– Angel, deixa eu ver seu rosto... - Christian insistiu voltando a colocar sua mão sob a máscara da jovem, que se afastou novamente.
– Er... Agora não dá. - Começou a gaguejar. - Eu... Tenho que trabalhar. Até mais garoto! - Se despediu indo em direção a porta.
Quando estava indo abri-la, decidiu voltar e deu um selinho rápido em Hudges que sorriu feito bobo e então, ela foi embora para seu camarim, enquanto ele foi para sua casa.
Eliza entrou e fechou a porta.
Ficou parada, em frente ao espelho e sorriu.
Tinha beijado Christian e tinha sido bom, muito bom.
Colocou o dedo indicador sob o lábio e fechou os olhos, lembrando da cena e ainda sentindo o gosto do beijo dele.
Nunca tinha tido um beijo tão gostoso como aquele.
Realmente estava apaixonada por ele.
Mas não tinha deixado de lado a sua vingança, pois sua raiva era maior que seu amor.
– O que foi Liza? - Rebecca perguntou entrando no camarim.
A jovem, assim como Eliza, também trabalhava na Burlesque, há cinco anos.
– Nada não amiga. - Mentiu tirando o roupão e jogando-o no chão.
– Te conheço, Liza. E sei que aconteceu algo, mas se não quer contar, tudo bem. - Concluiu enquanto passava um batom vermelho nos lábios.
Eliza foi até o closet e pegou outra roupa.
- Você realmente me conhece, Becca. Enfim, aconteceu sim, mas não quero falar disso. Não agora. - Explicou desviando o olhar e se vestindo.
– É dinheiro, não é? - Perguntou olhando para a morena de olhos azuis.
- Também... - Respondeu dando de ombros. Rebecca se aproximou dela, pegou sua mão e olhou-a nos olhos.
- Existe um modo de você conseguir mais dinheiro. Mas para isso, você vai ter que a abrir mão de tudo, até da sua dignidade, como eu tive que fazer. Você sabe que qualquer homem daqui, daria mundos e fundos só pra ter uma noite com você e... - Rapidamente, Liza se afastou da amiga.
– Você está dizendo que acha que tenho que me prostituir? - Perguntou chocada.
Sabia muito bem que Rebecca se deitava com quase todos os homens que vinham a Burlesque.
Mas o fazia porque era mãe solteira e tinha um filho pequeno para criar.
- Sim. - Confirmou.
- Não! - Ela negou rapidamente - Não nasci pra isso, não tenho coragem de vender meu próprio corpo.
– É horrível no começo, Liza. Você vai sentir nojo, muito nojo de si mesma. Mas com o tempo vai se acostumar com isso. E vai sempre se lembrar que tem muita gente que depende de você e que precisa ajuda-los. - Eliza nada disse, apenas ficou pensativa com a cabeça para baixo. - Bom, agora é minha vez de me apresentar. Se cuida, Liza - Despediu-se dando um beijo na testa da jovem e saindo em seguida.
A morena resolveu refletir e voltou a se olhar no espelho.
Não queria se tornar um prostituta.
Tinha sonhos ainda.... Queria subir na vida.
Fazer uma faculdade, arranjar um emprego digno. Mas será que depois de tudo que passou, ainda deveria sonhar?
Para ela, a resposta era sim.
Iria lutar com todas as suas forças para não ter que entrar no mesmo caminho obscuro de Rebecca.
~*~
– Qual a parte do "você está de castigo", que você não entendeu?! - Esther indagou, totalmente irritada com Christian.
O rapaz havia acabado de chegar em casa. Subiu a janela e entrou em seu quarto, mas deparou-se com sua mãe, que estava a sua espera sentada em sua cama.
– Desculpa... - Pediu tirando sua jaqueta de couro e sapatos.
– Seu irresponsável!! Agora seu castigo dobrou! Um mês sem mesada e sem poder sair a noite! Vai ser da escola pra casa e da casa pra escola! E só! E se me desobedecer, vai ser muito pior! - Ameaçou-o furiosa.
– Mas mãe! Eu... Sem mesada não! - Ele praticamente suplicou, afinal, como poderia dar seus "rolês" sem dinheiro?!
– Já está decidido. Ah, e quero que peça desculpas para aquela menina por conta do bulling horroroso que você fez contra ela! Espero que se comporte bem a partir de hoje, senão a coisa vai piorar para o seu lado! - Ameaçou e ele revirou os olhos e bufou de raiva.
É... A casa caiu para Hudges.
[...]
No dia seguinte...
Samantha estava caminhando pela rua. Aos dezesseis anos, a loira de olhos claros ainda não sabia bem o que queria da vida. Órfã de pai, teve sua vida mudada quando o perdeu em um acidente de carro. Sua mãe, Deborah, ficou paraplégia e depressiva. Não estava sendo nada fácil a vida de Sam nos últimos anos.
Desde então, enfrentou muitas necessidades. Passou sede e muita fome, até que sua irmã conseguiu um trabalho na Burlesque e as coisas melhoraram um pouco. Estudou por um tempo, mas desistiu por conta dos preconceitos que as outras garotas tinham com ela por ser pobre.
Tinha muitos sonhos.
Sonhava em ser uma grande jornalista investigativa, mas como faria isso se nem o ensino fundamental havia completado? Sua irmã e melhor amiga, Samantha, sempre dizia para ela voltar a escola, mas Samantha sempre discordava.
O que almejava para o futuro?
