Aproximação 2

1887 Words
— Enfim, como já sabe, sou Dérik, Alfa do clã dos Lobos Negros desde os meus dezenove anos. Ao contrário do que muitas pessoas acreditam, demorei a me transformar e não era o herdeiro do clã. Meu primo se transformou em lobo aos dezesseis e seria nomeado Alfa tão logo encontrasse a sua companheira, ou meu tio lhe entregasse o trono. No entanto, quando finalmente me transformei, meu lobo se recusou a aceitar meu tio ou primo como Alfa. Ele considerava ambos fracos. Desafiei meu primo e venci. Minha terceira forma apareceu pouco depois, eliminando todos os que se opuseram à minha liderança. Ele estava me contando a sua história, e embora já soubesse de muitas coisas, me perguntava a razão de ele estar se expondo tanto para mim. — Ser um Alfa não é apenas sentar em um trono, é necessário muito compromisso e responsabilidade com todos os membros do clã, que confiam e dependem de mim. O clã sempre foi a minha prioridade. Nadja, consegue entender? — Acho que sim… Embora esteja no clã há tão pouco tempo, pude notar o respeito e a admiração do clã em relação ao seu líder. A confiança que tinham nele era semelhante a de filhos em relação ao pai. Teoricamente, um alfa é o pai d de uma matilha, e um clã é um aglomerado de matilhas vivendo em comunidade — Você sabe como funciona um clã? O motivo das regras? — Não…. A dinâmica de um clã era novidade para mim, tudo o que conheci antes era uma alcateia que se beneficiava em explorar outros mais fracos. Ele me fitou por uns segundos antes de voltar a falar. — Como era o clã onde vivia antes de vir para cá? — Hm…não era exatamente um clã… era uma tribo de lobos perdidos, viviam de pilhagens e…. Eles vendiam e alugaram pessoas…. A Beta fêmea não te contou? Seu rosto permaneceu inexpressivo, mas o brilho nos olhos mudou. — Ela me revelou algumas coisas, mas gostaria de ouvir de você, já que estamos sendo sinceros um com o outro. — Não me lembro de nada antes de estar ali, mas Rebecca me disse que fui levada pra lá há alguns anos… — Quem é Rebecca? Ele estava curioso sobre o meu passado e tentava me fazer continuar falando. Não havia muito o que contar além da sina da escravidão. Além disso, não confiava nele o suficiente para contar tudo o que sabia da minha amiga. — Minha amiga. Eu acho que nunca mais a verei novamente… — Gostaria de me contar mais sobre ela? — Não… Me conta como funciona o clã, por favor. Mudie o assunto. Tinha esperança de que Rebecca estivesse segura e feliz, e não entregaria informações sobre ela a ninguém, por medo de prejudicá-la. Ele se sentou ao meu lado e segurou uma das minhas mãos entre as dele. Enquanto falava, seu polegar acarinhava o dorso da minha mão. Um gesto simples, mas que me ajudou a relaxar. — Nossa espécie foi unida pela grade Deusa séculos atrás. Antes, as lunas eram apenas companheiras dos alfas, fêmeas como as outras, com uma nomenclatura diferente. Como beta fêmea, uma alfa fêmea seria luna….No entanto, nossos antepassados não deram valor às suas almas gêmeas, movidos por ganância e futilidade, muitos nascidos alfas rejeitavam suas companheiras em busca de uma fêmea com mais status, ouro, ou futilidade como aparência física. A companheira podia sentir a dor da traição, enquanto o alfa seguia a sua vida como se nada tivesse acontecido. Matilhas inteiras apoiavam a decisão do alfa de escolher uma fêmea mais financeiramente conveniente, ou de uma matilha maior. — Suas palavras fluiam com elegância e eloquência, e eu poderia continuar ouvindo aquela voz por horas sem me cansar. — Com o tempo, o número de alfas foi diminuindo. Veja bem, é muito raro um filhote alfa que não seja nascido de uma luna. — Seu filhote é um alfa. — Sim, mas te explicarei melhor as circunstâncias de seu nascimento mais adiante. Deixe-me continuar a História. — Continue, por favor. — Alfas se tornaram raros e lunas cometiam suicídio devido à rejeição, ou corrompiam a sua natureza e matavam os filhotes do adultério. Meu bisavô chegou a condenar uma luna fêmea a morte porque ela retornou anos depois da rejeição e matou os filhotes do adultério do meu tio-avô. Foi nessa época que uma doença acometeu os lobos de toda Aniria. Fêmeas contraíram febres terríveis, que modificou o sistema reprodutivo. Apenas os ômegas não se contaminaram. Desde então, a ovulação das fêmeas passou a depender de hormônios produzidos pela Luna, especialmente durante a cópula de companheiros de verdade: Um Alfa e uma Luna de nascimento. — Todo o nosso planeta sofreu com isso? — Sim, o número de nossa espécie em Onírica diminuiu bruscamente. Nos tornamos alvos fáceis para os inimigos. Nossos antepassados tentaram várias formas de corrigir a mudança genética, mas nem mesmo as bruxas conseguiram criar poções que resolvam esse impasse e nossa espécie está cada vez em menor número. — Eu não sabia de nada disso. Estive presa por tanto tempo que acreditei que lobos dominavam o planeta, especialmente pela autoridade do lobo que me aprisionou sobre os clientes. — Fomos os redadores dominantes um dia, não somos mais, devido ao número reduzido. Individualmente, somos fortes, ágeis, vivemos por séculos, mas a reprodução está condicionada à presença de Lunas, e não me refiro a posição política, mas às nascidas Lunas, como você, Nadja. A sua presença em meu clã, por si só, já é uma