Capítulo 02 - Nenê

1012 Words
NENÊ NARRANDO Fala aí, sangue bom, meu nome é Leandro de Lima, mas na quebrada ninguém conhece meu nome real. Sou mais conhecido como Nenê ou Monstro. Tenho 29 anos, 1,90 de altura, e peso mais de 120 kg, só músculo. Meu corpo é cheio de tatuagens, inclusive no rosto. Assumi o controle do Jacarezinho muito novo, depois que mataram meu pai numa invasão. Eu tinha só 15 anos, e minha mãe só tinha eu e meu irmão. Minha coroa nunca foi chegada no movimento, mas eu já tava no corre. Então, assumi a responsa. Mas, pra ser sincero, eu não era esse Monstro de agora. Nunca fui santo, mas conhecia o que era piedade. Deixa eu te contar um pouco mais sobre mim. Na quebrada, respeito não se pede, se conquista. E eu conquistei o meu à força, com muito sangue e suor. Não dá pra sobreviver no Jacarezinho sem ser casca-grossa. Quando meu pai caiu, eu vi o mundo desabar na minha frente. Mas eu levantei, sequei as lágrimas e jurei pra mim mesmo que ninguém mais iria pisar na minha família. Minha presença impõe medo. Quando eu chego, o silêncio toma conta, e dá pra ouvir só o som do meu pisar pesado no chão. Meus braços são troncos de árvore, e minhas mãos, ferramentas de destruição. Cada tatuagem no meu corpo tem uma história, uma batalha, uma vitória. Olhar nos meus olhos é ver o abismo, o vazio de quem já perdeu tudo e encontrou força na dor. A quebrada é minha selva, e eu sou o predador. Nada acontece sem que eu saiba, sem que eu aprove. Quem desafia as minhas regras, encontra o destino selado. Já fiz muita gente desaparecer, e cada sumiço é um aviso pra quem pensa em me enfrentar. A polícia tenta, mas nunca consegue me pegar. Sou um fantasma, um mito que assombra as noites do Jacarezinho. Eu era temido, respeitado. Mas não era assim. Tudo mudou quando me envolvi com uma verdadeira vadïa, a mulher que acabou com a minha vida. A desgraça da Eloá. Mas aquela mulher, aquela pïranha, ela me quebrou de um jeito que nenhum inimigo conseguiu. Ela chegou com aquele sorriso falso, com promessas de amor e lealdade. Eu, que sempre fui desconfiado, baixei a guarda. Foi meu maior erro. Ela virou meu mundo de cabeça pra baixo, me traiu de formas que eu não sabia ser possível. Cada mentira, cada engano, foi uma faca cravada no meu coração. Eu saí para uma missão, fora do Morro, e quando voltei no meio da madruga. Peguei a Eloá na cama com o meu irmão mais novo, Eu fiquei Cego, fiquei louco de Ódio. Meu sangue ferveu, e nessa hora eu me transformei na própria Bësta Fera, tirei o punhal do bolso do blusão e enfiei nas costas dele que tava por cima dela. Fiquei surdo e cego pelo Ódio, matei os dois a Facada, ele morreu primeiro e ela ainda ficou se debatendo, peguei em seus cabelos, olhando dentro dos olhos dela. E foi a primeira vez que eu tomei sangue, Passei a língua na faca, limpando, enquanto as lágrimas molhavam o rosto dela. Dei o último golpe, no pescoço, cortando a veia. Me sentei vendo os dois corpos ali ensanguentados, em cima da minha cama. A minha coroa não tava na quebrada, ela tinha viajado. Dei meu jeito para ela nunca mais voltar, expulsei toda a família do Morro, não tenho contato com parente nenhum, fiz um buraco no alto do morro, e enterrei os dois. Ninguém sabe o fim que eles levaram, e esse segredo eu vou levar para o túmulo, toda vez que a minha coroa liga e pergunta pelo traidor, eu digo que ele sumiu no mundo. E nunca deixei ela voltar. Essa foi a primeira vez que experimentei sangue, gostei isso se tornou um aperitivo comum, depois disso perdi o sorriso, perdi a fé na humanidade. Pra mim, ninguém é digno de Confiança, nem homem e nem mulher, não deixo ninguém se aproximar de mim. Não sou de conversinha, comigo é poucas, Tenho um exército de vapor, e um sub, O Cabeça, Cabeça é meu chegado desde moleque. Ele diz que é meu amigo, mas eu não considero ninguém como amigo, sei que na primeira oportunidade vai me passar pra trás. Domino o Jacarezinho e tenho outras quebradas, não sou aliado de comando nenhum, tem uns cara aí que já me fortaleceu, então eu fortaleço também, um deles é Cão de raça. Mas não tenho aliança, não sou dessas paradas. Cada um que tenta invadir o meu território, tenta tombar com a minha força, eu mostro quem sou, e derrubo, um por um. Não tenho medo de nada e nem de ninguém. No céu, na terra ou no inferno, nada me amedronta. Depois que matei a Eloá, fechei meu coração e minha vida, mulher é só um pente e rala, e quando aguenta. Tem mina que pede arrego. Essas cadëlas, vem atrás e não dá conta. Pra essas tem castigo, corretivo para aprender. Eu não durmo, não me apego e nem deixo elas entrarem na minha casa, no meu escritório, no meu carro. Em nada, como essas cachørras, na salinha, nos beco, em qualquer lugar sujo. Que é onde elas merecem estar. De todas as püta que eu já comi, a Ohara é a única que não cansa de levar esculacho, ela vem direto atrás de mim, mas não é toda vez que eu tô afim, já pediu pra sentar no meu colo no baile da Gaiola, mas eu não deixei. A marmita parece que paga de doïda, qualquer dia vou dar um corretivo nela, pra ver se ela aprende que nunca vou me envolver com ela e nem com nenhuma outra. Eu sou frio, sou crüel. Quem olha pra mim vê o Monstro que eu me tornei, mas não vê a dor que carrego. E é essa dor que me faz mais perigoso. Porque não tenho mais nada a perder. E quem não tem nada a perder, não tem medo de nada.
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