Uma Nova Prisão

958 Words
Nadja abriu os olhos devagar, irritada pela claridade. A cabeça latejava e ela sentia-se confusa. Seu corpo fraco e dolorido estranhou o conforto da enorme cama onde estava deitada. Ergueu o corpo assutada, olhos arregalados ao compreender que estava em um lugar desconhecido, tão diferente da cela onde dormira nos últimos anos. O cômodo onde estava era grande, maior do que jamais sonhara que um quarto poderia ser, havia duas portas de madeira, em lados opostos do quarto, e uma porta dupla na parede ao lado da cama. Uma pequena mesa com duas cadeiras à frente, com um jarro de porcelana branca e uma pequena bacia. Era um quarto sóbrio, minimalista, apesar de ostentar poder econômico. Uma janela grande estava aberta pela metade, a cortina cinza puxada para os lados, de onde entrava a luz que feriu seus olhos ao despertar. Era um cômodo desprovido de aconchego, um lugar frio, tanto em se tratando de temperatura quanto de aparência. Sua mente frágil trabalhava intensamente na tentativa de situar-se na realidade. Levantou a colcha que a cobria e respirou aliviada por estar vestida, mas o alívio durou pouco, pois percebeu que o lençol tinha marcas de sujeira deixadas por ela. Saltou da cama cambaleante, apavorada com o castigo que sofreria por sujar a luxuosa cama de… De quem? Onde ela estava? Inconscientemente, deu passos para trás, até que suas costas tocassem a parede branca e fria do cômodo. Fechou os olhos com força e imagens do que tinha acontecido no dia anterior completassem as lacunas da memória recente. Lembrou-se da fuga, de ter se perdido da única pessoa em quem confiava, de ter se atirado num precipício, de por algum milagre ainda estar viva e. finalmente, dos homens que a encontraram… e do monstro. A enorme criatura, mistura de lobo e humano, algo que nunca tinha visto e nem sabia existir. Um ser tão forte e poderoso que a atraiu imensamente, embora estivesse apavorada. O líder do grupo que a aprisionou por tanto tempo era um lobo forte e ela o temia, mas nada comparado àquele que saltou sobre ela antes que perdesse os sentidos. Aquela criatura poderia facilmente eliminar sua insignificante existência, como, então, ainda estava viva? Seu coração bateu acelerado com o pavor que a acometeu ao olhar novamente para a mancha de sujeira que tinha deixado na cama. Sofrera castigos violentos por cometer erros menores do que aquele, só em imaginar as consequências, seu corpo estremeceu e ela correu para retirar as roupas de cama. Precisava lavá-las o mais rápido possível para, com esperança, abrandar a violência que sofreria. Tão logo arrancou o lençol da cama, a porta do quarto se abriu e ela se virou na direção do barulho com os olhos marejados, se esforçando para prender o choro, pois, por experiência, sabia que, se chorasse, o castigo seria ainda pior. Uma bela mulher de cabelos ruivos adentrou o quarto, seus olhos astutos encontraram os de Nadja e a avaliaram sem pudor. A recém-chega ergueu o rosto, inalando o ar ruidosamente e seus olhos tornaram-se ainda mais brilhantes. — Luna… — Ela disse satisfeita de si para si, logo sorriu e repetiu a palavra, dessa vez, se dirigindo a Nadja. — Luna, meu nome é Tabita, sou companheira do Beta Eli, do clã dos Lobos Negros. Nadja sabia o que era um Beta, o lobo que a perseguiu e a ameaçou antes que se atirasse do penhasco era um Beta. Eram fortes e cruéis, a olhavam com olhos sujos e perversos quando visitavam as celas e muitos dos que visitavam o território deles pagavam para abusar dos ômegas. Betas eram maus, mas nem mesmo eles eram tão apavorantes quanto um Alfa… As palavras de Tabita a deixaram ainda mais apreensiva e Nadja preferiu manter o silêncio, temendo dizer alguma bobagem que pioraria a sua situação. Ansiosa e um pouco sem jeito diante da postura da Luna à sua frente, Tabita forçou um pigarro e continuou a falar: — É… eu trouxe essas roupas para você, espero que sirvam. Hm… Foi o Alfa Dérik que mandou trazer e perguntar como você está. As últimas palavras de Tabita trouxeram um mix de emoções para o coração de Nadja. De alguma forma, ela sabia que aquele era o nome da criatura que a capturou, criatura essa que tanto a atraia quanto repelia. Ele era um Alfa, não podia ser diferente, pois a aura era inconfundível, mas, para Nadja, alfas eram sinônimo de crueldade. Os mais perversos visitantes da tribo onde esteve aprisionada eram alfas. Eles machucavam os ômegas sem piedade, os forçavam a fazer coisas que não deveriam ser impostas a ninguém. Até mesmo os alfas que compraram algumas Lunas eram cruéis, carregando-as como objetos enquanto gritavam e choravam, implorando por ajuda. Ajuda que nunca chegava… Rebeca dizia que eles não eram os companheiros delas, e que o que estavam fazendo era uma grande ofensa a Deusa mãe, Hecate. Nadja se perguntava o porquê de uma deusa tão poderosa não defender suas filhas… — Luna, seu banho está pronto. — Tabita apontou para a banheira cheia de água morna. As palavras dela despertaram Nadja, que permanecia encolhida no canto. — É melhor se apressar, Luna, Alfa Dérik ordenou que o encontrasse para almoçarem juntos, ele fica bem m*l-humorado quando tem que esperar. Tabita estava sorrindo, mas as palavras dela fizeram Nadja estremecer. Uma Alfa zangado era a última coisa que ela queria encarar. Ela não entendia que tipo de prisão era aquela, ou o que aquele Alfa monstruoso pretendia, mas era melhor não o contrariar até aprender as regras daquele lugar e qual seriam as suas tarefas…. Se trabalhasse bem e fosse obediente, talvez, não sofresse muito, pois, duvidava da possibilidade de escapar de uma criatura tão poderosa.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD