VALENTINA

1657 Words
Vocês não sabem o quão feliz estou por ter chegado a minha vez. Esperei tanto por esse momento para brilhar e mostrar ao mundo a garota meiga que sou por dentro. Se você leu esta frase de modo desanimado, frustrante e completamente entediado e irônico, parabéns, conseguiu adivinhar a minha real reação. Meu nome é Valentina. Podem me chamar de Val ou Tina se quiserem perder um rim ou quem sabe um pulmão. Tenho 17 anos, sou a mais velha do grupo e ao mesmo tempo a que possui mais sensatez. Meus pais sempre me amaram de verdade. Vivíamos na Alemanha. Por incrível que pareça, eles apoiam o socialismo e tudo aquilo que gira em torno de cooperar, amar o próximo e todos serem apenas um. Quando descobriram que sou a favor do Nazismo, me deportaram para cá, onde eu poderia estudar e quem sabe mudar de ideia. Para azar deles, conheci Ariana e vivo no meio de tiroteios e falsidade. Se tiver de levar algo na bagagem de volta, que seja as armas daquele bastardo Otwerside que deve estar chorando nesse momento ao perder o capítulo para mim. Falando nele, devo ressaltar que ambos somos da mesma sala e fazemos o terceiro ano. Donnie ficava no fundo, no canto direito. Eu, bem afastada de tudo e todos, no fundo da lateral esquerda. Como sempre, não havia nada de interessante. Estava a mascar meu chiclete sabor desgraça, estourando em bolas toda a minha amargura enquanto a professora de literatura Cornélia, explicava mais uma das obras literárias as quais eu não li e nem vou. — Valentina. — Ela tinha, tinha que falar meu nome. Todos se viraram e me encararam. Meus pés estavam sobre a mesa, os braços cruzados e a cara fechada. Vestia uma roupa rasgada e surrada. n***a e com várias caveiras, demônios ou qualquer criatura sobrenatural que deixasse claro o meu amor por Lúcifer e a galera lá de baixo. — Você leu o livro de Romance que passei para casa? — Ela me perguntou. — Não. — Respondi séria. — Por que não? Hoje teremos um debate literário sobre a obra! — Insistiu. — Justamente porque não estou afim de passar dois dias lendo um romance o qual ninguém liga, uma vez que, sempre vai acabar em chifre, porrada, morte ou tiro. Já basta a minha maldita vida retrógrada neste livro onde ninguém importante morre. Não tenho de forçar a barra participando de um debate com um monte de retardados bostinhas que nem aparecem ou tem fala, pois, são figurantes, só para agradar a senhora. Uma velha que vende drogas e roda a bolsa na esquina nos tempos livres para poder pagar a conta do cartão que seu marido estoura com bebidas e raparigas e todo fim de noite lhe espanca e ainda usa a velha desculpa que tropeçou e caiu na mesa. — Respirou e continuou. — Queria eu ser essa mesa, pois, ao invés de deixá-la de olho roxo, já teria arrancado a sua cabeça. — Terminou. Donnie afundou o rosto entre os braços e resolveu ir dormir. Era normal algo assim vindo de mim. Quando terminei de falar, a professora nem estava mais na sala. Chorando, saiu em prantos pelos corredores, gritando, desesperada e cancelando o debate. Todos os alunos vieram até mim, me levantaram e comemoraram como se fosse uma espécie de Deus. Não importa o que eu fizesse, sempre acabava bem e isso era frustrante. Eles resolveram me colocar no chão. Eu empunhei a mochila nas costas e resolvi ir embora. Com sorte, seria atropelada ou estuprada no meio do caminho e em seguida morta. Infelizmente, o retrógrado do autor estava preparando alguma coisa diferente para mim. — Ei, Valentina! — Hilbert, o Nerd da sala veio até mim, ajeitando seus óculos fundo de garrafa e o jaleco branco envolta do corpo. — Posso falar com você? — Perguntou. — Não. — Virei e fui embora. Mas, o i*****l ficou na minha frente e me fez revirar os olhos. — Então, acontece que amanhã é nossa feira de Ciências. Queria saber se gostaria de fazer dupla comigo... — Seu tom de voz era tão tímido que eu pareci mais homem que ele. — Só se conseguir inventar uma máquina do tempo para que eu possa entrar nela, voltar ao passado e me abortar. — Recitei bem animada. Aham. — Na verdade... eu estava pensando em... Um super vulcão de bicarbonato! — Soou mais eufórico. — Se eu não tiver de fazer nada a não ser observar a sua desgraça e você sair da minha frente, pode ser. — Esperei, nada paciente. — Perfeito! Te vejo amanhã na feira! — Enfim, ele saiu de minha frente. Estou contanto as letras para esse capítulo acabar. Não aguento mais. Não sei nem porque me escolheram. Não gosto de ninguém. Odeio a todos. Tomara que todos morram. A começar por mim, pois, quero um lugar privilegiado no inferno e sei que os leitores de Ariana para o céu é que não vão. Estão errados