Amadurecer 2

1017 Words
“ Meu” A voz ecoou novamente. A minha postura mudou sutilmente, mas eu notei que o meu peito estufou e minha cabeça estava erguida. Mesmo a minha insegurança não era suficiente para manter a postura acanhada de antes. Meu estômago roncou alto e não me envergonhei, apenas ri com a expectativa de poder comer tudo o que eu quisesse sem nenhum carcereiro fazendo piadas, ou tentando me chantagear para receber favores indecentes. Eu estava livre e em casa! — Eu comeria um leitão inteiro de tanta fome! — Disse sem pensar, tamanha era a minha sensação de pertencimento. — Cobri Imediatamente a minha boca com a mão livre. O que estava acontecendo comigo? Enquanto estranhava a mim mesma, o Alfa sorriu, olhando para mim como quem olha para um filhote travesso. — Eu gosto disso, Pequena. — Ele disse após beijar o dorso da mão que segurava. — O quê? — Perguntei encabulada. — Que esteja diferente hoje, menos apreensiva. Aguardo pelo dia em que falará abertamente o que pensa quando estivermos juntos. — Não me sinto diferente, mas sinto que estou agindo estranho. — Está diferente, até mesmo a sua aura mudou. É uma consequência da sua loba estar livre. Deve ser isso, embora ela não se comunicasse comigo além de repetir “meu”, a impressão que eu tinha é de que havia encontrado a peça do quebra-cabeça que faltava de quem eu sou. — Eu gostaria de estar mais unida a ela, ainda parece um alienígena que entra na minha mente, mas que nada tem a ver comigo. — Quando ela nascer, a influência será ainda mais forte. Vocês são uma única pessoa, compartilham a alma e o corpo. Vai entender melhor depois da transformação. Paramos de conversar diante da porta dupla do salão de refeições. O som de vozes e instrumentos de cozinha era alto. Parte do clã estava presente fazendo a refeição do meio do dia. Havia uma grande mesa central, rodeada de outras mesas menores. Percebi que a posição delas tinha a ver com a hierarquia do clã. Não foi difícil chegar a essa conclusão, pois na mesa central, estava Hira, o casal de Betas e os anciãos, com suas túnicas elegantes e narizes empinados. Do lado esquerdo, mesas com as fêmeas do harém e não marcadas, e outras menores com rostos que não conhecia. Do direito, machos também não marcados e outros rostos de quem não me lembrava. Era um clã grande, impossível lembrar de tanta gente. A proximidade da mesa central era sinal de prestígio e posição. Os mais distantes, ainda eram parte dos nobres ou militares, porém, menos relevantes. Enquanto caminhávamos na direção da mesa central, notei que os alimentos ainda estavam sendo dispostos pelos criados, e ninguém se servia, mantendo as mãos fora da mesa. O Alfa seguia o caminho com passos firmes, postura de um líder e a confiança de quem sabia que ninguém ali conseguiria derrotá-lo. Assim é a minha espécie, o maior valor de um ser é a força. Seja ela a força bruta, de caráter, intelectual ou emocional. Força dada pelos deuses para seus agraciados. Enquanto caminhava como um rei em meio a plebe, ele segurava minha mão, orgulhoso. E eu, por outro lado, cada vez mais intimidada pelos olhares que recebia. Minha natureza observa tudo em silêncio, ao contrário de mim, nem um pouco abalada. Até mesmo a posição na mesa era associada à hierarquia. Na cabeceira da mesa tinha duas cadeiras mais altas, do casal de líderes. Em uma delas, estava sentada Hira. Do lado direito, os machos da elite, começando pelo Beta. Do lado esquerdo, as fêmeas, suas companheiras. O Alfa seguiu para a mesa principal e eu notei que não havia nenhuma cadeira vaga. Onde eu sentaria? Não havia lugar para mim! A minha insegurança aumentou ainda mais quando meus olhos encontraram os de Hira, que me encarou com um sorriso orgulhoso e olhar altivo. Alfa Derik segurou firmemente a minha mão, me impedindo de escapar e se posicionou diante da cadeira reservada para ele. Todos no salão se levantaram e um dos criados puxou a cadeira para ele sentar. — Bem-vindo, meu Alfa, não sabia que traria uma convidada para a nossa refeição. Vou mandar um dos criados preparar uma cadeira para ela na mesa das fêmeas do harém. — Não precisa, Hira, ela sentará aqui. O sorriso escapou dos lábios de Hira por uma fração de segundo, mas ela se recompôs rapidamente. Não creio que tenham percebido o desgosto dela ao ouvir as palavras do Alfa. — Não há lugares vagos, meu Alfa. — de forma autoritária, ela se dirigiu a um dos serventes. — Criado, traga uma cadeira para a convi- — Não precisa, Hira, ela sentará consigo! Aliás, ela se sentará comigo todos os dias, a partir de hoje. Num movimento rápido, ele sentou e me puxou para junto do seu corpo, me posicionando no seu colo. Um burburinho soou no salão, reverberando a surpresa dos presentes com o gesto do Alfa. Ele moveu a mão, e todos se sentaram, aguardando que o Alfa se servisse primeiro, como era a tradição. Apesar dos pratos aromáticos sobre a mesa, uma criada trouxe uma bandeja com um pedaço de carne assada. A melhor porção era sempre oferecida ao Alfa. Ele não cortou a carne para se servir, como eu esperava, mas pegou um grande garfo e espetou a peça inteira e colocou no seu prato. Um braço dele envolvia a minha cintura, a outra mão ele usou para arrancar um pedaço da carne macia e suculenta. Em vez de comer, ele me ofereceu a porção. — Abre a boca, Pequena! Com todos os olhos nos observando, eu obedeci e aceitei. O sabor e suculência da carne fizeram o meu estômago roncar mais uma vez. Senti o seu peito se mover e olhei para ele, estava me observando e rindo do som emitido por meu estômago. — Pelo visto, terei muito trabalho para alimentar esse monstro dentro de você, Pequena Luna! Ainda sorridente, ele pegou um segundo pedaço e comeu. Finalmente os demais puderam se servir.
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