O Cortejo II

1318 Words
— Espero que Eli consiga trazer, pelo menos, alguns coelhos ou lebres. Adoraria um bom ensopado! — Deve ser emocionante ter um companheiro para o cortejo. — Murmurou Sunna, que se juntou a nós, tão logo chegamos. — Um dia você vai encontrar o seu e ele te trará o que mais gostar! — Uma raposa, para fazer um agasalho! Ou um faisão, para assar na brasa! — Completou Hadit. — Eu acho que iria querer uma raposa também! — A voz de Sunna era suave e sonhadora. — E você, Luna Nadja, o que gostaria que seu futuro companheiro te trouxesse? — Eu não sei nem o que poderia desejar. Talvez algo para me agasalhar, o inverno está chegando. — Eu ia querer que meu macho me trouxesse um tigre dente de sabre! — Está delirante, Eda! Para conseguir capturar um desses, teu macho teria que ser, no mínimo, um gama! — Pois, eu sinto que o meu macho será um Beta! Um Beta de verdade, não o segundo filho… sem querer te ofender, Beta Tabita, mas só a coisa original para mim! — Não me ofende, Eda, afinal, Eli é tão Beta quanto o saudoso Roderik. Sunna se aproximou mais de mim e sussurrou em meu ouvido: “ Roderik foi o irmão gêmeo do Beta Eli, como nasceu primeiro, teve direito ao lugar de Beta. Infelizmente, ele morreu em uma batalha e Eli tomou o seu lugar.” O comentário de Eda era mesquinho e c***l, percebi que ela tinha uma língua ferina e sentia prazer em magoar as pessoas. Não sei se gostaria de ser amiga de alguém assim… Uivos se fizeram ouvir, indicativo de que os machos estavam retornando. Luna Hira se aproximou esplendorosa, ladeada por duas criadas que vestiam túnicas roxas. Não as tinha visto antes… Ela parou diante de todos e se virou em nossa direção. Estava ainda mais atraente, em outro vestido, que tinha fendas nas pernas, revelando a pele imaculada. O decote nos s***s evidenciava a generosidade da natureza em suas formas. — Essa é uma noite muito especial! — Quando começou a falar, todos fizeram silêncio e olhavam atentamente para ela. — Recebemos uma nova m****o do clã, a terceira forma de nosso poderoso Alfa retornou em sua integridade e resgatou a tradição do cortejo. Mais aplausos. Luna Hira eloquente e confiante, sendo o centro das atenções. Sua figura era bela e altiva, a pose de uma rainha. Era compreensível que o Alfa estivesse atraído por ela. Exalava sensualidade e energia. — O banquete será servido somente após a chegada dos machos. A bebida, porém… estejam a vontade, meu povo, hoje é dia de festa! A multidão exaltou a líder com alegria e algumas mulheres do harém apareceram carregando bandejas com copos e garrafões de bebidas. — Luna Nadja, há muito tempo nosso clã não tinha motivos para tanta alegria. Você trouxe esperança para os corações de cada um de nós. Virei-me na direção da voz e me deparei com o idoso barbudo de olhar travesso. — Eu? Me perdoe, senhor, mas não creio que isso tudo seja por minha causa. O sorriso dele aumentou ainda mais diante de minhas palavras. — Ah, Pequena Luna, só porque uma pessoa não conhece algo, ou não acredita nesse algo, não quer dizer que não seja verdade. Abri a boca para responder, mas ele colocou o dedo indicador nos lábios e fez sinal de silêncio. — Silêncio, Pequena Luna, os machos estão chegando! Virei-me novamente na direção da floresta em tempo de ver um lobo cinza saltar detrás de uma árvore. Ele carregava uma ave entre os dentes e a colocou aos pés de uma jovem fêmea do harém. Não tinham marcas, mas ela saltou de alegria e o abraçou. — Vivi é tão sortuda! O namorado a trata como se fosse companheira! — Disse Hadit aplaudindo a cena. — Não será tão sortuda se ele encontrar a companheira dele um dia… — Suspirou Tabita.