Pânico

1110 Words
No corredor da casa, Rudá olhou para Rayra, a amava, mas os pesadelos recorrentes…os malditos pesadelos. E por mais que exorcizasse os d£mônios no porão do condomínio, eles teimavam em ganhar vida dentro dele. Rudá ainda podia sentir o cheiro de cada momento, ele se lembrava detalhadamente de cada pesadelo que viveu acordado, e eles foram muitos. As imagens, cada cena assistida. O cheiro.. O cheiro.. Ele não entendia como ainda podia sentir o cheiro daqueles momentos, como as lembranças voltavam com força, não deveriam voltar, mas as lembranças voltavam e as sensações revividas faziam com que esquecesse tudo ao redor. Era como se o passado o buscasse, mesmo sendo adulto, e temia que o horror que carregava dentro dele atingisse a delicadeza e inocência de Rayra. _ Está tarde..Não é a melhor hora. _ Se não me deixar entrar.. para que a gente possa conversar, nunca mais me aproximo Rudá. Essa é última vez, se não deixar ao menos uma brecha para que eu tente..Não tem como eu entrar. Rayra se calou. _ Princesa.. _ Não… Gosto quando me chama de princesa, de monstrinha também, mas eu não sou uma princesa de contos de fadas, me tornei uma mulher. E quero ser a sua mulher. Você está me fazendo pensar que não me ama como disse. O seu prazo acabou há uma semana.. _ Eu.. _ Vai me deixar entrar? _ Na rede lá fora.. Conversamos lá, não no quarto. No quarto não..Por favor! Rudá sempre fugiu dela. _ Não vou te acompanhar até lá fora. Eu nunca entrei em seu quarto e prometeu que não fugiria mais… _ Eu prometi Foi a promessa mais difícil e dolorida que fez. _ O que houve antes de chegar em casa? Rudá foi criado por Estefano e Helena, mas o garoto chegou na casa com 12 anos, pelo menos era isso que Rayra cresceu escutando. Só quem sabia o que aconteceu com ele antes dos doze anos era Estefano, pai de Rayra e subchefe da máfia americana, e Estefano mantinha sigilo sobre isso. Rayra assistiu Rudá abrir a porta, a chave estava em uma corrente em seu pescoço, a porta sempre trancada era a maneira dele evitar que ela entrasse. Rudá estava tenso.. Quando passou pelo limiar da porta, Rayra fechou os olhos, era como um mundo novo, um mundo onde podia se aproximar de Rudá, tentar conhecê-lo realmente, e entender a recusa em ser tocado, nem mesmo um abraço ele conseguia oferecer a ela. O cheiro do ambiente a invadiu, era o cheiro dele. Observou O quarto era organizado, confortável e parecia com ele, quente, másculo e cheio de segredos. Durante anos, ela só viu pequenos pedaços daquele ambiente,quando ele abria e fechava a porta, mas nunca pôde entrar. Rayra passou a mão na cama, perfeitamente arrumada, parecia que ele nem mesmo se deitava ali. _ Quando foi a última vez que se deitou nela, Rudá? _ Não sei. Não consigo. Eu durmo na rede lá fora ou na esteira.. Ele dormia na cama dos tios também, mas não na sua própria cama. Rayra pegou uma camiseta dobrada na escrivaninha. Cheirou a peça Rudá deu alguns passos para trás, como se se protegesse dela. Um homem com quase 1.80 de altura, com medo dela. O executor da máfia, temido pelos outros soldados, tinha medo dela, tinha medo de ser tocado por ela. Rayra abriu o guarda roupa, a maior parte das peças foi ela que escolheu, sempre que ia ao shopping trazia uma peça para ele. Alisou algumas camisetas, a camisa azul que ela adorava vê-lo nela. Rudá foi ficar perto janela , como se sentisse vontade de pular. Quando Rayra parou para olhar o banheiro que era dele, Rudá pegou uma camiseta, vestiu a peça rapidamente, Rayra soube que se escondia dos olhos dela, podia contar nos dedos de uma mão quantas vezes o viu sem camiseta, nunca o tinha visto de sunga. E nas últimas semanas a garota vivia esperando uma oportunidade para isso, para vê-lo ao menos de cueca, sentia uma necessidade intensa de conhecer os segredos dele, mas também o corpo, e ele fugia como se toque feminino causasse dor. _ Me prometeu um abraço também, Rudá. _ Não faça isso comigo, princesa. Não posso. Ele voltou para a janela, como sempre, fugindo dela, escondendo o que aconteceu em seu passado, mas se o quisesse como marido teria que o pressionar, o fazer falar. Se Rayra quisesse o executor da máfia americana, teria que ser forte o suficiente para encarar de pé a tormenta que via nos olhos dele. _ O seu tempo acabou. Ou diz que me quer como esposa ou digo ao meu pai que aceito me casar outro _ Não vai se casar com outro, Rayra. Eu m@to qualquer pretendente que cruzar essa porta. _ Vai se casar comigo, Rudá? Silêncio. Rayra se preparou para sair _ Princesa. _ O que sente por mim? _ Amo você. Eu juro. Eu vou parar de fugir. _ Por que não suporta ser tocado? _ Eu…não vou contar. _ Por que? _ Porque se souber o que houve vai deixar de amar e ter nojo de mim.. _ Não vou, Rudá. Eu amo você _ Está tarde.. _ Eu saio, mas tem que prometer que amanhã vai a festa na casa de Pedro comigo. _ Eu levo você. _ Não. Eu quero você do meu lado, como um casal _ Rayra, a tia.. _ Ela sabe que eu amo você, o meu pai também sabe. Na verdade, cada morador do condomínio, sabe que eu quero ser a sua esposa. Eu acho que cada morador sabe até mesmo que eu desejo me entregar para você. Ele se sentou na janela _ Vai pular a janela para fugir de mim? Vai acabar quebrando uma perna, vai precisar de ajuda para um banho… Nesse momento ela viu um filme de terror passar nos olhos dele, forte, cheio de pânico e tremendamente violento. _ Rudá! _ Por favor! Eu prometo o que você quiser,mas volte para o seu quarto. Por favor! _ O que aconteceu? Ele segurou na janela, era uma peça madeira que se abria em duas partes, Rayra viu a dobradiça se soltar devido a pressão que ele fez e a força. _ Por favor! Princesa, lá fora. Ela saiu, o escutou trancar a porta, mas Rayra soube que precisava ser forte ou não teria o marido que queria, mas o executor da máfia era dela, mesmo que tivesse de arrancar dele cada momento de pânico e transformar o horror ao toque físico que Rudá sentia em desejo. O desejo dela era forte, só precisava acender o dele.
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