In the Night — Na noite
Fomos pra a casa de Tina, que não era tão longe dali, mas aí ela me passou outro endereço e seguimos mais um pouco. Estranhei quando ela pediu para parar em frente a um prédio velho.
— É aqui que moro agora — ela me olhou envergonhada. Fechei o carro e saímos rápido.
— Por que você se mudou de onde estava? — disse entrando no prédio logo atrás dela. Subimos umas escadas e logo estamos diante da porta de seu novo apartamento. Ela abre e todos os poucos móveis que ela tinha estão lá. É apenas um cômodo e um banheiro.
— Apareceram mais contas para pagar, tive que vender o apartamento — disse fechando a porta após eu entrar — Não é tão r**m por dentro — disse com as mãos na cintura e olhando em volta.
Tina perdeu os pais em um acidente. Eles tinham uma vida financeira boa, porém, quando morreram deixaram apenas dívidas e Tina teve que vender tudo que tinham para pagar, o que a deixou com apenas uma pequena parte da pequena fortuna dos pais, o que eu não esperava era perceber que hoje ela não tem mais nada! Não esperava era ver minha amiga morando em uma pensão em um prédio bem velho, desgastado e sujo. Tina sempre foi acostumada com a vida boa, cuidar do corpo e aparência. Ela é linda, morena dos olhos e cabelos escuros, e sardas no rosto, 19 aninhos igual a mim. E o pior de tudo é que eu não sabia de nada disso!
— Valentina, por que você não me falou nada?! — eu disse brava com ela — Eu me preocupo com você, eu sou sua amiga! — ela logo se sentou ao meu lado e segurou minhas mãos. Eu a olhava inconformada.
— Ai Lolla — ela começou a chorar e eu a abracei — Eu tive que abandonar a faculdade, vender o apartamento, eu to no fundo poço — ela disse me olhando — Mas eu não queria ter que depender de ninguém, ter que pedir ajuda, to morrendo de vergonha! — disse secando suas lágrimas.
— Eu to me sentindo péssima em te ver assim, Valentina. Eu vou dar um jeito nisso, não te quero aqui por mais nem um dia — eu sequei suas lágrimas que insistiam em cair.
— Uhh — disse com um suspiro fundo olhando para o alto — chega de lágrimas, hoje é dia de festa — ela me olhou rindo e com um pulo levantou-se e foi procurar uma roupa em meio as caixas no chão.
— Faça uma bolsa com roupas para amanha, você vai dormir lá em casa essa noite — ela me olhou, sorriu e logo voltou a procurar suas roupas. Um tempo depois nós já estávamos do lado de fora entrando no carro e saindo de lá.
Chegamos em casa e eu estava torcendo pro pai não ter chegando ainda e bingo! O carro que ele usou hoje ainda não estava na garagem. Deixei a chave no mesmo lugar que peguei e logo fomos para meu quarto. Entramos e eu tranquei a porta. Liguei o rádio e logo começamos a bagunça. Começamos a provar roupas e mais roupas em frente ao espelho, logo uma pilha se formava ao lado e as risadas não paravam. Logo nos cansamos e nos deitamos no chão lado a lado. Muito bom ter novamente esses momentos.
— Senti muito a sua falta, sua vaca — ela disse me olhando.
— Eu também senti. Skype não mata saudade — nós rimos — Vamos, precisamos nos arrumar.
Tina foi tomar banho enquanto eu decidia o que vestir. Ela saiu e logo foi minha vez. Quando sai ela já estava vestida olhando a roupa que deixei separada em cima da cama.
— Ta querendo causar hoje, né safada — me olhava sorrindo.
— É o objetivo, né.
Escolhi um vestido tipo tubinho preto colado com mangas compridas, a previsão disse que esfriaria um pouco a noite, mas certeza que não passaria frio. O vesti e coloquei uma sandália de tiras também preta.
— Sexy sem ser vulgar — disse fazendo pose me olhando no espelho. Nos maquiamos, fiz alguns cachos, perfume e estávamos prontas para o crime.
Quando abri a porta demos de cara com Mike no corredor.
— Oi sumido — eu disse o olhando todo arrumado — Ta indo pra onde?
— Pra festa do Augusto, e vocês?
— Ótimo, queremos carona — disse Tina o agarrando pelo braço e descendo com ele, eu fui atrás. Chegamos na sala e encontramos nossos pais no sofá. Falamos com eles, onde estávamos indo e saímos.
