Ricky
A cidade de Vega é um lugar diferente. Eu não sei dizer muito bem o que diferencia, mas é um lugar com certeza peculiar.
Vamos a peculiaridades: Primeiro que a cidade realmente é pequena. Tem muitas casas, mas são bem longe umas das outras, o hotel que a gente ficou era junto com outras lojinhas e estabelecimentos a parte mais parecida com uma cidade. Depois tem o curioso caso de grande parte dos estabelecimentos levarem o nome da cidade. E o que mais me assustou foi que todos os seguranças que ficam nas portas dos estabelecimentos andam como o guarda que fica no hotel onde a gente tá hospedado. Todos com colete e armados.
Eu não sei se isso é para ter a ideia de mais segurança, mas para mim, que já tomei conta de um morro onde a gente andava sempre armado, só tive a ideia de que aqui pode rolar coisa pesada.
A gente almoçou num restaurante muito bom, depois ficamos passeando e mapeando o lugar, até termos coragem de realmente perguntar a alguém sobre o meu pai.
Perguntamos nos correios, já que num lugar tão pequenos, eles devem conhecer todos os moradores.
— Sí, sí. Esse é o nome de identidade dele, mas aqui na cidade todos o conhecem como o Daddy.
— Pai amado. — Manu grudou no meu braço assustada. — Esse nome tem cheiro de velho rico.
Então o meu pai está mesmo nessa cidade?
Agora me bateu um tremendo frio na barriga.
— Você tem certeza que esse Gerald é o tal Daddy? — tentei confirmar.
— Sí. Eu recebo todas as encomendas dessa cidade. Não tem mais nenhum Gerald em Vega.
Manu abriu um sorrisão. — Eu não disse que a gente o achava!
Eu respirei fundo. — Foi. Mas eu ainda tô tentando assimilar. Acho que só acredito quando o ver.
— E vocês o conhecem de onde? — o carteiro perguntou com um sorriso amigável.
— Ele é filho do Daddy. — Manu respondeu.
Ele me encarou, franziu a testa, pensou, pensou e depois coçou a barba. — Pois bem, você é mesmo a cópia dele!
Eu pareço com ele?!
— Sério isso?
— Sí, sí. Quando você chegou eu lembrei de alguém, mas não sabia quem. Agora que você falou tudo faz sentido. Você é igualzinho a ele, só é mais jovem.
— Que genética, heim! — Manu ficou admirada.
— Tá bom. — fiquei mais animado com essa história. — E onde é que eu o encontro?
— Ele mora na maior casa da rua rosa. É branca e sempre tem um carrão vermelho estacionado na frente.
Anotado no meu cérebro. — Não deve ser tão difícil de encontrar. — falei.
— Dá pra ir à pé? — Manu perguntou balançando a perna já ansiosa para encontrar o lugar.
— Nessa cidade dá pra ir a pé pra todo lugar. — ele explicou tomando um gole do café e Manu não segurou a careta quando o café molhou o bigodão dele.
Eca!
— Tá bom, valeu. — lhe dei um aperto de mãos e saímos dos correios.
Manu é uma pessoa aventureira e extremamente empolgada quando se trata de desvendar coisas, procurar... mesmo que nem sempre as encontre, né. Ela andava pelas ruas saltitando e seus cabelos voavam com a brisa que essa cidade tinha.
Eu imagino que Vega seja um lugar pouco poluído. O céu é bem azul e o ar é limpo, não é uma cidade quente nem fria. É um lugarzinho legal.
A gente saiu pela tal rua que tem uma placa escrito rua rosa. O nome logo fez sentido assim que começamos a passar por várias árvores com folhas rosa. Bem bonito e dali mesmo já dava para ver a tal casa branca. Mas a Manu resolveu tirar fotos nas folhas, então eu nem comentei a ela que já tinha avistado o lugar.
Tirei várias fotos dela e também selfies de nós dois, até voltarmos ao nosso objetivo.
