Mistério do Amanhecer

REVELAÇÕES

-Vicenzo, preciso falar com você.

Ela estava no gabinete do capitão.

-Sobre ontem?

-Não, vamos...Esquecer o acontecido.

-Muito bem então, o que você quer me falar?

Ela se dirigiu para a costumeira cadeira de sempre e se sentou:

-É sobre o Johnny...

-Ah...Sim, o rapaz. O que foi?

-Nós devemos contar a ele, não? Digo, você saiu para conversas com ele para ver se ele era de confiança, e acabou trazendo-o para o navio. Isso é a sua demonstração de confiança?

Notando que a conversa iria ser longa, Matteo sentou-se na cama antes de responder.

-Sim, é. Concordo em contarmos tudo para o garoto. E por isso mesmo achei melhor tê-lo na tripulação. Não seria muito oportuno ele ficar sabendo de tudo e passeando por aí.

-Ele não iria contar nada!

-Mas é melhor se prevenir, não? E ele pode vir a ser útil.

-Em quê?

-Digo futuramente...Nunca se sabe, não é?

Ela suspirou, seria melhor deixar como está e parar de insistir.

-Então, quando contamos para ele?

-Agora mesmo.

-Agora? -ela se surpreendeu.- Neste instante?

-Por que não?

-Ah, nada. É que eu não estava preparada, quer dizer...

-Eu te ajudo.

-Obrigada.

Vicenzo se dirigiu para a porta e colocou a cabeça para fora.

-Você, homem! Mande Johnny vir aqui agora!

As palavras soaram abafadas para Rebecca, que ouvia do lado de dentro.

-Aye, capitão!

Matteo voltou para dentro, deixando a porta entreaberta:

-Pronto.

-E como eu começo?

-Pelo começo. Qualquer coisa eu te amparo.

-Certo...

Nesse instante Johnny entrou no local.

-Feche a porta rapaz.

O capitão havia usado um tom sério. Johnny olhou para ele e depois para a preocupada e inquieta Rebecca.

-O que houve?

-John...-Rebecca começou- lembra que você queria saber o que estava acontecendo?

-Sim...

-E da nossa conversa mais cedo?

-Lembro...

-Então...

-Você finalmente vai me contar?

-Vou...

Johnny cruzou os braços e a garota mandou-se sentar na outra cadeira, que ficava de frente para a escrivaninha e de frente para ela. Vicenzo não gostou dela dar ordens em seu próprio gabinete, mas não era o momento para discussões. Rebecca calou-se. Johnny um pouco impaciente perguntou:

-Então?

-Bem-ela suspirou- começou quando fui raptada pelo Seria, melhor, antes até de você ir para Turniffe.

-Antes até?

-Bem, na realidade só fui descobrir depois que estava no Sereia.

Matteo franziu o cenho, ela não estava indo muito bem.

-Becca...Não estou entendendo nada.

-Eu sei...Ouça, e não me interrompa, por favor.

"O Sereia Esmeralda aportou em East Bridge. Lá minha vizinha me contou que antes da minha mãe morrer ela lhe entregou um colar de ouro com esmeraldas, depois viemos a descobrir que é conhecido como o Colar de Vênus. Depois eu e Vicenzo fomos a minha velha casa, onde eu trouxe algumas fotografias, como lembrança. Analisando melhor as fotos, vi que cada uma tem frases escritas pela minha mãe, dando dicas sobre onde devemos ir. A primeira nos mandava usar este meu anel -ela mostrou o anel com as 'quatro sortes' do qual ela não tirava mais- para abrir um alçapão na minha casa. Dentro dele descobrimos o pedaço de um mapa que nos levava a outra casa, onde dentro de um quarto estava o outro pedaço. Descobri que a minha mãe era a Guardiã Mestra de um mistério, o qual ainda não sei qual é, somente que há várias guardiãs espalhadas por aí, esperando que eu vá buscar o que quer que seja. Na noite em que nós nos reencontramos, Vicenzo havia marcado um encontro com o Capitão Blackew, que sabe bastante sobre esse mistério. Ele nos esclareceu que somente eu tenho as respostas e chaves para chegar-se ao ponto onde está escondido um grande tesouro".

Ao fim de suas palavras a expressão de cada um era diferente. Rebecca mantinha uma falsa expressão de calma, Johnny parecia em estado de choque e Vicenzo pensava que ela até tinha ido muito bem.

-Então rapaz, superamos suas expectativas?

-Com certeza, quer dizer...Eu imaginava que esse segredo todo era porque você e a Becca estavam -ele levantou os olhos como se percebesse o que ia dizer- eu não imaginei que fosse algo desse tipo, isso é... Impossível e improvável!

-O quê?

-Desculpe-me Becca, mais toda essa história da sua mãe e esse tesouro secreto. É surreal!

-Você está me dizendo que não acredita?

-Eu...Eu não sei.

-Não sabe? Não sabe? Vicenzo, mostre a ele!

Ele se dirigiu até seu armário e retirou duas caixas. Uma era a que Johnny havia dado a ela e a outra era a que eles encontraram em sua antiga casa.

-Olhe o que tem dentro.

Matteo lhe entregou as caixas. Primeiro ele abriu a que tinha dado para Rebecca, realmente entre várias coisas estavam as fotos com frases, inclusive a que falava sobre quatro sortes.

Ele abriu a segunda e arregalou os olhos, em suas mãos estava um colar de ouro e esmeraldas que provavelmente valia muito. Ele olhou abismado para a jovem.

-Então é verdade?

-Claro que é verdade. A troco de quê eu inventaria isso?

-Não sei, é que estava tudo muito...

-Estranho?

-Então rapaz, agora que você já conhece os fatos, está disposto a nos ajudar?

Rebecca e Johnny olharam espantados para Vicenzo e disseram juntos:

-O quê? Ajudar?

-Sim... Você já conhece tudo, por que não nos ajudar a achar esse tesouro? Já lhe disse, tudo dividido igualmente. Mas os homens não sabem de nada, e também não irão ver o brilho do ouro. Digo isso não por ganância, realmente não me atrai a ideia de enganá-los, mas o tesouro é seu, Becca...Você que deve ficar com ele. Eu e o Johnny também, claro.

-Não, claro que daria para vocês... Mas não havia pensado nisso ainda.

-É bom pensar, tendo um tesouro em vista.

-Sim, mas essa não é a nossa primeira preocupação -finalmente Johnny falara- temos de nos preocupar com Blackew. Pelo que sei, ele não é um homem de se dar às costas.

-E o que faremos?

Foi Matteo que respondeu:

-Temos de obter a confiança dele e descobrirmos todo o possível. Mas sem revelar que estamos com você.

-Por quê?

-Bem, ele está tão interessado no tesouro, e sabe que as chaves estão com você. A filha da guardiã suprema.

-Qual o plano?

-Convidarei Blackew para vir ao Sereia e conversaremos sobre descobrir mais coisas e dar-lhe confiança da minha palavra. Enquanto isso, vocês dois tentem não aparecer, capische?

-Podemos tentar descobrir a próxima pista.

-Eu e a Becca já tentamos...Ela leva ao mar.

-Sim, mas nós nunca mais voltamos a tentar decifrá-la. Acho que foi uma ótima ideia do John, enquanto você conversa com Blackew, nós desvendaremos a pista.