EAST BRIDGE

1474 Words
Ela não sabia quanto tempo ficara ali vendo o pôr-do-sol, não queria pensar em nada sobre o passado, presente ou futuro. Teria muito tempo para fazê-lo, agora só queria ficar ali, olhando o céu. Agora ele mudava de dourado para um azul escuro, com as estrelas começando a dançar no véu n***o. Por pior que fosse sua situação, ela tinha de admitir que a vista do horizonte num navio era espetacular. Já eram sete da noite e os homens começaram a aparecer no convés. Mesmo notando que estava sendo observada, eles não se atreviam a se aproximar. Realmente não era muito boa a sensação de ser observada, mas ela não tinha como sair dali. O capitão ainda dormia, e se resolvesse entrar no navio, Alfredo não estaria de olho, então sua única opção era ficar lá mesmo. "Quanto tempo mais ele ficaria desacordado? Estou morrendo de fome, não sei onde fica a cozinha..." lançou um olhar sobre os ombros e viu que os piratas ainda a observavam "mesmo se soubesse, não me atreveria a ir até lá, e aquele maldito Matteo não acorda! Já faz sete horas que está dormindo!" - Senhorita? Estava tão perdida em seus pensamentos que não ouviu a aproximação e pulou quando lhe dirigiram a palavra. - O capitão a aguarda em seu gabinete. - Ah, claro. Obrigada. E saiu sem nem olhar no rosto de quem a chamou. Lá estava ela novamente, naquele corredor cheio de portas que mais parecia um labirinto. O caminho é indo reto, disto se lembrava. E foi passando pelas mesmas portas fechadas, agora silenciosas. No final do corredor estava aquela no qual sabia o que havia dentro. Bateu duas vezes e ouviu em resposta: - Entre... Ah, Rebecca! Já que está aqui coma, capisce? Ele apontou para a mesa, onde a mesma bandeja de antes estava disposta com frutas e bolachas. As regras de etiqueta condenavam a dama que comia sozinha na frente de alguém, mas a fome era tanta! Ela comeu silenciosamente, enquanto Vicenzo a observava. Ele a esperou terminar antes de iniciar a conversa. - Se divertiu durante a tarde? Vicenzo fez uma cara expressando falsa curiosidade, como se aquela pergunta fosse mais do que comum. - Ahn, fiquei observando o céu. - Todo esse tempo? - Foi... - Garota, realmente você não sabe se divertir. Nem explorou o navio? - Como? Se seus homens mantém a expressão de que sou a próxima caça? - Ah, sim! – Ele deu um sorriso maroto - Eu imagino que não deve ser agradável. Mas conheceu Alfredo e Giovanna? - Sim, realmente o Senhor Alfredo não me parece com um pirata, em compensação, Giovanna... - Espirituosa ela, não? - Até demais... Ele soltou uma gargalhada. - Bem, como já terminamos de falar sobre o seu dia, vamos falar sobre o seu presente, ou futuro, pode escolher... Engoliu um seco. - Qual seus planos? - Primeiro quero saber mais de você. E pra sua informação, nós vamos atracar em East Bridge em cinco dias. Rebecca arregalou os olhos e ficou branca perante essa informação. -O que houve com você? - Vicenzo perguntou preocupado. -Ahn...nada. - Como nada? Você ficou branca...Quando eu disse que vamos pra East Bridge. Ficou mais branca ainda. - Agora não adianta disfarçar, o que tem East Bridge? Pode começar a falar, quero saber de você. Estava tão atordoada que se sentou ao lado do pirata na cama, mas levantou automaticamente. - Não vou fazer nada, sente-se. Depois de hesitar, sentou novamente, fazendo questão de deixar um amplo espaço entre os corpos. Com a cabeça baixa, começou a contar sua história, ao terminar Vicenzo estava com uma estranha feição., como se pensando concentrado em alguma coisa. - Então você era de East Bridge, o local para onde vamos? - Hum-hum. -Muito bem, fique sabendo que não iremos atacar a cidade, só reabastecer para seguir viagem a outro local. - Certo, então. - Agora, a viajem durará cinco dias, e temos de achar um local para você dormir, por mim poderia ser aqui comigo, mas...