Nadja não tinha maneira de escapar, eles estavam próximos demais e já tinham notado a sua presença. Ela tentou correr por entre as árvores, na vã esperança de que seria insignificante demais para que aquela alcateia a perseguisse, e não podia estar mais enganada.
— Quem está aí?
A voz grave e profunda atravessou os ouvidos dela e atingiram o coração em cheio. O que significava aquela sensação? Ela parou de correr e saiu de trás da árvore, para encarar o dono da voz que causou emoções desconhecidas.
O grupo de machos a olhava com curiosidade e apreensão. Um deles emanava uma energia selvagem, quase opressora. O que lhe causou calafrios foi que ele não parecia nem homem, nem lobo, mas um monstro com a característica de ambos. Alto, musculoso, com presas afiadas e olhos negros como a noite mais fria. Quando os seus olhos se encontraram, ela sentiu uma conexão com ele tão profunda que a sua alma parecia estar aprisionada àquela fera.
Sentiu medo, porém, de alguma forma, o monstro que a assustava era também objeto da fonte de um sentimento de segurança incompreensível. Ela queria fugir dele, se manter o mais longe possível daquela criatura, mas os seus pés não se moviam, pois o seu coração queria ir de encontro a ele.
— Minha! — Ele grunhiu ao saltar em sua direção,
Nadja piscou e recobrou o controle sobre os movimentos de seu corpo. Precisava fugir, nunca vira uma fera como aquela. Era um predador descomunal, nenhum de seus algozes chegava aos pés da força que ele representava. Se a capturasse, certamente a destruiria.
Que chances ela teria contra aquele grupo de lobos tão poderosos?
Em meio ao caos de emoções e pensamentos, ela m*l conseguiu dar três passos antes da criatura saltar na frente dela, impedindo que continuasse a fugir.
Ele era tão grande que ela m*l alcançava a altura do peito, tendo que erguer a cabeça para encará-lo. Diante de tão magnífica criatura, ela perdeu as forças e desmaiou.
*****
Dérik, em sua terceira forma, segurou a pequena fêmea nos braços, com orgulho. Ela era dele e nunca poderia se afastar. A fera fechou os olhos e cheirou o pescoço dela, o perfume era inebriante, mas imperfeito. Misturado ao cheiro da pequena fêmea havia o fedor de outros machos.
Rosnou insatisfeito. Ela era dele, mataria qualquer um que se atravesse a tocar no que pertencia somente a ele!
Ao ver seu líder segurando a garota tao furioso, Beta Eli se aproximou temeroso que o Alfa danificasse uma Luna de nascimento que poderia ser tão útil para o clã. No entanto, ele não pôde chegar muito perto do casal, pois, a fera rosnou para ele, para que se mantivesse afastado.
O Alfa não queria nenhum macho perto dela.
A fera deitou a jovem no chão com cuidado e pôs-se a farejar o corpo dela, decorando mentalmente as essências de quem pretendia matar em breve. Seus homens abaixaram a cabeça, respeitosos, quando A fera seguiu farejando entre as pernas dela, na sua área mais íntima.
Ela era pura, nenhum homem havia tocado nela sexualmente. A fera ergueu a cabeça em um uivo poderoso de satisfação e vitória. Seus homens o observavam, surpresos com o comportamento do Alfa, mas acompanharam o uivo do líder. Em seguida, um coro de uivos de todos o clã se fez ouvir, em resposta ao chamado do alfa. Eles não sabiam do que se tratava, mas a terceira forma se fez reconhecer pelo seu clã, e todos uivaram em respeito e contentamento.
*****
Hira acendeu uma vela dourada diante da imagem de Sargat e se ajoelhou, sorridente. Junto a vela, no altar, o sangue de uma ave recém-morta escorria numa vasilha de ouro.
Era sua oferenda de agradecimento.
Momentos antes, o clã inteiro uivou em respeito e contentamento pelo retorno da fera do Alfa. Após anos reclusa, a fera se fez presente mais uma vez. Era uma vitória para a sua posição no clã, pois ela sabia que muitos ainda eram contrários a escolha de Dérik.
Grande parte do clã era conservadora e a culpava pela incapacidade do Alfa de alcançar a sua natureza. Naquele dia, porém, a b***a fera estava de volta, o que, na sua imaginação, significava que finalmente a havia aceitado como Luna.
Ninguém mais poderia duvidar do seu direito ao trono, se o próprio Alfa em toda a sua natureza finalmente a aceitava.
— Luna Hira, Alfa Dérik e seus homens retornaram!
Hira ouviu a voz de sua fiel mucama com prazer. Ela ergueu o corpo e estufou o peito, orgulhosa.
