Rebecca ouviu batidas na porta e uma voz desconhecida dizer:
- O capitão mandou avisar que estamos próximos de Tortuga.
Seu coração acelerou, daqui a um tempo ela estaria cara a cara com Blackew.
Já estavam navegando há muito e ela não saia do quarto.
Guardou as fotos que estava vendo e subiu ao convés na noite, o céu estava limpo e estrelado. Ela avistou Vicenzo no timão e foi falar com ele.
- Quando chegaremos?
- De manhã, falando nisso –ele olhou para os lados antes de continuar- você teve novas visões?
Essa busca por Blackew a fez esquecer totalmente o assunto. Ela nem ao menos havia falado do sonho com o colar para Vicenzo.
- Na verdade tive.
- Certo...ALFREDO!
Ele apareceu correndo.
- Sim, capitão?
- Fique no timão, vou entrar.
- Sim senhor, capitão.
- Venha...
Ele pegou Rebecca pelo braço e a levou até sua cabine:
- Então...
- Então?
- Me conte...
- Bem...Na realidade eu já a tive há algum tempo...
- E não me contou?
Ele parecia ofendido.
- Sinto muito, mas com toda essa agitação me esqueci completamente.
De certa forma era verdade, ela se lembrou de contar para Vicenzo, mas estava um pouco ressentida e depois se esquecera.
- Muito bem...Conte-me agora.
Ela contou tudo que vira.
- Então...Você simplesmente deve usar o colar que durante o amanhecer terá as visões?
-É, mas acho que não é tão fácil assim... Elas só devem acontecer quando eu realmente precisar de ajuda. Mesmo porque, não tem sentido usá-lo se não precisar!
- Tem razão, faça o seguinte - ele se dirigiu até o armário, o abriu e retirou a caixa onde o colar estava guardado - use-o.
Colocou o colar em seu pescoço.
- Nesta noite, para ver se temos alguma informação sobre Blackew.
- Certo.
- Sabe, realmente esse colar lhe fica muito bem - disse sorrindo.
- Obrigada Vicenzo... Bem, vou dormir, daqui a pouco amanhece e não queremos perder essa oportunidade, não?
- Claro que não! E não se preocupe, lhe contarei tudo que ele falar.
Rebecca ficou paralisada.
-Como?
- Lhe direi tudo que acontecer durante a nossa conversa.
- E por que você faria isso?
Agora era Matteo que não estava entendendo.
- Achei que você queria saber.
- Eu quero, por isso mesmo vou com você.
Agora ele entendeu, ela pretendia ir junto falar com Blackew, mais isso era algo que ele não podia permitir.
-Nem pense! Pelo que soubemos, ele está atrás do colar, pode haver muito perigo.
- Vicenzo, você realmente acha que eu não iria por eu mesma saber o que ele quer?
Ela não falava brava, mais sim surpresa pela ação de Vicenzo.
- Que perigo pode haver?
- Ele pode te reconhecer. Se o pouco que conheço sobre Capitão Blackew, não devemos dar-lhe opções!
- Vicenzo, pense bem, realmente você acha que eu, que fui embora de East Bridge há muito tempo, que nunca ouvi falar dele, seria lembrada?
- Não sei...- Vicenzo parecia escolher bem as palavras. - Acho que você não deve ir.
Eles ficaram por um bom tempo se encarando, até que Rebecca disse:
- Vamos fazer o seguinte, dormirei com o colar e veremos se ele tem uma opinião sobre isso.
Isso parecia conversa de louco, ela realmente queria saber a opinião de um colar?
- Se o colar tem opinião?
- Você me entendeu, se alguma visão aparece –ela suspirou antes de continuar.- Se ele disser que devo ir, irei, caso contrário, não saio deste navio, trato?
Sua mão foi esticada, Vicenzo vacilou, mais apertou a mão no ar, fechando o acordo.
- Boa noite então...
- Boa noite.
Rebecca estava dormindo, e começava a amanhecer, no momento em que o sol entrou pela janela e bateu no colar, imagens começaram a se formar em sua mente.
