Capítulo 4

1483 Words
Eu não me orgulhava da bagunça no apartamento dos últimos meses. Nós nunca estávamos em casa e quando estávamos queríamos descansar. A sala que ficava no primeiro cômodo no dia anterior tinha uma pilha enorme de roupas para dobrar em cima do braço do sofá. A mesa que vivia cheia de livros e papéis por causa da faculdade estava com um lindo vaso de flores amarelas em cima. A mesa de centro que ontem mesmo tinha garrafas e copos estava organizada com alguns enfeites que ela nunca tinha visto. Regina deve ter feito uma faxina daquelas durante toda a noite. Será que ela imaginou que o Júnior subiria com ela? - Bom dia minha paciente preferida. - Regina veio da cozinha sorridente com os braços abertos. - O que aconteceu aqui? - Eu realmente queria saber. - Cortesia dos nossos queridos novos amigos. - Novos amigos? - Como é que é? - Olhei feio para o Júnior. - Bem, ontem o Sr Martins perguntou para a Regina como eram as suas acomodações, e ela foi detalhista quando disse que era um bom apartamento só que não via uma vassoura a décadas. - Ela é maluca. - Você falou assim? Para desconhecidos? - Eu mataria ela mais tarde. - Falei. E não menti. Vieram, pouco depois que eu cheguei, 6 pessoas de uma empresa e organizaram e limparam tudo. Antes disso fui com o Júnior ao mercado e uma loja para te comprar roupas. Acho que quando ele subiu para me ajudar com as compras ele decidiu o número de pessoas. - Regina me falou essa última frase rindo. - Certo. Agora já deu. Júnior, eu agradeço por tudo, só que existe um limite para gentileza. Eu já falei que a culpa foi minha. Estou bem e espero que eu possa só descansar de agora em diante, sem ninguém para tomar decisões por mim. - Claro Srta Lisa. - Ele pareceu envergonhado. - Lisa, só Lisa. - Eu estava muito brava, brava com o controle que o dinheiro tinha. Não fazia nem 12 horas que aquilo tinha começado e eu já sentia as minhas escolhas deixando de ser minhas. Eu me afastei da minha família por isso não foi? Por causa que quem tem dinheiro tem poder? - Vou me deitar, novamente obrigada. E Regina, você precisa ir para a loja. - A Karen está cuidando dos recebimentos, vou depois que eu organizar sua alimentação do dia. - Ela deve pedir alguma coisa pra comer. Pelo menos isso vamos escolher. - Tudo bem. Obrigada Fui para o meu quarto, que estava muito limpo e organizado. O jogo de cama e cobertor eram novos também, assim como a cortina e o tapete. Gritei de frustração. Como alguém muda a decoração do meu quarto assim? Procurei o meu pijama mais velhinho, que estava guardado na minha gaveta de calcinhas, que ainda bem parecia intocada pela super faxina que havia acontecido, pelo menos nas minhas calcinhas ninguém mexeu, pensei. Deitei na cama e resolvi continuar o livro da vez para me distrair. Eu estava lendo a Última carta de amor, um romance que até aquela altura parecia que nunca ia acontecer, muito envolvente e que me fazia suspirar a cada página. Depois de um bom tempo lendo eu ouvi o interfone e a voz da Regina de fundo. Deve ser o almoço. Eu estou mesmo com fome. E então ouvi algo como: Pode subir! Subir para onde? O entregador nunca subia. Levantei rápido demais, com medo de ser a minha mãe desesperada, afinal eu não dava notícias desde a tarde anterior. Cheguei na sala de jantar a mesa estava posta, muito organizada com as louças combinando, o que estava acontecendo. Regina estava na cozinha: - O que é isso? E porque tem 4 lugares na mesa? - Que doideira a Regina estava aprontando agora? - Que roupa é essa? Vai A G O R A colocar uma roupa minimamente decente, parece que eu te encontrei na rua. - Porque ela estava surtando com o meu pijama de sempre? - Quem está subindo? - Visita, é uma visita que está subindo. Agora, roupas, antes que eu tire suas roupas e te vista com qualquer coisa. - Ela parecia que ia me bater. - Eu quero saber quem está subindo Regina, parece que estou falando com a parede, que saco! - Fui reclamando até o meu quarto. Troquei de roupa. Dei uma arrumada no cabelo e voltei para a sala com o meu livro nas mãos, o plano era terminar de ler