a única coisa que consigo sentir é a agonia que se espalha pela minha perna. As lágrimas brotam espontaneamente enquanto tento me recompor. O desespero toma conta, e uma onda de pânico se segue à dor. Minhas mãos tremem enquanto pego o celular e chamo uma ambulância. Esperar pelo socorro parece uma eternidade, e cada segundo se arrasta. Eu penso em como esse acidente pode arruinar todos os meus planos de me reconciliar com Pedro. A ideia de perder essa oportunidade me deixa angustiada, um nó se formando em meu estômago. Quando a ambulância finalmente chega, a sensação de alívio se mistura com uma nova onda de ansiedade. O caminho para o hospital é repleto de pensamentos confusos e uma única certeza: esse contratempo não pode me impedir de buscar o que realmente quero: Pedro. Os paramédicos são atenciosos, mas a dor em meu tornozelo parece roubar minha atenção. A sala de emergência é fria e impessoal, e a espera por atendimento parece um eco do meu estado emocional. Depois de ser diagnosticada com uma fratura no tornozelo, sou colocada em uma sala de espera. A frustração me consome. O silêncio ao meu redor é ensurdecedor. Enquanto olho para o teto branco, começo a pensar em como tudo isso se encaixa na minha vida. Não é apenas uma perna quebrada; é uma barreira física entre mim e a reconciliação que tanto desejo. Mesmo assim, a determinação cresce dentro de mim. Esse contratempo não me impedirá de buscar o que realmente quero: Pedro. Com uma mão trêmula, ligo para meu pai. O nó na garganta me impede de falar, mas sua voz grave me acalma um pouco. — Alô? — diz ele, sua preocupação evidente. — Pai, — começo, a voz falhando, — eu preciso te contar o que aconteceu… O silêncio do outro lado da linha parece palpável, e eu posso sentir a tensão aumentando. — O que aconteceu, Sarah? Você está bem? — a ansiedade e o cuidado em sua voz fazem meu coração se apertar. Conto tudo, a dor, o acidente, a frustração de não poder ver Pedro. Quando termino, um alívio sutil me envolve. Ele fica em silêncio por um momento, como se estivesse processando as informações. — Mas eu volto mesmo assim para casa, — insisto, determinada a não deixar a situação me dominar. — Nada disso, você ficará quietinha aí. É uma ordem, Sarah. — A autoridade na voz dele não deixa espaço para contestação. Engulo em seco, sabendo que discutir com ele quando está decidido é inútil. — Mas pai... — tento insistir, mas ele não me deixa continuar. — Sarah! Você ficará em São Paulo e nos veremos em dezembro. Fim da história. — A firmeza na voz dele me cala. — Tudo bem, nos veremos em dezembro então, — cedo, sentindo a resignação se apoderar de mim. — Está certo, meu anjo. E não abuse. Fique quietinha se recuperando. — O tom carinhoso dele traz um pouco de conforto, mas não consegue abafar a saudade que sinto. — Te amo, papai, — murmuro, a distância entre nós se tornando quase palpável. — Eu também, meu anjo. — Ele responde, suas palavras como um abraço à distância. — Pai, caso Pedro me procure, avise-o do ocorrido e diga para ele ligar para mim, — peço, na esperança de que a ligação possa acontecer em breve. — Eu aviso. Não se preocupe com isso. — A segurança em sua voz me acalma um pouco. — Beijos então. Agora deixe-me falar com sua tia, — digo, indicando o fim da conversa. — Está certo. Beijos. — Desligo o telefone com um suspiro pesado, a sensação de solidão envolvendo o meu coração. Pedro Seis meses se passaram desde que Sarah partiu. A ideia de que tanto tempo passou sem sua presença é quase insuportável. Cada dia sem ela é uma repetição da dor, como se uma parte de mim estivesse faltando. A casa, que costumava ser um refúgio, agora parece um labirinto de lembranças. A cada canto, vejo ecos de momentos felizes, risadas compartilhadas e promessas feitas. A rotina se torna uma