A fuga, parte III

1026 Words
Enfim, anoiteceu. Todos foram dormir. A maioria dos prisioneiros ficaram dormindo a céu aberto devido à falta de espaço. Eu, por minha vez, fui ver se estava tudo bem com Donnie. Acenei para os guardas na porta que me deixaram entrar e o vi lá. Sem camiseta, enfaixado na região do abdômen e descansando mais tranquilo. Me aproximei o suficiente para passar a mão no seu rosto e depois retirar os cabelos de seus olhos, colocando para trás. Era assim que ele gostava. — Vai tomar no cu, que tu me deste esse trabalho todo... — Resmunguei baixo. — Se soubesse, tinha deixado você levar um tiro no episódio 5. — Brinquei. Ele não iria ouvir mesmo. Beijei sua testa, ajeitei o lençol para que não sentisse frio e virei. A sua mão tocou meu pulso e novamente me impediu de andar. — AH c*****o, QUE SUSTO! — Gritei e escutei ele rindo pela primeira vez. — Eu ainda te mato. — Meio zonzo, mas, acordando, me disse. — Obrig... — Ah, tá bom, chega de melação e sei que você também nem gosta disso. — Fui direta. — Estou vendo uma diabinha esquivando de um leão? — Ele provocou. — Donnie. — Eu sei que poderia parecer estranho, mas, não estava com tempo. Sei que tínhamos muito o que conversar, mas, havia algo que queria saber a muito tempo. — Quem é Catarina? — Pausei. — Catarina Gallucci. — Olhei em seus olhos verdes. — Se você realmente sabe esse nome, é porque leu o dossiê. — Foi claro. — E se leu o Dossiê, sabe quem ela é. — Me encarava seriamente sem entender a minha pergunta, uma vez que, de fato, eu sabia quem ela era. — Era o que precisava ouvir. — Eu me virei. — Descanse, chegaremos pela manhã. — Ariana, espera... — Ele tentou se levantar, mas, gemeu um pouco de dor e desistiu de vir atrás de mim. *** Enfim havíamos chegado em terra firme. Primeiramente, todos os prisioneiros foram libertados em segurança. Um por um, naquela enorme fila. Eu podia ver dali da grade, o grande cais, depósito dos Otwersides. Optamos por aportar em um local conhecido e afastado ao mesmo tempo. E eu nem acreditava que tudo estava acabando. Erguia meus braços sentindo a brisa da manhã com os primeiros raios solares me iluminando, o coração batendo rápido e tudo acabando bem. Isso era sem sombra de dúvidas, a melhor sensação de todas. — Então, é isso. — Marrie sorriu para mim de uma maneira irônica como quem não queria sair da pose. — Você aprendeu bem Ariana e no fim das contas, acho que também aprendi um pouco contigo. — Disse, com sua avó ao lado. — Acho que sim. — Eu disse séria e fria. Não havia esquecido o que ela tinha feito, mas ao mesmo tempo eu tinha um coração mole. Olhava para a passarela de metal que a balsa havia estendido para podermos passar até o depósito e não via a hora de sair dali. Aquele transporte balançava e me deixava enjoada. Ainda ter de ouvir Marrie junto a velha maldita que me prendeu na masmorra e vários outros prisioneiros só aumentava meu enjoo. — Bem, vejo você por... — Marrie foi calada. Acho que todos foram no momento. Um barulho bradou na cena. Era um tiro. Junto a ele, o sangue se espalhou em todos os lugares possíveis. Principalmente na cara da velha Dollores que caiu ajoelhada gritando em desespero. O cano da arma saía fumaça. Talvez fosse do ódio acumulado. Eu fiquei sem reação. Meus lábios entreabriram e os olhos sequer piscavam. O corpo de Marrie aos poucos ficou mole e caiu na passarela da balsa. E seu tórax perfurado pela bala que lhe atravessou o corpo. Nem me dei ao luxo de virar o rosto e averiguar de onde o tiro saiu, só para não confirmar a minha hipótese. O que não foi preciso de qualquer maneira. Vestindo aquelas botas de couro junto com a calça preta, Donnie vinha acompanhado de Black e seus gangsters. Usava uma jaqueta aberta deixando o peitoral exposto e o ferimento também enfaixado. Seu dedo coberto pela luva ainda estava no gatilho e quando chegou perto do corpo de Marrie, a chutou como um pacote de lixo na direção da água e deixou se afundar. A loira rolou até o mar, deixando ser engolida pelas águas salgadas. — Levem a velha. — Ordenou a Black. — Donnie! — Eu me aproximei. — O QUE VOCÊ... — Olhei novamente. — Ela salvou sua vida, e eu tinha um trato com ela! — Não que eu me importasse tanto, porém, tinha que manter a postura. — O Problema é seu. — Ele guardou a arma ainda quente na cintura, dentro da calça. — Eu não fiz nenhum acordo. — Pausou. — Ela me deixou viver, em troca disso pagou com a vida. — Donnie me encarou. — Não se faça, Ariana. Todos nós sabemos o que Marrie fez comigo. Com seus amigos. — Disse. — Que tipo de pessoa é você que precisa matar o próximo para impor medo aos demais? — Perguntava ainda o encarando assustada, sem querer acreditar naquilo. — Eu pensei que você pudesse mudar, que teria alguma salvação. — Me afastei e revirei meus olhos. — Você me conheceu como o vilão da história. — Deu um passo adiante e me encarou de perto a ponto de sentir sua respiração. — E vai morrer me vendo como um! — Foi o que disse, até se virar e trazer a velha Dollores nos braços dos gangsters se arrastando. — Black. — Sim? — Black respondeu próximo a ele. Ninguém mais escutava o que os dois estavam tagarelando. — Me traga a Ashley. Ela é a próxima. O seu irmão também. — Respirou fundo e ergueu a mão. Black lhe trouxe um charuto e acendeu para ele. Assim que deu o primeiro trago, retirou da boca e voltou a lhe olhar. — Toquem fogo na casa e nos pertences dela e deixe claro que o Leão está de volta. — E foi embora.
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