ISABELA NARRANDO
Cheguei na casa da tia Erika, meu coração batendo acelerado, o olhar daquele homem, tão frio e tão atraente ao mesmo tempo, sem contar que ele era muito forte. Entrei logo em casa, quando passei pela porta ainda assustada, a tia estava sentada no sofá.
— Bela, tá tudo bem? Tava correndo? — Ela perguntou, me dando um baita susto.
— Ai, que susto — falei colocando a mão no coração. O portão fez um barulho, e me assustei novamente.
Minha tia ficou me olhando bem séria, e o Everton entrou. Me sentei no sofá e contei sobre o homem que vi e o jeito que ele ficou me olhando.
— É o Nenê, o Dono do Morro. As pessoas chamam ele de Monstro. Conheço aquele menino desde que nasceu. Ele e o Sandro soltavam pipa por esse morro todo, jogavam bola, mas depois ele mudou muito, até parece outra pessoa.
Quando a tia falou que ele não costuma olhar para ninguém e achou estranho o comportamento dele comigo, meu sangue gelou, meu coração acelerou.
Tratei logo de mudar de assunto, falei sobre o meu dia e sobre as pequenas entrevistas que fiz. Minha tia perguntou se eu tinha almoçado, falei que não, que só fiz um lanche.
Tirei o meu tênis ainda na sala e fui para o quarto. Eu durmo com a tia; a casa tem três quartos, os outros são dos meninos. Peguei a toalha, um cropped e um short e fui para o banheiro. Tomei banho, almocei (um almoço meio janta, já estava tarde), lavei a louça que sujei e passei um café.
Everton estava no banheiro. Eu e a tia estávamos na cozinha tomando café e conversando. Quando de repente ouvimos uns gritos. Pulei da cadeira, a tia também. Ela correu e minhas pernas não me obedeceram, mas corri atrás.
Quando cheguei na sala, ouvi os gritos da minha tia. Assim que passei pela porta, vi uma moça loira, muito bonita, e o Sandro também estava lá.
— Fala pra tua mãe, cabeça, diz pra ela que tu tava com a püta da Ohara, seu vacilão. Acabou de vez, seu mané, perdeu, playboy! — A moça gritava, gesticulando, enquanto a tia pedia para ela ter calma.
O Sandro mandava ela parar de show. Ele pegou no braço dela e puxou pra dentro, enquanto ela se esperneava. Fiquei olhando aquela confusão toda com a boca aberta. Ela parou na minha frente e me chamou de cabelo de fogo.
— E tu, cabelo de fogo, qual é a tua? — Ela falou, e o Sandro veio pra minha frente.
— Ow, parou, essa é minha prima. Ela veio do norte pra trampar e não quero perreco pro lado dela. Se liga aí, vacilona, tá manjando nas paradas não, tio.
Eu juro que às vezes não entendo nada do que os cariocas falam, que dialeto difícil, senhor.
A moça empurrou o Sandro, me olhou nos olhos, abriu um sorriso e me desejou boas-vindas.
— Satisfação, fia. Eu sou a Rayssa, precisando de qualquer coisa, tamo aí — ela falou sorrindo e apertou a minha mão.
— Prazer, Rayssa. Eu sou a Isabela, muito bom saber que posso contar com você. Digo o mesmo.
Nem acabei de falar, o Sandro puxou a Rayssa pra dentro, enquanto ela batia nele e tentava morder. Fiquei olhando aquela maluquice.
A tia pediu para eu me acostumar, que eles são assim, namoram há muito tempo e vivem terminando e voltando. Eles terminaram semana passada e com certeza hoje vão voltar. Mostrei um sorriso.
Everton me chamou para ir comer uma pizza e chamou a tia Erika também. Eu estava animada, pois era uma ótima oportunidade para passar um tempo com eles e relaxar um pouco. Me arrumei, coloquei uma calça, e calcei uma rasteirinha. Saímos de casa rindo e conversando, Everton falou que escutou gemidos vindo do banheiro. A tia ficou brava.
— Eu Já falei para o Sandro, não quero ele fazendo as saliências dele no meu banheiro. Ele tem o quarto para isso.
Everton começou a fazer brincadeira, dizendo que vai levar uma mulher para fazer saliências também.
O caminho até a pizzaria foi tranquilo. A noite estava agradável, com uma brisa suave que fazia os cabelos balançarem levemente. Quando chegamos, escolhemos uma mesa no canto, com uma boa vista para a rua movimentada. Fizemos nossos pedidos e continuamos conversando, a conversa fluindo naturalmente.
De repente, alguns homens entraram apressados. O ambiente, que antes era de descontração, se transformou em tensão. Os homens partiram para cima de um grupo de rapazes, que estava em uma mesa perto da nossa. Começaram a discutir e, sem aviso, uma briga estourou bem na nossa frente. Eu mäl tive tempo de processar o que estava acontecendo quando Everton se levantou rapidamente e ficou na minha frente e de tia Erika, como um escudo humano.
Meu coração disparou. Pude ver a expressão de preocupação no rosto de tia Erika, que segurava minha mão com força. As vozes dos homens brigando eram altas e agressivas, mas de repente, no meio do caos, uma voz rouca se destacou. Era uma voz que fez meu corpo inteiro se arrepiar, cada pelo do meu braço se eriçar.
— Parou, agora! — a voz ordenou, com uma autoridade que fez todos congelarem no lugar.
Aquela voz parecia ter um poder inexplicável, algo que comandava respeito e medo. Todo mundo ficou parado, Parece até que ele tinha apertado um botão de congelar.
Everton saiu da nossa frente, e ficou do meu lado. Foi quando olhei para a porta e nossos olhares se encontraram, os olhos dele percorreu todo o meu corpo, mas logo ele desviou.
Ele só fez apontar para os homens e fez um sinal com a cabeça, outros rapazes foram para cima e mobilizaram todos que estavam envolvidos na confusão. E saíram seguindo o homem.
Eu já estava sentindo meu coração batendo na garganta, me sentei, minhas pernas falharam por um breve momento. Quando eu olhei para o lado, ele estava subindo na moto e os nossos olhares se encontraram pela última vez, antes dele sumir na escuridão.