Culpa

1529 Words
Minha culpa. Foram as minhas decisões no passado que me deixaram na situação em que me encontrava. Encontrei uma Luna de nascimento, minha natureza a reivindicou sem pestanejar, estava pronto para possuí-la ontem, assim que se transformasse pela primeira vez. Não apenas isso, a intenção da minha terceira forma é clara e simples: Nadja é sua fêmea e a marcará na primeira oportunidade. A Natureza de Nadja me aceitou, permitiu meu lobo de acasalar quando terminasse a transformação. Infelizmente, algo aconteceu de errado e a transformação não ocorreu, caso contrário, ela estaria marcada pela duas feras, com o ventre cheio da minha semente. No entanto, eu deveria ter pensado nas consequências dos meus atos passados. Nadja era uma Luna de Nascimento e sua loba tinha ciência de sua posição, embora a humana desconhecesse a própria importância. Ela me perdoaria por nomear outra fêmea como Luna? Por tentar marcar outra fêmea como companheira repetidamente ao longo dos últimos anos? Por ter um filhote e meu clã já ter um herdeiro, filhote de outra fêmea? No passado, fêmeas matariam a prole do adultério junto a fêmea que a pariu. O traidor assistia impotente a morte dos filhotes. Não podia suportar tal ideia, Rael era inocente, não era fruto de adultério, minha alma gêmea estava morta… Se a loba de Nadja não aceitasse o meu filhote, minha ilusão de tê-la como minha fêmea e companheira terminaria antes mesmo de começar. Isso se ela ainda aceitar a minha natureza após o que acabamos de fazer. MEIA HORA ANTES Eu corri na direção do meu filhote e tudo o que o lobo desejava era o sangue d equem se atreveu a atacar Rael. Ele era nosso tesouro, um milagre advindo de um golpe que demos no destino. Meu sangue, minha carne. O único filhote de um clã a beira da extinção. Nos deparamos com Rael aos prantos, caído no chão, e uma das fêmeas do harém segurava o meliante pelos cabelos. Movido por puro instinto, o lobo saltou sobre a criatura, derrubando-a no chão e trancando o seu pescoço com os dentes. Naquele momento, uma fração de segundo, a terceira forma tomou o meu ser, tomando a frente do labo em tempo de salvar a ida de Nadja. A dor que senti no peito foi pior do que a dor no dia do naufrágio que levou minha alma gêmea. Duas partes do meu ser brigando entre si por controle. Somente quando meus olhos focaram na criatura caída no chão que compreendi o que tinha acontecido. Nadja me encarava com os olhos arregalados de horror, mãos sobre o pescoço ensanguentado. A dor de quase matá-la se somava com a angústia de ser traído por ela. Os gritos de Rael deixavam a minha natureza ainda mais confusa. Beta Eli pegou o meu filhote nos braços e o levou para longe. Fez-se silêncio em meu âmago, tanto o lobo com intenção assassina contra Nadja, quanto a fera, que a defendia, se encolheram dentro de mim. — Alfa, eu ouvi Alfa Rael gritando por socorro e corri para cá me tempo de ver essazinha aí o atacando! Graças a Hecate cheguei a tempo! — Saia daqui! — Ordenei a Eda, que parecia estar mais orgulhosa de seu feito do que preocupada com a segurança do meu filho. Ela titubeou, não desejando sair dali antes de saber o destino de Nadja, mas acabou por acatar a minha ordem. Eu estava decepcionado e furioso, especialmente porque, como alfa, eu teria que puni-la exemplarmente e qualquer um que ataque o herdeiro de um clã merece a morte. Respirei fundo antes de me virar na direção de Nadja. A imagem diante de mim derrubou a minha guarda. Nadja estava encolhida no chão sobre uma poça da própria urina. O rosto encharcado de lágrimas tinha a marca vermelha da mão de Eda, cabelos desgrenhados. Os olhos estavam vazios, distantes e ela balançava o corpo para frente a para trás, devagar. Até mesmo o m eu lobo, queria matá-la segundos antes, se encolheu com o r**o entre a permas dentro de mim. — Nadja, o que você fez com Rael? Ela continuou olhando para o nada com olhos vazios. — Ele é meu filhote, Nadja, apena suma criança, não tem culpa de nada! Meu tom de voz ficou mais agressivo do que eu gostaria e tive que interromper a minha fala antes que a assustasse ainda mais. Tentei fazer outras perguntas, chamar a sua atenção de volta para mim, mas ela permanecia alienada. Ouvi os gritos histéricos de Hira se aproximando e tive que tomar uma decisão. — Guardas, levem-na para a