Transformação

1505 Words
Caminhamos devagar, enquanto conversávamos. O sol estava se pondo e era possível ver as primeiras estrelas no céu. Andamos por cinco minutos quando Sunna parou de falar e colocou a mão no peito. — O que houve Sunna? — Eu não sei, estou me sentindo estranha. — Você está pálida e está suando muito. — Toquei sua testa e estava queimando em febre. — Vamos pra casa, tenho me sentido assim ultimamente, acho que minha loba nascerá na próxima lua cheia, está irradiando em mim há dias. Ela disse com um sorriso de esperança. O nascimento do labo é um evento muito aguardado por nossa espécie, quando finalmente nos sentimos completos como indivíduo, conhecendo nossa alma lupina. Alguns passos adiante ela parou novamente. — Droga! Está mais forte hoje, meu peito está queimando! — Quer sentar e descansar um pouco? Ela assentiu e sentamos na beira da estrada. Notei que respirava com dificuldade e coloquei a mão em sua testa mais uma vez. — A febre está alta demais, Sunna, quer que chame alguém? — Não, fica aqui comigo um pouco, vai passar. Lobos costumam esperar a lua cheia, ela só está se mostrando. O sorriso de Sunna não era sincero, ela estava ficando com medo, mas não queria me preocupar. Esperamos um pouco, mas ela não melhorou, e logo estava chorando e dor. — Vamos, Sunna, logo encontraremos alguém para nos ajudar! Ela segurou a minha mão, seus cabelos vermelhos grudados no rosto suado e pálido. — Luna Nadja, está doendo muito e eu não sinto a loba, acho que tem alguma errada! Larguei as cestas no chão e passei o braço dela sobre meu ombro, para que pudesse carregar seu peso. — Se apoie em mim, vou te ajudar a andar. — Não entendo, a loba sempre se faz sentir quando me sinto m*l, mas não a sinto, isso é normal? — Eu não sei, Sunna, mas vai ficar tudo bem, sua loba já está madura e deve estar poupando energia. Talvez ela não possa esperar até a lua cheia. Eu também não estava me sentindo normal, estava com secura na boca e meu peito ardia, mas nada comparado a dor nos olhos dela. — Ela vai nascer hoje, não é? Eu estou com medo, queria minha irmã e minha prima aqui, elas têm experiência… — Quer que eu as chame? Pode esperar aqui enquanto vou até elas! — Sim, eu vou ficar bem! Ajudei-a a sentar-se no meio fio. Sua respiração estava alterada e as gengivas sangravam. Não disse nada para não piorar o estado de nervos em que ela se encontrava. Estava prestes a seguir em busca das fêmeas, mas avistei um grupo de machos se aproximando no final da estrada de terra. Os pelos da minha nuca se arrepiaram, tive péssimo pressentimento quando identifiquei o general que desejava acasalar com a loba de Sunna. Quando nossos olhos se encontraram, ele sorriu e sue sorriso era perverso como os dos machos do cativeiro. “Corra!” A voz ecoou em minha mente. — Sunna, precisamos correr para o outro lado! — Disse virando-a para o caminho de onde viemos. Ela fechou os olhos com força antes de me encarar, seu olhar estava sem foco. — Mas o povoado fica pra lá, logo depois da arena.— Sua voz soava estranha, como se tivesse ingerido muito licor. Os passos dos machos se fizeram ouvir mais altos, eles estavam se aproximando. — Me escuta, Sunna, alguém mora do outro lado? — Perguntei, puxando-a para andar mais rápido. — Ai…não consigo pensar direito… O curadeiro, lorde Agar, mas fica muito longe… — Vamos atrás dele, tá bom, ele vai saber o que fazer! Consegue correr? “Ei, fêmeas, aonde estão indo?” Um deles gritou entre risos, o que desencadeou a gargalhada dos outros dois. Não respondi, apressei o passo, carregando a maior parte do peso de Sunna. “ Corra!” A voz da minha cabeça gritou, aflita. Tinha algo de errado com ela, comigo. Estava me sentindo quente, meu rosto começou a suar. — Precisamos correr, Sunna! — Espere, aqueles machos podem nos ajudar! — Ela disse com a voz embargada, parando de andar. — Não, Sunna, eles estão com más intenções. — São membros do nosso clã, Luna, vão nos ajudar. Eu preciso de um macho para me ajudar. Ela sorriu estranho, seus lábios vermelhos, embora a pele do rosto estivesse tão pálida quanto de um fantasma. — É o general Azis, Sunna, e sua loba está prestes a nascer! Seus olhos distantes se arregalaram. Ela engoliu em seco e segurou a minha mão. — Lunna Nadja, me ajude