Atração

1595 Words
Membros do clã seguiam apressados de um lado para o outro, finalizando os preparativos no vale. Os ômegas, alegres com a expectativa de uma Luna se juntando ao clã, preparam os seus melhores pratos e os posicionaram na enorme mesa, com orgulho. O vale foi organizado de forma que toda a celebração ocorresse de frente para o templo de Hecate, diante dos dois tronos: Alfa e Luna. Nos últimos anos, as celebrações em que me dei ao trabalho de sentar em meu trono se tornaram cada vez mais raras. Não havia candidatos que desejassem fazer parte do meu clã há muito tempo e as únicas festividades eram as cerimônias orgiastas. Hira era entusiasta de tais eventos, sempre com esperança de que a minha fera a aceitasse e marcasse como minha. Tentei marcá-la durante o coito diversas vezes na minha forma humana, a cada final de ciclo lunar, mas a marca cicatrizou e desapareceu, como desaparecia qualquer ferimento na nossa espécie. Devo dizer que admirava a persistência dela em algo que eu sabia que nunca iria funcionar. Minha terceira forma nunca aceitaria algo menos do que uma Luna. A fera era arrogante e desprezava Hira. Antes do naufrágio do navio que trazia nossa Luna, minha fera gostava de montar na loba dela, pois é uma loba forte e destemida, mas, após sentir o cheiro de nossa fêmea pela primeira vez, a fera não aceitou outra fêmea no seu lugar. Minha insistência em assegurar uma Luna para nosso clã afastou minha natureza de mim, ao ponto de não sentir a minha terceira forma por anos. Até hoje… — Alfa, Luna Hira me incumbiu de prepará-lo. Eda trazia consigo uma cesta com o material ritualístico. Óleo, tintura e coisas do tipo. Como todas as fêmeas do meu harém, seu corpo é bonito e atraente. Apesar da aparência agradável, se mostrava arrogante, sentindo-se superior às outras fêmeas sempre que me deito com ela. Hira usou de violência diversas vezes para colocá-la em seu devido lugar. Nunca me importei, esse é o trabalho dela como Luna, ser responsável pelas fêmeas. Eda pintou o meu corpo com as palavras sagradas, em seguida, seus dedos hábeis espalharam o óleo ritualístico sobre minha pele. Em vários momentos, o seu toque se tornou atrevido, alcançando áreas que não estavam à mostra. Sua mão deslizou do umbigo para dentro da minha calça. Uma dor aguda atingiu o lado direito das minhas costelas e soltei um grunhido de dor. Eda se afastou assustada. — Fiz algo errado, Alfa? — Saia daqui! — Ordenei com desgosto. Ela fez algo errado, tocou em mim e a minha natureza repeliu o toque, me punindo por dentro. Pode parecer confuso, não somos três almas em um corpo, somos apenas uma alma, cada forma com um atributo da natureza mais aprimorado. Quando na forma de um lobo, meus instintos são primordiais, caçar, comer, dominar, f***r e procriar. A única forma receptiva à Hira, pois sua loba é forte e pronta para aceitá-lo em cada cio. Na forma humana, sou racional, guerreiro, político, líder de um clã com centenas de membros, nunca me importei com mulheres e a ideia de uma alma gêmea me afastava de qualquer coisa além de simples sexo casual. Minha terceira forma é a mais conectada à natureza de Hecate, ligada a alma gêmea, pai protetor de todo o clã. Um demônio Capaz de exterminar qualquer um que ponha a sua família em risco. O clã dos Lobos negros é minha família. Quando transformado na minha terceira forma, tudo o que importa é minha alma gêmea e a segurança do clã. Eda correu de volta para os fundos do templo, onde ficava o Harém e respirei aliviado. Até mesmo o cheiro de excitação exalado por suas partes íntimas ao me tocar me provocou repulsa. Normalmente a excitação de uma das minhas fêmeas inflava meu ego, porém, o de Eda me enojou. Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo, mas sabia que era culpa da pequena invasora. A mesma Pequena que vinha pelo lado do templo acompanhada de Tabita, vestida de vermelho, como uma verdadeira Luna. Seus olhos brilhantes se arregalaram ao me encontrar. ***** Estava me sentindo diferente ao sair do quarto das irmãs. Segui Tabita receosa do que estaria me esperando do outro lado do templo da deusa. Ela repetiu várias vezes o quanto eu estava bonita, mas não me sentia assim. Estava nervosa e insegura, não era bom chamar a atenção, pois nossos erros ficam evidenciados e os castigos “exemplares” são os piores. Sunna me disse que após a apresentação das fêmeas queria me fazer companhia, o que aceitei de bom grado, Ela me passava uma agradável sensação de confiança. Tabita me guiou até uma clareira