Capítulo 16

1366 Words
DANTE PETROV NARRANDO. Chegar à Rússia sempre tem um gosto amargo de lembranças e poder. O jato aterrorizou com suavidade, mas o meu humor estava longe de suave. A viagem havia sido tranquila, mas a tensão se acumulava em meus ombros. Havia traidores à espreita, e isso me irritava mais do que o frio cortante que recebi ao descer do jato. O carro preto estava esperando por mim na pista, como sempre, e sem uma palavra, entrei no banco traseiro. O motorista já sabia o destino: o galpão no distrito industrial. O meu foco estava lá, onde um de nossos homens havia decidido que seria uma boa ideia me trair. Traição, para mim, não era apenas uma afronta ao poder, mas uma ofensa pessoal. E quem ousasse me desafiar, pagaria com juros. O silêncio no carro era quebrado apenas pelo ronco do motor, enquanto a cidade passava como uma mancha cinza e fria ao nosso redor. São Petersburgo nunca me pareceu acolhedora, nem mesmo quando eu era criança. O ambiente hostil se ajustava ao tipo de homem que eu me tornara. Quando finalmente chegamos ao galpão, as grandes portas metálicas se abriram para revelar o interior m*l iluminado e cheio de sombras. Os meus homens estavam lá, alinhados em torno de um sujeito que se encolhia no centro. Mikhail, o líder do grupo, me olhou com um leve aceno de cabeça, sinalizando que o "convidado" já estava à minha espera. Caminhei até o centro do galpão, onde o traidor estava amarrado a uma cadeira, seus olhos arregalados de medo. Ele não precisava dizer nada; seu pânico já havia dito o suficiente. Eu me aproximei lentamente, sem pressa, saboreando cada passo. O silêncio ao redor era quase absoluto, apenas o som da respiração irregular do homem preenchia o espaço. — Ilya — Comecei, com minha voz ecoando no espaço vasto e vazio. — Quando foi que você decidiu que seria uma boa ideia me trair? Ele não respondeu de imediato, os olhos se movendo rapidamente, buscando uma saída que não existia. O seu lábio inferior tremia, e ele m*l conseguia manter o olhar em mim. — D-Dante, eu... não era isso... — Ele gaguejou, com as suas palavras se quebrando no medo. Me aproximei mais, e a ponta dos meus sapatos quase tocava os seus joelhos. Me inclinei para frente, aproximando o meu rosto do dele, o suficiente para que ele sentisse a minha respiração. — Eu não perguntei se foi um m*l-entendido, Ilya. Perguntei quando você achou que poderia se safar com isso. Ele tentou balbuciar uma resposta, mas eu já estava cansado da conversa. Dei um sinal para Mikhail, que prontamente entregou a arma para as minhas mãos. Olhei para o revólver, o peso familiar em minha palma, e então voltei o meu olhar para Ilya. — Sabe, Ilya, o que me irrita mais do que a traição é a covardia. Se vai me trair, ao menos tenha coragem de admitir. Ilya começou a chorar, murmurando desculpas que eu não tinha paciência para ouvir. Antes que ele pudesse terminar, a bala já havia atravessado o seu crânio, o som seco do disparo ecoando pelo galpão. O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. A cabeça de Ilya tombou para o lado, o sangue começando a se acumular no chão de concreto. — Limpem isso — Ordenei, devolvendo a arma a Mikhail, que acenou e começou a organizar os homens para se livrar do corpo. Saí do galpão sem olhar para trás, as minhas mãos ainda firmes e sem o menor tremor. A execução de um traidor era apenas mais um dia comum para mim. Agora, havia outro assunto que precisava da minha atenção, um assunto que, embora menos sangrento, ainda exigia controle: Louise. Ela me esperava em sua casa, como sempre fazia quando eu estava na Rússia. Louise, a minha amante, sempre soube o seu lugar, mas ultimamente, ela estava cada vez mais... inquieta. As notícias do meu casamento com Valentina não a agradavam, e eu sabia que teria que lidar com mais uma de suas crises. O carro parou em