a sair daqui, eu estou me sentindo estranha, minhas partes de fêmea estão queimando, não consigo pensar direito. Corremos o mais rápido que pudemos em nosso estado. Os machos, atrás de nós, gargalhavam, achando engraçado nossa tentativa de fuga, Eles nem mesmo corriam, apenas apressaram os passos. “ Vocês podem correr, mas não podem se esconder.! “ Sunna, deixa eu ajudar a sua loba a nascer, não vai conseguir escapar dessa vez!” Imagens de Rebecca e eu escapando veio a minha mente, mas dessa vez não tinha ninguém para ajudar. Diferente de Rebecca, Sunna estava passando m*l, seus passos inseguros demais para correr rápido. O Céu estava escuro, a lua crescente fraca demais para iluminar o caminho. Lobos enxergam no escuro, mas eu ainda não estava madura para adquirir os dons da minha natureza. “ Para o bosque, corra!” Sem pensar duas vezes, obedeci à voz, trazendo Sunna comigo. Corremos o mais rápido que pudemos, até ela cair no chão com um grito de dor. O osso de seu braço se partiu em vários pedaços. Pelos apareciam rapidamente, atravessando a pele que se desfazia e escorria com o sangue da forma humana. A transformação estava acontecendo. “ Estou sentindo o cheiro da sua loba, Sunna, logo vai ser minha.” “ Vou encher seu ventre com a minha semente, Sunna!” “ Azis, será que os pelos da b****a dela também são vermelhos?” Os três pervertidos gargalharam enquanto lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Uma dor aguda fez parecer que o meu peito explodiria. Nunca senti tanto medo, não apenas por mim, mas por Sunna. Meu coração gritava que eu precisava protegê-la, que a segurança dela era minha responsabilidade. No meio da mata, avistei uma cabana e arrastei Suna para dentro o mais rápido que pude. Um gesto de desespero que talvez tenha piorado a situação. Deitei-a no chão empoeirado e esfreguei os olhos, precisava encontrar uma solução… Estávamos no meio do nada, trancadas numa pequena cabana velha. Os três machos perversos do lado de fora estavam cochichando algo que não consegui compreender. Sunna gritou novamente, seu grito era assustador, o suor saia por seus poros misturados ao sangue. Sua dor e angústia eram extremas. Batidas de leve à porta seguiram a voz prepotente do general Azis. — Luna Nadja, Sunna é minha, entregue-a pacificamente! Passei a madeira de trava na porta, mas não seria suficiente diante do ataque dos três lobos adultos. Olhei em volta, com muito esforço empurrei a grande estante de madeira para barrar a entrada deles. “ Luna Nadja? Como assim? Essa não é a fêmea que o Alfa reivindicou?” Um deles vociferou. " Estou fora, não quero morrer!" “Fica quieto, ela também foi drogada e vai consentir, é só uma questão de esperar fazer efeito!” Drogada? Fomos drogadas… mas como, se eles nem chegaram perto de nós? Sunna me encarou com os olhos lacrimejando sangue, desesperada fazendo que não com a cabeça. — Ela não te quer, por favor, entenda e vá embora! Eu sabia que tentar argumentar com pervertidos não teria efeito, mas não era como se tivesse muitas opções. Arrastei todos os moveis que encontrei para barrar a porta, precisávamos ganhar tempo. “ Deusa Hecate, eu te imploro, nos ajude!” — Ela não tem querer! Já paguei o tributo ao alfa para ser o primeiro dela! A loba dela vai me aceitar, te garanto! — Ela disse que não te quer, general, vá embora, está piorando as coisas, ela não pode ficar nervosa agora! Sunna rosnou, seus olhos estavam negros, seu queixo quebrou e caiu no chão, formando uma poça de sangue, cedendo lugar a um focinho. — p**a teimosa! — Ele bateu com força na porta de madeira, balançando a mesa a barrava. — Entregue-a para mim e deixarei que vá embora em paz. Se insistir em esconder minha fêmea de mim, meus homens aqui vão fazer com você o mesmo que farei com ela! A transformação de Sunna foi excruciante e rápida, de um jeito não natural. Sua loba respirava com dificuldade deitada no chão. Uma bela loba, com pelos negros avermelhados nas pontas. Seus olhos tristonhos me fitaram, sem foco e sem brilho. Seu choro partiu meu coração, o momento que deveria ser de alegria transformado em um pesadelo. Ela sabia o que estava prestes a acontecer, após a transformação completa, viria o primeiro cio.
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