cap 13 chegou a hora

1170 Words
Alice... Nesse exato momento, estou sentada em frente à janela, sentindo o vento frio bater no meu rosto, secando as lágrimas que ainda molham minhas bochechas. Olho para o céu, que aos poucos vai se iluminando com os primeiros raios do sol, imaginando como será minha vida a partir de hoje. Por incrível que pareça, não consegui pregar os olhos essa noite por causa dessa angústia que sinto aqui dentro do peito. É bem possível que eu esteja com várias olheiras, mas nada que uma maquiagem bem forte não resolva. Desde a hora que me levantei e sentei aqui, estou pedindo a Deus que as horas passem rápido, pra acabar logo com essa palhaçada. Só que, quanto mais eu peço, mais elas demoram a passar. Que merda! Tudo o que eu quero agora é que esse maldito casamento aconteça de uma vez, porque quanto mais eu me negar a aceitar, mais difícil será minha convivência com o Rodrigo nessa casa. Não n**o que estou abalada, magoada e com muita, mas muita raiva de mim mesma por não ter conseguido fazer nada pra impedir que as coisas chegassem até aqui. Tomo um banho bem rápido e visto a primeira roupa que encontro pela frente. Pego minha bolsa e um óculos escuro pra esconder essas olheiras enormes no meu rosto. Desço as escadas correndo, com uma sensação estranha de que alguém está me observando. Olho em volta pra ver se encontro o d***o escondido em algum lugar, mas provavelmente só o verei no altar — com a graça de Deus. Chamo meus cães de guarda e seguimos viagem até um spa um pouco afastado do centro da cidade. Queria que a Alice estivesse aqui... pelo menos ela me animaria um pouco. O lugar é realmente muito lindo, mas ainda assim bem luxuoso — a cara dessa família! Vou tentar aproveitar ao máximo minha manhã aqui nesse lugar, pois tudo que eu preciso antes do meu casamento é um pouco de paz. A partir de hoje, me chamarei Alice Ferrari e, com isso, me tornarei a grande esposa do Dom Rodrigo. Sei que, nesse meio, nós mulheres não temos direito a nada. Somos apenas escravas que fazem de tudo para satisfazer nossos maridos, enquanto eles se divertem com vagabundas por aí. Estamos nessa droga de vida apenas para sofrer abusos — físicos e verbais — e pra carregar nossos chifres como se não soubéssemos de nada. Mas, no meu casamento, eu pretendo mudar isso. Não vou ficar em casa, plantada, esperando meu digníssimo marido voltar da máfia e vir descontar toda a sua raiva em mim ou em quem quer que seja. Juro que não serei um mero brinquedo nas mãos dele. Agora, já estou em casa novamente, à espera da maquiadora e do cabeleireiro que contrataram pra me ajudar. Quanto mais a hora do casamento se aproxima, mais inquieta eu fico, quase furando o chão dessa casa de tanto andar pra lá e pra cá, feito uma barata tonta. Eu não sou de beber bebidas quentes, mas hoje resolvi abrir uma exceção, tomando uma boa dose de uísque pra ver se consigo acalmar os ânimos. Desde ontem, não vejo o Rodrigo — graças a Deus. Ninguém me tira da cabeça que ele está na casa da tal amante, se divertindo, enquanto eu fico aqui parecendo uma i****a. Começo a subir as escadas quando escuto alguém me chamar bem baixinho. Primeiro penso que é a Ruth, nossa governanta, mas logo reconheço a voz me chamando de novo. — Alice. Desço as escadas praticamente pulando os degraus e dou de cara com meu irmão e minha cunhada parados no meio da sala. — Oi, meu amor. Como você está, querida? — Bem... na medida do possível — respondo, e ela sorri timidamente, me abraçando com força mais uma vez. — Oi, irmãzinha — meu irmão se aproxima e, por um segundo, eu me n**o a abraçá-lo, mas logo volto atrás. — Senti sua falta. — Eu também. — Eu nem sabia que sentia tanta falta desse i****a até esse momento. — Vem, vamos sentar. Ainda tenho um tempinho pra conversar antes do meu "casamento". — Como estão as coisas entre você e o Rodrigo? — meu irmão pergunta, me pegando um pouco de surpresa. — Não vou mentir, Eric. As coisas entre mim e ele estão indo de m*l a pior. E isso porque só se passaram dois dias. — Eu sinto muito, cunhada — ela me olha com pena. — Eu também sinto muito, minha irmã. — Sente mesmo, Eric? — Ele me olha confuso. — Olha, eu amo você, meu irmão, mas isso não significa que eu te perdoei pelo que fez. — Tem tanta mágoa na minha voz. — Eu sei. A Sophia subiu pro quarto de hóspedes pra descansar um pouco antes do casamento. Pode não parecer, mas eu conheço minha cunhada e sei que está acontecendo alguma coisa entre ela e meu irmão. Mas agora não é hora pra isso. Tenho problemas bem maiores pra resolver aqui. Começo a ficar angustiada quando vejo que os profissionais estão atrasados. Caramba! — Senhora! — Ruth se aproxima, me tirando dos pensamentos. — Eles acabaram de chegar. Posso autorizar a entrada deles? — Pode — falo, me levantando logo em seguida. Nem precisei dizer nada, e eles já começaram os trabalhos bem rápido pra compensar o pequeno atraso. Sei que mais cedo estava pedindo a Deus para que a hora passasse mais depressa, só que eu não imaginava que Ele atenderia meu pedido assim tão rápido. Acabei tomando uma iniciativa inesperada ali mesmo, na emoção do momento, quando o cabeleireiro me perguntou o que eu gostaria de fazer no cabelo. Já vinha pensando nisso há algum tempo, então decidi colocar em prática: cortei os cabelos na altura das costas e ainda os tingi de castanho. Optei por deixá-los presos em um coque não tão certinho — mais solto, com uma franja linda e algumas mechas soltas que batem no meu rosto. Na maquiagem, eu queria algo um pouco puxado pro artificial, porque, como vocês sabem, acordei com umas olheiras enormes hoje. Pedi algo mais marcante nos olhos, sugerindo que ela colocasse pedrinhas de brilhante falso ao redor do delineado que estava fazendo. Depois de quase duas horas de produção, cá estou eu — pronta pra entregar minha vida àquele homem. Me olho no espelho e quase não reconheço a mulher parada ali na frente. E não é só por causa da maquiagem ou qualquer outra coisa, mas porque meu semblante carrega uma tristeza que apaga qualquer rastro da menina sorridente e alegre que um dia eu fui. Aurora me ajuda a colocar o véu sobre a cabeça, junto com uma coroa de diamantes roxos feita especialmente para hoje por um dos maiores ourives do mundo, acompanhada de um colar idêntico. Escuto alguém bater na porta e digo para entrar. Minha cunhada, já toda arrumada, entra no quarto com uma caixa nos braços e, assim que me vê, começa a chorar feito criança.
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