só de olhar para a capa e imaginar que alguém aqui dentro é descente. E não tiro o autor da jogada também. Voltei para o buraco que chamo de quarto. Um dormitório na ala feminina a duas quadras depois da escola. Devo ter recebido uns cinquenta e quatro cumprimentos de pessoas que se achavam as minhas amigas. Ignorei todas. Existem certos tipos de gente que não podem ver uma vergonha que querem passar. Eu hein. E o que há dentro do meu quarto? Não vou dizer, pois, não sou obrigada a nada a não ser respirar. Fechando a porta na cara dos leitores. *** Hoje não teria aula para o terceiro ano. Não estou feliz, pois, a maldita feira de ciências me espera. Coloquei alguns utensílios na minha mochila, como, pílulas de plutônio, mercúrio em líquido num frasco. Ácido sulfúrico em pó. E alguns tabletes de pólvora. Estava faltando algo. Sentia que faltava. Mas, o quê? Cruzei os braços, fechei bem os olhos e consegui capturar na mente. Quando cheguei em casa, fui informada por E-Mail do Nerd, que, deveria levar bicarbonato. Um pequeno saco de pó branco. Logicamente esqueci de comprar. Então, resolvi levar um pacote de 2kg de Cocaína. Era pó e era branco. Deveria fazer o mesmo efeito. E se não fizesse, quem se importaria? Terminei e saí. Enquanto caminhava pela calçada, eu notei um cabo de vassoura quebrado em uma lixeira qualquer e peguei. Fiquei batendo-o na calçada feito uma cega enquanto dois namorados apaixonados passavam por mim de bicicleta. Havia um caminhão de lixo na frente, parado, e os lixeiros colocando as coisas lá dentro. De acordo com meus cálculos que aprendi em física; Bicileta + Pedaço de p*u no Aro = Caminhão do lixo. Foi o que fiz. Enfiei de vez o cabo de vassoura na roda da bicicleta. A travei e os dois garotos acabaram sendo arremessados para dentro da caçamba que se fechava e começava a destroçar seus corpos enquanto eu colocava meus fones de ouvido, virava à direita e entrava na escola. Um dia normal, como todo outro. Aquele inferno estava mais cheio do que nos dias normais. Juro que se alguém esbarrasse em mim, eu iria tocar mercúrio na cabeça dessa galera. Com nojo do ser humano, fui desviando até encontrar a porta no corredor que levava a grande sala. Eu estava um pouco atrasada. Muitos fizeram seus experimentos e os juízes iam de mesa em mesa averiguar. Peguei um jaleco assim que entrei e vesti. Segui até a mesa do centro, que possuía um vulcão de um metro e meio de altura e fingi que não existia, ainda com fone no ouvido. — Valentina, está quase na nossa vez! Por onde você andou? — Perguntou, como se eu pudesse ouvi-lo. — Me dá logo o bicarbonato, tenho que colocar isso para ferver! — Eu não entendi bem o que ele queria, mas entreguei o pacote branco cheio de cocaína. Em seguida, me virei e comecei a caminhar, deixando um fone fora do ouvido. — Para onde vai? Eles estão vindo! — Me segurou. — Vou no banheiro. Esqueci de mijar quando saí de casa. Se não quiser que eu aponte a minha v***a em sua boca e dispare, é melhor me soltar agora. — Retruquei e ele me soltou com feição de nojo. Deixei minha mochila lá no canto e fui ao banheiro. Hilbert, acendeu o pequeno forno abaixo do vulcão e ele borbulhou. Expeliu uma pequena fumaça à medida que esquentava e despejou toda cocaína ali dentro. Não demorou para que três juízes chegassem. A velha Celina. O gordo Aroldo da rua das víboras e Gertrudez. Os três velhos inseparáveis. Aroldo estava com seu periquito Felizberto sobre o ombro. Jamais ficava longe daquela ave irritante que só fazia repetir as coisas. A velha Celina não tinha a melhor feição. Gertrudez, tampouco. — Comece a apresentar garoto. — Disse o velho, sentindo os olhos arderem e lacrimejarem. — Bem ... O meu vulcão é... — Hilbert também sentiu uma alteração. Antes que continuassem, uma cortina de fumaça tomava conta do lugar. Todos os estudantes da área, juízes e amigos que vieram visitar, respiraram fundo aquele odor que os deixou completamente... Doidões. As vistas embaçaram, ficaram leves como pluma, riam à toa e choravam também. Começavam a brincar, tirar suas roupas, dançar de modo estranho e tudo isso acabou levando Hilbert a segurar a minha mochila e ver tudo que eu havia trazido. — CALMA, SENHORAS E SENHORES! AINDA TEM MAIS! — E riu alto, segurou as barras, líquidos, cápsulas, ácido e... Tudo que há de bom, e acrescentou na mistura. E foi assim, que, sentada no vaso mijando, ouvi um estouro abafado. Droga. Nem urinar em paz uma garota gótica, fria e sem coração pode! Coloquei meus fones novamente no ouvido e só sai de lá quando ouvi a sirene das autoridades meia hora depois.
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