prisão. Ao acordar, espero encontrar uma mensagem de Sarah, mas sempre é o mesmo: a tela do celular apenas me devolve a frustração. Cada toque no meu telefone faz o meu coração acelerar, mas logo a expectativa se transforma em decepção. Revivo memórias, o riso dela, a forma como seu olhar brilha ao falar sobre os seus sonhos. É como tortura, cada lembrança agudizando a saudade que sinto. O calor de julho chega, mas não traz a alegria que espero. Ao invés disso, traz um desespero ainda maior. Quando soube que ela estaria de férias, meu coração disparou. Esperei ansiosamente por uma mensagem, uma ligação. Mas o silêncio é a única resposta que recebo. O tempo parece se arrastar enquanto a incerteza cresce. Decido que não posso mais esperar. Preciso vê-la. A ideia de ir à fazenda da família de Sarah me enche de esperança e apreensão. Cada passo em direção àquela propriedade é como caminhar em direção ao desconhecido. O calor do sol reflete a minha ansiedade, e a imagem da casa se aproxima, trazendo um misto de nostalgia e medo. Será que ela ainda quer me ver? Ou terá seguido em frente, como o meu pai insiste? Ao chegar, sou recebido pelo senhor Armando Padovani, o patriarca da família. Seu sorriso, que antes me acolhia, agora parece uma armadilha. Ele me olha com curiosidade. — Pedro, que surpresa agradável. O que o traz à minha propriedade hoje? — pergunta, sua expressão cordial, mas seus olhos têm uma cintilação de preocupação. Tento manter a compostura, mas a inquietação dentro de mim é palpável. — Senhor Padovani, vim por Sarah. Gostaria muito de falar com ela. Acredito que ela já tenha chegado de viagem para as férias. A expressão do senhor Padovani se torna grave. Sinto meu coração disparar. Há algo em sua postura que me deixa nervoso. — Pedro, Sarah decidiu ficar em São Paulo durante as férias. Ela encontrou novos amigos e está aproveitando a cidade. Parece que ela está se divertindo bastante por lá. As palavras dele são como um golpe. A verdade se espalha em minha mente, como um veneno. Uma onda de desespero me invade, e me pergunto se realmente já é tarde demais. A ideia de que ela pode estar com alguém novo me fere como uma faca afiada. — Esqueça a minha filha. Sarah está seguindo o seu próprio caminho agora. Ela é jovem e precisa explorar o mundo além das nossas terras. Talvez seja melhor para ambos seguir em frente. Acredito até que ela esteja conhecendo alguém. Com um nó na garganta, agradeço ao senhor Padovani por seu tempo e saio. A sensação de desamparo me envolve. Cada passo de volta para casa é mais pesado que o anterior. A imagem de Sarah se divertindo em São Paulo, longe de mim, é uma ferida aberta que me corrói por dentro. O que poderia ter sido, o que deveria ter sido... tudo agora parece uma dolorosa ilusão. Os dias se transformam em semanas, e mergulho na rotina da fazenda como uma forma de fuga. Cada tarefa que realizo se torna um mecanismo automático, um esforço para desviar a mente da dor que não me deixa. Enquanto lavro a terra ou cuido dos animais, minha mente se perde em devaneios sobre Sarah, sobre os momentos que passamos juntos e o futuro que construímos nas nossas conversas. No entanto, a lembrança do seu sorriso e a sua risada ecoa em cada canto. O campo se torna um reflexo da minha tristeza, as flores murchando sem a luz que Sarah trazia. A conexão que tínhamos está desgastada, e me pergunto se conseguirei encontrar uma maneira de recuperá-la. Em um momento de vulnerabilidade, pego o celular e abro o aplicativo de mensagens. As palavras se formam na tela, mas não consigo enviá-las. O medo da rejeição é paralisante. O que diria? Como poderia explicar o que sinto, agora que ela está longe? A coragem me abandona, e, com um suspiro pesado, fecho o aplicativo.
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