Amadurecer 1

1267 Words
Quando abri os olhos, estava me sentindo energizada. Era novidade acordar tão bem disposta e pronta para um novo dia! Tentei me lembrar se havia alguma razão para tal disposição, mas nada veio me minha mente. A última coisa que me lembrava era de ter o Alfa me ajudando a tomar banho. Meu rosto ficou quente com a imagem dele passando a mão pelo corpo nu… As sensações novas que apenas seu toque proporcionou…. Depois disso, o que aconteceu? Ele disse que precisávamos conversar… Oh, sim, ele quer me marcar como sua companheira. Triste história a dele, imagino que perder a alma gêmea deve ser desolador. Depois disso, apenas algumas imagens borradas…. Ao tentar forçar a lembrança, uma forte pontada na cabeça me fez fechar os olhos em agonia. Batidas na porta se repetiram até eu conseguir me levantar para abri-la. — Alfa! — Abaixei a cabeça, como manda a tradição quando estamos na presença de um alfa. Ele adentrou o quarto como quem é o dono do mundo. Bem… Ele é dono do quarto… e do clã inteiro, mas, enfim… — Como está se sentindo hoje, Pequena? — Muito bem, senhor. — Respondi sorridente. Ele me olhou nos olhos, cenho franzido, estranho a minha boa disposição. — Fico contente em saber que está bem. Sobre o que aconteceu ontem… Tenho a impressão que houve alguns m*l-entendidos que eu gostaria de retificar. — Ah… Eu não sei do que está falando… — Abaixei a cabeça sem jeito. Não fazia ideia do que ele queria dizer, exceto se tinha se arrependido de propor que nos marcássemos. Isso me faria ficar muito constrangida. — Sério? — Ele ergueu uma sobrancelha, incrédulo. Com os braços cruzados sobre o peito desnudo, ele caminhou devagar em volta de mim, as palavras que disse a seguir ditas lenta e deliberadamente. — Estava indignada, me acusando de te tratar como uma parideira. — Oh, Deusa! — De olhos arregalados, era a minha vez de reagir com incredulidade. — Eu fiz isso? Mas…. Eu não lembro disso… Ele se aproximou mais de min, e inalou profundamente. Lembrando que tinha acabado de acordar e não tinha escovado meus dentes nem lavado o rosto, imaginei que estivesse mau-hálito. — Não está mentindo. — Disse de si para si, intrigado. Oh, era isso que ele estava checando… Como ele conseguia saber se eu mentia ou não apenas pelo meu cheiro? — Mentiras fedem? — perguntei antes que pudesse controlar a boca. Ele me olhou, estupefato, seguido por boas gargalhadas. Nunca tinha visto o terrível Alfa rir daquela maneira. Era agradável e encantador com os seus olhos brilhando de divertimento. — Infelizmente, mentiras não fedem, porém, como os nossos lobos se aceitaram, o vínculo criado entre nós me permite identificar algumas emoções em você. As palavras dele pareciam inofensivas, não fosse pelo brilho maroto do olhar e o sorriso cínico no canto da boca. Oh, grande deusa, será que ele percebeu a aflição que causa entre as minhas pernas? Como se adivinhasse por onde andavam os meus pensamentos, o sorriso dele tornou-se mais largo. — Não preciso te cheirar para identificar outras “emoções” suas, Pequena… Mas devo dizer que o aroma é delicioso. “ Meu” A voz ecoou na minha cabeça. Era a minha natureza, reivindicando o Alfa para mim. Ela estava zangada, mas isso não mudava o sentimento de posse que tinha por ele. — O que disse? — Ele perguntou com as sobrancelhas erguidas — Nada… Eu não disse nada… — Você disse sim, ou ela disse? — Ele segurou o meu rosto entre as mãos, um sorriso cínico e orgulhoso nos lábios. — Repete o que disse, Loba Luna. Adoraria ouvir isso depois da sua rejeição de ontem. Rejeição? Não me lembro de nenhuma rejeição. A dor na minha cabeça retornou e com