Alice...
— Maldito... maldito seja você, Erick! — comecei a gritar, espernear, surtando totalmente assim que ele me contou sobre o casamento que tinha arranjado para mim. — Eu te odeio, ouviu bem? Eu te odeio do fundo do meu coração!
— Não me faça perder a cabeça com você, Alice. Que eu saiba, você não é dona de si mesma. Portanto, quem decide se esse casamento vai acontecer ou não sou EU! — Me assustei quando ele bateu na mesa do escritório com força, levantando-se logo em seguida e vindo na minha direção com a raiva estampada nos olhos.
— Vamos ver, então! — Antes que ele pudesse se aproximar de mim, saí correndo com os olhos cheios de lágrimas. Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo justo comigo.
— Alice!
— Vai pro inferno, Erick! — Desci as escadas o mais rápido que pude, mas logo fui interrompida por um dos seguranças do meu irmão. — Sai da minha frente, AGORA!
— Sinto muito, senhorita Sullivan, mas eu não posso fazer isso.
— Me solta, seu desgraçado!
— Você vai ficar trancada no seu quarto, senão eu acabo fazendo alguma besteira com você, Ali. — Chutei, gritei, esperneei naquela porta, implorando para que ele não me deixasse trancada ali dentro. i****a! Era tudo o que eu conseguia pensar em meio às minhas lágrimas. A dor que eu sentia no peito era fruto da decepção que acabara de ter com meu irmão. O homem em quem eu mais confiava acabara de me apunhalar pelas costas da pior forma possível: entregando minha mão em casamento a um homem que eu nunca sequer ouvi falar.
Acho que depois de umas duas horas debaixo daquele chuveiro frio, finalmente consegui me acalmar um pouco. Me deitei na cama e parei pra pensar em como seria minha vida dali pra frente.
— Com licença, senhorita Sullivan. O senhor seu irmão pediu para que eu trouxesse seu jantar.
— Tô sem fome, Suzana!
— Desculpa a intromissão, mas... o que a senhora aprontou dessa vez?
— Por incrível que pareça, nada. — Ela fechou a porta e se sentou ao meu lado na cama.
— Quer desabafar?
— Quero. — Respirei fundo antes de falar qualquer coisa. — Meu irmão me apunhalou pelas costas.
— Como assim?
— Ele vai me obrigar a casar com um homem desconhecido por causa de uma droga de aliança entre as máfias.
— Ah... sinto muito, mas eu já sabia, Alice. — Levantei minha cabeça do colo dela, observando-a. — Não me olhe assim. Se eu te contasse, seu irmão seria capaz de me matar por isso.
— Eu sei... desculpa. — Voltei a deitar no colo dela, ficando em silêncio por alguns minutos antes de quebrá-lo. — Como você sabe disso?
— Seu futuro marido esteve aqui há alguns dias. — Bingo. Ele só podia ter vindo quando eu e a Sarah estávamos fora. — Don, é assim que seu irmão se referia a ele.
— Ótimo. Estou condenada a me casar com um monstro.
— Veja pelo lado bom... ele é um gato, mesmo com a idade que disseram que ele tem.
— Sério, Suzana? Lado bom? — Ela começou a rir, me fazendo soltar umas boas gargalhadas. Ficamos assim por uns 15 minutos, até chamarem por ela.
— Boa noite, Suzana.
— Boa noite, senhorita Sullivan.
Acordei com uma baita dor de cabeça, resultado da noite turbulenta de ontem. Me levantei rapidamente, porque tudo o que eu queria era sair daquela casa, nem que fosse por um minuto. Desci as escadas lentamente, vendo que o maldito do meu irmão ainda estava em casa, junto com sua esposa, que havia chegado de viagem.
— Bom dia, minha irmãzinha!
— Vai se f***r, Erick.
— Olha a boquinha suja, minha irmã. Não me faça perder a cabeça com você, garota.
— Que se f**a. Se você não quisesse minha rebeldia, não teria feito o que fez.
— O que meu marido fez pra te deixar desse jeito? — Sarah perguntou. Só então percebi sua presença ali.
— Pergunta pra ele, porque eu tô de saída.
— Eu ainda não terminei com você. — Ele se levantou, segurando meu braço com força, me machucando de verdade.
— Erick, você tá me machucando!
— Pouco me importa. Eu tento ser compreensivo com você, mas minha paciência tem limite.
— Bastardo filho da p**a.
— Olha, ficou brava, irmãzinha? Vai treinando mesmo seu italiano, porque seu noivado é daqui a dois dias.
— Eu te odeio. — Puxei meu braço com força, fazendo com que ele me soltasse de imediato. Voltei a olhar para Sarah, que estava estática, sem reação. — Então você já sabia, e mesmo assim mentiu pra mim descaradamente.
— Eu não podia te contar, mesmo se quisesse. Eu... eu te peço desculpa...
Nem terminei de ouvir o que ela tinha pra dizer. Peguei minha bolsa e saí daquela casa o mais rápido possível.
— Pra onde, senhorita Sullivan?
— Me leva pra casa da Mari, por favor.
— Como a senhorita quiser.
Passei o caminho inteiro chorando no cantinho onde estava sentada, aos olhares preocupados do motorista. Minha vida tinha se tornado um verdadeiro inferno, e eu não podia mais confiar em ninguém ao meu redor. Eu sempre sonhei em me casar... mas com alguém que eu amasse de verdade. Que droga! Eu nem ao menos sei quem é esse tal de Don. Como o meu irmão pôde fazer uma coisa dessas comigo...