[...]
Eliza chegou atrasada a Burlesque.
O local já estava um praticamente cheio.
Passou rapidamente pelo corredor em direção ao camarim, quando encontrou Rinna, que era uma espécie de gerente daquele lugar. Ex-dançarina, praticamente inaugurou o local, dezenove anos atrás.
– Que demora Liza! - A loira de olhos azul-esverdeados lhe deu uma bronca.
– Desculpa, perdi a hora. - Justificou-se envergonhada.
– Tudo bem, mas não faça mais isso. Ah, hoje você vai apresentar o último show da noite. - Avisou com um sorriso nos lábios.
Rinna sempre teve certa afeição por Eliza.
– Eu? Mas o último show sempre foi da Leila - Lembrou bastante surpresa com a novidade.
– Eu sei, mas todos adoraram a sua apresentação de ontem e Jack decidiu assim. - Explicou e ela sorriu. - Você sabe como Jack é. Está sempre pensando naquilo que vai lhe dar mais lucro.
– Sei sim, vou me arrumar. - Ela deu um beijo na bochecha da loira e saiu dali.
Quando entrou no camarim, notou a presença de Beatrice.
A mesma estava se olhando no espelho, enquanto se maquiava.
– Deve estar feliz, não? - A mulher perguntou com um ar de ironia.
– Não sei do que você está falando. - Eliza respondeu se fazendo de desentendida, mas se sentindo satisfeita por ter de certa forma, vencido sua rival.
Eliza e Leila jamais se deram bem, desde que a jovem entrou na Burlesque, pois a segunda nutria certa inveja de Liza, que sempre fez mais sucesso que ela nos palcos.
– Hoje você será a última apresentação da noite. - A dançarina disse entre os dentes.
– Eu sei. - A jovem confirmou, revirando os olhos e reparando na vestimenta da garota, que usava um vestido dourado bem curto, salto alto e um chapéu preto.
– Você ta querendo o que garota? Roubar meu lugar? Daqui há pouco vai querer roubar meus clientes também! - Leila disse parecendo furiosa.
– Vá pro inferno, Leila! Você sabe muito bem que não sou da sua laia. - Liza xingou e a mulher nem retrucou, pois já estava na hora de se apresentar.
A morena voltou a focar em sua maquiagem e Leila saiu dali.
Depois, Eliza foi no closet pegar seu look da noite. Um espartilho tomara-que-caia roxo com detalhes pretos e uma saia preta com botas de cano alto.
Adorou a roupa e por isso, foi se vestir toda animada.
~*~
– E então Mano? O que vai fazer? - Harry refez a pergunta.
– Vou pular a janela. - Respondeu Hudges.
Harry arregalou os olhos e foi até a janela.
– Mas é muito alto cara! Você vai morrer! - Exclamou preocupado, enquanto colocava a cabeça para fora da janela e via o quanto era alta a distância dali até o chão.
– Para de drama Harry. Vou pular e pronto! Preciso ver aquela mulher de novo. - Mordeu os lábios ao lembrar-se de Angel.
- Cuidado para não se apaixonar, Christian. Nunca te vi tão entusiasmado com uma garota...
- Eu não vou me apaixonar. Nem tenho coração, sou um cara totalmente ferrado na vida. - Desviou o olhar. - Ninguém jamais se apaixonaria de verdade por alguém como eu e na boa, só quero me divertir mesmo, vamos. - O chamou.
– Pois eu não vou com você. Não quero me esborrachar no chão! - O loiro se afastou da janela.
– É bom mesmo você ficar, assim a Esther vai demorar mais pra descobrir que eu saí. - Christian se aproximou da janela, colocando uma perna para fora da mesma. - Tchau irmão.
– Tchau! - Despediram-se e Christian pulou a janela e depois, o muro de sua casa.
Em seguida, foi até o ponto de táxi mais próximo, entrou em um que já estava estacionado lá e foi até o cabaré.
~*~
Enquanto isso...
Leila estava se apresentando.