no sofá, porque eu já estava dolorida de ficar deitada na cama. Quando cheguei na sala eu quis sumir. Ali, bem no meio do apartamento dela estavam à sua espera Júnior e Cooper, e ela precisou de todo o controle do mundo para não voltar para o quarto, porque estava com a pior roupa possível, o cabelo nada arrumado, eu penteei de qualquer jeito e estava com a cara amassada da leitura. Eu tinha certeza que era a minha mãe. - Você parece abatida ainda. - Cooper falou. - Obrigada pelo comentário. Posso ajudar? - O que ele estava fazendo ali? - Sugerir à Srta Regina que poderíamos trazer um cozinheiro ou enviar refeições para você e ela nos convidou para almoçar, por toda a ajuda que você alegou que demos. - Algum problema, Lisa? - Regina perguntou olhando da porta da cozinha, com aquela cara de quem sabe que aprontou mas não demonstrava arrependimento. - Claro que não. Que excelente ideia! - Forcei o sarcasmo para que eles percebessem. - Sentem meninos. - Regina sugeriu - Sirvo o almoço em alguns minutos. - Querem beber alguma coisa? - Perguntei relutante, por uma questão de educação. - Não, obrigado. - Os dois me responderam. Cooper abriu o celular e ficou digitando um tempo enquanto Júnior olhava as fotos na prateleira da TV. Resolvi que a visita não era minha, a Regina que lidasse com eles. Sentei na poltrona e comecei a abrir o livro quando Regina fez um barulhão na cozinha. Meu primeiro impulso foi levantar para ajudar e Júnior me impediu com as mãos. - Eu vou, fique aqui de repouso. - Ele era um príncipe. - Ok. Obrigada. - E ele correu para a cozinha e fiquei tentando ouvir alguma coisa, sem sucesso. Resolvi voltar ao livro quando ouvi o pigarreio de Cooper. - Então, ontem, você estava indo aonde? - Que tipo de pergunta era aquela? - Para casa. - Certo. E vocês estavam aonde? - Quem é você pra querer saber? Eu estava com raiva dele, uma raiva incontrolável. - Na faculdade. - Você faz faculdade ainda? Quantos anos tem? - Isso é uma entrevista de emprego? Pensei. - Faço, Comércio Exterior. Estou na última semana antes de concluir o curso. E tenho 23 anos. - Porque eu estava dando informações mesmo? - Que bacana. E quer atuar em qual área? - Ele deve estar querendo puxar assunto. - Gosto muito de agenciamento de carga, só que pretendo me especializar em Marketing Internacional. - E já trabalha com isso? - Era uma entrevista com certeza. - Não, na verdade trabalho desde os 18 para a mesma empresa. Sou gerente da Silvi’s aqui na Avenida Paulista. Nós duas trabalhamos lá. - E pretende iniciar na área quando? - Ele era bem direto, interessante. - O quanto antes, afinal, eu não consegui estagiar, e não posso largar meu emprego sem nada em vista. Devo começar a procurar no início do ano que vem. - Perfeito. É um bom momento para começar. E você pretende iniciar um MBA ou algo assim? - Ele estava interessado na minha vida. Será que demonstrei alguma coisa ontem? - Assim que possível, com ênfase em Marketing internacional mesmo. - E quanto você pretende ganhar atuando nisso? - Essa pergunta passava do limite para mim. - Bem, acho que já falei muito de mim, agora tenho perguntas, posso? - A vontade! - Duvido que ele responda se é solteiro. - Por que não voltou para os EUA, Cooper? - Sério Lisa? Tanta coisa pra perguntar. - Porque o mercado Brasileiro é muito fértil no que eu trabalho e pretendo continuar aqui até que meus negócios me obriguem a mudar de país. - E no que você trabalha exatamente? - Eu estava hipnotizada de novo, queria continuar ouvindo a voz dele. - Com comércio exterior. - Fiquei sem palavras. Era mesmo uma entrevista de emprego. - Em quais nichos você atua? - Será que o universo estava colaborando com o seu futuro profissional? - Vamos comer? - Regina interrompeu, vindo seguida de Júnior da cozinha com bandejas nas mãos e colocando na mesa. Cooper pegou na minha mão de repente, senti um choque pelo braço e devo ter ficado vermelha na mesma hora. Ele me olhou profundamente. Ele estava chegando perto, perto demais. Porque ele estava tão perto? Ele ia me beijar?
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