A Fera

1807 Words
Era um sonho. Um belo dia de sol, céu limpo, azul e sem nuvens. Eu estava no meio da floresta ouvindo o Alfa me chamar, mas não conseguia encontrá-lo. As árvores frondosas ofereciam as suas sombras às coloridas flores-do-campo. O meu coração batia acelerado, ansioso, porém, por mais que corresse na direção do chamado, não conseguia encontrá-lo. Ele precisava de mim, mas eu não o alcançava. A voz foi ficando distante, m*l podia distingui-la misturada aos gemidos de machos e fêmeas. Não podia discernir se eram gemidos de dor ou prazer. “ Meu!” A voz gritou na minha cabeça, a minha própria voz que não parecia ser minha. Tudo ficou escuro, o meu peito ardeu, senti a desolação da perda de algo importante. Os meus olhos se abriram de vagar, os gemidos do sonho se fizeram ouvir na realidade. O cenário que se desdobrou diante de mim era algo que nunca tinha testemunhado antes. Machos e fêmeas na mais completa i********e, nas formas de humanos e lobos. Eu já tinha visto sexo antes, quando criados eram forçados a servir os visitantes, ou membros da tribo recebiam uma noite como recompensa. Ainda posso ouvir os gritos de dor e desespero não os meus pesadelos… No entanto, o que eu testemunhava era algo que não poderia acreditar se não estivesse vendo com os meus olhos. Havia desejo e prazer nas expressões das pessoas. Num canto não muito distante, uma fêmea estava de quatro em cima de Eda, que mantinha a cabeça entre as suas pernas e um macho completamente nu atrás dela, se movendo rapidamente. Ele tinha longos cabelos negros que alcançavam os quadris quando jogou a cabeça para trás em êxtase. Perto deles, um macho deitado no chão segurava o traseiro de Hadit, enquanto ela montava nele, sentando na sua parte de homem, olhos fechados enquanto gemia palavras impossíveis de compreender. Ela parou de se mover com um sorriso satisfeito no rosto e abriu os olhos. Creio que sentiu que eu a observava, pois o seu rosto virou na minha direção e o sorriso se tornou ainda mais contente. Ela estava feliz sendo usada por um macho… ou estaria ela usando o macho? Não podia entender o que estava acontecendo, sempre acreditei que o sexo era algo r**m, que os machos machucavam as fêmeas, mas diante de mim, havia entrega e confiança entre aqueles que realizavam… hm… a conjunção carnal… Meu peito ardeu novamente e desviei a minha atenção de Hadit para o casal que estava ao meu lado. A Fêmea, Hira, completamente nua, tocava o macho que estava de costas para mim. Ela notou o meu olhar e sorriu, desafiadora. “Nunca desistirei de ter você como o meu macho para sempre, Alfa; É o único que o meu corpo deseja. Usa o meu corpo, meu alfa, me fode gostoso e me marca como sua!” Ele mentiu para mim, disse que ela não era companheira dele… Por que mentiria? E por que doía tanto vê-los juntos? Não consegui ouvir o que ele respondeu, a dor no meu peito estava me deixando zonza. “Dessa vez será diferente! Essa noite, na presença dessa Luna e com a sua fera, creio que poderemos finalmente concluir a nossa conexão. As nossas fêmeas podem se beneficiar da presença dela, ainda que dormindo.” “Essa Luna’... Ela estava falando de mim? Ela queria se deitar com ele na minha frente? Mas ela sabia que eu não estava dormindo. Ela tocou-o, na parte de homem, enquanto me encarava. Fiquei envergonhada, não deveria estar ali, presenciando a i********e dos alfas do Clã, poderia ser punida, acusada de estar espiando a privacidade deles. O olhar dela me deixou ainda mais constrangida. Ele rosnou, furioso e afastou-se dela. As suas garras negras cresceram rasgando as pontas dos dedos e pelos negros se espalharam pelas costas e braços. Ele me encarou com os olhos na mais completa escuridão. Oh, deusa, me ajuda, ele vai me matar por interromper a i********e dele com a Luna…. Ele veio até mim e me encolhi, apertando a pele que me cobria como se pudesse proteger-me do castigo que se aproximava. Levantou a mão e as garras vieram na direção do meu rosto. Fechei os olhos apavorada, esperando pelo pior. Estranhamente, depois de alguns segundos aguardando o fim, ouvi um barulho que parecia de um filhote. Abri os meus olhos e a terceira forma do Alfa estava diante de mim, com o focinho no chão e as orelhas caídas. A visão era absurdamente esquisita. Uma fera mortal, gigantesca, com caninos imensos, estava abaixada aos meus pés. Mais uma vez soltou uma espécie de gemido, como um filhote faminto. Notei que a nossa volta várias pessoas, que aparentemente tinham terminado ou interrompido a cerimônia saturnal, observavam a cena com espanto. Luna Hira estava em pé, atrás da fera, me encarando com o rosto sem expressão e os olhos frios. A fera aproximou o dedo do meu pé, bem devagar, enquanto me observava. Senti o impulso de me encolher ainda mais, porém, não tive coragem de contrariar ser tão aterrorizante. Ele tocou a ponta do meu dedo e ... Acarinhou? Ainda observando a minha reação, aquela fera poderosa e dominante seguiu com o seu toque hesitante. Respirei aliviada ao me dar conta de que não tinha intenção