Prólogo
O sangue escorria no chão, desde que Rudá se lembrava, o sangue estava em suas mãos, o sangue dele e de outros, precisou se banhar em sangue muito cedo para permanecer vivo.
Ele nunca foi uma criança, mesmo quando a sua idade dizia que era, pois a sua inocência foi arrancada muito cedo, com dor, com punição e com tudo aquilo que uma criança não deveria ver, mas ele viu e isso quebrou algo dentro dele.
Rudá fez o seu caminho nas ruas muito cedo, e na rua quem não derramava sangue padecia.
Agora ele estava seguro, era um homem, mas as lembranças da infância traumática ainda tinha poder sobre ele.
(...)
Nesse momento, Rudá estava no porão, era o porão da máfia e ficava localizado no condomínio americano.
Ele era um dos executores da organização, não foi um cargo compulsório, era algo quase natural.
Isso tanto era verdade que tinha um homem pendurado, condenado por traição e por molest@r a própria filha por dois anos.
Xavier, o chefe da organização estava sentado fumando um charuto e bebendo uma vodka como se assistisse um filme na televisão.
Os cabelos de Rudá estavam tingidos de vermelho, o vermelho que ele tanto conhecia.
Alguns soldados se sentaram de costas para a punição, porque não suportavam ver o que acontecia no porão, e nenhum desses soldados eram santos, muito pelo contrário.
No entanto, o sangue e o pesadelo que vibrava nas veias de Rudá ia além do que qualquer homem entendia.
(...)
Durante muito tempo ele não soube o que era carinho, proteç@o ou até mesmo dormir em uma cama. Era só um ser desgarrado e rejeitado.
As lembranças o deixavam na escuridão total.
Os inimigos e até mesmo os soldados americanos o chamavam de a Sombra Negr@
O homem pendurado era como um boneco.
(...)
O celular do chefe despertou, era o sinal que o chefe precisava partir, e mandar Rudá parar, ou ele acabaria machucando um dos soldados que o chamasse.
Xavier apagou o charuto
_ RUDÁ..
Ele continuou com a faca, como se brincasse com um ursinho sem forças, mas era um homem. Um homem de carne e osso, mas um p£dófilo, que molestou a própria filha, parecia um m@u agouro casos daquele tipo, mas abusos aconteciam diariamente, alguns deles nunca eram descobertos, porque as crianças não tinham coragem de contar, meninos também eram abus@dos, e Rudá sabia disso.
Ele viu, mas não queria ter visto, não queria..
O chefe o chamou mais uma vez
_ RUDÁ é uma ordem
_Chefe..
_ É uma ordem, termine. O seu tempo acabou.
Os olhos de Rudá eram uma mistura de vazio com loucura. Até mesmo Xavier sabia que Rudá era perigoso para os homens sem alguém que ele obedecesse. E por sorte tinham Estefano e Helena a quem ele obedecia cegamente, caso contrário ele já teria colocado vários soldados embaixo da terra.
Rudá era uma confusão.
Um dos homens entregou uma toalha para ele, e se afastou
_ Limpamos a bagunça chefe?
_ Não. Amanhã o café da manhã de cada homem da organização é aqui. Os soldados que são novatos precisam subir o tatame com Rudá. Montem uma mesa. E o soldado que não vier, dorme a próxima noite no porão com o corpo e limpa sozinho.
_ Até o café da manhã dos mais jovens?
_ Sim. É um aviso que nenhum dos meus homens pense em se tornar um pédofilo.
Rudá ainda segurava a faca.
_ Chefe eu não terminei.
_ O homem já está praticamente morto, Rudá. Chega!
Na tribo onde Rudá passou a sua primeira infância, o pajé contava a história do escalpelamento dos inimigos.. E ele recordava, aprendeu sozinho a escalpelar.. era um guerreiro sádico, mas era.
Alguém se aproximou por trás para oferecer uma água para Rudá lavar os braços, foi engravatado e jogado no chão
Xavier gritou uma ordem
_ Os dois parados.
Rudá estava pronto para começar uma luta, o soldado reclamou:
_ Eu só quis ajudar, chefe.
_ Já foi avisado para não se aproximar de Rudá. Rudá hora de ir para casa.
Rudá depositou o punhal aos pés de Xavier
_ A sua tia Helena está esperando.
Isso pareceu fazer Rudá acordar.
_ Estou de volta.
_ Vai entrar em casa, assim?
_ Não. Eu vou tomar banho no apartamento antigo do seu genro. Se eu chegar em casa assim, a tia Helena vai pegar em minha orelha.
Ele saiu do porão.
Rudá tomou banho no apartamento do outro executor da máfia, e foi correr depois para se acalmar. As lembranças estavam rodando em sua mente, forte, dolorida e a raiva borbulhava. Ele ainda podia sentir o cheiro de licor , de cigarro e de sangue, sangue, até as flores brancas do lugar em que cresceu, tinha sangue, e nã era pouco sangue.
Correu até que as lembranças o esqueceu, porque não era ele quem esquecia, não era. Aquilo tudo estava mais vivo que o coração dele, a sensação só não era maior que o amor que sentia por Rayra.
Um soldado passou por ele e desviou do seu caminho, como se fugisse do d£mônio. Os homens sabiam que não deviam ficar muito tempo no seu caminho, e tudo piorou nos últimos meses.
Estava casado. Ser tocado era o seu pior pesadelo.
A sua sorte era que Rayra não sabia ser sua esposa.
Tinham forjado um casamento para que ela ficasse segura, mas agora Rudá precisava parar de fugir como um covarde, esse era o único momento que a covardia o visitava, casamento, contato físico e s£xo.
Quando criança, ele arrancava os fios de seu próprio cabelo para se acalmar, como adulto ele arrancava o escalpo dos inimigos.
Ninguém fazia ideia…. do que viveu e viu..
Somente o tio Estefano sabia quem ele era, ninguém mais o conhecia, ninguém mais sabia a sua real origem e como o m@l corria em suas veias.
Só era humano com a família, no resto era o animal que o seu passado forjou.
Rudá correu pelo condomínio como se fugisse do seu passado.
Na verdade, fazia uma semana ele fugiu de Rayra com todas as suas forças, saía às 5:00 da manhã e retornava somente depois que a casa estava silenciosa.
Amava Rayra desde que ela tinha quinze anos, mas não sabia como contar para ela que eles estavam casados.
Foi para casa
Entrou silenciosamente, mas a menina de cabelos pretos e de uma beleza que ele nunca viu em lugar nenhum estava sentada na porta do seu quarto.
Rayra era a sua esposa e teria que contar para ela.
Imediatamente ele controlou o humor.
A sua melhor versão era ali.