— Está vestida? — Perguntei quando a ouvi sentar na beira da cama.
Permaneci em pé ao lado da banheira todo o tempo enquanto ela se secava e se vestia.
A atração que ela exercia sobre mim parecia crescer a cada instante, era impossível negar o vínculo entre nós.
— Sim, senhor, não precisa mais usar a venda.
A ausência da natureza dela aumentava o meu desconforto. Era normal não sentir antes, no entanto, não era normal não sentir após uma quase completa transformação.
— Sinto muito, Pequena, se passei dos limites. — Disse tentando me redimir daquilo que não me arrependia.
Ainda podia sentir o calor da pele dela nas minhas mãos.
Segurei o seu rosto e busquei em seus olhos uma faísca que fosse da brava loba Luna que se escondia dentro dela. Ela me fitou de volta por alguns segundos e seus olhos careciam do brilho de antes.
— Mostre-me a sua loba, Pequena! — O tom de voz era baixo e tranquilo, mas havia uma ordem que ela não tinha como ignorar.
Sua única reação foi estremecer com um calafrio antes de abaixar a cabeça.
— Não a sinto desde… — Ela tocou o ferimento no pescoço e se calou.
— Deixe-me ver o ferimento. — Enquanto ainda falava, seguei seu pescoço e virei para o lado. Apesar de ser um ferimento leve, as marcas de dentes estavam visíveis.
A dor no meu peito pelo remorso não foi maior do que a dor em minhas entranhas causada pela fera, me cortando por dentro em protesto pelo m*l feito de nossa forma de lobo.
Somos um… Eu fiz isso com ela.
O lobo tirou finalmente o r**o dentre as pernas e confrontou o resultado de suas ações. O coração acelerou com a tentativa dele de tomar o controle.
— Nadja, meu lobo quer curar o ,seu ferimento.
Com um movimento súbito ela se afastou, assustada ao me ouvir mencionar a forma de lobo.
— Preciso do seu consentimento, Pequena… — Insisti. — Ele só quer ajudar… eu só quero ajudar.
Ela precisava de ajuda, visto que sua loba a estava punindo, ou o ferimento não cicatrizaria e permaneceria sangrando e enfraquecendo-a
— Ele queria me matar…— Ela disse com a voz fraca, enxugando a lágrima que escorreu pelo rosto.
Ele queria matar quem feriu Rael, não sabíamos que era ela, ou que era uma mentira… Quando viu que era ela, ele não mais tiraria a sua vida, apenas… Eu sou um Alfa, isso não é desculpa para cometer um erro tão grave.
— Se ele tivesse a intenção de te matar, você não estaria aqui agora. Um lobo alfa não falharia em um ataque tão fácil.
Era uma meia verdade, a intenção de feri-la era real.
— Por que ele me atacou, então?
— Te explicarei tudo assim que estiver curada, mas não posso permitir que continue sangrando e com dor diante de mim. Permita que eu te cure, Pequena Luna.
Ela fechou os olhos com força e pensei que ela iria rejeitar a ajuda, mas depois de alguns segundos, ainda de olhos fechados, fez que sim com a cabeça.
De vagar, para não sobressaltá-la, segurei suas mãos, que cobriam o pescoço, e as afastei. Os “arranhões” estavam abertos e gotas de sangue se formaram. Meu Lobo se fez presente e dei o controle da minha forma humana para ele.
Ela ofegou, espantada ao fitar os meus olhos. O fedor do medo chegou às minhas narinas e o lobo soltou um grunhido, perturbado com a reação dela.
— Não tenha medo de mim, não vou machucar você. — A voz alterada do lobo se fez ouvir.
— Você me machucou antes…— Ela soluçou, prendendo o choro.
— É o meu trabalho proteger o filhote.— O lobo se justificou, mas nem mesmo ele considerava tal explicação suficiente.
— Eu não machuquei o filhote! — Ela ripostou, voz baixa, porém firme, de quem foi acusada injustamente.
— Eu sei…
Um lobo Alfa raramente se arrepende de ago, muito menos pede desculpas, mas havia vergonha em nossa voz.
Aproximamos nossos rostos, o perfume dela ainda mais intenso e intrigante com ele no comando. As sensações humanas ampliadas pela influência da natureza lupina. Os pelos da minha nuca arrepiaram quando o sabor do seu sangue escorreu pela garganta. Ele lambeu a ferida, a saliva fazendo o trabalho de cicatrização e o toque da língua na pele ativou mais sensações do que o planejado.
Ouvi-la gemer quase me fez perder totalmente o controle. O arma de sua excitação fez minha boca salivar de desejo.
Com muito esforço, me afastei. Teremos tempo para nos conhecer melhor como macho e fêmea após esclarecermos o que ainda estava encoberto.
— Precisamos conversar, Luna Nadja,
*****
O lobo dele me assustava mais do que a fera. Não importa o que ele diga, eu vi nos olhos dele o desejo de me matar. Eu sei que alguma coisa aconteceu que o impediu, lembro do n***o dos olhos naquele segundo antes dos dentes alcançarem a minha carne.
A fera não me queria morta, mas o lobo, sim.
É muito difícil para mim, compreender como funciona um ser que é um e ao imenso tempo três. m*l consigo compreender a voz da minha cabeça. Minha natureza é tão diferente de mim, segura e calculista.
Estava escondida em meu âmago, como forma de punir o Alfa.
Eu me perguntava por que razão ela acreditava que ele se importaria conosco, mas ela apenas ergueu a cabeça e se escondeu tão dentro de mim que cheguei a pensar que tinha me abandonado.
Aliás, ela só deu sinal de vida quando o Alfa me tocou, sarando a ferida.
Era como se eu pudesse sentir ela dentro de mim abanando o r**o como um cachorrinho carente.
Sua voz estava diferente, mesmo depois que o lobo retrocedeu e o humano tomou totalmente o controle. Estava solene e ainda assim, intimista. Diante de mim não estava o Líder do clã dos Lobos Negros, mas simplesmente o homem sem a máscara de Alfa.
Não saberia dizer se era algum tipo de truque para me enganar, mas por que razão ele se daria a esse trabalho, apenas para enganar uma serva?
— Eu quero que sejamos honestos um com o outro, tudo bem, Pequena?
Sacudi a cabeça concordando.
— Isso significa que você pode e deve falar tudo o que vier na sua mente, e perguntar qualquer coisa que desejar, entendeu?
Repeti o gesto.
— Palavras, Nadja, quero ouvir a sua voz em cada resposta.
— Eu entendi, Alfa.
Ele passou a mão no rosto e suspirou ruidosamente.
— Pode me chamar apenas de Dérik quando estivermos sozinhos, tudo bem?
Cheguei a sacudir a cabeça, mas parei antes que ele reclamasse.
— Sim Alf… Derik.