que ela chamou de vale. Havia uma mesa enorme e o cheiro de comida perfumava o ar. Apesar do lanche que as meninas me ofereceram, ainda estava com fome. Comi o menos possível para não ser punida. Tabita insistiu que eu pegasse mais, mas poderia ser um truque para me castigar. Lembro-me muito bem que muitos carcereiros ofereciam comida, apenas para nos forçar a trabalhar para pagar pelo pão. Alguns até exigiam que mostrássemos partes do corpo ou nos entregariam para o líder. Não demorou para aprendermos que era preferível sentir fome. O aroma da comida sobre a mesa fez meu estômago roncar… — Está com fome, Luna? Quer que lhe sirva algo para comer antes da cerimônia? — Tabita pareceu estar preocupada comigo. — Não, obrigada, eu estou bem. — Tem certeza? Você precisa se alimentar bem e o Alfa não vai gostar nada de saber que te deixei com fome. — Estou bem, Beta, não se preocupe. — Após a apresentação do harém, será aberto o banquete em sua homenagem. Me prometa que comerá a vontade, nada de timidez, tá bom? Eu fiz que sim com a cabeça, porém, não tinha intenção de obedecê-la. As fêmeas estavam com a pintura no rosto e vestes esvoaçantes, quase transparentes, o que lhes dava uma aura etérea. Os machos quase nus, tinham tatuagens parecidas comas do Alfa e além das tatuagens, havia pinturas de tinta. Mais uma vez, pude senti-lo antes de vê-lo. Eu sabia que era ele, sabia também e que estava me olhando, e por mais que saber disso me deixasse atordoada, não pude deixar de virar o rosto em sua direção. O azul límpido de seus olhos atraiam os meus, não conseguiria desviar o olhar nem mesmo se desejasse. Seu corpo, além das tatuagens, tinha pinturas, mais elaboradas e um pouco diferente das dos outros machos. Acho que cada pintura revelava a posição do macho na tribo, as dele eram, sem dúvidas, dignas de um Alfa. A aura que emanava dele era de puro poder e me atraia enormemente. Havia um perigo no brilho dos olhos dele que se evidenciava no pequeno sorriso de lado que ele me ofereceu ao notar que não desviei os olhos. Vendo que estava parada como um tábua no meio do caminho, Tabita segurou a minha mão e me levou até ele. — Alfa, Luna Nadja está pronta. Ela abaixou a cabeça formalmente diante dele, mas os olhos dele não deixaram os meus. — Obrigado, Beta, pode ir se trocar e chamar o velho, a cerimônia começará em breve. Tabita me abandonou diante do Aterrador Alfa. Eu, que havia imitado o comportamento da Beta, permaneci de cabeça baixa. Ele e aproximou de mim e meu campo de visão se resumia aos músculos do ventre dele e a calça de pele de animal. Ele tocou o meu queixo e levantou o meu rosto, para o olhar nos olhos. — Está muito bonita, Pequena Luna. Permaneci em silêncio. Deveria agradecer o elogio? Eu não sabia mais nada, nem entendia o que estava acontecendo. Tudo era diferente do que estava acostumada, mas era meu primeiro dia naquele lugar, com confiar que tudo não passava de ilusão e logo me jogariam em uma cela fria? Esse era o jeito que machos tratavam as fêmeas, que os fortes dominavam os mais fracos; Pelo menos, era o único jeito que conheci. Ele estava me encarando, creio que esperava uma resposta. O sorriso de seu rosto se desfez lentamente diante do meu silêncio e os seus olhos mudaram de cor. Estavam negros como na primeira vez que o vi. Inconscientemente dei alguns passos para trás. O azul frio dos olhos dele me acalmavam, mas eu sabia muito bem o que significava aqueles olhos negros. A natureza dele estava tomando controle. Devo ter enfurecido a fera e agora seria castigada! Ele veio para mim tão rápido que não tive tempo de reagir. Segurou o meu rosto com u mão direita e o levantou mais uma vez. — Tem medo de mim, Luna? A voz também estava alterada e achei melhor não responder, o medo era evidente. — Eu nunca machucaria você, pequena Luna, odeio o seu medo. Dizer que odiava a emoção que eu sentia e não podia controlar não me ajudava a acreditar que ele nunca me machucaria… Ele fechou os olhos com força, sem soltar o meu rosto, e quando os abriu, estavam azuis novamente. — Sente-se melhor agora? — Fiz que sim com a cabeça, mas, naquele momento concordaria com qualquer coisa que ele perguntasse para evitar punição. — Minha fera gosta de você, Nadja, mais do que pode imaginar. Meu coração bateu mais forte ao ouvir aquelas palavras. Ele permaneceu me encarando e, satisfeito com alguma coisa que viu, sorriu novamente. — Venha, está na hora. Hoje se tornará uma de nós, pequena Luna!
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