Finalmente a sós, parte I

1693 Words
Eu estava sozinha no corredor principal do colégio. Olhava para os lados e firmava o punho envolta da alça da mochila em um dos ombros enquanto passeava calmamente e tentava não fazer barulho. À frente, atrás... Tudo completamente deserto. Juro que vi uma bola de feno passar por mim com uma música de velho oeste de fundo. Aquilo me deixava nervosa e como se não bastasse, as luzes se acendiam e apagavam. Interferência? Talvez. Ou, uma força sobrenatural. Meu objetivo era o refeitório, queria chegar lá antes que qualquer um, mas, aquele nervoso não parava de subir pela espinha, me arrepiar, contorcer e fazer a pele coçar. Quase me feria com as unhas. Quem me visse pensaria que eu tinha carrapatos! Mas calma... Calma Ariana! Só falta virar à direita... Cautelosamente. Virei. Olhei sobre os ombros para ter certeza de que não estava sendo seguida... Porém, o perigo veio a frente! Um peitoral másculo me interceptou e o impacto me jogou para trás. Mas, antes de cair no chão, ele me segurou firme no pulso e apontou uma arma na minha testa. Uau... Eu pude sentir o quão gelado estava o cano e engoli em seco. — Pensou que ia fugir? — Donnie me encarava enfurecido. Pude perceber a fúria em seus orbes claros. A respiração estava ofegante, o tórax mais inflado, e, a sua feição era de um verdadeiro assassino. — Donnie! — Meu coração pulsou forte e a fala sumiu. Eu tremia diante da morte. — Vou te mostrar com quem se meteu, darlin'. — Céus! Seu sotaque era forte, britânico. Que delícia! Mas, espera que tô morrendo! — Por favor, não faça iss... E então ele atirou e ensurdeceu toda a escola. *** — ARIANA! — Berrou a professora e eu despertei do mundo dos sonhos. — AÍ! QUE SUSTO! — Coloquei a mão no peito acelerado. Era apenas um pesadelo. Sonhava acordada. O suor escorria na lateral da testa e todos me olhavam, cochichavam e até riam. — Responda! — Ajeitou os óculos sobre o nariz. Usava um terno cinza, apertado. Parecia uma sardinha enlatada. Seu corpo não era nada formoso, pelo contrário. Parecia uma amoeba vencida revestida num saco de lixo. Seu nariz era empinado, o queixo torto e a testa grande. Os dois dentes da frente a faziam se assimilar uma lhama e falar "fofo". — Quem descobriu a América? — Oh sim! Era aula de história. — O meu priquito de asas. — Disse num tom audível. — O QUE?! — Me cuspiu toda ao gritar. — O que significa isso? — Ela não entendeu quando eu, graças a Deus, falei em português. — Colombo, professora. É o que dizem. — Voltei ao inglês e respondi nada animada, limpando enojada a saliva em meu uniforme — Como assim é o "que dizem"? — Ela pegou a régua de madeira de 100cm e apontou para mim quase me obrigando a engoli-lo. — Você sabe... — Disfarcei e usei o indicador para afastar devagar a régua da frente da minha cara. — A galera já tava lá, habitando as terras, vivendo em paz, aquela paradinha toda, aí vem o cara da p**a que pariu, num barco se achando a última bolacha do pacote ao som de Celine Dion como a Rose do Titanic, escraviza a galera que estava numa boa e ainda abre a boca pra dizer que descobriu? — Eu estendi as mãos e sacudi os ombros numa feição de "por favor, né?". — ARRASOU VIADO! — Gritou Kyle lá do fundão. E todo mundo começou a rir. Rimos. Rimos muito e fui enviada para a diretoria. As pessoas da California não tinham senso de humor. *** Confesso que eu quase implorei desculpas. Motivo? Não queria andar sozinha nos corredores. Ainda faltava uma aula antes do intervalo e aquele dejavú me fez arrepiar. Agora é de verdade galera, se levar um tiro eu morro mesmo, não é mais sonho! A diretoria ficava no segundo andar. Só tinha de ser rápida. E Deus... Como eu fui rápida! Meus passos pareciam corrida naquele chão encerado. Pouco desequilíbrio e eu daria de cara no chão. Nem fiz questão de rebolar como sempre para atrair olhares. Estava mais para uma gazela fugindo do leão. Andei, andei, quase corri e passei pela porta da lateral que levava a quadra. Porém, voltei. Algo me chamou atenção. Duas portas abertas no final do enorme pátio. Uma levava ao vestuário masculino. A outra, no vestuário feminino. E ADVINHEM QUEM SAIU DISCRETAMENTE DO VESTUÁRIO MASCULINO, QUERIDOS? Isso mesmo. Jéssica. A namorada de Jason. No r**o dela não passava um fio de cabelo melado no azeite. Toda desconfiada, ajeitando a trança desengonçada que balançava a cada passo e o pior... Seu polegar adentrou na manga da camiseta para ajeitar a alça do sutiã. Detalhista demais? Fofoqueira ou PHD na vida alheia? Confesso que um pouco das três. Aquilo fez com que o medo de Donnie fosse embora por um segundo. Eu estava fixando meu olhar para saber quem iria sair dali do vestuário. Queria ter certeza