Precisei de dois dias para acordar completamente. É claro que não estive dormindo durante todo este tempo. Estava mais em um estado de letargia que me fazia pensar que desmaiaria ao mínimo sinal de esforço. Minha cabeça se enchia de flashes entrecortados, misturando imagens de placas laranjas e pretas às falas rápidas daqueles que cuidavam do tubo que me ligava ao soro. Meu ferimento próximo ao pescoço não era grave. Tive aquilo que escutei chamarem de golpe de sorte — ou uma amostra de fé —, embora duvidasse poder dizer em voz alta que estava grata pela gorda cicatriz que receberia após aqueles dias de cuidados. A luz amanteigada do sol, que aquecia o piso lustrado como uma garantia de que os resquícios do fim de inverno se mantivessem longe da amenidade do início da primavera, me despe