Minha

1193 Words
Dérik virou a mão de um lado para o outro, as garras cortando a carne do ventre do inimigo. O sangue quente e pegajoso escorria pelo antebraço até o cotovelo. O corpo caiu para trás, sem vida. Vendo que o líder estava morto, os sobreviventes dos Lobos sem clã, que ainda podiam correr, fugiram deixando os feridos para trás. Esse era o terceiro ataque de lobos sem clã contra o clã dos Lobos Negros em um mesmo ciclo lunar (um mês). Bandos de perdidos se uniam na tentativa de derrubar o Alfa e tomar o território. Há cinco anos, o boato de que Alfa Dérik não possuia mais a terceira forma se espalhou rapidamente, logo após a nomeação da Luna do clã. — Vencemos, Alfa! — Beta Eli se aproximou, o corpo tão sujo de sangue quanto o do Alfa. — Quantos perdemos dessa vez? — Perguntou Dérik com o olhar distante. Eli abaixou a cabeça. Pensar nos irmãos mortos em batalha pesava em seu peito. — Alfa, três machos foram mortos e Adanir foi gravemente ferido. Dérik passou a mão pelo rosto, contrariado. — Onde ele está? — Foi levado para tratamento com o velho Agar, está desacordado. Dérik sentia a sua alma cada vez mais obscura. Não havia esperança para o futuro de seu clã. Ele era um Alfa sem alma gêmea, sua terceira forma desapareceu tão logo ele nomeou uma fêmea do harém como Luna, há cinco anos. Em uma medida desesperada, ao receber a visita de uma Luna de nascimento e seu companheiro, ele deixou o desespero falar mais alto e tentou burlar o destino. Drogou o casal para que copulassem em seu território na esperança de que assim as fêmeas conseguissem gerar filhotes, porém, tão logo o casal deixou o território, abortos se seguiram e a sombra da morte não mais deixou o clã. Apenas um filhote vingou, um herdeiro para um clã às portas da extinção. A Luna entronada por ele não tinha o poder de uma verdadeira Luna, e sua fera se recolheu ao vazio, abandonando-o desde então. Os boatos eram verdadeiros, ele não mais atingia a temida terceira forma. Como um Alfa dedicado, defendia o seu clã com todas as forças, mas não havia esperança para o seu povo. Somente um milagre poderia restaurá-los, e Dérik não acreditava em milagres. ***** Nadja acordou com a estranha sensação de calor na sua face. Cinco anos sem ver a luz do dia tornaram os seus olhos e pele mais sensíveis. Sua mente estava confusa, sentiu-se perdida ao abrir os olhos com dificuldade. Seu corpo cansado e frágil na beira de um riacho, ladeado por árvores frondosas por ambos os lados. A bata que vestia estava molhada e os raios de sol transmitiam uma aconchegante sensação de calor. Ela tocou o próprio rosto, incrédula. Pensou que morreria ao deixar o corpo cair do penhasco, mas, apesar de algumas dores pelo corpo maltratado, estava viva e inteira. O som de pássaros cantando encheu os seus ouvidos com a bela melodia de um novo dia. Havia ferimentos nos braços, pernas e pés, porém, apesar de dolorosos, não eram graves. Sentia frio, mas, o maior desconforto vinha de seu estômago vazio. Olhou em volta sem a menor ideia de onde estava ou para onde deveria ir. Em qual direção ficava o acampamento dos sequestradores? Como saber se não estaria caminhando de volta para o seu pesadelo? Ela ficou em pé com dificuldade, um medo paralisante se apossou dela, assustada com o castigo que receberia se fosse capturada. Estava sozinha no mundo pela primeira vez, nunca tomara decisão alguma, cresceu obedecendo ordens e não sabia o que fazer. Lembrou-se que Rebeca seguiria a correnteza, talvez, tivesse maior chance de se manter segura se fizesse o mesmo. Se tivesse sorte, encontraria a amiga e Rebeca saberia para onde ir, não saberia? Acompanhou o riacho por alguns minutos, mas a sorte parecia não estar ao seu lado, pois, o barulho de vozes masculinas a paralisou mais uma vez. ***** — Algum prolema, Alfa? — Perguntou Beta Eli quando Dérik parou de caminhar de repente. Eles estavam patrulhando a fronteira do território, arquitetando como promover melhor segurança e evitar invasões. Uma caminhada tranquila após a vitória contra o último ataque que sofreram, para retificarem algumas falhas na segurança. No entanto, não apenas Dérik parou de repente, como a energia de sua terceira forma se fez sentir após tantos anos. — Sente esse cheiro? — Perguntou Dérik com a voz distorcida. Eli respirou fundo, mas não percebeu nada de diferente. Ao notar as garras negras de Dérik rasgarem as pontas de seus dedos, ordenou que os lobos que os acompanhavam ficassem em posição de ataque. Ao ver os seus homens prestes a atacar ,seja lá quem estivesse próximo, pelos negros se eriçaram nas mão e rosto de Dérik. O rosnado que direcionou aos homens fez com que caíssem de joelhos no chão. Descontrolado e confuso, Dérik seguiu na direção do perfume estranho que penetrou as suas narinas e anuviou sua mente por completo. O coração batia com força, como se quisesse escapar de seu peito e seguir sozinho naquela direção. Eli avistou um vulto correr na direção das árvores e antes que pudesse ordenar aos homens que capturassem o invasor, Dérik correu em uma velocidade aterradora. — Quem está aí? — Dérik rugiu atordoado, com os seus homens em seu encalço. — Saia de trás dessa árvore e talvez eu te deixe viver! Uma menina apavorada, com o rosto repleto de lágrimas, se mostrou de vagar. Era miúda, de idade incerta, suja, de olhos grandes que brilhavam de pavor. Ela tremia dos pés à cabeça, e ao avistar o sangue de seus ferimentos, Dérik rosnou ainda mais alto. Eli não entendia porque o seu alfa estava tão enfurecido com aquela invasora. Era fraca e patética, o mais fraco de seus homens poderia quebrar o pescoço dela sem fazer esforço. No entanto, quando os olhos dela encontraram os dele, percebeu ser uma Luna de nascimento, ainda que imatura. Dérik deu um passo em direção à menina, e ela reagiu dando dois passos para trás, ao que ele rugiu, contrariado. A mente de Eli trabalhou rapidamente, nas vantagens de ter uma Luna de nascimento em seu clã. Poderiam usá-la para beneficiar as fêmeas, e por sorte, gerar filhotes. Da última vez, conseguiram produzir um herdeiro, seria melhor não matá-la, mas mantê-la no harém. Sem pensar direito, segurou o braço de Dérik. — Senhor, não podemos matá-la, não parece oferecer perigo ao nosso povo. Vamos levá-la para o Harém, ela poderá ser útil como parideira e- O corpo de Dérik explodiu revelando a terrível terceira forma. Ossos se contorceram e a carne se estruturou em uma fera enorme. Um misto de lobo e humano, poderoso, forte o suficiente para esmagar o crânio de Eli com apenas dois dedos. O monstro aproximou o focinho do ouvido de Eli e rugiu: — Minha! A fera segurou Eli pelo pescoço e o atirou para longe, antes de correr até a pequena invasora. Ela tentou fugir, o que fez a fera se divertir. Tão pequena e tola, achava mesmo que poderia escapar dele?
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