— Ela perdeu o companheiro em um acidente, mas a companheira dele está por aí, em algum lugar… — Olha, é o Beta! — Disse Sunna com um gritinho de alegria. Tabita correu na direção dele. O grande lobo cinza-escuro largou três lebres aos pés dela antes de voltar a forma humana. Ela se jogou nos braços dele e o atacou com beijos pelo rosto, o que ele recebia de bom grado. Um grande lobo marrom escuro veio correndo seguido por outros três que não consegui acompanhar para onde foram, pois o lobo marrom correu em nossa direção. Ele parou diante de Sunna e soltou um javali. O animal ainda estava vivo e o lobo o teve ue saltar sobre ele para mantê-lo imóvel, mordendo o seu pescoço. Sunna deu dois passos para trás, olhando para Tabita e Hadit, com apreensão no rosto. Tabita deu um passo a frente, e disse com rispidez: — O javali continua vivo, não vê que poderia machucar a minha prima? O lobo rosnou e, em um golpe rápido, quebrou o pescoço do javali. A forma humana que sobrepôs o lobo tinha olhos somente para Sunna — É para você, fêmea, retire o couro e cozinhe-o para mim! Sunna permaneceu de cabeça baixa, sem reagir às ordens do macho intimidador que lhe ofereceu a caça. Ele era alto, corpo musculoso de um guerreiro, extensas tatuagens pela pele, barba n***a e cicatrizes de batalhas. Tinha a postura de um vencedor. — Eu… eu não sou a sua companheira… — É uma fêmea não marcada, parte do harém do Alfa. Seu posto é inferior, pela tradição, não pode rejeitar o cortejo de um general. — Sunna fechou os olhos com força e engoliu em seco. Ao ver que ela estava amedrontada, ele sorriu. — Ande, leve a caça e cozinhe para o seu macho! — Tabita… — Ela olhou para a Beta, suplicando ajuda. — É a tradição, prima, aceite o cortejo do general e cozinhe uma parte para ele.— Disse Tabita a contra-gosto, ainda encarando o general. Sunna levantou o rosto, desolada, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Ao vê-la naquele estado, o general mudou a postura, exibindo a ereção da sua parte de macho. — Isso mesmo, fêmea, seja obediente e me sirva, antes que eu tenha que me queixar com a Luna! Sunna fechou os olhos mais uma vez antes de se curvar e aceitar a prenda. Ela se abaixou e pegou o javali nos braços, seguindo para a parte interna do Harém, onde os criados do clã preparava os alimentos. O general estufou o peito de orgulho e manuseou a ereção, se acariciando enquanto a observava se afastar. — Ainda vai ser minha fêmea. Vou montar e marcar a sua loba assim que ela nascer! Ele seguiu rindo para junto de seus pares, que gargalhavam junto a ele. A alegria eu que estava sentindo se esvaiu. Aqueles machos tinham o mesmo olhar que os lobos da tribo que me aprisionou. Senti um medo terrível me invadir. E se tinham o mesmo plano para mim? Outros lobos surgiam da floresta, mas eu tinha perdido o gosto pela cerimônia. Não acompanhava mais o que caçaram ou para quem. Só queria que tudo terminasse, para que pudesse ter com Sunna uma conversa sobre os costumes obscuros daquele clã. Em meio ao meu desânimo, meu coração se pôs a bater acelerado sem que eu soubesse a razão. Os membros do clã uivaram e gritaram de alegria e olhei na direção do alvoroço. A fera terrível surgiu das árvores, imponente e grotesca. Os pelos negros brilhavam pelo sangue que escorria do urso que ela carregava nos braços. Diferente dos lobos, a fera podia tranquilamente se mover sobre duas patas. As pessoas rapidamente abriram passagem para Luna Hira, que sorridente, aguardava o cortejo. No entanto, para espato de todos, inclusive o meu, a fera veio na minha direção, entregou o grande urso pardo aos meus pés.
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