O Milagre do Alfa

Crime

A cena se iniciou em público e eu fiz questão de mantê-la em público.

O nome e benção de Nadja foram postos a prova. Logo o boato sobre a “luna assassina" se espalharia, exceto se o nome dela fosse limpo imediatamente diante de todos.

Não demorou muito para que o Beta retornasse com Rael, que mantinha o rosto escondido em seu pescoço.

— Me entregue o meu filho, Beta! Ordenou Hira, se colocando no caminho dele, quando vinha em minha direção.

Eli segurou a cabeça de Rael contra o peito, evitando que o menino assistisse à discussão que certamente se iniciaria.

Minha paciência com aquele circo já tinha ultrapassado o limite. Se era um show de demonstração de poder que ela queria, era isso que ela iria receber.

— Se afaste, Hira! Você lidera as fêmeas, não se atreva a dar ordens aos meus homens!

Hira me encarou, os olhos brilhando com a fúria que um dia considerei atraente. Um breve lapso na compostura calculada e fria que ela tinha construído ao longo dos anos.

— Sinto muito, meu Alfa. Só quero segurar o meu filhote e me assegurar que está bem.

— Teve tempo para fazer isso, mas preferiu vir na minha casa fazer escândalo. Não há razão para fazê-lo agora, que obviamente sabemos que ele está bem!

Rael olhou para mim por baixo do braço de Eli. Seus olhos estavam marejados e ele estava pálido, se agarrando ao Beta em busca de segurança.

Não era uma reação saudável de um filhote na proximidade dos pais…

— Me entregue o menino!

Estendi os braços e o Beta me entregou o meu filhote, que se agarrou a mim com força, como um coala. Ele fedia a medo e suas mãozinhas tremiam em volta do meu pescoço.

— O que houve, Pequeno alfa? — Perguntei puxando-o para que pudesse me olhar nos olhos.

Um alfa nunca deve abaixar a cabeça!

— Você vai biga comigo? — Perguntou fazendo beicinho.

— Fez alguma coisa errada? — Ergue uma sobrancelha, observando as expressões de seu rosto.

Rael era um filhote saudável e forte. Pelas graças de Hecate, nasceu um alfa, mesmo não sendo cria de uma Luna. Creio que tenha sido a influência da Luna de nascença que tinha visitado o nosso território e seu companheiro.

Luna Odessa e Alfa Orion, meus maiores aliados, possuem sua própria história de encontros e desencontros…

Voltando para o tempo presente, Rael tinha minhas características físicas, exceto pelos olhos verdes como os de sua mãe. Foi com esses olhos verdes e inocentes que ele me fitou e sacudiu a cabeça de um lado para o outro.

— Se meu Pequeno alfa não fez nada de errado, não há razão para brigar com ele, não concorda?

Ele fez que sim com veemência, mais tranquilo e seguro agora que sabia que não estava encrencado.

— Um Alfa é sempi justo!

— Isso, meu filho! — Beijei sua testa, com orgulho. — E para ser justo, tem que dizer a verdade. O que Luna Nadja fez contigo?

Ele franziu a testa, concentrado, a ponta do dedo indicador na bochecha.

— Ela fez cosquinha aqui — Ele apontou para a própria barriga. — Pô causa de que, eu colei o calamelo no cabelu dela, mas foi xem quelê…

— Ora ora ora… — Decidi provocá-lo um pouco. — Então, meu Pequeno alfa grudou um caramelo o cabelo de uma Luna?

Para minha surpresa, ele arregalou os olhos e seu rosto empalideceu.

— Tia Nadia é luna? — Ele perguntou com um sussurro, como se temesse ser ouvido.

— Sim, ela é uma Luna de nascimento, e não se deve colocar doce no cabelo das pessoas, muito menos de Lunas, tá bom?

Enquanto eu falava, notei que ele buscou Hira com os olhos, antes de esconder o rosto em meu peito ais uma vez.

Fiz sinal para que Tabita o tirasse dos meus braços e o levasse de volta para os seus aposentos.

— Como todos aqui puderam testemunhar, Luna Nadja foi vítima de acusação e testemunhos falsos.

Os membros do meu clã que estavam presentes estavam indignados com tamanha injustiça e cobravam punição para os responsáveis.

Eda se jogou aos pés de Hira.

— Luna, me ajude! Eu só quis te ajudar e segui as or-

Hira a levantou pelos cabelos e esbofeteou repetidamente, até o rosto de Eda estivesse inchado e sangue escorre de sua boca.

— Nunca aceitarei um erro tão grosseiro, nem mesmo de uma amiga, Eda! Você me envergonhou diante de todos!

— Me perdoe, Luna! Eu não cometerei esse erro de novo.

— Serei leniente com você, pelos velhos tempo, mas deverá ficar retida no harém por-

— Agora sou eu quem está decepcionado contigo, Hira! Ainda a pouco estava aos gritos exigindo pena de morte contra um inocente! — A interrompi enojado.

Ela estremeceu e, a exemplo de Eda, se jogou aos meus pés.

— Meu Alfa, peço perdão! Tem razão, cometi um engano terrível ao acreditar nessa i*****l!

— Como luna deste clã, cometeu um erro, mas sua fêmea cometeu algo mais do que um simples erro. Sua mentira e leviandade poderiam ter levado a morte uma fêmea que vale muito mais do que uma serviçal do harém!

Hira fechou as mãos em punho. Minhas palavras tinham por objetivo ferir sue ego e consegui. Hira fora uma serviçal do harém até eu a nomear luna.

— Eu a punirei severamente, meu Alfa! Não permitirei que saia do templo até-

— É pouco!

— Se me permite a intromissão, Alfa, mas Eda é uma das fêmeas e cabe a Hira-

— Não permito merda de intromissão nenhuma, Lorde Antenor! — Meu tom de voz fez o velho inútil se ajoelhar ao lado da sobrinha. — Por causa dessa fêmea e suas artimanhas, meu herdeiro foi usado como armadilha e eu como arma! Poderia ter custado a vida de uma Luna de nascença e talvez a única esperança para esse clã moribundo!

— Sim, Alfa, perdoe minha ignorância, tem toda razão!

— Levante, Hira, e sentencie a sua fêmea pelo crime que cometeu! — Ordenei.

— Sim, meu Alfa! Eu, Luna Hira, sentencio Eda a….— Hira fechou os olhos e eu quase pude enxergar as engrenagens de sua mente em busca de uma solução. — Que raspem a cabeça dela e que se torne parideira do clã!

Fez-se silêncio, aqueles que estavam presentes ficaram boquiabertos, espantados com uma sentença tão antiga, que não havia sido implementada há décadas, embora ainda fizesse parte de nossas leis.

Eu estava pensando em morte, ou talvez prisão, mas Hira me surpreendeu sendo ainda mais c***l.

Satisfeito com a punição, segui o mais rápido possível para a ala prisional.