Pouco tempo de caminhada depois, lá estava a casa branca.
— Ai meu deus, eu tô nervosa. — Manu falou de olhos arregalados.
— E eu? — respirei fundo com um tremendo frio na barriga. — Será que ele tá aí?
— Acho que sim. — ela passou na minha frente. — Vamos lá. Vamos ver se seu pai é bonitão igual a você.
Eu ri.
Como é que ela consegue me fazer rir até nos meus momentos de nervoso?!
Havia um portão enorme antes de uma estradinha e depois a casa. O portão estava aberto. — Será errado entrar? — eu pensei alto. Não tinha nenhum segurança.
— Não tô vendo nenhum interfone. — Manu reparou na mesma coisa que eu.
— Então bora. — enchi meus pulmões de ar e passei pelo portão.
Manu segurou a minha mão por toda a estradinha, até reparar no carro vermelho e se derreter toda. Ela cobriu o rosto toda impressionada com aquela máquina luxuosa. — Mano do céu, olha que carrão, Ricky!
— É verdade. O carro dos sonhos. — admiti. Parecia aqueles carros que passam em filmes de milionários.
Como alguém que mora numa cidadezinha tão pequena, tem condições de ostentar um carrão desses?
Chegamos na frente da casa e a porta se abriu.
— Você é mesmo um i****a! — Uma mulher alta, magra e com cabelos curtos e extremamente pretos saiu de lá gritando.
Ao vê-la eu lembrei de alguém, mas não sei identificar quem era.
— Olá. — ela nos viu e falou mais calma, logo olhou para mim, arregalando os olhos enquanto estava parada, segurando uma mão na outra em frente ao corpo.
— Oi, a gente tá procurando o Daddy. — Manu respondeu por mim.
A mulher arregalou os olhos mais ainda. — Eu vou chamá-lo. — ela deu um passo para trás e entrou de novo na casa.
— Você viu o jeito que ela me olhou? — comentei com Manu.
— Vi. Essa mulher me lembra alguém.
— Eu também tô com essa impressão.
A porta continuou entreaberta e não tivemos coragem de entrar. Mas logo a mulher voltou e com ela um homem que me fez acelerar o peito.
Sabe quando você se olha no espelho?
Pois bem, era como se eu estivesse me vendo 30 anos mais velho.
Acho que ele também sentiu a mesma coisa. — Meu Deus. — ele disse bem surpreso. — É como se eu tivesse me olhando num espelho, 30 anos mais jovem.
Uau!
Suspirei.
Do nada Manu começou a aplaudir pasma. — Que genética...
O homem deu um passo a frente para perto de mim sem piscar. — Como você se parece comigo. — ele tocou meu rosto.
— Você sabe quem eu sou?
Ele soltou meu rosto. — Venham, entrem. — virou-se e voltou para dentro de casa. Eu e Manu nos entreolhamos com a mesma expressão de bug e entramos na casa.
Eu não sabia quem tinha uma cara mais surpresa. Manu, aquela mulher, eu ou ele.
A casa era muito bonita, chique mesmo. Ele sentou-se numa poltrona e apontou outros lugares para a gente sentar. — Quando Carlos me falou que sua mãe estava grávida eu não fiquei tão surpreso, quis voltar para vê-la, mas as coisas não saíram como planejado.
— Então você sabia de mim? — eu fiquei atônito.
Esse tempo todo eu achei que ele não sabia da minha existência. Mas ele sabia sim.
Devo ficar bravo ou contente?
— Não muito. A ultima vez que falei com Carlos foi neste dia em que ele me contou. — meu pai pegou um charuto e a mulher o acendeu. — Muita coisa aconteceu, mas não significa que eu nunca quis te ver. — ele tragou o charuto e me encarou enquanto exalava aquela fumaça. — Eu tô impressionado com o quanto você se parece comigo.
— Eu digo o mesmo. — balancei a cabeça.