dádiva da grande Deusa. — Eu? Mas o que posso fazer para ajudar? Sou apenas uma ex-escrava…— A pergunta se formou em minha mente e saltou pela boca sem que eu pudesse segurar. De alguma maneira, me apiedei e senti a necessidade de ajudar o clã. — Você é muito importante e valiosa, Nadja. É uma Luna de nascimento. Entenda que, por ter tanta importância, Lunas de nascimento se tornaram alvos de ataques de espécies inimigas, que se empenhavam em exterminá-las antes mesmo que pudessem conhecer seus alfas., como alguns vampiros e demônios. — Oh… Por isso nos aprisionaram? — Infelizmente, sim, Pequena. Existem lobos inescrupulosos e perversos, mas entenda, não somos todos iguais. Há pessoas boas e ruins em todo lugar, parte de todas as espécies, mas um Alfa de verdade jamais feriria uma Luna! Levei a mão instintivamente ao pescoço, onde ele tinha me mordido. — Isso nunca acontecerá de novo, Nadja! — Ele engoliu em seco e desviou o olhar. Após passar a mãos pelo rosto, parecendo mais cansado, ele continuou: — Nosso clã serve fielmente a Hecate, na esperança de suavizar a sua ira contra nossa espécie. Não forçamos fêmeas e é estritamente proibido rejeitar a alma Gêmea. Temos orgias e cerimônias sexuais durante as luas cheias, para aliviar o t***o entre os não marcados, ou os solo. — O que são os “solo”? — Lobos que não tem companheiro, como ômegas, ou como eu… — Você? Como assim? — Perguntei curiosa. — Minha companheira morreu há muitos anos, meu clã estava condenado a ser extinto por minha causa, afinal, não tinha um herdeiro para entregar o clã e quem derrotaria a minha terceira forma? — Eu não creio que alguém consiga derrotá-la… Um sorriso orgulhoso se formou no canto dos lábios dele, mas logo ele escondeu. — Quando senti a minha conexão com a minha companheira, foi como ser presenteado pela deusa. Me senti invencível. Porém, meu vínculo com ela rompeu o vínculo da última Luna com o clã, preparando as energias para receber a nova Luna. Ela morreu em nosso território, mas não em nossa terra, nos deixando em um limbo. Sem o vínculo com a antiga Luna e sem completar o vínculo com a minha companheira. Nos tornamos um clã sem Luna, condenados a infertilidade. — Oh… Entendo, sem conexão alguma, ainda a espera de completar o vínculo com a nova Luna…. Sinto muito… Por isso não há filhotes aqui, além do seu? — Exatamente. Rael é o único filhote do clã. Eu precisava fazer alguma coisa para salvar o meu clã, e a oportunidade apareceu quando uma Luna de nascimento fugiu de seu Alfa. Ela pediu ajuda e eu a ajudei, mas o que ela não sabia era que eu tinha segundas intenções. Não me envergonho do que fiz, Nadja, lembre-se de que meu clã é minha prioridade. Convidei o Alfa para vir buscá-la e droguei os dois com um elixir que o Lorde Agar preparou. Um forte afrodisíaco que faria com que eles não conseguissem esperar até retornarem para casa. Enquanto a droga fazia efeito, os casais marcados usaram o óleo de Baco para acelerar a ovulação. Quando o Alfa e a Luna copularam em minhas terras, seus hormônios se espalharam entre nós. Tive que fazer o que fiz, entende? — Acho que sim… Não concordava com a atitude dele, mas podia compreender. — Dentre as fêmeas disponíveis do meu harém, Hira se ofereceu para gerar o meu filhote. Ela é a mais forte das guerreiras do clã, de uma família de Betas, seu falecido companheiro era meu Beta, irmão de Eli. No dia seguinte, o casal de Alfas foi embora, furiosos comigo e o Alfa quase declarou guerra, não fosse pela Luna que, embora magoada comigo, me perdoou. Eu implorei que ficassem, pelo menos uma semana, até que os fetos criassem raízes no ventre das mães, mas o Alfa se recusou. Derik levantou e ficou de costas para mim, havia grande pesar em sua voz ao continuar o relato. — O que fiz foi uma grave ofensa e ele não confiava mais em mim nem no meu clã. Não o culpo, teria feito o mesmo. Mas sem os hormônios da Luna, as fêmeas não demoraram a sofrer de dor. — Elas perderam os filhotes…. — Sim… Hira também sofreu, teve que ficar de repouso durante toda a gestação. Meu lobo tomou o controle durante os nove meses, tentou marcar Hira como sua para que ela ficasse mais forte e mantivesse a gestação, mas a marca sempre se pagava a cada ciclo lunar. Ele não deixava que ninguém se aproximasse, com medo de perder o filhote e ter que suportar mais essa dor. Ele se virou para mim novamente, seus olhos suplicavam por compreensão. — Quando ouvi o choro de Rael e os gritos de Eda de que alguém queria feri-lo… — Seu lobo achou que eu estava fazendo como a fêmea da história do seu bisavô? — Sim… — Mas não houve adultério. — Argumentei. — Nadja, minha natureza quer você e a sua loba aceitou o meu lobo como companheiro dela. Lobos são predadores instintivos e vorazes, eu já tenho um filhote, um herdeiro para o clã. Meu lobo pensou que ela não o aceitaria… — Seu lobo não confia em mim… — Ele não confia em ninguém. — E a fera? — Minha terceira forma me abandonou quando decidi implantar a minha semente no ventre de Hira. Jamais aceitou Hira como fêmea nem como mãe de nosso filhote, para ele, Hira é apenas a parideira. A fera só retornou quando te encontramos na fronteira do clã. Por sua causa. Ela quer marcar você como companheira. Eu quero você como minha fêmea, Nadja!
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