Talvez algo que estivesse mais perto de sua realidade, como trabalhar na Burlesque. Talvez, não fosse tão r**m dançar naquele lugar.
Seus pensamentos estavam tão longes que a garota nem havia notado que naquele momento, estava atravessando uma rua movimentada. Só notou quando ouviu um barulho de uma freada brusca e várias buzinas.
– Você tá louca menina?! - Exclamou um jovem, saindo de dentro de um belo carro.
Sam o olhou de cima a baixo.
Ele tinha os olhos claros, cabelos curtos e loiros e era alto e másculo. Involuntariamente, a loira mordeu o lábio inferior enquanto ele se aproximava dela.
– Não vai dizer nada não?! Eu quase te atropelei garota! - O rapaz praticamente cuspiu essas últimas palavras em cima de Sam.
Parecia bastante irritado, mas ela não.
Estava em transe.
Nunca tinha visto um cara tão bonito na vida. O rapaz, Harry Hudges a sacudiu segurando-a pelos braços.
- Menina, o que você tem? - Questionou e finalmente, a garota voltou a si e se afastou dele.
– Desculpe, estava distraída. - Ela coçou a cabeça e Harry a olhou. Notou que era magra, um tanto desnutrida, mas muito bonita. Tinha os olhos claros e muito profundos, cheios de olheiras de sono por conta das noites m*l dormidas.
– Mas ta tudo bem com você? - O loiro perguntou olhando para os lados.
Seu maior medo era que um carro de polícia aparecesse, afinal, tinha pegado o carro da família sem avisar.
Esther o colocaria de castigo pelo resto da vida se descobrisse o que fez.
– Sim, obrigada. - Respondeu dando as costas para ele e indo até a calçada.
Harry foi atrás.
– Hey garota, espere! - Ela se virou para ele. - Qual o seu nome? - Indagou com uma sobrancelha arqueada e ela o olhou desconfiada. - Calma, não vou te fazer m*l. - Ela continuou calada. - Me chamo Harry, muito prazer. - Se apresentou, esticando o braço para apertar a mão dela, mas Samantha saiu correndo - Espera garota! - Gritou, mas a menina continuou correndo. Pensou em ir atrás dela, mas começou a ouvir xingamentos dos outros motoristas, já que seu carro estava parado no meio da rua. A última coisa que precisava naquele momento era de uma briga. - Droga! - Resmungou voltando para seu carro.
~*~
Assim que chegou a escola, Christian foi procurar Eliza. A jovem estava sentada perto de uma árvore, lendo um livro romântico, sozinha. O livro em questão era Romeu e Julieta. Distráida, a menina nem percebeu quando ele se sentou ao seu lado.
– Anitta? - Ao ouvir a voz de Christian, a morena se assustou e levantou-se rapidamente, enquanto fechava seu livro. - Calma, não vou te fazer m*l! - Avisou se aproximando dela, que guardou seu livro na mochila rapidamente. Não queria que ele soubesse que lia aquele tipo de coisa que para ele era provavelmente, algo cafona.
– Não chega perto de mim! E meu nome é Eliza, já disse várias vezes. - Corrigiu ajeitando seus óculos.
– Calma! Só vim pedir desculpas. - Ergueu as mãos em sinal de paz.
– Desculpas? - Perguntou confusa.
– Sim, pela brincadeira que fiz com você. Acho que peguei pesado... Um pouquinho.
– Um pouco? Apanhei e virei motivo de chacota na escola toda, Christian Hudges! - Rosnou com raiva.
– Você sempre foi motivo de chacota aqui. Por causa desse seu jeitinho esquisito, desses óculos. Podia andar mais arrumadinha, assim não passaria tanta vergonha. - As palavras do rapaz doeram e muito em Sam, que se sentiu humilhada e algumas lágrimas caíram de seu rosto. - Também não precisa chorar, não falei por m*l. Não gosto de ver mulher chorando... - Coçou a cabeça ficando sem graça.
– Eu odeio você, Christian! Você pode até ser bonito, se vestir bem... Mesmo assim, você é a pessoa mais feia que conheço. Pior do que ser feio por fora, é ser feio por dentro! Mas você vai pagar por tudo isso que está fazendo comigo. Aliás, já está pagando! - Exclamou saindo correndo.
Christian se sentiu m*l com a situação, mas não entendeu o que ela quis dizer com "já está pagando".
Mas aquilo logo deixou de afeta-lo quando lembrou-se da linda Angel, a mulher pelo qual estava encantado há alguns dias.
Ele estava doida para vê-la novamente.
Para sentir o gosto dos seus lábios de novo e com ou sem castigo, daria um jeito de vê-la o mais rápido possível. Não iria desistir dela e principalmente, de ver seu rosto, pois sua curiosidade estava bem atiçada a respeito dela. Afinal, como seria o rosto de Angel?
~*~
Eliza saiu correndo de perto de Christian.
Estava chorando e morrendo de raiva dele.
Agora estava com ainda mais vontade de se vingar. Faria com que Angel acabasse com a raça dele.
Correndo distraída, não reparou quando esbarrou em alguém e caiu no chão. Enquanto caia para um lado, seus óculos caíram para outro. Enxergava pouco sem os óculos - na Burlesque usava lentes de contato para enxergar - e quando os achou, os colocou e se levantou pronta para pedir desculpas a pessoa com quem acabou se esbarrando.
O problema era que essa pessoa, era uma das que mais odiava na vida.
Tiffany Hilton.