Alice...
Parece que os dias passaram voando por aqui — pra alegria dos Ferrari e também do meu irmão. Claro que, pra minha tristeza.
Eu vou me casar com o Rodrigo em menos de dois dias. Hoje estou embarcando pra Itália com passagem só de ida pro inferno que ele chama de casa. Depois daquela nossa conversa no apartamento dele, na noite passada, não o vi mais por aqui. Tenho pra mim que ele voltou pra Itália logo depois de me deixar na porta de casa.
Confesso que fiquei preocupada com a reação do Erick por eu ter saído da festa sem ao menos falar com ele. Mas, muito pelo contrário, parece que ele ficou foi feliz com tudo isso. É um babaca mesmo! Aposto que, se fosse outra pessoa no lugar do Rodrigo, ele teria surtado, dizendo que eu estava querendo nos meter em uma encrenca daquelas. Ou que eu estaria selando minha vida ao desafiar o "d***o".
Agora tô arrumando umas coisas na mala pra essa merda de viagem. A Aurora me ligou hoje de manhã dizendo que meu vestido de noiva já estava pronto, mas que ainda faltavam alguns ajustes que precisavam ser feitos no meu corpo.
Ótimo. Pelo menos alguma coisa nesse casamento vai estar do meu agrado.
Quando termino, peço pra um dos capangas do meu irmão buscar a mala aqui no meu quarto. Começo a observar cada cantinho daquele lugar, relembrando só os bons momentos que passei aqui com o meu pai... mesmo que minhas lembranças dele sejam vagas. E também com o i****a do meu irmão.
Contenho minhas lágrimas ao máximo, já que eu havia prometido pra mim mesma que não choraria mais por causa disso. Mas não é fácil aceitar uma mudança de vida tão repentina. Ando pelo corredor, passando a mão nas paredes, ainda pensando em tudo que vivi aqui ao longo dos anos. Desço as escadas e percebo que não há ninguém na sala no momento. Sigo em direção à cozinha, parando em frente à minha fotografia pendurada no corredor.
Sempre achei que, quando meus sonhados 18 anos chegassem, eu seria livre pra escolher meu próprio destino. Tudo mentira.
Depois de tanto tempo, cá estou eu, pronta pra recomeçar minha vida em um lugar completamente desconhecido... ao lado de um mafioso. Que grande bosta!
— Senhora! Seu irmão está à sua espera do lado de fora da casa.
Suzana chama minha atenção, e eu apenas concordo.
— Senhorita Alice, faça uma boa viagem.
— Obrigada, Suzana.
— Nós vamos sentir sua falta.
Eu também, minha querida... eu também.
Nos abraçamos por um longo tempo. Limpei uma lágrima que insistiu em cair sem a minha autorização.
Volto pra sala, dou um último adeus àquele lugar e saio de vez.
— Rodrigo mandou um dos homens de confiança dele pra te buscar — meu irmão avisa, se aproximando.
— Posso saber por que não é você que vai me levar? — Jura que esse bastardo ia me levar. Droga!
— Me desculpe, mas são ordens dele, Alice... Não posso discutir com o Don sobre suas preferências. Você me entende, né?
Apenas concordo, vendo a aflição dele com minha partida pra Itália.
— Tudo bem, Erick — me aproximo e o abraço com força, sentindo a respiração dele falhar perto do meu ouvido.
— Eu te amo, meu irmão.
— Eu também te amo, minha princesa.
"Não chora, não chora", repito pra mim mesma, sentindo os braços dele me apertarem ainda mais forte, como se não quisesse me deixar partir. Ficamos assim por um tempo, sob os olhares dos outros.
— Alice, apesar de não sermos tão próximas, saiba que você sempre estará nas minhas orações. Eu amo você, cunhada — Sarah se aproxima com Pietro no colo, e eu os abraço de uma vez.
— Nos vemos depois de amanhã. Esteja preparada.
— Eu também amo você... amo vocês dois — dou um beijo na cabeça do meu sobrinho e passo a mão no rosto dela.
— T-titia... v-você vai embora?
— Infelizmente, sim — ele me abraça, e uma lágrima escorre no meu rosto.
— Não vai se despedir de mim, rapariga? — Mari se aproxima e dá um tapa no meu braço, me arrancando uma boa risada.
— Acha mesmo que eu ia esquecer da minha v***a preferida?
Nos abraçamos por um longo momento. Por um segundo, esqueço da minha promessa e me deixo cair em lágrimas.
— Não chora, nos veremos em breve — ela pisca, me fazendo sorrir.
— Até breve, minha amiga.
— Até — ela dá um beijo na minha bochecha.
— Agora nós temos que ir, senhorita Sullivan — um homem se aproxima.
— Tá bom — respondo, voltando minha atenção pros outros. — Tenho que ir agora. Então, por favor, melhorem essas caras. É o meu casamento, não meu velório pessoal — falo com ironia. Mas todo mundo aqui sabe o que eu realmente estava pensando naquele momento.
Entro no carro com o coração na mão por ter que deixar toda minha vida pra trás. Agora não tem mais volta. Meu destino é passar o resto da vida ao lado do Rodrigo.
Não demorou muito e chegamos ao aeroporto. Alguns seguranças já me aguardavam. Desço do carro e caminho em direção a um jatinho preto, luxuoso, estacionado no meio da pista.
— Desculpa... — falo, e o segurança me olha confuso. — Posso pelo menos saber seu nome?
— Sim, senhora. Eu me chamo Fillipo e serei seu segurança a partir de hoje.
— Ah, sim... — não digo mais nada e entro no jato de uma vez. Olho ao redor, reparando no quão luxuoso ele é por dentro. Meu Deus!
— O senhor Ferrari pediu que a senhora tomasse um calmante. Aqui está — ele se aproxima com um copo d’água e uma cartela de remédios. — Tem um quarto mais à frente. A viagem vai ser longa, é melhor descansar.
— Obrigada, Fillipo.
Depois de longas horas de voo, finalmente chegamos na Itália... pra minha tristeza. Sei que agora realmente não tenho mais pra onde fugir.
Filippo me acorda gentilmente assim que pousamos. Passo as mãos no rosto várias vezes, tentando assimilar toda aquela situação. Desço do jatinho e dou de cara com o Rodrigo, parado um pouco mais à frente, rodeado de seguranças.
Respiro fundo e começo a andar em sua direção, vendo ele me observar por cima dos óculos escuros. Não trocamos uma palavra. Só olhares... que me deixaram bem constrangida.
— Não vai falar comigo, não, cunhadinha? — Vejo Arthur se aproximar, alegre como sempre. — Seja bem-vinda.
— Ahh... obrigada!
— Como foi a viagem?
— Hum... boa, eu acho. Dormi o voo inteiro — respondo, meio envergonhada.
— Eu sei, só perguntei por educação.
— Andiamo, voi due. Non ho tutta la notte.
(Vamos logo, vocês dois. Não tenho a noite toda.)
— Andiamo, andiamo(já vamos , já vamos ) — Arthur responde com ironia, me fazendo sorrir.
Caminhei em silêncio até os carros. Meu cunhado entrou no da frente, me deixando sozinha com meu querido noivo.
— Dove mi stai portando, Don Rodrigo?
(Pra onde está me levando, Don Rodrigo?) — pergunto assim que ele entra no carro ao meu lado.
— Pra minha casa... ou melhor, nossa casa, Alice.
Sinto um frio percorrer meu corpo, o peso do olhar dele em mim por alguns instantes.
Droga. Nem nos casamos ainda e eu já vou ter que viver sob o mesmo teto que esse crápula...