— Ele continua na terceira forma? — Perguntou enquanto caminhava para fora de cabeça erguida.
— Eu- eu não sei, senhora, eu não os vi, uma dos criados me contou e-
Hira se virou furiosa e estapeou o rosto da mucama.
— Como ousa vir até mim sem ter a informação completa, sua inútil?
— Perdão, senhora. — Ela gemeu tocando a área machucada do rosto. — Tem uma multidão aguardando o Alfa, vim o mais rápido possível para que a senhora pudesse recebê-los diante de todos.
Hira tirou o lenço que cobria o pescoço, assim poderia exibir a marca deixada pelo lobo de Dérik. Aquela marca lhe dera a posição de Luna, mas estava incompleta. A b***a fera teria que marcá-la no mesmo local para consagrá-la como parceira. Uma vez que estava de volta, nada impediria que ela e Dérik copulassem na frente de todos e a consagrassem como Luna eternamente.
Nada nem ninguém a tiraria do trono!
Ela seguiu orgulhosa para o pátio externo onde uma grande comoção se seguia. Brados de alegria e orgulho do clã ecoavam, enquanto os lobos chegavam. Ao avistarem o Alfa, pouco a pouco, fizeram silêncio ao notarem que ele estava mais uma vez em forma humana e carregava uma pequena fêmea nos braços.
Quem era ela? O que significava aquilo?
Hira ainda não os tinha visto e se aproximou, empurrando quem se atrevesse a ficar em seu caminho. Ela estacou no momento em que Dérik passou por ela, sem nem mesmo olhar em sua direção, ou notar a sua presença. Ele carregou a misteriosa criatura para dentro da casa maior, e seguiu direto para o seu quarto com ela.
Hira m*l podia acreditar que Dérik levou aquela fêmea para o quarto dele, local em que ela, a Luna, nunca pôde entrar!
Ser ignorada por Dérik não era novidade, mas ela se convenceu de que essa era a personalidade dele, desde que perdeu a alma gêmea. Todos compreendiam as razões dele em ser um alfa taciturno, frio e impiedoso. Era igualmente implacável com todos, sendo ela a única que ele tentava marcar a cada lua cheia.
Portanto, sua mente estava criando uma série de perguntas, principalmente: “quem era aquela criatura fedida que Dérik carregava nos braços”?
Hira se afastou devagar do grupo remanescente que ainda vibrava celebrando o Alfa. Olhou em volta com desdém, para ela, não passavam de um bando de bajuladores.
Ao avistar o Beta, ela seguiu na sua direção.
— Beta Eli, pode me explicar o que está acontecendo?
Eli se virou para ela com os olhos fixos na mão que segurava seu braço.
— Isso é inapropriado, Hira!
Quando Hira foi nomeada a Luna do clã, Eli e sua companheira foram seus maiores apoiadores. Ela é forte, guerreira, bonita e com excelentes conexões. O casal depositou nela a esperança de num futuro melhor. Acreditaram, também, que, quando ela copulasse com o Dérik na cerimônia, seus hormônios seriam suficientes para influenciar as fêmeas, e assim, realizariam o sonho de terem filhos.
No entanto, quando a Luna de nascimento visitante foi embora com o seu companheiro, as fêmeas que haviam gerado abortaram uma a uma. A cada nova lua cheia, mais uma tentativa falha trouxera amargura aos que antes eram esperançosos. O próprio Eli testemunhou sua fêmea sofrer três abortos antes de decidirem parar de tentar.
A crença de muitos do clã era que a deusa Hécate se desagradou da escolha de Dérik. Hira não passava de uma falsa Luna.
Ela afastou a mão e o encarou com raiva.
— Também é inapropriado que me chame pelo nome, para você, sou Luna Hira!
O rosto sério de Eli exibiu um meio sorriso, encarando a mulher.
— Em que posso ajudá-la, “Luna Hira”.
Ela ignorou o óbvio sarcasmo no tom de voz dele.
— Diga-me, quem é a criatura que Dérik levou para dentro?
— Não sabemos, a encontramos na fronteira leste e o Alfa decidiu trazê-la para investigação.
Hira analisou a expressão no rosto dele na tentativa de captar algum engodo
— Por que Dérik a levou para o quarto e não para uma cela, onde é o lugar de invasores?
— Isso, você terá que perguntar diretamente a ele, mas, posso te adiantar que ela é uma Luna de nascimento, não podemos tratar m*l alguém da importância de uma verdadeira Luna, não é mesmo? — Argumentou condescendente. — Se me dá licença, tenho algo importante para fazer.
Antes de esperar por resposta, ele se foi, deixando-a sozinha com seus pensamentos.