Estava se despindo, tirando peça por peça e naquele momento estava só de lingerie.
A casa estava bem cheia e Rinna estava no balcão do bar conversando com Jack, o dono da Burlesque.
– Pelo jeito vamos faturar um bom dinheiro hoje, Rinna! - Constatou Jack, enquanto olhava com malícia para Leila dançando.
– Acho essa menina vulgar demais. - Rinna criticou. A loira platinada nunca foi com a cara azeda de Leila. - Prefiro a Eliza. Quando vejo ela dançando, me lembro de como eu era, há longos vinte anos.
– Nostalgia? - Jack perguntou tomando um gole do seu drink.
– Sim. Eu era tão inocente e sonhadora. Você me prometeu mundos e fundos e depois ferrou com minha vida. Tomara que não aconteça à Eliza o mesmo que me aconteceu... - Falou com os olhos marejados.
– Não pense nessas coisas Rinna, esquece isso. E tudo que fiz foi te ajudar. - Explicou de forma cínica. - Você tinha sido expulsa de casa, ninguém ia te querer mesmo. Devia dar graças aos céus por eu ter te acolhido aqui.
- Não seja hipócrita. Você e eu sabemos muito bem que você não vale o pão que come. É um explorador desgraçado de quinta categoria. - Ao ouvir isso, Jack fechou os punhos e os dois já iam começar a discutir mas foram interrompidos por Leila, que havia acabado de terminar de dançar.
– E aí gente? - A mulher cumprimentou. - Alguém tem um isqueiro? - Jack tirou um de seu casaco e entregou a ela.
– Parabéns Leila! Hoje você foi otima! - O homem elogiou.
– Eu sei chefe, obrigada. - Respondeu convencida, acendendo seu cigarro. - Tenho que ir, preciso atender meus clientes. - Falou maliciosamente se afastando, mas resolveu voltar. - Ah, já ia me esquecendo. Já era para a sua queridinha ter entrado no palco, Rinna. Mas está atrasada como sempre. Não sei porque ainda não foi demitida... - Provocou.
- Se você que é uma porcaria de dançarina não foi demitida, por que a Liza seria? - Rinna perguntou arqueando uma sobrancelha e Leila fechou a cara enfurecida e saiu dali. – Essa garota adora me provocar. - Ela resmungou irritada. - Mas ainda vou coloca-la em seu devido lugar. - Garantiu tomando um gole de uísque.
[...]
As luzes se apagaram por alguns minutos. Tudo ficou completamente escuro, o que fez com que alguns clientes começassem a reclamar.
A luz teria acabado?
Não.
Fazia parte do show.
O show da Angel/Eliza.
As cortinas do Burlesque Lounge se abriram e a luz ficou em tom avermelhado.
Eliza apareceu deslumbrante.
Em seguida, começou a tocar uma música sensual. Vários assovios foram ouvidos. Ela surgiu mascarada e rebolando no poste de pole dance. Esticou o braço até o mesmo e enroscou a perna lá. Enquanto dançava, seus olhos foram de encontro a platéia, procurando Christian.
Já estava sentindo falta dele.
Logo, seus olhos o encontraram. Ele estava de pé ao lado de uma das mesas. O moreno olhou-a de cima a baixo e mordeu o lábio inferior, fazendo a garota corar.
O olhar dele parecia de um tarado.
Seus olhos cinzas estavam escuros e pareciam querer arrancar um pedaço da morena.
Liza desceu do poste e começou a desamarrar o espartilho. Todos os homens gritavam para ela, que só olhava para Hudges.
Mas ela estava mesmo a fim de provocar.
Estava indo na direção de Hudges, que já estava todo e******o pois achou que ela iria dançar com ele novamente.
Porém, ela deu uma piscadela para ele e foi dançar com outro cliente. Um rapaz loiro de olhos cor de mel e bonito também. Não tanto quanto Christian, é claro.
