Águas Mortas

1732 Words
Acabou a novela e mudaram de canal. Estava começando um filme,e Vitória vinha da cozinha e não viu o título. - Como é o nome? - Um drink no inferno. - Ah o pai e mãe viam quando eu era pequena mas não deixavam eu a Maria assistir junto. - Hoje vamo descobrir o por que. – Disse Marcela esfregando as mãos. Na primeira meia hora de filme teve assalto, explosão, um homem carbonizado e uma família refém. As três estavam vidradas na TV e a cada cena se ouviam comentários espantados. - O cara acreditou que a guria queria ele? Um velho feio daquele? - Ele é louco. A família refém chegou ao local de encontro e lá se viram mulheres seminuas dançando por todos os lados. - O cara e a mulher tavam transando ali? – Tornou a perguntar Vitória. - Tavam. – Disse Marcela rindo com os olhos esbugalhados. – O japonesinho tá animado. - Nunca viu tanta mulher de perto. – Disse Juliana. Mais alguns minutos de silêncio se seguiram, ao que uma mulher de lingerie apareceu dançando com uma cobra enrolada no corpo, e fez algo no mínimo bizarro aos olhos das telespectadoras. - Ela tá botando cerveja no pé e botando o pé pro cara beber? – Disse Vitória já se inclinando para frente. - Ela botou o pé na boca do cara? - Agora eu entendi por que a gente não podia ver o filme. – Disse Juliana. De repente um pensamento libidinoso passou por sua cabeça, ao que o corpo se arrepiou e ela agradeceu por estar de blusão. Suspirou e engoliu a saliva sem que as primas percebessem que o que estava acontecendo. Não muito depois daquela cena, o filme desandou totalmente e as meninas até continuaram assistindo, porém sem o entusiasmo de antes.Deitaram no quarto e Juliana arrumou sua cama na sala, como fez na casa da irmã. Quando teve certeza de que todos dormiam ela voltou ao chuveiro, prendendo os cabelos para não molhá-los novamente. Pôs o rosto embaixo d’água e tirou, respirando fundo. Não precisava se esfregar, precisava do sabonete. Ajoelhou-se no chão e sentiu calor por dentro do corpo.Sentia vergonha do que lhe passava pela cabeça mas não conseguia controlar. Queria evitar à todo custo o que seu corpo estava pedindo, mas suas mãos já estavam quase agindo sozinhas. Tocou quase com cuidado por medo de se machucar. Por dentro estava molhada, mas não do banho. “Será que eu tô fazendo direito? Não tá adiantando.” Sua respiração estava ofegante e ela desistiu, escorando-se na parede do box e encerrando o banho em seguida.No outro dia pela manhã, Juliana acordou depois de todos e ouviu uma conversa alegre vinda da rua. “Será que o dindo chegou? Minha nossa! Imagina se ele tivesse chegado e me visto daquele jeito no chuveiro?” Qual não foi sua surpresa ao encontrar sua madrinha e primas sentadas no pátio conversando com Ciro. - Oi. – Cumprimentou ele sorridente. - Oi. Eu vou pegar uma cadeira. Ela sentiu junto aos outros. Percebeu que ainda tentavam distrair Marcelina para que ela não entrasse em pânico pela ausência do esposo. - E então, você veio da onde? – Perguntou Marcela. - Nasci em Palmares do Sul. Mas eu cresci em Capivari, só nasci lá por que em Capivari não tem hospital. - Deve ser bem pequeno né? Já passei por lá indo pra Cidreira. - Sim dona Celina. É só um pontinho no mapa. Eu conhecia todo mundo. - Como você ri meu filho! Faz bem, chorar é que não dá! - Mas por que eu vou chorar? Tá tudo indo bem na minha vida. Eu tenho casa, trabalho. Meu filho tá bem. Ao ouvir a palavra “filho” todas deram um salto em suas cadeiras. - Você tem um filho? - Sim. Querem ver ele? Já volto. Enquanto ele foi até a casa buscar algo, o burburinho se formou. - Meu Deus! Mas eu nunca vi ele com ninguém! - Pois é mãe. Nem nas festas! – Disse Vitória. Juliana parecia ter levado um soco no peito e tentava se recompor.Daí a minutos ele voltou com um celular e uma caixa na mão. - Ele tem celular? – Perguntou Marcela. - Eu tô chocada gente! – Disse dona Marcelina. Ele abriu o telefone e a claridade revelou mais uma surpresa: era um menino já grande, na casa dos dez anos. Juliana tentou juntar palavras e formar uma frase, mas não conseguiu. - Meu Deus! - Esse é meu meninão. O Júnior. - Que idade ele tem? – Quis saber Marcela num tom de exigência. - Ele tem 11 anos. - Que? Ele se sentou e o celular passou pelas mãos de todas até chegar em Juliana, ficando parado nas mãos desta. - Menino, eu tô em choque! Eu não fazia ideia. Por que você não vem pra cá, não conversa com a gente. - É que antes eu trabalhava fora além daqui. E também eu sempre trabalhei de agregado desde os 16 anos. Eu já vi muito caso de rapaz se aproximar da família onde tinha moça jovem, e depois