— Que bom que você veio. — ele sorriu. — Eu sempre quis te conhecer. A sua mãe foi a melhor coisa que me aconteceu no Brasil.
Isso me deixou bem aliviado e um pequeno sorriso se formou no meu rosto.
— Eu achei que seria bom conhecer você. — falei a única coisa que me veio à mente.
A verdade é que eu estava sem palavras.
Não esperava nada disso.
— Como está a sua mãe?
— Bem. Ela está bem.
Ele balançou a cabeça e tragou o charuto de novo, olhando para Manu. — Sua namorada?
— É. Manu.
— Ai meu deus, eu nem perguntei o nome do meu filho.
Ele me chamou de filho... Mais um motivo para eu ficar contente.
— Henrique. Mas todos me chamam de Ricky.
Ele balançou a cabeça. — Bonito nome. — largou o charuto num cinzeiro e se levantou. Quando percebi que ele vinha até mim, levantei também e ficamos frente a frente novamente. — Seja bem-vindo a família, Ricky. — me deu um aperto de mãos e um grande sorriso.
Eu sorri também me sentindo muito acolhido e ele estendeu os braços para me dar um abraço.
Eu consenti e nos abraçamos firme sorrindo.
O abraço que eu tanto invejei quando vi a Manu e seus pai fazendo.
— Um filho homem, Verena! Eu tenho um filho homem! — nos soltamos do abraço e ele estava sorrindo orgulhoso. — Aliás, esta é minha atual esposa, Verena. — apontou para a mulher.
— Sejam bem vindos a família. — ela sorriu.
— Obrigado. — respondemos sorrindo e ele cumprimentou a Manu, cumprimentamos Verena também.
— Então...— ele continuava animado, assim como eu. — ... Quero que me conte tudo. Como me encontraram? Quando chegaram na cidade? Estão gostando de Vega? — voltou para a poltrona. — Querem uma bebida?
Antes que respondêssemos, ele pediu para que Verena trouxesse uísque pra gente.
— A gente acabou de chegar. — respondi. — A minha mãe nos deu seu nome e a Manu procurou em todas as redes sociais por alguém com um rosto parecido com o meu e com o seu nome.
Ele me ouviu atento. — Vocês são muito espertos.
— Valeu. — Manu recebeu o copo de uísque orgulhosa. Depois Verena entregou um copo a mim.
— E estão aonde aqui em Vega? — ele continuou a perguntar.
— No Vega Hotel.
— Então vocês já devem ter conhecido a Violet! — Verena cogitou dando um leve susto na Manu.
Então é por isso que eu a achei parecida com alguém. Elas se parecem muito. Até no jeito de se vestir...
— Sim. — Manu respondeu com uma cara de “infelizmente”.
— Ela é minha filha. — Verena explicou.
— Ela é irmã do Ricky? — Manu perguntou esperançosa.
Eu não sei porque surgiu esses ciúmes.
Não percebi nada demais no jeito da Violet.
Nunca me imaginei com mais uma irmã...
— Não, ela é de outro casamento. — Verena falou não muito contente.
— Mas você tem uma outra irmã... — meu pai contou animado.
— Irmão. — Verena o corrigiu e ele não ficou muito contente.
Como assim irmã que é irmão?
— Que seja. Você irá conhece-la. Ela é muito esperta, apesar de tudo...
Tá bom. Agora tô curioso.
— Eu quero que você conheça tudo, não quero que fique inseto de nada dos meus bens.
— Eu juro que não vim atrás de nada disso. — levantei minhas mãos em defesa. — Eu só queria te conhecer.
— E agora que conhece merece receber tudo o que é seu por direito. Você tem uma parte no meu império. Meu primeiro filho. — ele sorriu orgulhoso.
Manu golou todo o uísque de uma vez só, de olhos arregalados. — Repete essa parte do império, por favor.
— Vega. — respondeu como se fosse obvio e cheio de orgulho.
Oque?!