Ela tirou o espartilho na frente do rapaz, ficando apenas com a lingerie e mini-saia. Em seguida, acariciou o rosto do jovem, que aparentava ter pouco mais de vinte anos de idade. Deu uma olhada de r**o de olho para Christian, que estava com a cara bem fechada.
Não tinha gostado nada daquilo.
Estava com ciúme e a morena estava adorando tudo aquilo.
Começaram a gritar "Tira, tira!", e assim ela o fez, tirando sua saia também, ficando apenas de calcinha e sutiã.
Começou a passar as mãos pelo seu próprio corpo, se tocando, mas ainda assim, sempre rebolando.
Enquanto se acariciava por alguns instantes, desviou seu olhar de Christian e quando voltou a olhar, percebeu que ele não estava mais ali, o que deixou a garota triste. Será que ele havia indo embora pra sempre?
Será que não ia mais voltar?
Mesmo assim, continuou o show.
Era seu ofício e não podia parar, já que aquele era seu ganha pão.
Após dançar mais um pouco, fingiu que ia tirar o sutiã, mas fez um sinal de negativo com o dedo indicador e sorriu, deixando a platéia delirada com sua performance. Mandou um beijo para o público e deixou o palco, ao som de muitas palmas.
Ela colocou um roupão e foi em direção ao bar, onde Rinna - Jack havia saído - estava.
– Você arrasou Liza! - Elogiou batendo palmas.
– Obrigada! - Agradeceu e pediu ao barman que lhe trouxesse um suco de laranja.
Estava morrendo de sede.
– Olha, se você continuar desse jeito, sempre será a última atração da noite! E vai ganhar bem mais dinheiro, hem?
– Tomara Rinna. Tô precisando muito de dinheiro.
– Por que Liza? O que aconteceu? - A loira perguntou preocupada.
– O de sempre Rinna. Problemas, mas não quero falar sobre isso. Bom, vou me trocar, até mais tarde. - Despediu-se indo em direção ao seu camarim.
[...]
No corredor...
Quando Eliza estava quase chegando ao camarim, foi puxada por alguém para um dos quartos da Burlesque. Esses quartos eram para que as dançarinas - algumas, como Leila, faziam programa - ficassem com os clientes. Foi tudo muito rápido e antes que ela pedisse socorro gritando, percebeu que era Christian.
Mentalmente, deu graças aos céus por estar mascarada.
– Você? - Perguntou surpresa.
– Você adora me provocar, não é? - Sussurrou prensando-a na parede e distribuindo beijos pelo pescoço dela que se arrepiou. - Ficou se esfregando naquele babaca só porque sabia que eu estava vendo.
– Está maluco, garoto? - Perguntou - Eu só estava fazendo meu trabalho, faz parte. - Mentiu descaradamente.
– Sim, estou maluco. Por você! Qual o seu nome garota? - Indagou olhando nos olhos dela.
Aqueles olhos que pareciam não querer mais sair de sua mente.
– Angel. Meu nome verdadeiro você nunca vai saber. - Respondeu sorrindo maliciosamente e ele engoliu em seco.
– Sabe Angel, desde que te vi, tem uma coisa que queria muito fazer com você.
– E por que você não o faz? - Provocou-o.
- É que... Não sou muito de ter certos tipos de contatos físicos da cintura para cima. - Ele começou a corar - Mas você tem lábios tão carnudos e provocantes. - Se sentia controverso.
- O quê? - Ela franziu o cenho - Seja lá o que for, não seja covarde. Faça! - O instigou e Hudges não resistiu e a beijou com urgência.
As mãos dele apertaram a cintura dela, colando seus corpos.
Enquanto isso, Eliza bagunçava seus cabelos macios e arranhava as costas dele. A língua dele explorava cada canto da boca dela, que gemeu quando ele mordeu de leve seu lábio inferior.
Eles se afastaram ofegantes e Hudges pôs a mão sob a máscara dela, como se fosse tira-la.
- Não!!! - Eliza gritou se afastando dele assustada.
– O que foi Angel? Por que não quer deixar eu ver seu rosto? - O moreno perguntou confuso.