Capítulo 5

1977 Words
Ricky   A cidade de Vega é um lugar diferente. Eu não sei dizer muito bem o que diferencia, mas é um lugar com certeza peculiar. Vamos a peculiaridades: Primeiro que a cidade realmente é pequena. Tem muitas casas, mas são bem longe umas das outras, o hotel que a gente ficou era junto com outras lojinhas e estabelecimentos a parte mais parecida com uma cidade. Depois tem o curioso caso de grande parte dos estabelecimentos levarem o nome da cidade. E o que mais me assustou foi que todos os seguranças que ficam nas portas dos estabelecimentos andam como o guarda que fica no hotel onde a gente tá hospedado. Todos com colete e armados. Eu não sei se isso é para ter a ideia de mais segurança, mas para mim, que já tomei conta de um morro onde a gente andava sempre armado, só tive a ideia de que aqui pode rolar coisa pesada. A gente almoçou num restaurante muito bom, depois ficamos passeando e mapeando o lugar, até termos coragem de realmente perguntar a alguém sobre o meu pai. Perguntamos nos correios, já que num lugar tão pequenos, eles devem conhecer todos os moradores. — Sí, sí. Esse é o nome de identidade dele, mas aqui na cidade todos o conhecem como o Daddy. — Pai amado. — Manu grudou no meu braço assustada. — Esse nome tem cheiro de velho rico. Então o meu pai está mesmo nessa cidade? Agora me bateu um tremendo frio na barriga. — Você tem certeza que esse Gerald é o tal Daddy? — tentei confirmar. — Sí. Eu recebo todas as encomendas dessa cidade. Não tem mais nenhum Gerald em Vega. Manu abriu um sorrisão. — Eu não disse que a gente o achava! Eu respirei fundo. — Foi. Mas eu ainda tô tentando assimilar. Acho que só acredito quando o ver. — E vocês o conhecem de onde? — o carteiro perguntou com um sorriso amigável. — Ele é filho do Daddy. — Manu respondeu. Ele me encarou, franziu a testa, pensou, pensou e depois coçou a barba. — Pois bem, você é mesmo a cópia dele! Eu pareço com ele?! — Sério isso? — Sí, sí. Quando você chegou eu lembrei de alguém, mas não sabia quem. Agora que você falou tudo faz sentido. Você é igualzinho a ele, só é mais jovem. — Que genética, heim! — Manu ficou admirada. — Tá bom. — fiquei mais animado com essa história. — E onde é que eu o encontro? — Ele mora na maior casa da rua rosa. É branca e sempre tem um carrão vermelho estacionado na frente. Anotado no meu cérebro. — Não deve ser tão difícil de encontrar. — falei. — Dá pra ir à pé? — Manu perguntou balançando a perna já ansiosa para encontrar o lugar. — Nessa cidade dá pra ir a pé pra todo lugar. — ele explicou tomando um gole do café e Manu não segurou a careta quando o café molhou o bigodão dele. Eca! — Tá bom, valeu. — lhe dei um aperto de mãos e saímos dos correios. Manu é uma pessoa aventureira e extremamente empolgada quando se trata de desvendar coisas, procurar... mesmo que nem sempre as encontre, né. Ela andava pelas ruas saltitando e seus cabelos voavam com a brisa que essa cidade tinha. Eu imagino que Vega seja um lugar pouco poluído. O céu é bem azul e o ar é limpo, não é uma cidade quente nem fria. É um lugarzinho legal. A gente saiu pela tal rua que tem uma placa escrito rua rosa. O nome logo fez sentido assim que começamos a passar por várias árvores com folhas rosa. Bem bonito e dali mesmo já dava para ver a tal casa branca. Mas a Manu resolveu tirar fotos nas folhas, então eu nem comentei a ela que já tinha avistado o lugar. Tirei várias fotos dela e também selfies de nós dois, até voltarmos ao nosso objetivo. Pouco tempo de caminhada depois, lá estava a casa branca. — Ai meu deus, eu tô nervosa. — Manu falou de olhos arregalados. — E eu? — respirei fundo com um tremendo frio na barriga. — Será que ele tá aí? — Acho que sim. — ela passou na minha frente. — Vamos lá. Vamos ver se seu pai é bonitão igual a você. Eu ri. Como é que ela consegue me fazer rir até nos meus momentos de nervoso?! Havia um portão enorme antes de uma estradinha e depois a casa. O portão estava aberto. — Será errado entrar? — eu pensei alto. Não tinha  nenhum segurança. — Não tô vendo nenhum interfone. — Manu reparou na mesma coisa que eu. — Então bora. — enchi meus pulmões de ar e passei pelo portão. Manu segurou a minha mão por toda a estradinha, até reparar no carro vermelho e se derreter toda. Ela cobriu o rosto toda impressionada com aquela máquina luxuosa. — Mano do céu, olha que carrão, Ricky! — É verdade. O carro dos sonhos. — admiti. Parecia aqueles carros que passam em filmes de milionários. Como alguém que mora numa cidadezinha tão pequena, tem condições de ostentar um carrão desses? Chegamos na frente da casa e a porta se abriu. — Você é mesmo um i****a! — Uma mulher alta, magra e com cabelos curtos e extremamente pretos saiu de lá gritando. Ao vê-la eu lembrei de alguém, mas não sei identificar quem era. — Olá. — ela nos viu e falou mais calma, logo olhou para mim, arregalando os olhos enquanto estava parada, segurando uma mão na outra em frente ao corpo. — Oi, a gente tá procurando o Daddy. — Manu respondeu por mim. A mulher arregalou os olhos mais ainda.  — Eu vou chamá-lo. — ela deu um passo para trás e entrou de novo na casa. — Você viu o jeito que ela me olhou? — comentei com Manu. — Vi. Essa mulher me lembra alguém. — Eu também tô com essa impressão. A porta continuou entreaberta e não tivemos coragem de entrar. Mas logo a mulher voltou e com ela um homem que me fez acelerar o peito. Sabe quando você se olha no espelho? Pois bem, era como se eu estivesse me vendo 30 anos mais velho. Acho que ele também sentiu a mesma coisa. — Meu Deus. — ele disse bem surpreso. — É como se eu tivesse me olhando num espelho, 30 anos mais jovem. Uau! Suspirei. Do nada Manu começou a aplaudir pasma. — Que genética... O homem deu um passo a frente para perto de mim sem piscar. — Como você se parece comigo. — ele tocou meu rosto. — Você sabe quem eu sou? Ele soltou meu rosto. — Venham, entrem. — virou-se e voltou para dentro de casa. Eu e Manu nos entreolhamos com a mesma expressão de bug e entramos na casa. Eu não sabia quem tinha uma cara mais surpresa. Manu, aquela mulher, eu ou ele. A casa era muito bonita, chique mesmo. Ele sentou-se numa poltrona e apontou outros lugares para a gente sentar. — Quando Carlos me falou que sua mãe estava grávida eu não fiquei tão surpreso, quis voltar para vê-la, mas as coisas não saíram como planejado. — Então você sabia de mim? — eu fiquei atônito. Esse tempo todo eu achei que ele não sabia da minha existência. Mas ele sabia sim. Devo ficar bravo ou contente? — Não muito. A ultima vez que falei com Carlos foi neste dia em que ele me contou. — meu pai pegou um charuto e a mulher o acendeu. — Muita coisa aconteceu, mas não significa que eu nunca quis te ver. — ele tragou o charuto e me encarou enquanto exalava aquela fumaça. — Eu tô impressionado com o quanto você se parece comigo. — Eu digo o mesmo. — balancei a cabeça. — Que bom que você veio. — ele sorriu. — Eu sempre quis te conhecer. A sua mãe foi a melhor coisa que me aconteceu no Brasil.  Isso me deixou bem aliviado e um pequeno sorriso se formou no meu rosto. — Eu achei que seria bom conhecer você. — falei a única coisa que me veio à mente. A verdade é que eu estava sem palavras. Não esperava nada disso. — Como está a sua mãe? — Bem. Ela está bem. Ele balançou a cabeça e tragou o charuto de novo, olhando para Manu. — Sua namorada? — É. Manu. — Ai meu deus, eu nem perguntei o nome do meu filho. Ele me chamou de filho... Mais um motivo para eu ficar contente. — Henrique. Mas todos me chamam de Ricky. Ele balançou a cabeça. — Bonito nome. — largou o charuto num cinzeiro e se levantou. Quando percebi que ele vinha até mim, levantei também e ficamos frente a frente novamente. — Seja bem-vindo a família, Ricky. — me deu um aperto de mãos e um grande sorriso. Eu sorri também me sentindo muito acolhido e ele estendeu os braços para me dar um abraço. Eu consenti e nos abraçamos firme sorrindo. O abraço que eu tanto invejei quando vi a Manu e seus pai fazendo. — Um filho homem, Verena! Eu tenho um filho homem! — nos soltamos do abraço e ele estava sorrindo orgulhoso. — Aliás, esta é minha atual esposa, Verena. — apontou para a mulher. — Sejam bem vindos a família. — ela sorriu. — Obrigado. — respondemos sorrindo e ele cumprimentou a Manu, cumprimentamos Verena também. — Então...— ele continuava animado, assim como eu. — ... Quero que me conte tudo. Como me encontraram? Quando chegaram na cidade? Estão gostando de Vega? — voltou para a poltrona. — Querem uma bebida? Antes que respondêssemos, ele pediu para que Verena trouxesse uísque pra gente. — A gente acabou de chegar. — respondi. — A minha mãe nos deu seu nome e a Manu procurou em todas as redes sociais por alguém com um rosto parecido com o meu e com o seu nome. Ele me ouviu atento. — Vocês são muito espertos. — Valeu. — Manu recebeu o copo de uísque orgulhosa. Depois Verena entregou um copo a mim. — E estão aonde aqui em Vega? — ele continuou a perguntar. — No Vega Hotel. — Então vocês já devem ter conhecido a Violet! — Verena cogitou dando um leve susto na Manu. Então é por isso que eu a achei parecida com alguém. Elas se parecem muito. Até no jeito de se vestir... — Sim. — Manu respondeu com uma cara de “infelizmente”. — Ela é minha filha. — Verena explicou. — Ela é irmã do Ricky? — Manu perguntou esperançosa. Eu não sei porque surgiu esses ciúmes. Não percebi nada demais no jeito da Violet. Nunca me imaginei com mais uma irmã... — Não, ela é de outro casamento. — Verena falou não muito contente. — Mas você tem uma outra irmã... — meu pai contou animado. — Irmão. — Verena o corrigiu e ele não ficou muito contente. Como assim irmã que é irmão? — Que seja. Você irá conhece-la. Ela é muito esperta, apesar de tudo... Tá bom. Agora tô curioso. — Eu quero que você conheça tudo, não quero que fique inseto de nada dos meus bens. — Eu juro que não vim atrás de nada disso. — levantei minhas mãos em defesa. — Eu só queria te conhecer. — E agora que conhece merece receber tudo o que é seu por direito. Você tem uma parte no meu império. Meu primeiro filho. — ele sorriu orgulhoso. Manu golou todo o uísque de uma vez só, de olhos arregalados. — Repete essa parte do império, por favor. — Vega. — respondeu como se fosse obvio e cheio de orgulho. Oque?!
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