A Verdade

1407 Words
Recentemente, eu não passava de uma escrava fugitiva, e as paredes de uma cela fria e escura era o mais perto do que conhecia como lar. Agora, eu era livre, marcada por um Alfa e um macho general Gama oferecia o pescoço para a minha natureza. Não apenas ele, mas minha amiga Sunna, embora encolhida na outra cama, também me oferecia o seu pescoço, símbolo de total submissão a uma autoridade. Embora a minha loba reconhecesse o gesto como apropriado, eu estava constrangida e não queria que eles me tratassem tão formalmente. A minha natureza e eu estávamos muito desalinhadas, com nossas personalidades contrastantes e divergentes. — Perdão, Luna Nadja! — Disse o gama, aturdido. Fechei os olhos, a minha cabeça estava doendo muito. Aquele pervertido bateu forte com ela no chão. Adanir era o meu herói, de verdade, escolhido pela própria deusa para me proteger. Surreal, após anos de abuso, ter alguém cuja função é basicamente me proteger, mas a grande Deusa sempre encontra um jeito de aproximar os seus filhos. Rebecca sempre me disse isso e finalmente posso acreditar. — Desculpa, eu não sei o que me deu… — Não peça desculpas, Luna, eu que vacilei. Por anos, tentei me forçar a chamar Hira pelo título que lhe foi conferido. — Eu entendo, o que não consigo entender, no entanto, é porque Hira falou essas coisas pra você. Conheço Sunna há poucos dias, mas basta para saber que ela sempre se guardou para o companheiro, você, no caso. O gama fitou-me com um sorriso triste nos lábios e os ombros caídos. — Eu adoraria acreditar nas suas palavras, minha Luna, mas o general Azis pagou o tributo ao Alfa desde há dois ciclos solares. Hira disse que ele enchia Sunna de presentes caros, que eu não poderia oferecer… Quanto mais ouvia aquele nome, mais o meu sangue parecia ferver. Sei que precisava manter a cabeça no lugar e agir com calma, mas desde que o gama me confirmou como Luna, o nome de Hira causava um amargor na minha língua. — Adanir, eu não sei o que Hira te falou ou o motivo, mas essa noite foi terrível para Sunna, muito mais do que para mim. Estive ao lado dela o tempo todo. Azis e os outros… Tentamos escapar, mas Sunna estava passando tão m*l. Eu também estava me sentindo m*l, mas ela ingeriu mais da poção do que eu… — Que poção, Luna? — O belo gama fitou-me com as sobrancelhas franzidas. Eu contei a ele tudo o que aconteceu, cada detalhe dos momentos de aflição da minha amiga, as palavras cruéis dos pervertidos. O gama se manteve quieto, atento a tudo que relatei. Sua única reação foi a mão fechada em punho e a tensão no seu maxilar. — Além disso, Sunna soube recentemente que Azis tinha pago o tributo para ser o primeiro a acasalar com ela. Pelo que Tabita me informou, Alfa Derik autorizou somente se ela não encontrasse o companheiro e estivesse de acordo. Segundo Tabita informou no dia da minha aceitação, Hira, como suposta luna, representou os interesses de Sunna e confirmou que estava de acordo. Sunna correu para alertar Hira que não queria o general, que, se ele disse que ela concordava, estava mentindo. As fêmeas do harém sabem que Sunna o detesta! O Gama olhou mais uma vez para Sunna, então, para mim, a expressão de perplexidade no seu rosto era quase cômica, não fosse a seriedade da situação. — Eu acreditei que Sunna era…. E por causa do veneno de Hira e ciumes, eu quase permiti que ele violasse a minha fêmea. O gama virou-se para Sunna, estendeu a mão para tocá-la, mas se retraiu. — Não sei porque a Deusa me escolheu como gama, se sou incapaz de proteger as fêmeas que ela deixou sob a minha guarda. — Não é sua culpa, não fale uma coisa dessas! Aposto que Sunna deve estar encantada de ter um macho tão íntegro e honrado como companheiro. Sunna lambeu a mão dele que estava retraída no ar perto dela. Ele sorriu, surpreso com o seu gesto e acarinhou a sua cabeça. — Temos tanto para