dar problema. - É, eu vim do interior e sei bem como é. Juliana fechou o celular e o entregou de volta ao dono, ficando atenta ao assunto. - Já vi caso de menina que andava com todo mundo na cidade e daí embuchou e o pai não conseguia casar, e sobrou pro agregado criar filho de outro. - Ih rapaz, se eu te digo o que eu já vi nesses interior. A gente veio de Ajuricaba, lá no interiorzão mesmo. Era cada coisa de deixar os da cidade abismados. E foi isso que aconteceu com o teu filho? Digo da mãe dele. – Perguntou Marcelina. - Não. A gente se conheceu numa festa. Eu tinha 15 anos e ela já tinha 17. Eu era guri, não sabia nada, só trabalhava e trabalhava. Trabalho desde os 13 anos, comecei e nunca mais parei. Daí arrumei emprego de cuidar dum sítio e logo em seguida ela veio me dizer que tava grávida. - E o que tu fez? – Perguntou Vitória. - Eu fiquei assustado, mas eu já tinha emprego, tinha o meu dinheiro. Fui e assumi. - Tu foi pai com 17 anos? – Perguntou Marcela. - 16. Ele abriu a caixa e começou a mostrar fotos de um menino desde recém nascido. Entre os inúmeros registros de diferentes idades, havia uma foto de uma mulher já com feições bem adultas de blusa levantada mostrando uma barriga. Juliana encarou a foto por longos minutos e Ciro percebeu. - Agora eu entendo por que com quase 30 anos você nunca quis casar. – Disse ela num tom ressentido. - Por que? Não, eu não gosto dela. A gente casou, ficou casado três meses e não deu certo. Eu mando dinheiro todos os meses e visito ele uma vez por mês. – Respondeu ele para Juliana. - Então é por isso que você viaja um fim de semana por mês?! – Concluiu a madrinha. - É, é isso sim. Eu vou em Capivari visitar minha mãe e já vejo ele. – Mas nem o seu Guido sabe disso. Tô contando pra vocês agora. Enquanto as outras estavam abismadas com a situação, Juliana sentia algo diferente. Era como se ele quisesse que ela ouvisse aquilo e soubesse da vida dele. Após terem almoçado, Juliana pediu para ir pra casa pois lembrou que tinha trabalhos do recesso para entregar. “Trabalho de uma semana inteira e eu não fiz nada. Ainda bem que não tem que entregar tudo amanhã.” Juntou suas coisas e as guardou na mochila. Penteou o cabelo e foi se despedir das meninas. - Dinda brigada por ter deixado eu vir pra cá,eu adorei aqui. A mãe pediu pra avisar quando o dindo voltar. - De nada Ju. O Ciro vai procurar de novo depois que te largar em casa. Ela abraçou a madrinha e as primas e entrou no carro, se sentando no banco de trás no lado direito. Assim que não enxergaram mais as meninas, Juliana puxou assunto. - Posso te fazer uma pergunta? - Pode. - O que é um capataz? - É uma função polivalente. Faz de tudo um pouco. Agora eu posso te fazer uma pergunta? - Pode. Juliana sentiu a velocidade do carro diminuir e percebeu que haviam passado do trapiche, estando em uma parte deserta da estrada. - Quer continuar o que fizemos ontem? - Como assim? – Perguntou já nervosa. Ele parou de vez o carro e olhou para trás.Os dois se beijaram e Ciro veio para o banco onde Juliana estava sentada. - Ninguém vai ver? - Não. Se durante a semana já é morto aqui, imagina domingo. Ele a beijou e ambos tiraram as roupas. Em seguida Ciro empurrou o banco para a frente e ficou de joelhos no chão do carro. - Deita, e abre as pernas o máximo que puder. Juliana obedeceu e dobrou as pernas, deixando uma no banco onde estava e pondo a outra no assento do banco do motorista. - Agora relaxa, o máximo que conseguir. Juliana olhou o céu ensolarado pelo vidro fechado do carro, quando de repente sentiu carícias que a pegaram de surpresa. Os minutos que se seguiram foram uma mistura louca de prazer e medo de ser pega. Juliana sentia suas mãos dormentes, a boca molhada e um tremor que não era do frio. Estava quase em transe, se sentia longe. - Mexe no meu cabelo. - Que? – Perguntou com a voz já arrastada. - Segura a minha cabeça, mexe no meu cabelo que nem tu fez ontem no beijo. Ela obedeceu com certa dificuldade, em razão da dormência nas mãos. Aquele era o melhor beijo de língua que Juliana havia recebido até o momento, e era em um lugar onde ela não tinha língua para retribuir. Estava cada vez difícil segurar os cabelos de Ciro e ela os soltou, pondo as mãos na barriga e sentindo as pernas amolecerem.Enquanto ainda sentia espasmos, percebeu o corpo dele por cima de si. Ciro a beijou na boca quase com violência e ela o abraçou arranhando suas costas. Separaram-se do beijo e Juliana viu ele ter espasmos e se deixar cair sobre ela. - Agora deu frio. - Eu também. Sua boca tá gelada.
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