de me machucar, mas, ao ouvir o meu suspiro de alívio, a fera levantou com a velocidade sobre-humana e me agarrou, correndo para o fim do vale comigo nos seus braços. Na borda da clareira, ele me colocou de volta no chão, ajeitou a pele de urso para me cobrir mais uma vez, deixando apenas o meu rosto de fora. Arqueou o corpo para trás e soltou um uivo poderoso que fez o meu coração bater mais forte. Obedecendo ao uivo, os machos que ainda estavam em forma humana se transformaram nos seus lobos. Um casal chegou correndo da floresta e os reconheci como o casal de Betas. Somente Tabita voltou a forma Humana, não se importando com a nudez, parou ao meu lado, sorridente. — O que está havendo? — Perguntei ao notar que as Fêmeas fizeram um semicírculo se posicionando a partir de onde o Alfa me deixou. — Chegou a hora do cortejo. Os machos marcados irão caçar para as suas fêmeas guiados pelo Alfa. Após mais um uivo poderoso, A fera correu para dentro da mata fechada seguido pelos machos comprometidos do clã. — Depois de tantos anos, finalmente!— A voz de um dos idosos do clã ressoou. — Parabéns, Luna Hira, nosso Alfa voltou por completo! Um salve para a nossa Luna! Os demais presentes aplaudiram Hira, que ofereceu em retorno um belíssimo sorriso e um aceno elegante com a mão. Parecia uma rainha. O sentimento estranho invadiu o meu peito mais uma vez. Creio que nunca poderei ser uma Luna como ela. Ainda sorrindo, diante de todos, ela se dirigiu a mim. — Nadja, o que está achando do nosso clã até agora? Olhei em volta, insegura diante de espectadores. — Eu… eu estou gostando muito, Luna Hira. Todos foram muito gentis comigo. — Que bom! Folgo em saber que está se sentindo bem entre nós, somos uma família, como pode perceber, cuidados uns dos outros e acredito que encontrará uma maneira de ser útil aqui. — Sim, senhora! Será um prazer ajudar com o que eu puder… — Boa menina, como deve ser! Sei que ainda é um filhote, mas, é de pequeno que se aprende, não é? — Eu…. — Perdão, Luna Hira, mas creio que não seja o momento nem o lugar adequado para esse tipo de entrevista. Tabita, que estava do meu lado, passou o braço em volta dos meus ombros. , — Por que não seria? Não é como se ela tivesse algo a esconder, não é mesmo Naila?—Perguntou o velho com um sorriso amarelo. — Nã-não, senhor…— Estava prestes a corrigi-lo quando outra voz se pronunciou. — Tenho certeza que não vai querer ficar à toa à custa dos seus irmãos de clã. Não toleramos vagabundos por aqui. — Eda emendou parando ao lado de Hira. Estava nua, seu corpo coberto por suor, tinta e óleo, além de secreções corporais que prefiro não mencionar. — O que sabe fazer, Nadja? — Perguntou Luna Hira.— Sabe lutar? Usa alguma arma? — Não, senhora… — É letrada, conhece as culturas, idiomas? Cultos ancestrais? Louvor a grande deusa mãe? A cada pergunta, eu fazia que não com a cabeça. Me senti cada vez mais acoada e humilhada. Eu já sabia que não tinha valor para aquele clã, para nenhum outro, era apenas uma escrava, mas ter a minha insignificância esfregada no meu rosto diante de todos me fez desejar desaparecer dali. — Pelos deuses! — Berrou Eda com deboche, se dirigindo a todos e a ninguém. — Como pode uma Luna ser tão fraca e inútil? Eu pensei que as Lunas de nascença eram imbatíveis, mas nossa Luna, Hira, é de longe mais forte do que essa magricela! — Não seja tão pessimista, Eda. — O velho de dentes amarelos olhou em volta, falando como se estivesse me um palco. — Nossa Luna é excepcional e caridosa, tenho certeza que Naila pode ser treinada para servi-la. Não é mesmo, Naila? Uma honra para você, uma recém-chegada, servir a Luna do nosso clã! — Vai aceitá-la como sua criada, Luna Hira? — Perguntou Eda. — Posso tentar, embora não creio que seja fácil…. — Hira segurou o meu queixo e virou o meu rosto de um lado para o outro. Beta Tabita me puxou para trás, me afastando dela. Seu rosto estava vermelho de rava e ela abriu a boca para dizer alho, mas foi interrompida pela voz de outro ancião. Era o velho barbudo de olhos gentis… acho que seu nome era Agar. — Oh…. Hira sempre tão generosa, mas penso que está havendo um engano. Luna Nadja já tem uma função no nosso clã, embora vocês ainda não saibam a posição dela, eu sei. — O que você sabe que não sabemos, Agar? — OH…— O velho de olhos gentis segurou a minha mão e sorriu para mim, antes de continuar sem olhar para os demais. — Muitas e muitas coisas, Lorde Antenor, seria impossível enumerar. Por enquanto, posso apenas revelar a vocês que Luna Nadja ficará sob meus cuidados, aprendendo a arte da cura e do louvor a sua mãe. — Mãe? — Questionei surpresa com as palavras dele. — Não sabia, Luna Nadja, que as Lunas de nascença são consideradas filhas da grande Deusa. Benção de Hecate para o seu povo! Diante das palavras dele, os membros do clã que estavam presentes uivaram e aplaudiram, Repetiram os desejos de boas-vindas e me parabenizaram simplesmente por ser quem sou… Embora eu mesma não soubesse ainda quem era.
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