conversar, fêmea. Poderia, por favor, dar o controle para a forma humana? Preciso ouvir a sua voz… Sunna choramingou, incapaz de se transformar. — Por que ela não se transforma, Luna? Ela está zangada comigo? Sunna choramingou e se arrastou na direção dele. Ele sentou na cama e ela deitou a cabeça no seu colo. — Ela não parece estar zangada. — Não pude deixar de sorrir ao vê-los juntos. Algo me dizia que ele era perfeito para ela, muito correto e íntegro. O jeito em que ele acariciou a cabeça de Sunna, tão cuidadoso e gentil, como se temesse machucá-la com um sopro. Um general tão grande e forte como ele, com tantas cicatrizes nas suas costas e peito, devia ser um general extraordinário. A porta abriu e Lorde Agar entrou acompanhado do Beta Eli. — Traga a bandeja, beta, coloque ali sobre a mesinha. Oh, que maravilha, Luna, está desperta! Lorde Agar ocupou-se em misturar e medir os itens que tinha na bandeja, por mais que tentasse parecer distraído, seus ouvidos estavam atentos a tudo, como sempre. — Luna Nadja! — Beta Eli abaixou a cabeça e me cumprimentou. — Eu ainda não acredito direito que é nossa Luna há tanto perdida! — Para falar a verdade, isso tudo me parece um sonho. — Levei a mão ao pescoço e tateei a marca, para me certificar de que era real. — Estou muito feliz por meu Alfa e por todo o clã. Devo dizer, contudo, que a minha fêmea desconfiou disso o tempo todo. Ela chegou a me dizer que o Gama Adanir devia ter se engano no passado, quem diria que é a mesma pessoa. Ela não vai se conter quando souber que esteve com a razão desde o principio. — Eu não me enganaria com isso, Beta! — Resmungou Adanir, enquanto Eli achava graça da seriedade do gama. — Se prepara, Sunna, seu companheiro é sério demais, conto contigo para quebrar o gelo dele! Beta Eli fez menção de acarinhar a loba da Sunna, mas foi impedido por um grave rosnado de Adanir. “ Minha!” — Ei, eu tenho a marca da minha fêmea, prima da sua, inclusive, somos parentes! O sorriso do Beta era de orelha a orelha, contente por provocar o amigo, enquanto Adanir permaneceu sério, olhos atentos em Sunna, deitada com a cabeça no seu colo. — Com licença, Luna Nadja, mas deixarei vocês para avisar ao Alfa que já acordou. Após o Beta sair, Lorde Agar trouxe uma cuia para mim. Estava cheia de um líquido escuro, com cheiro de mato queimado. — Beba, Pequena Luna, é um pouco amargo, mas vai aliviar a dor na cabeça e ajudar co a quentura da marca. É um tanto desconfortável estar longe do companheiro enquanto ainda não completaram a conexão, não é? Aceitei a bebida e fiz que sim com a cabeça antes de ingerir o líquido. Era realmente amargo, e os pedacinhos de folhas secas ficou preso na garganta, o que acarretou uma crise de tosse. O Lorde tinha uma caneca com água na outra mão, que me ofereceu de pronto. O liquido era r**m, mas acalmou o meu coração e aos poucos a minha cabeça parou de latejar. As minhas pálpebras ficaram pesadas, mas eu não queria dormir sem ver o Alfa e me forcei a ficar desperta. — Gama Adanir, a sua fêmea também precisa de cuidados. — Ele mostrou uma caneca de onde saía uma densa fumaça. — Preparei isso para ela, para expelir a poção que causou toda a confusão. — Ela foi mesmo enfeitiçada, Lorde? — Sem dúvidas! Um feitiço muito potente para confundir o animal de Sunna, e fazê-la pensar que o macho que a molestou quando filhote era o seu companheiro…. Pude compreender a razão pela qual o Alfa chamava Lorde Agar de velho sonso. O seu tom de voz era tranquilo, como se não estivesse a falar nada de mais, mas as suas palavras fizeram o Gama rosnar com tanta fúria que os frascos de vidro sobre a bandeja tremeram. O tão contido e íntegro gama se transformou no grande lobo cinzento em um piscar de olhos e a sua fúria podia ser sentida por minha loba, que se revelou nos meus olhos orgulhosa do seu gama.
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