prisão, ninguém está autorizado a visitá-la, exceto o velho Agar, para tratar os ferimentos. Ninguém mais tem autorização para chegar perto da cela, entenderam? — Sim, senhor Alfa! ***** — Eu quero o sangue dessa assassina de filhotes, Dérik! Gritou Hira no pátio diante de diversos membros do clã. Sempre odiei a necessidade dela de criar cenas como aquela. O prazer que sentia me ser o centro das atenções, se colocando no lugar de mãe devotada e mártir. Duas coisas que ela não tinha a menor vocação para ser. — Você deveria tomar cuidado com o modo que se dirige a mim, Hira! Hira estava em seu momento de brilho, peito estufado, nariz empinado. Quando falava, não se dirigia a mim, mas às pessoas a sua volta em busca de apoio. Como uma atriz sabia manipular a emoção da plateia, e como política experiente, sabia tirar proveito das situações para aumentar sua popularidade. — Está ralhando comigo por exigir a pena de morte para essa traidora? Não acredito! Essa desgraçada tentou matar nosso filho, Dérik! Fechei as mãos em punho, odiando Nadja por servir a própria cabeça me uma bandeja. — Sem dúvidas uma grande decepção para o clã que a recebeu de braços abertos! — Lorde Antenor não poderia deixar de se pronunciar. — Mais uma vez podemos verificar que ser Uma Luna de nascimento não significa ter caráter nem a moral necessária para liderar um clã. Luna Hira é um exemplo de mãe, mulher e Luna, embora tenha nascido apenas como Beta. Pude notar alguns dos membros concordando com as palavras dele. Minha fera arranhou minha carne por dentro, incomodada por falarem assim da fêmea que considerava dele. O lobo pertencia em silêncio, sua prioridade a segurança do filhote. Minha forma humana lambia as feridas metafóricas da mágoa e decepção proporcionadas por Nadja. Tabita entrou correndo no pátio seguida por Eli. Estava com as bochechas vermelhas, esbaforida, cenho franzido e peito estufado. Passou os olhos em Hira com evidente desgosto, depois fitou Eda de cima a baixo antes de se pronunciar. Luna Nadja é inocente! A fera dentro de mim soltou um grunhido de satisfação, algo que poderia ser traduzido como “Eu sabia”. O lobo esticou as orelhas em atenção. — Com todo o respeito, Beta, eu vi quando a v***a atacou o futuro Alfa! Tabita foi até Eda e deu-lhe uma bofetada ao ponto dela virar o rosto e perder o equilíbrio. Hira correu em seu auxílio, impedindo o tombo. Com os braços em torno de Eda, Hira encarou Tabita. — O que pensa que está fazendo, Beta Fêmea? — Perguntou Hira em defesa de Eda. Tabita encarou Hira sem o menor respeito por sua posição e título no clã. Não é da minha conta, as fêmeas são responsabilidade de Hira. Apenas aguardei o desenlace. — Estou dando a essa cretina um pouco do que ela merece pelo que fez a Luna Nadja! A indignação era evidente na voz de Tabita. Uma boa Beta fêmea, corajosa. Beta Eli a admirava com desejo. — Eu apenas defendi o alfa Rael do ataque dela! — Eda insistiu, porém, não tão segura quanto antes. Senti minhas entranhas se reviraram, a dor era intensa, mas me mantive firme e inexpressivo. Minha Fera estava furiosa, i engano mais do que evidente. O lobo encolheu o r**o entre as pernas em meu âmago. As três formas em desacordo ressoavam como uma dor aguda em meus ossos. — Mentirosa! Luna Nadja nunca atacou Rael! Eda olhou assustada para Hira, o movimento foi rápido, mas eu notei e Hira percebeu que notei. — Está fazendo uma acusação muito séria em público, Beta fêmea, isso pode te custar o título e posição no clã. — Hira falou em voz baixa, entre os dentes, obviamente contrariada. — Minha acusação tem fundamento e não é tão grave quanto o que essa víbora fez contra uma Luna de nascimento! Ergui a mão, gesto que por si só exigia silêncio. Me virei para o meu Beta, que em meio a confusão, parecia apenas admirar a companheira, orgulhoso de sua audácia. — Do que a sua fêmea está falando, Beta? — Meu Alfa levei o filhote para longe da confusão, e quanto ficou mais calmo, esclareceu o que tinha acontecido. Ele e Luna Nadja, a quem ele chama de tia Nadia, estavam brincando apenas. Ele até mesmo se mostrou preocupado com ela. — Traga o meu filho aqui, agora! — Ordenei e Beta Eli foi buscá-lo. A imagem de Nadja encolhida, humilhada e ensanguentado invadiu a minha mente. Minha culpa.
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