A fuga, parte final

880 Words
Depois disso tudo eu só quis relaxar. Após descobrir tantas coisas, ver tantas coisas e viver tantas coisas, um momento de paz seria o necessário para mim. Amanhã as aulas começariam novamente. Só tinha esse domingo para aproveitar. Tia flor foi para dentro de casa com Shing, os meus amigos para suas respectivas moradas e eu, retirava os brincos da orelha. Não precisava mais viver como uma Gangster agora que seu líder voltou a comandá-los. E muito bem pelo que pude ver. Deixei as pulseiras sobre a mesinha da sala. Jason passou por mim e segurou minha mão. — Vou tomar banho. — E deu alguns passos para trás. — Você vem? Eu olhei no fundo de seus olhos e sorri. — Claro. — Disse. — Ele caiu sentado na escada e passei por ele. Não esperava que fosse dizer isso. — No meu banheiro. O seu é muito bagunçado. — Deixei os dedos sobre seus cabelos e fui para onde havíamos combinado. — Não demora. — Provoquei e saí rebolando. Não fazia ideia de como aquele banho seria gostoso. E se fizesse... Isso já teria acontecido a muito tempo. *** Exaustos, dormimos em minha cama. Jason estava me apertando contra ele de uma maneira possessiva mais do que antes. Seu sorriso no rosto era incomparável ao que já havia visto em todo livro. Ele estava feliz e com razão. Creio eu. Suas pernas enroscavam as minhas, o rosto afundado na curvatura de meu pescoço e o braço como sempre, na cintura deixando as mãos naqueles s***s que ele adorava. Dormia feito uma pedra e toda vez que tentava me afastar, ele voltava a me segurar contra seu corpo. Mas, eu precisava sair dali. Tinha algo a fazer. Quando encontrei uma brecha, coloquei novamente o travesseiro para ele abraçar com meu cheiro. Nem viu diferença. Homens... Enfim. Um roupão cobriu meu corpo, amarrei os cabelos e fui até a escrivaninha. Peguei a minha Taurus e um Dossiê. Discretamente, fechei a porta em silêncio no meio da noite e caminhei pela casa escura, subindo ao terceiro e último andar. Havia um corredor extenso e luxuoso. Parei para pensar e é a primeira vez em todo livro que venho a este cômodo. As paredes eram de madeira fina, quadros antigos pendurados e móveis mais caros que na casa dos Otwersides. Onde eu estava esse tempo todo? O lugar era iluminado por lamparinas grudadas em cada pedacinho dali e abaixo de meus pés, um tapete de veludo vermelho com detalhes dourados que me levaram até uma porta maior que qualquer outra ali. O quarto da Tia flor. O quarto de Diana. Eu segurei a maçaneta e nem batia para entrar. A girei lentamente e vi que estava aberta. Tia Flor deveria ser muito segura de si para deixar a porta aberta, ou distraída demais. Entrei. O silêncio reinou e assim que fechei, tudo ficou escuro. Não enxergava nada. Até, de repente, as luzes se acenderem. Eu poderia explicar como era aquele quarto e como me deixou de boca aberta. Quase tudo era talhado na madeira. Móveis, paredes, carpete... Só a sua cama precisaria de uma escada para subir de tão bem montada e macia. Jarros de flores; petúnias eram sua preferida. Estranho foi ver que dentro daquele quarto enorme, havia mobília para uma casa inteira. Incluindo um freezer com todo o tipo de bebida alcóolica, principalmente e curiosamente... Vinhos Italianos. Os melhores e mais chiques. Após uma seção de estofados e tapetes, próximo a um banheiro de porcelana, duas portas juntas davam acesso a um closet, que, por incrível que pareça, tinha vestígios de estar aberto e recém-violado. O pior era o fato de tia Flor não se encontrar no momento. Fui na direção do seu closet e o abri. Não tinha tantas roupas lá. Provavelmente esvaziado às pressas levando em consideração a bagunça e alguns poucos sapatos espalhados. Isso sim me preocupou. Fui revirando tudo que podia dentro do cômodo. Cada canto, cada lugar por mais b***a que parecesse. Não tinha vestígio de nada suspeito. Todavia, suas malas também não estavam mais lá. Um trovão esbravejou lá fora e começou uma forte chuva. Na escuridão, uma luz de um farol me encadeou transpassando o vidro da janela. Não perdi tempo e corri até o local para averiguar. Passei a mão tentando desembaçar toda aquela água gélida caindo, vi um carro preto estacionar e Tia Flor entrar no mesmo. Um chofer pegou suas malas e colocou atrás no bagageiro, voltou, arrancou e partiu. — Mas, o quê...? — Perguntei a mim mesma. — Para onde ela está indo? — Olhei meu dossiê tentando buscar uma resposta. — Será que ela descobriu que eu sei de tudo? — Sentei-me na lateral da janela que havia um acolchoado e coloquei as mãos na cabeça. Uma foto caiu no chão. Uma foto preta e branca que eu já havia visto e revisto várias vezes desde que encontrei. Ao som da chuva, ajeitei o roupão, me abaixei e a peguei. Meus olhos se enchiam de lágrimas e não pude conter o choro. Afundei o rosto entre meus joelhos e deixei a foto presa nos dedos. A mesma foto que tinha os seguintes dizeres escritos à mão: "Meus dois bens mais preciosos. Catarina e Ariana. With love, Diana."
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