frente à casa de Louise, uma construção discreta em um bairro afastado. A residência refletia sua posição em minha vida: escondida, fora dos holofotes, mas ainda confortável o suficiente para mantê-la satisfeita. Por enquanto. Entrei sem bater, como de costume. Louise estava no sofá, enrolada em um cobertor, mas o rosto dela estava tenso, o queixo erguido em desafio. Eu fechei a porta atrás de mim, o som ecoando na sala silenciosa. — Você vai se casar com aquela mulher — Ela começou, sem rodeios, os olhos faiscando de raiva. — E me deixar aqui, como se eu fosse descartável? Suspirei, tirando o meu casaco e jogando ele no sofá. — Louise, você sabia o que isso era desde o começo. Não há surpresas aqui. — Não há surpresas? — Ela riu amargamente, se levantando. — Você me deixou pensar que havia algo mais entre nós. Agora, você vai se casar e me deixar para trás? Depois de tudo o que aconteceu. A impaciência começou a subir dentro de mim. Eu não tinha tempo, nem paciência, para suas inseguranças. Cruzei os braços, com o meu tom de voz ficando mais frio. — O que você esperava, Louise? Que eu largaria tudo por você? Que você seria a esposa perfeita ao meu lado? Não se iluda. Esse casamento é sobre poder, alianças. Algo que você nunca entenderia. Ela me olhou, os olhos cheios de lágrimas, mas também de ódio. Eu vi quando seus punhos se apertaram ao lado do corpo. — Eu vou embora, Dante. Eu não preciso de você. Posso viver a minha vida sem isso. Sem você. Deixei escapar uma risada curta, seca. Ela realmente acreditava nisso? Louise, que dependia de mim para cada conforto em sua vida? Que vivia sob a minha sombra? — Vai embora? — Perguntei, debochado. — Para onde, exatamente? Você não tem para onde ir. Não tem um centavo no bolso e não tem aonde cair morta. Vai, tente. Me faça rir ainda mais, a sua família não pode nem se quer falar com você. Louise chorava agora, lágrimas grossas escorrendo por seu rosto. Ela avançou para mim, com os punhos levantados, como se quisesse me bater. A sua tentativa patética de me ferir era quase cômica. Quando ela tentou me acertar, segurei os seus braços com firmeza, prendendo-os ao lado do corpo. Os seus olhos se arregalaram de surpresa e medo. — Nunca mais faça isso — Rosnei, aproximando o meu rosto do dela, os meus dedos apertando os seus braços com força. — Nunca mais se atreva a me tocar assim. Ela soluçou, mas não tentou se libertar. Sabia que estava derrotada, presa ao destino que ela mesma havia escolhido quando se envolveu comigo. Lentamente, soltei os seus braços, e ela caiu de joelhos no chão, chorando. Fiquei ali, em pé, olhando para ela sem um pingo de piedade. Eu nunca tive paciência para fraqueza, e as lágrimas de Louise não significavam nada para mim. Eu já havia lhe dado tudo o que ela poderia desejar, e ainda assim, ela queria mais. — Limpe essas lágrimas — Ordenei, com a voz fria e dura. — Você sabia o que isso era desde o começo. Não me venha com dramas agora. Ela permaneceu no chão, os soluços silenciosos, enquanto eu voltava para o sofá e pegava meu casaco. — Eu voltarei quando achar necessário — Eu disse, enquanto caminhava em direção à porta. — E quando eu voltar, espero que você tenha aceitado o seu lugar. Caso contrário, talvez você deva pensar seriamente em arrumar outro lugar para viver. Com essas palavras, saí da casa e bati a porta atrás de mim. O ar frio da noite russa me atingiu de imediato, mas isso era insignificante em comparação ao que me aguardava no futuro. Louise era apenas uma distração temporária, uma peça descartável no meu tabuleiro. Enquanto entrava no carro e o motorista ligava o motor, a minha mente já estava em Valentina, na Rússia e nas próximas jogadas que precisavam ser feitas. Louise era o passado. Valentina era o futuro. E eu sempre jogava para ganhar.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD