A luz a deusa nos olhos

1603 Words
Ela não precisava ser mais linda do que as outras para chamar a minha atenção, mas a deusa foi generosa com ela. Era diferente do que eu estava acostumado, ou do que me atraia até a conhecer. — Sente-se melhor agora? — Perguntei, embora soubesse que levaria tempo até que ela se acostumasse com o meu povo. Ela anuiu, mas ambos sabíamos que era uma mentira advinda do medo. Medo esse que eu detestava ser o causador. — Minha fera gosta de você, Nadja, mais do que pode imaginar. — As palavras saíram de minha boca antes de passar pelo meu cérebro. Observei seus olhos na esperança de obter um fagulha que seja de reciprocidade. A natureza dela não respondeu, parecia estar dormente, porém, pude sentir que estava presente. A Pequena Luna estava prestes a amadurecer... — Venha, está na hora. Hoje se tornará uma de nós, pequena Luna! Uma verdadeira Luna, embora jovem e tímida. Perfeita vestida e adornada dentro dos costumes do meu clã. Minha natureza se apresentou a ela mais uma vez e ela se afastou. Eu odeio que ela tenha medo de mim. Tive que me concentrar e controlar a fera, o que está cada vez mais difícil, mesmo com a beberagem do velho curandeiro. Terei que falar com ele e pedir que prepare algo mais forte, até que a pequena luna se acostume comigo. ***** É uma sensação estranha ser o centro das atenções. Estar no meio do vale cercada por todos os membros da tribo, ou melhor, do clã. Uma tribo de lobos não chega a cinquenta membros e à minha volta havia centenas de pessoas. O Alfa segurava a minha mão e não me dava chance de soltá-la. A cada tentativa, ele apenas sorria e piscava para mim. “ Nem pense nisso, pequena Luna” Ele disse na minha última tentativa. Eu sei que deveria estar apavorada no meio de estranhos com aquele Alfa enorme me impedindo de me afastar, sem ideia do que aconteceria a seguir, mas, estranhamente, havia conforto em tê-lo perto de mim. Estávamos diante do altar de Hecate, com a maioria do clã tentando assistir do lado de fora. Sobre o altar uma taça de metal encrustada de pedras preciosas. Ao lado da taça um punhal com a mesma decoração da taça e um lenço branco. Ver aquele punhal afiado me deu calafrios. O Alfa percebeu e passou o braço sobre meus ombros, me puxando para junto do corpo dele. — Está com frio? — Ele disse sussurrando em minha orelha. — Tem certeza? — Ele vasculhou meu rosto como se procurasse indícios de mentira. Eu disse a verdade, tinha frio antes, mas, naquele instante, em que ele me envolvia nos braços, o calor que vinha dele me aquecia. — Onde está a Hira? Ordene que se apresse, a Pequena Luna está com frio! Ele ordenou para um dos machos que estava perto do Beta. Ele se curvou em respeito e acatou a ordem, correndo para fora do templo. Acho que não acreditou em mim. Tinha um idoso vestido com uma túnica roxa no outro lado do altar, de frente para nós, e ele me olhava sorridente, peito estufado com o nariz comprido empinado. Outro idoso, de cabelos e barba compridos, se aproximou com dois jovens. — Oh! Que bom que não sou o único atrasado… Perdão pelo atraso, Alfa, estava trocando os curativos do gama. Notei o Alfa revirar os olhos e não pude segurar o riso. Era estranho ver um alfa tão aterrorizante fazer um gesto tão juvenil. Ao me ver sorrindo, por mais discreta que tentasse ser, o Alfa abriu um enorme sorriso e se curvou, sussurrando mais uma vez me meu ouvido: — Acha divertido? Espere até conhecer melhor esse velho sonso! — Oh, essa deve ser a nossa Luna! — O velho disse cofiando a barba e me olhando de cima a baixo. — Do que está falando, velho? Eu sou a Luna desse clã! A voz veio por trás de mim, eu tentei virar a cabeça, mas o Alfa me impediu, me abraçando com fora, ao ponto de meu rosto encostar no peito dele. — Está atrasada, Hira! — A voz dele estava diferente, a fera estava se mostrando. Tentei me afastar, com medo de ele se transformar, mas me abraçou com mais força, todo o meu corpo tocava o dele. Eu podia sentir os olhos dela em mim. Eu estava nos braços do companheiro dela, e ele não me soltava. Não consegui me conter e virei mais o rosto, arrastando a bochecha no peito dele. Queria olhar para ela por baixo do braço dele. Era linda, uma das fêmeas mais bonita que já vi, mais bonita até mesmo do que Rebecca. Tinha olhos Verdes e cabelos da cor do mais puro mel. O corpo tinha curvas e estava coberto por um vestido vermelho como o que eu vestia, mas nela estava perfeito como uma segunda