de que seria Jason. Mas, eu confesso que... Torcia para que fosse outro. Ou, talvez uma mera confusão de local já que Jéssica era lerda. Ouvi som de passos e ignorei. Meu rosto estava vidrado. Eu vi um braço balançar lá na porta do vestuário, vestindo uma camiseta, mas estava longe demais para identificar. O sujeito deveria sair dali por completo. Enquanto isso, uma mão tocou a minha cintura. — Sai c*****o! Nessa altura do campeonato vem um embuste me atrapalhar na investigação? — Dei um tapa na mão atrás que estalou. O Rapaz estava quase saindo, eu iria vê-lo enfim! — Vire-se, agora. — Ele ordenou. — Espera, c****e, to quase lá! — Insisti, balançando a mão atrás ainda fixando o olhar ao longe. — Agora! — Murmurou alto, quase estragando meu disfarce. — Oh seu filho de uma... — Me virei. Ele me pegou pelo ombro e me empurrou contra a parede e me encarou fixamente. — Donnie... — Eu respirei fundo e sussurrei. O coração foi na boca, voltou para o r**o, bateu na coxa e ficou de pinball nos órgãos internos sem saber por onde sair. — Para uma babygirl, sua língua é bem ferina. — Sussurrou de volta. Olhou para os lados só para averiguar se estávamos sozinhos e ao perceber que sim, apoiou o cotovelo na parede do lado do meu rosto e a outra mão na parede envolta da minha cintura. Eu estava cercada. A p***a desses homens adorava fazer isso comigo. Vá se f***r! Ele era um verdadeiro leão. Seus olhos pareciam me devorar e pude sentir como seu temperamento ardia de dentro para fora quase me incinerando em meio ao seu calor corporal. Acompanhei cada movimento de seu peito enquanto se movia e o sangue esquentava perto de mim. Outro detalhe fundamental era o seu perfume. Amadeirado e marcante. — Certo, já deixei de ver o que queria mesmo, então me mata logo. Acaba com o livro! Mas, fica sabendo que muito leitor vai ficar puto contigo, viu? — Disse entregando o jogo. — Do que está falando? — Perguntou, confuso. — Eu vim conversar contigo. Na verdade, vim agradecer. — Ele pareceu meio forçado a isso, e falou baixo. Perceptível que, na frente de outra pessoa jamais iria admitir isso. — Ah, ta... — Disse aliviada e quase caí no chão com as pernas bambas. — Então... Então tá! Por nada! A gente se vê! — Tentei sair dali, mas o máximo que consegui foi me chocar contra seu corpo e voltar contra a parede. — Ou... a gente pode conversar mais! Adoro conversar... — Disse bem naturalmente, tirando a mecha da frente do rosto. — Você sabe no que se meteu, princess? — Perguntou e deu ênfase em seu sotaque fechado. — Cara, a única coisa que eu sei que vou meter é a mão na sua cara se você não parar de me dar esses apelidos escrotos. — Explodi impulsivamente e engoli meus próprios lábios sem perceber. Quando vi, já havia dito. — Se tivesse me dito seu nome ao invés de ter me mandado ir me f***r, poderíamos ter evitado isso. — Cínico e prepotente. Mas, ele tinha razão. — Ari...Ana... Ariana! — Soltei. — Ariana. — Ele riu debochado. — Interessante. — Pausou, lambeu o lábio inferior vagarosamente e encarou meus s***s sem se preocupar em esconder. Devagar, ergueu apenas o olhar para mim, me fitou de baixo para cima e franziu a testa. — Se você não tivesse aparecido ali, com certeza eu estaria morto. Aqueles caras são inimigos do meu pai. E eles procuraram um elo mais fraco para afetá-lo. — Explicou. — Você... — Completei. — Mas... Agora você está bem, não está? — Questionava apreensiva. — Eu sim. — Disse Donnie. — Ufa... — Suspirei aliviada. — Você, eu não sei. — Foi direto. Passou o polegar naqueles lábios bem desenhados e novamente me deu aquela encarada, mas, se afastando passo por passo. — É por isso que estou na incumbência de te proteger até que não haja mais riscos. — Pausou. — Não se preocupe com isso. — Ele deu aquela risadinha superior como se fosse um herói protegendo a donzela. Leoninos... — Se eu soubesse que isso ia acontecer, eu tinha deixado você levar um tiro! — Fui bem sincera. — Ah, se f***r! Eu salvo o cara e agora eu que sou alvo? — Reclamei com ele. Donnie segurou meus pulsos e me encostou nos armários da escola. Não estava tão longe, mas as costas estalaram. Pude sentir aquela sarrada firme quando ficou entre minhas pernas e subiu com o nariz desde meu pescoço até a orelha, respirando quente e se pondo a murmurar. — Shhh... Shhh... Shhh... Princess. — Olhou para os lados. — Paredes tem ouvidos. Olhos... — Donnie me pressionou de uma maneira dominadora e fechou os lábios contra o lóbulo de minha orelha esquerda. Ali, ele brincou com o brinco usando a ponta da língua por dentro da boca entre sugadas suaves e provocantes. Caralho. Eu fiquei molhada na hora e revirei os olhos!
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