"Ela se dirigia por uma rua escura, estava apreensiva quando entrou em um tipo de casa. Sentado no meio do lugar, se encontrava um vulto n***o, preto. Ela se dirigiu a ele, que rapidamente puxou a espada, com esse movimento, homens apareceram e a cercaram. Ele ia dizer algo...".
Tudo escureceu, as imagens sumiram do nada e ao longe uma voz fez-se ouvir:
- Rebecca? Srta. Beckey? Acorde...
Ela abriu os olhos e teve um choque com a claridade que vinha das vidraças. Ao seu lado estava parada Giovanna:
- Nós estamos chegando em Tortuga, o Matteo quer falar com você, está em seu gabinete.
Ela deu as costas e saiu, fechando a porta atrás de si.
"Ótimo" pensou "Estava prestes a ouvir algo importante, quando me despertam! Por ordem de Vicenzo, imagino..."
Ela colocou um robe que lhe fora dado (tentou não imaginar de quem era) e espiou o corredor. Vazio, certo, então era seguro passar. Ela rapidamente fechou a porta e passou pelo silencioso corredor. Ao chegar nos aposentos do capitão, bateu duas vezes na porta.
- Entre.
O pirata estava parado no meio da sala, m*l teve tempo de fechar a porta quando ele disparou:
- Então?
- Então? Sim, claro! Bom dia, Vicenzo!
Ela falou com um falso sorriso ingênuo.
- Bom dia - seu tom foi seco. - Dormiu bem?
Obviamente ele estava perguntando se tivera visões, mas como ela estava um pouco irritada resolveu testar o humor do capitão pela manhã.
- Ah, posso dizer que sim! O colchão é muito aconchegante, dormi logo.
Ela conseguiu seu objetivo, Matteo irritou-se.
- Vamos parar com isso? Você teve visões ou não?
- Se você queria saber isso, por que não perguntou algo?
Vicenzo abriu a boca para falar, mas Rebecca o cortou. A brincadeira acabara.
- Sim, tive. E para sua infelicidade, eu vou com você!
- Sua companhia nunca me deixa infeliz. Mas antes me conte o sonho.
Ela falou tudo, inclusive a perca da fala por ser acordada. Vicenzo ouviu, depois começou a andar de um lado para o outro perturbado.
- O que foi?
- Você n******e ir-disse aos poucos-é muito perigoso!
- Nem vem - agora a irritada era ela - nós fizemos um trato!
- Sei que fizemos - ele parecia apreensivo - mas a visão é clara. Ela nos avisa tudo! Você não percebe?
Ele disse parando de andar e olhando diretamente para os olhos azuis de Rebecca:
- Se você for, ele te reconhecerá e vai mandar prendê-la.
Ela havia entendido agora. Realmente, se fosse, se arriscaria a ser capturada por piratas, de novo.
De repente, a luz fez-se em sua mente:
- Aí que você se engana!
- O quê?
- Arranje algumas roupas...Com Giovanna.
Ele arqueou as sobrancelhas, obviamente não entendendo, mas mudou sua expressão no mesmo instante.
- Agora entendi! Venha comigo.
Eles saíram do gabinete e se dirigiram para o convés, Giovanna estava lá, fazendo exatamente nada.
- Espere aqui.
Disse e se dirigiu para a pirata. Quando ele começou a falar, a boca de Giovanna começou a se movimentar e olhou na direção de Rebecca. Vicenzo continuou falando e, um pouco relutante, ela saiu, entrando no interior do navio.
Matteo voltou para onde a garota se encontrava e esperou a pirata voltar, agora trazendo trajes dobrados na mão:
- Tome - falou rispidamente, entregando-as a garota e sumindo.
Rebecca esticou as roupas a sua frente:
- Você não espera que eu use isto, não é?
- A ideia foi sua.
- Mudei...
- Tarde demais, coloque as roupas quando formos sair.
-Como assim, quando formos? Não vamos agora?
- Não, meus marinheiros vão localizar Blackew e pedir que ele se encontre comigo em uma taberna.
- Que se encontre assim é melhor, tenho tempo de me arrumar...
- Isso mesmo, faça-o.