- Completou, vendo a expressão horrorizada de sua refém-...Não o será. Você pode dormir no quarto de Giovanna, instalaremos uma cama improvisada pra você lá. E não se preocupe, ninguém lhe fará m*l, sinta-se livre para passear por todo o navio. O silêncio imperou até que não aguentando mais, Rebecca disse: -Posso saber onde é a cozinha? Afinal, não espero que sempre tenha uma bandeja de comida para mim. - Ótimo, siga-me. – Disse com uma expressão satisfeita. Eles saíram da cabine do capitão e foram pelo corredor, ao chegarem na escada, ele abriu a porta à direita, que revelou uma escada. - É descendo os degraus. Você pode vir quando quiser e preparar o que desejar. - Obrigada... Eles ficaram ali, um olhando para o outro e Matteo resolveu se aproximar, notando as intenções dele, Rebecca disse: - Bem, vou dar um passeio pelo navio, com licença... - Se importa se eu lhe acompanhar? -É o seu navio. Eles foram, com a chegada do capitão acompanhado os piratas começaram a se retirar, estavam ancorados e o Senhor Alfredo não estava ali para vigiá-la, não que fizesse alguma diferença, afinal, ela estava acompanhada pelo capitão. - Linda noite, não? - Ah, sim...Muito bonita. - É diferente, vista num navio, concorda? - Era exatamente isso que havia notado durante a tarde. Eles estavam em um canto qualquer do navio, apoiados na mureta, olhando as águas. - Capitão, posso lhe perguntar francamente? - Deve... - O que pretende de mim? Na realidade? - Hum...Ainda não sei. Depois de ouvir a sua história, até entender seu ódio por piratas, gostaria de mudar nem que seja um pouco, seu ponto de vista sobre a minha pessoa. Rebecca fitou os olhos do comandante. Estaria ele falando a verdade? Ele não parecia estar mentindo. Seus olhos eram misteriosos e Rebecca percebeu que o encarou por tempo demais, virando o rosto rapidamente para o mar, o que fez Vicenzo dar uma leve gargalhada. - Não precisa temer, já lhe disse que não tem motivos para se preocupar! Rebecca olhou-o de soslaio e sorriu. A verdade é que ele não parecia ser tão m*l assim. Mas era é um pirata... Assim os dias passaram...Andava pelo navio, os tripulantes mantendo uma certa distância, rápidas conversas um tanto desagradáveis com Giovanna, parte da tarde batendo papo com o Senhor Alfredo, passeios com Vicenzo. Até que no meio da tarde o navio chegou a East Bridge, ancoraram em um canto afastado, coberto por pedras: - Por que aqui? – Rebecca perguntou para o Vicenzo, que estava ao seu lado acompanhando a movimentação. - Como você mesma disse, não somos bem-vistos pela sociedade, melhor evitar contratempos. Só era permitido que a tripulação saísse em grupos de oito por vez. No primeiro bote, Rebecca acompanhou o pirata, que seguiu para uma taberna. - Você vai mesmo entrar aí? Ainda é dia! - Está quase noite e a muito não entro em uma taberna tão boa quanto esta. Ele deveria estar falando do atendimento, porque o espaço estava obviamente aos pedaços. A pintura estava descascando, as mesas de madeira estavam cheias de manchas e a iluminação era fraca. "Bem, não posso culpar o capitão por vir tão cedo, está lotado! Será que essas pessoas não têm mais o que fazer não?". Lá estavam vários homens de aparência desconfiável e algumas mulheres com trajes vulgares, deixando claro o que faziam naquele lugar. m*l estava escuro e os frequentadores já estavam bêbados. Foi neste momento que um homem com forte hálito de rum abraçou a Rebecca pela cintura; - Querida, o que acha de subirmos? - Me Solta! - Disse em tom de aviso. - Eu tenho dinheiro, querida... - E o que você acha que eu faria com você por dinheiro? – O desespero por estar sendo puxada a fez alterar a voz. - Uma garota como você, em um lugar como esse, o que mais poderia fazer? - Você está bêbado, me larga! E se soltou do abraço, ficando de frente para aquele homem. - Ora, sua... - Com as faces vermelhas de raiva por ser contrariado, levantou a mão aberta para bater-lhe o rosto, mas foi impedido por Matteo, que segurou-lhe o braço. - Isso não foi muito bom... - E quem você pensa que é? - Eu penso que sou o Capitão Vicenzo Matteo, capisce? O homem arregalou os olhos ao ouvir aquele nome. - Matteo? Sinto muito senhor! Não quis ofender... E foi se sentar em uma mesa afastada. - Vamos sair daqui. Ele disse e pegou Rebecca pelo braço, levando-a para fora dali. - Obrigada. – Sua voz saiu fraca, ainda estava abalada pelo que aconteceu. - Quando lhe disse que nada iria lhe acontecer, falava sério. Quer dar um passeio? Assentiu silenciosamente e deixou-se ser guiada pelas ruas.
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