MATHEO (CRIA NARRANDO)
Tô aqui largado na cama, a escuridão da noite me envolve o quarto silencioso. meu corpo, exausto, finalmente rendido ao sono depois de horas acordado com insônia, porque tô tentando me acostumar a voltar dormir a noite e sair de dia, mais tá osso. mais minha mente tá inquieta pra c*****o , ela parece vagar pelas lembranças dolorosas que eu não consego apagar. Já faz três malditos anos desde que minha pequena , partiu e não tem um dia se quer que eu não sinta a ausência dela. O luto ainda aperta pra c*****o meu peito, como se o tempo não tivesse suavizado a p***a dessa dor.
De repente, meus olhos se entregam em rendição ao sono que chega silencioso me tomando por completo.
Me vejo num campo iluminado por uma luz suave, quase etérea. No horizonte, entre as árvores que balançam suavemente com o vento, uma figura surge . Vejo a Paty. Ela está exatamente como eu me lembrava: os cabelos loiros caindo suavemente sobre os ombros, o sorriso largo e lindo , o olhar que sempre parecia lê inha mente conturbada.E eu fico completamente imóvel, sem saber se corrio até ela ou se apenas contemplo essa visão maravilhosa.
— Paty? Tu voltou? voltou pra mim? eu sussurro, com a voz embargada.
— É tu mesmo?minha princesa? pergunto de volta sem acreditar no que eu vejo
Ela sorri, aquele sorriso que me quebra e que eu tanto amo, ela começou a caminhar na minha direção. sinto minhas lágrimas se acumulare nos olhos, feito um balde de baixo de uma torneira.a saudade que eu carrego no meu peito me invade de uma vez. Quando Paty para na minha frente, seu olhar estava sereno, como se quisesse me acalmar de alguma forma.
— Matheo... ela diz com a voz suave, quase como uma melodia.
— Eu tô bem. Onde tô , não tem dor, não tem sofrimento. Quero disser que precisa seguir em frente! faça o que eu não pude fazer o suficiente! viva......viva por mim.....viva por nós dois! ela me pede me olhando fixo com uma voz tranquila e calma , sorriso largo
Eu balançou a cabeça negando, com as palavras presas na minha garganta, se formando um nó.Eu quero gritar que não consego, que o vazio que ela me deixou jamais vai ser preenchido.
— Eu sinto tanto a sua falta... eu te amo tanto....não sabe a lacuna que carrego no meu peito! eu sussurro, com voz trêmula
Ela ergue a mão e acaricia meu rosto de leve, o toque tão real que eu sinto meu coração apertar ainda mais.
— Eu sei...... agradeço por esse amor puro e verdadeiro que tem por mim! eu também te amo pra sempre! ela disse, com um sorriso triste.
— Mas tu precisa parar de ser marrento e viver ....... Matheo. Precisa encontrar a felicidade novamente. Não quero que fique perdendo dias e noites sofrendo assim por mim! isso não me deixa ficar totalmente em paz......por favor se levante tem pessoas que precisam de ti....ela me diz decidida
- Volta comigo , vamos......eu vou te levar e dessa vez eu vou te proteger! eu peço chorando entre soluços e desespero
- Matheo......abra seu coração saia dessa escuridão deixe as portas do seu peito aberto novamente se cure Matheo.....se cure...ela diz e sua voz vai ficando distante
Antes que eu pudesse responder, o cenário ao redor começa a se dissolver, e a imagem dela vai desaparecendo como névoa. Eu tento alcançar , mas já é tarde demais. Me acordo de repente,Com o corpo tremendo, a respiração ofegante. O quarto está escuro, o silêncio parece o mais opressor do que nunca. Eu me sento na cama, o coração batendo descompassado. O sonho ainda tá vivo em minha mente, e a dor da perda voltou a apertar com força aqui, mas tenho agora na minha o peso de um pedido impossivel. Que Paty me deixou.O pedido de recomeço, ela quer me vê seguir em frente.
um pedido impossível de eu tentar realizar.
sem chance nem uma de cumprir.
Com o meu coração a milhão, o sonho r**m ainda rondando minha mente. Tento deitar de novo, mais o calor da madruga e a sensação r**m não me deixam.
-Ah não vai rolar...penso enquanto me levanto da cama, decido tomar um banho gelado pra espantar os pensamentos.
Entro no box e deixo a água fria descer pelo corpo. Essa sensação é tudo o que eu preciso pra acordar de vez. A mente ainda martela o sonho, mais agora eu tô focado. Troco de roupa, visto um moletom escuro de capuz como sempre, boto o tênis e partiu pras vielas . A moto já tá aqui no jeito, só esperando eu pra mais uma ronda.
A noite é escura, sem lua. As vielas da quebrada são sempre um labirinto de sombras e sussurros, mas já tô acostumado. Giro a chave, a moto ruge baixinho deslizo pelas vielas apertadas, atento a cada movimento. É a minha rotina, ficar de olho no movimento, ver quem tá na pista, quem é de casa e quem é suspeito.
No caminho, avisto Vulto encostado num canto, fumando um cigarrinho. O moleque é fechamento, sempre na correria, rápido no serviço e sempre de olho. Paro a moto do lado dele.
— E ae, Vulto, como tá o corre? pergunto, acendendo o baseado que tinha guardado no bolso.
— Suave,chefe. A quebrada tá tranquila, mas tem uns falador querendo se meter onde não deve! Vulto responde, pegando o beck que eu passo pra ele.
Nois dois fica em silêncio por uns segundos, cada um com seu pensamento, a fumaça se mistura no ar da noite. sei que o jogo é perigoso, mas conheço às vielas como a palma da minha mão. Não tem muito o que temer, só ficar esperto.
— Mas e tu, mano? Tá de ronda noturna de volta? Não tava circulando de dia seu morcego? Vulto pergunto, devolvendo o beck.
— É, tô precisando dar um rolê pra esfriar a mente. Tive uns pesadelo, ae o jeito foi sair pra pista e ver o que tá pegando! já que o meu sono não rolou como eu queria! respondo dando um trago profundo, sentindo o peso da noite no peito.
Vulto balança a cabeça, entendendo. Na quebrada, todo mundo tinha seus fantasmas pra lidar, mas a viela sempre tá aqui, esperando. A ronda continuar, o movimento nunca para.
Aqui o bagulho é pesado, ou marcamo em cima ou a gente dança.
essa calmaria das vielas me dissem que coisa grande tá por vir.
E eu não tenho dúvidas que logo a guerra começa.