ela, recortes do que tinha acontecido no dia anterior. Oh, deusa, minha natureza desrespeitou o Alfa… E ele estava aqui, sorridente? Após um comportamento como o dela, esperaria uma punição severa, não esse sorriso orgulhoso. — Vou adorar dominar você quando chegar a hora, Loba! Um rosnado saiu da minha garganta, mas eu ainda era eu… Como era possível a natureza se expressar sem controlar a forma? Para piorar, o rosnado tinha mais de desafio do que de raiva. — Desculpa, eu não sei o que me deu. — Sua loba está livre, Pequena Luna. O velho sonso a libertou com uma das beberagens dele. O que me faz lembrar que temos que terminar a nossa conversa de ontem. Começando com uma explicação do porquê aprisionou a sua loba e como fez isso. Meu estômago roncou e ambos olhamos para a minha barriga em simultâneo. — Deixe-me alimentá-la primeiro. Vem comigo para o salão de refeições? — Espere um minuto, rapidinho! Corri para me trocar enquanto ele me aguardava perto da porta. Troquei a túnica de dormir por uma das que recebi ao entrar para o clã. Ela era vermelha, com mangas compridas e com detalhes bordados em dourado. Diferente das outras que vesti antes, esta parecia nova e feita para mim, pois servia como uma luva e não tinha o cheiro de ninguém. Após lavar o rosto e escovar os dentes, verifiquei a minha aparência no espelho perto da banheira. Soltei um suspiro pesado, parecia um filhote vestindo a roupa da mãe. Cabia em mim, por certo, mas eu parecia um filhote macho. Os meus traços físicos nunca me incomodaram artes, mas estar no meio de tantas fêmeas tão aliciantes com as suas curvas, muitas das quais o Alfa já usufruiu, deixava-me insegura. Quando me aproximei, ele me fitou de cima a baixo e sorriu satisfeito. — Uma verdadeira Luna, Pequena! Sorri, mas não, não acreditei nele. Hira era de longe muito mais mulher que eu. De repente senti raiva de mim mesma. Por que diabos estava me comparando com outras? Ainda para agradar um Alfa arrogante como Derik! Ele me ofereceu a mão, que eu aceitei, e saímos juntos do quarto, caminhando lado a lado de mãos dadas pela mansão. Fora da mansão do Alfa, as pessoas por quem passávamos nos cumprimentavam alegres. Em vários momentos vi os seus olhares brilharem excitados ao mirarem as nossas mãos unidas. No entanto, alguns poucos membros do clã fecharam a cara ao me ver ao lado do Alfa. Uma senhora até mesmo me olhou com rancor, e tentei afastar a minha mão por impulso, mas o Alfa a segurou ainda com mais força. — Nem pense nisso, Pequena. Você será a minha fêmea e o nosso povo tem que se acostumar co a ideia. — Mas eu ainda não concordei, Alfa. Respondi. Embora temesse algum tipo de retaliação, não era possível, para mim, ignorar a seriedade da situação. — Vamos conversar sobre o seu consentimento depois que te alimentar. Taí uma ideia que concordei com satisfação. Estava faminta e com excelente apetite. Enquanto caminhávamos, sentia-me leve e tranquila. “ Meu” A voz ecoou novamente. Minha postura mudou sutilmente, mas eu notei que meu peito estufou e minha cabeça estava erguida. Mesmo a minha insegurança não era suficiente para manter a postura acanhada de antes. O meu estômago roncou alto e não me envergonhei, apenas ri com a expectativa de poder comer tudo o que eu quisesse sem nenhum carcereiro fazendo piadas, ou tentando me chantagear para receber favores indecentes. Eu estava livre e em casa! — Eu comeria um leitão inteiro de tanta fome! — Disse sem pensar, tamanha era a minha sensação de pertencimento. — Cobri imediatamente a minha boca com a mão livre. O que estava acontecendo comigo?
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