Ao acordar no mesmo quarto que antes, espero a tontura passar, e corro até a porta de novo, rezando para que esteja destrancada. Mas a porta do banheiro de dentro do quarto é aberta atrás de mim, e uma pessoa sai de lá de dentro e vem as pressas até mim. Eu reconheci o perfume masculino, era o mesmo homem que me nocauteou da primeira vez.
- me solta!! - grito desesperada quando o ser me vira. E então eu vejo, contemplo um homem de olhos claros me olhando com curiosidade.
Algo naquele olhar me era familiar...
- sabia que é muito grosseiro arremessar coisas nas pessoas?! - ele diz irritado e então me joga em seus ombros feito saco de batatas, me colocando na cama de novo. Ótimo, serei estuprada!.
- quem é você?! O que quer?! - pergunto com a voz trêmula.
- sou Felipe, muito prazer Katherine - ele diz sentando na minha frente - creio que não deva se lembrar de mim.
- c-como sabe meu nome?- pergunto assustada.
- eu...- ele é interrompido por um pingo de sangue que escorreu pelo seu rosto e sujar sua camisa.
Ele levanta rapidamente, e pega uma faixa, colocando-a em volta de sua cabeça.
- desculpe pelo abajur - digo baixo.
- minha testa está sangrando, e você tá preocupada com a p***a de um abajur?! - ele indaga - você tentou me matar!
Será que ele tem noção que isso configura sequestro?
- e-eu...- ele me interrompe.
- shiu! - ele diz suspirando e evidentemente irritado - sou Felipe, sou alfa da alcatéia Lua de sangue, tenho 26 anos, e... sou seu companheiro - ele fala com total normalidade.
- está mentindo! - digo sentindo tudo girar, isso não fazia o menor sentido - minha cabeça parece que vai explodir...
- Kat! Esse colar! - ele aponta para o meu medalhão na cômoda - essa pedra maldita omiti o cheiro, o sentimento, tudo que nos une! - ele segura meus ombros e me força o olhar -...fomos separados a anos! Será que não entende?... - ele diz olhando nos meus olhos com desespero.
- me larga! - digo me livrando de seu aperto - meus pais me deram esse medalhão quando eu tinha 9 anos de idade... e...- ele me interrompe.
- já nos conhecíamos! Seu pai era beta do meu pai! Ambos morreram na batalha! Sua mãe foi morta por um...- eu o interrompo.
- um lobo... minha mãe foi morta por um lobo quando tentava me proteger - completo sentindo dor nas palavras.
Aquelas palavras pareciam finalmente estar se encaixando, as lembranças começaram a aparecer. Era como se minha mente tivesse sido desbloqueada, e uma porta tivesse sido aberta.
________________ 10 anos atrás _____________
- Kate! Leve nossa filha daqui! - meu pai grita quando um lobo entra em nossa casa.
- Marcus! - minha mãe grita quando o lobo e meu pai começam a brigar.
Mamãe corre comigo de mãos dadas, e vamos até o porão.
- rápido Kat! - ela abre uma porta, atrás de uma estante velha de livros.
- mamãe, e o papai? - falo chorosa.
- ele... ficará bem... vamos! - ela grita me puxando.
Começamos a correr por um túnel, que dava para uma parte da floresta, até chegarmos a um lago.
Mamãe me esconde em uma caverna atrás da cachoeira.
- você nunca irá tirar isso! Ouviu Katherine?- ela me entrega o medalhão - isso vai lhe proteger dos nossos piores inimigos - ela diz.
- mamãe...- digo com lágrimas nos olhos.
- você vai ficar bem, meu amor - ela me dá um beijo na cabeça e sai da caverna.
Me aproximo um pouco da entrada, e me escondo em uma pedra.
Mamãe se transforma e corre em direção a casa, quando é atacada por um lobo, e morta, na minha frente.
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Volto do transe que estava tendo, e vejo que Felipe está a encarar um porta retrato em cima de uma prateleira, perto da lareira. A morte dos meus pais foi de fato, imagens chocantes demais para uma criança. Era como se tudo tivesse sido simplesmente desbloqueado novamente, eu sempre tentei voltar ao dia em que tudo aconteceu, mas havia mais borrões do que em si lembranças.
- éramos amigos... a magia do medalhão fez com o que você esquecesse de tudo isso, tudo que te ligasse ao nosso mundo, deixando você apenas com a consciência, de que é uma loba, e nada mais... - ele diz me entregando o porta retrato.
O mesmo tinha a foto de duas crianças, eu, e Felipe.
- éramos amigos...- ele repete como se estivesse imerso em lembranças dolorosas - ... você realmente não se lembra?... - ele me olha triste.
- o que você é? - pergunto o olhando nos olhos - sua forma lupina não é de um lobo normal, e seus olhos vermelhos também não saem da minha mente!
- alfa, dono desta cidade, e seu - ele me olha sério - ... você é minha, Katherine...
- nem morta! - digo me levantando e andando até o outro lado do quarto - você fala como se eu não tivesse escolha!
- você não tem escolha, Kat - ele me acompanha - é a minha companheira.
Ele diz, e em um ato inesperado, arranca o cordão de mim com tudo e o jogar no chão, em seguida pisa em cima da pedrinha que havia bem no meio do pingente. Uma tontura absurda toma conta de mim, a voz dele começa a ficar abafada e sinto uma sensação bem específica de desmaio. Sinto suas mãos fortes envolverem minha cintura e impedirem que eu caia, ele sussurrava no meu ouvido que tudo ia ficar bem, e aos poucos... sinto meus sentidos voltarem ao normal.
Um cheiro de avelã e chocolate começou a pairar no ar, uma sensação boa começou a me dominar, era como se eu tivesse acabado de ingerir uma dose generosa de serotonina.
Ele não estava mentindo, era ele. Agora eu tinha plena certeza..