pele, exceto pelas partes esvoaçantes que o adornavam. Havia ódio nos olhos dela, eu podia sentir. Não era culpa minha, Rebecca me ensinou que conexões de almas são sagradas, não queria desrespeitar a Luna daquele clã, mas o Alfa não me deixava ir. **** Não gostei da maneira que Hira olhava para a Pequena Luna encolhida em meus braços. O cheiro do medo chegou às minhas narinas e a apertei contra meu peito, para que entendesse que ninguém faria m*l a ela. Hira era a Luna que escolhi para meu Clã e estava explicitamente desrespeitando a recém-chegada. Uma Luna de verdade nunca se atrasaria para receber uma fêmea no clã! — Alfa, deixe-me preparar a `Pequena Luna para o ritual. Minha natureza mostrou os dentes para o velho curandeiro por se atrever a tentar tirá-la de nós. Ao ver minha reação, o velho sonso abriu um sorriso debochado. — Que seja a sua primeira lição, Pequena Luna — Não gostei de ouvi-lo chamá-la do mesmo jeito que eu a chamava. — Uma Luna nunca se atrasa, nada é mais importante do que as fêmeas do seu clã. — Exatamente, velho! Uma de minhas servas do harém se cortou e perdeu muito sangue. Como essa garota ainda não é parte do meu clã, minha fêmea é prioridade! — Oh, Claro, claro! Uma pena que alguém tenha se cortado logo hoje…. Nós sabíamos que Hira estava apenas esfregando sua posição na cara dos membros do clã e da pequena Luna. Estreita e desnecessária mesquinhes. — Comecemos a cerimônia, a lua já está no seu auge. — Disse o velho Oseias m*l escondendo o desprezo pelo atraso de Hira. — Precisa soltar a pequena Luna, Alfa! — Disse o velho curandeiro com humor na voz. Afastei Nadja devagar, argumentando mentalmente que ela estaria mais próxima de nós do que nunca após fazer parte de nosso clã. O velho curandeiro segurou a mão dela, sorridente. — Oh, uma gracinha você é, Luna! Tem a luz da Deusa nos olhos, uma verdadeira Luna de nascimento. Nadja olhou para mim de soslaio antes de aceitar a mão dele e só moveu após meu consentimento. Achei divertida a confusão em seus olhos por me obedecer tão instintivamente. Oseias pegou o vinho consagrado e encheu a taça pela metade. Segurou-a com as duas mãos e apontou para a deusa Hecate. Após a oração a deusa, ele pegou a adaga e fez menção de pedir a mão de Hira, para continuar a liturgia, mas foi impedido pelo velho Agar. — Qual o problema? — Oseias perguntou contrariado. — Não é adequado, Oseias. A troca de sangue deve ser feita pela pessoa de posição natural mais alta, é a lei! Pude sentir quando Hira prendeu a respiração. Quando um clã recebe um novo m****o, especialmente uma fêmea, a Luna é quem serve o vinho com sangue ao recém-chegado, Oseias levantou uma sobrancelha enquanto encarava o velho sonso por alguns segundos, até erguer as duas sobrancelhas e se desculpar. — Perdão, Luna Hira, me equivoquei. Alfa, apenas o seu sangue será necessário. Hira manteve a postura calma. Os batimentos cardíacos estavam inalterados, mostrando que a situação não a tinha abalado. Oseias fez o corte na palma da minha mão e deixou algumas gotas de sangue caírem na taça antes que cicatrizasse. Em seguida, segurou a mão de Nadja, repetindo o procedimento. Ela estava assustada e quando gemeu de dor pelo corte, minha natureza emitiu um rosnado incontido. Esse foi o momento em que senti Hira perder a compostura pela primeira vez naquela noite. Ela voltou o olhar para mim e em seguida para Nadja, cujo corte demorou demais para cicatrizar. — Por que ela continua sangrando? — Perguntei irritado. Oseias e Agar se entre-olharam. — Unam as mãos, por gentileza, Alfa! Oseias pôs a mão de Nadja sobre a minha, unindo os cortes. Para a surpresa de todos que podiam ver o que estava acontecendo, meu corte reabriu e voltou a sangrar, mostrando nosso sangue não apenas na taça, mas em nossos ferimentos. — Repita comigo, Luna: “Eu, Nadja”, Hum…. Qual o seu sobrenome? Oseias perguntou enquanto cobria nossas mãos unidas com um lenço branco. — Eu-eu não sei… Não me lembro, senhor... Ela estava envergonhada, não sei se pela falta de memória ou por ter que admitir em público. Minha natureza achou a timidez dela atraente. — Hum… Sem problema, chame-mo-la apenas de Luna Nadja. — Sugeriu Agar. O velho sonso estava ainda mais arteiro do que de costume. Não prestei muita atenção às palavras que o velho fazia Nadja repetir, estava ficando tonto. Podia sentir o sangue quente dela entrar em meu corpo e circular livremente.
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