Meu

1256 Words
Ele segurou a minha mão com força, quase machucando. Seus olhos alternavam de cor, azul para n***o, n***o para azul. Creio que estava perdendo o controle sobre a fera. Seu sangue se misturava ao meu e lágrimas escorreram dos meus olhos. Não sei quanto tempo passou, provavelmente, apenas alguns segundos, mas era, para mim, como se estivéssemos fora do tempo dos demais. A fera me encarou, olhos totalmente negros, e havia uma súplica naquele olhar que fez o meu peito arder. Me implorava por algo que eu não sabia o que era… Não tinha mais medo daquela fera, mesmo sabendo que sua forma era apavorante. Meu corpo se moveu por conta própria e toquei o rosto do Alfa com a mão livre. Ele estava muito quente, como se tivesse um forte febre e inclinou o rosto, pousando-o em minha mão, olhos atentos nos meus. Nos encaramos enquanto a conexão entre o Alfa e a mais nova m****o do clã se formava. Fiz minha promessa diante da deusa e dos membros, lealdade a Hecate, ao Alfa e ao clã. Senti o metal frio da taça tocar os meus lábios e aceitei o líquido. Ele também bebeu, sem deixar nenhuma gota para trás e a conexão entre nós ficou mais forte. Era como se não houvesse mais ninguém ali, apenas nós dois. “Meu” A voz estranha ecoou em minha mente. Era eu, mas não era eu…. Era um pensamento, um desejo, uma ordem e um reconhecimento em uma simples palavra. Meu…. *** De sua boca saiu um leve sussurro “meu” que minha fera foi capaz de ouvir. Ela sentiu o que senti desde que a vi pela primeira vez. O que era impossível se tornou realidade. Um milagre. Um desespero. Não sei como, nem por quê, mas ela é minha. Talvez a deusa tenha se apiedado de mim, talvez a minha fera esteja se apossando de uma Luna para cicatrizar a perda de nossa alma gêmea. Não entendia o que estava acontecendo, mas não estava disposto de questionar os deuses. Ela seria minha, de um jeito ou de outro. — Alfa, temos que apresentá-la ao clã! Sim, temos que apresentá-la ao clã como minha Luna, mas não agora… muita coisa estava em jogo, precisava ter calma. Até mesmo a fera se calou, satisfeita por desejar o mesmo em todas as formas. Depois que aceitei a realidade, a fera se encolheu no meu âmago, confiando nas minhas decisões. Preciso de tempo para investigar se algum Alfa do passado foi agraciado com uma segunda chance. Se ela teria ou não um companheiro alfa por aí… Meu estômago revirou o conteúdo e quasse o expeliu mediante a essa linha de pensamento. Não havia outro, ela não seria de nenhum macho, nem mesmo um alfa a tomaria de mim. Minha fera rosnou mostrando os caninos, a perversão de um predador dominante diante da possibilidade de alguém tentar tomar o que pertencia a ele. Um uivo como nenhum outro saiu de minha garganta. Nele havia posse, ameaça e determinação. Os membros do meu clã uivaram em resposta, celebrando a nova irmã, contentes com as vantagens de terem uma Luna em nosso território. “ Oh, Hecate, mãe de todos nós, me dê redenção e me oriente no caminho que devo seguir!” ***** A felicidade do clã ao me receber era emocionante. Lágrimas insistam em correr pelo meu rosto a cada abraço que recebia. As fêmeas se empurravam para se aproximar de mim, contentes com a minha chegada. Meu coração estava aquecido, de alguma forma, eu sabia que não havia fingimento. Podia sentir o que cada um estava tentando me passar: Alegria, orgulho, esperança… Me senti querida pela primeira vez na vida. Eles estavam felizes só porque eu estava ali. Como pode? Há pouco, eu não passava de uma escrava com péssima perspectiva de futuro. Agora, estava rodeada de fêmeas de todas as idades retificando o quanto bem-vinda eu era. “Você é tão linda, tão novinha!" “Foi a deusa que te enviou, Luna!” “ Que os seus dias sejam incontáveis e sua prole abençoada, Luna!” Depois de algum tempo abraçando pessoas que eu nunca tinha visto antes, incapaz de decorar nomes, A Luna apareceu ao meu lado. Imponente, dona de um sorriso encantador, ela pediu a todos que voltassem para os seus lugares, pois era chegada a hora do Harém homenagear Hecate com uma dança. — Nadja, sente-se com os criados para assistir as minhas fêmeas louvando a deusa. É bom para que se acostume com eles, afinal, trabalharão juntos a partir de amanhã! Eles te ensinarão a sua nova função no clã. — Sim, senhora, Luna, obrigada! Ela foi a única que não me chamou de Luna, mas pelo nome. Não parecia estar contente como as outras fêmeas, um tanto fria e altiva, mas creio que era devido a sua posição. Uma Luna deve ter muita responsabilidade e não tem tempo para servas como eu… Fui até os fundos, onde os criados estavam sentados no chão. Eles sorriam para mim. — Bem-vinda, Luna! — Disse uma senhora idosa. — Obrigada! Sentei no chão ao lado dela, mas a posição em que estava não era boa para ver a apresentação. Os demais criados que estavam por perto não pareciam se importar, estavam conversando animados e nem tentavam olhar na direção do espaço reservado para a apresentação. Subitamente, todos ficaram em silêncio e se ajoelharam, abaixando a cabeça. Franzi o cenho, confusa com o comportamento deles e olhei em volta, dando de cara com Pernas tatuadas. Fechei meus olhos rapidamente, incrédula. O Alfa não mais vestia a calça de pele de animal, mas apenas um pedaço de couro que cobria a parte de homem do seu corpo. — O que está fazendo aqui, Pequena Luna? ***** Ela fechou os olhos com força, a bochechas avermelhadas de constrangimento apenas por ver as minhas pernas. Ela era um tesouro, imaculada por dentro e por fora. Minha fera lambeu os beiços com a imagem de como a poluiria. — Luna Hira me ordenou que viesse para cá, para me acostumar com o meu serviço. A criada idosa que estava ao lado de Nadja emitiu um ruído de espanto ao ouvi-la. Eu devia ter maginado que Hira agiria de tal forma. Esse era o procedimento habitual para novos membros, começar de baixo e depois ter suas habilidades avaliadas para uma posição mais adequada, no entanto, Nadja era uma Luna e Hira insistia me desrespeitar a sua natureza. — Levanta! Nadja levantou-se prontamente, eu peguei a sua mão. — Alfa… a Luna mandou eu- — Você não é uma criada! Ela se calou e me seguiu obedientemente. As Fêmeas do Harém estavam prontas para começar a dança, mas aguardam até que eu estivesse em meu lugar. Meu desejo era que Nadja sentasse no trono ao lado do meu, mas até mesmo a minha natureza sabia que não era apropriado. No entanto, nunca permitiria que ela sentasse no chão como Hira ordenou. Era uma sensação satisfatória de poder quanto minhas formas agiam em pensavam em sintonia, como estava acontecendo desde que decidi que Nadja seria minha. Hira falhou como luna ao não preparar um lugar adequado para uma Luna de nascença em nosso clã, não me restava escolha a não ser improvisar um lugar para ela. Foi divertido ver a expressão de espanto em seu rosto inocente. As bochechas mais uma vez avermelharam e seus olhos negros arregalados brilhavam para mim quando, ao sentar me meu trono, a puxei para o meu colo.
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