Um tempo depois já estávamos na frente da casa do Augusto, que a propósito é enorme. O som estava alto e a casa cheia. Mike parou o carro lá na frente e logo fomos entrando. Eu e Tina, lado a lado. Claro que recebemos diversos olhares. A música era envolvente, imediatamente te fazia querer dançar, mas precisava de álcool. O lounge estava à meia luz, era possível identificar as pessoas que ali estavam sentadas nos sofás e poltronas. Subimos e o frevo estava todo lá. A casa de Augusto é dividida em duas. Em uma parte é quase uma casa de show, em baixo tipo um lounge e em cima pista de dança, um mezanino e com uma varanda enorme, e ao lado disso tudo sua casa que obviamente não estava aberta na hora da festa.
Nós subimos e haviam muitas luzes, DJ, e open bar, era possível enxergar as pessoas e cara, estava maravilhosa a festa. Augusto sabe dar uma boa festa. Mike logo sumiu no meio das pessoas. Tina e eu fomos para o bar, pedimos duas doses de tequila, brindamos e viramos. Logo fomos para a pista por que começou a tocar funk. Meu bem, quando toca o funk, ninguém fica parado. Sou metade gringa, mas minha metade brasileira sabe muito bem rebolar até o chão.
Eu e Tina começamos a dançar juntas, rebolando muito junto com outras meninas que se juntaram no centro da pista onde os meninos abriram espaço apenas para nos ver rebolar. Logo alguns engraçadinhos começaram a cortar nossa cena e começaram a dançar conosco, nos encostando por trás, um chegou em mim e eu parei de dançar e o olhei tipo “sai fora”, neste instante Mike chegou e ficou no meio de mim e Tina, colocou suas mãos em nós para ‘marcar território’ e continuamos dançando, logo ele estava encoxando Tina, a acompanhando no ritmo da dança, ela nem ligou, era Mike.
Me retirei um pouco da pista e fui indo para o bar, no meio do caminho olhei para o mezanino e o olhar de Augusto que estava encostado na grade segurando uma garrafa de Heineken me seguia. Mandei um beijo com a mão e continuei até o bar. Pedi mais uma dose de tequila e virei assim que recebi.
— Vai devagar, moça — disse uma voz logo atrás de mim em meu ouvido. Augusto. Sua voz era inconfundível. Voz essa que me fazia delirar quando chamava meu nome entre um gemido e outro quando transávamos. Ele imediatamente me olhou de cima a baixo e sorriu ao voltar seus olhos ao meu — Linda como sempre.
Augusto é aquele tipo de homem que só se pode usar. É um ótimo cara para uma transa casual, para servir de amante, mas como namorado não, e eu tive que aprender isso da pior forma. Sua aparência ajuda muito, ele é mais velho, hoje tem 21 anos, um p**a sorriso e corpo malhado.
— Você também não está de se jogar fora — o olhei de cima a baixo com desdém sem demonstrar muito interesse e me virei novamente para o bar. Pedi uma Heineken.
— Seu corpo mudou, ta mais gostosa — ele colocou a mão no meu quadril e eu imediatamente segurei sua mão e virei de frente a ele.
— Sempre fui. Você que não soube enxergar e aproveitar — peguei minha cerveja, disse e logo sai andando de lá. Fui para uma parte onde haviam sofás e fiquei dançando com outras pessoas por ali mesmo, procurei Tina e Mike mas não os achei.
O funk continuava e logo um engraçadinho veio tentar se encostar atrás de mim de novo e ficava falando baboseira no meu ouvido, eu me afastava, mas ele vinha atrás de mim de novo. c*****o, não se pode nem dançar em paz. Mas logo um cara surgiu do nada e começou a peitar o engraçadinho.
— Você não ta entendendo que ela não te quer por perto — O cara ninja diz para o babaca e vai o afastando, eu não vejo quem é que está a me defender, mas ele usa uma calça jeans, tênis e uma camisa pólo branca e seus braços são fortes.
Viro-me de costas e passo a mão na cabeça já com raiva.
— Com todo respeito, você está muito gata — ouço bem ao pé do meu ouvido. Essa voz, essa frase, não tem como esquecer. Meu corpo lembrou-se todas as sensações sentidas naquela noite no banheiro do avião em questão de segundos. Suspirei fundo de olhos fechados sentindo todo meu corpo se arrepiar. Gustavo. Só pode ser destino, não é possível.