Capítulo 17

1202 Words
VALENTINA CACCINI NARRANDO. A festa ainda ecoava no salão abaixo. O som das risadas, o tilintar de taças, e a música suave preenchiam o ambiente, mas para mim, era apenas um ruído distante. Estava isolada em meus próprios pensamentos, presa na lembrança do que havia acontecido entre Nicollo e eu no jardim. A tensão entre nós, os sussurros rápidos, o toque dele em minha mão... tudo havia sido um erro. Eu não deveria ter permitido que chegasse a esse ponto, mas ali estava, perdida em uma confusão de emoções que m*l conseguia entender. Caminhei pelo salão, cumprimentando os convidados com um sorriso educado, mas falso. Por dentro, eu estava em pedaços. Cada vez que eu olhava para Nicollo, o peso da culpa se instalava em meu peito. Ele parecia tão indiferente agora, como se nada tivesse acontecido, mas eu sabia que ele estava se controlando. Talvez ele estivesse tão confuso quanto eu, mas, ao mesmo tempo, consciente de que Dante jamais o perdoaria se descobrisse. Sem suportar mais aquele ambiente, decidi subir antes que a festa terminasse. Eu precisava de um tempo sozinha, longe de todos. Cheguei ao meu quarto, fechando a porta atrás de mim com um suspiro pesado. Tirei o vestido e deixei cair ao chão antes de entrar no banheiro. A água quente do chuveiro desceu sobre mim, mas não trouxe o alívio que eu esperava. As lágrimas começaram a cair antes que eu pudesse contê-las. Chorei por tudo. Por Nicollo, por mim, por esse casamento que eu nunca quis de verdade. Parecia que a água carregava junto com as minhas lágrimas todas as dúvidas e medos que eu tentava sufocar. Quando saí do banho, me senti um pouco mais leve, mas a dor ainda estava ali. Vesti uma camisola leve e me aproximei da janela do quarto. A noite estava fria e calma lá fora, o oposto da tempestade que acontecia dentro de mim. Eu olhava para o jardim abaixo, o mesmo lugar onde momentos antes Nicollo e eu havíamos nos encontrado. Foi então que eu o vi. Nicollo passava pelo jardim, sozinho, com o rosto sombrio. Por um momento, os nossos olhares se cruzaram. Senti o meu coração disparar. Eu não sabia o que ele pensava, o que sentia, mas queria que ele dissesse algo, qualquer coisa. No entanto, ao invés disso, ele desviou o olhar e abaixou a cabeça, como se negasse o que quer que tivesse passado entre nós. Como se estivesse colocando um fim em tudo. Senti uma pontada de tristeza e frustração. Aquele momento de silêncio entre nós havia dito mais do que qualquer palavra. Ele não podia mudar as coisas, assim como eu não podia. O destino estava selado, e ambos sabíamos disso. Com um suspiro pesado, me afastei da janela e fui para a cama. O travesseiro parecia pesado de ansiedade e culpa, mas eu não podia fazer mais nada. Tentei fechar os olhos e encontrar algum descanso, mas o sono não veio fácil. A manhã chegou mais rápida do que eu esperava, trazendo consigo um novo desafio. Hoje era o dia da prova do meu vestido de noiva. A minha mãe estava empolgada, e a sogra, bem... a mãe de Dante, como sempre, estava pronta para criticar cada pequeno detalhe. Chegamos ao ateliê de uma das estilistas mais renomadas da cidade. As paredes eram de um branco impecável, com araras cheias de tecidos delicados e brilhantes. A minha mãe, sempre a otimista, estava radiante. Ela examinava os detalhes dos vestidos com o entusiasmo de quem sonha com o casamento perfeito para a filha. Já a minha sogra... Ela caminhava pelo ateliê como se estivesse avaliando cada escolha com olhos críticos. — Esse tecido... não é muito básico? — Ela perguntou, sem sequer disfarçar o desdém na voz, enquanto passava os dedos pelo vestido que eu havia escolhido. — É um cetim clássico — A estilista respondeu, com um sorriso paciente. — Ideal para o tipo de cerimônia que estamos organizando. — Clássico demais — Respondeu a minha sogra, revirando os olhos. — Parece simples. Para o casamento do meu filho, eu esperava algo mais... grandioso. Senti o meu estômago se revirar de frustração. Era assim desde que começamos a planejar o casamento. Nada do que eu escolhia era bom o suficiente para ela. As flores, o local da cerimônia, o cardápio... tudo precisava passar pelo crivo dela, e nada parecia estar à altura de suas expectativas. — Eu gosto desse tecido — Tentei intervir, mantendo a voz calma. — É simples, mas elegante. Acho que combina com o que eu imagino para o casamento. — Claro, querida — Ela respondeu, com aquele tom falsamente doce que só piorava a situação. — Mas você tem que entender que o casamento do meu filho não pode ser qualquer coisa. Há expectativas, entende? A família Petrov tem uma imagem a zelar, e eu quero ter certeza de que tudo esteja perfeito. Mordi o lábio, tentando não deixar a minha irritação transparecer. Não queria mais discussões. Não ali, no meio da prova do vestido. — Podemos ver mais opções — Sugeri, tentando encontrar um meio-termo. A estilista, visivelmente desconfortável com a tensão, assentiu e começou a mostrar outros modelos. A minha mãe olhou para mim, solidária, mas sem saber como intervir. Ela sabia que a mãe de Dante era implacável quando se tratava de impor as suas vontades. Passei o resto da manhã experimentando diferentes vestidos, tentando manter a paciência enquanto a minha sogra criticava cada detalhe. Nada parecia agradá-la. O vestido era muito simples, o véu era muito longo, o bordado era muito delicado. Ela queria algo luxuoso, algo que mostrasse o poder da família. — Esse é bonito — A minha mãe comentou, tentando trazer um pouco de leveza para a situação enquanto eu experimentava um vestido de renda com detalhes sutis de pérolas. — Fica muito bem em você, querida. Sorri, agradecida pelo apoio dela, mas logo fui interrompida pela voz firme da sogra. — Não é isso que estamos procurando — Ela declarou, categórica. — O vestido precisa ser uma declaração. Algo que impressione, que todos se lembrem. Esse... é apenas aceitável. "Aceitável". Aquela palavra ficou ecoando na minha mente. Era o que eu sentia em relação a todo o casamento. Eu não era mais do que isso para Dante e a sua família. Uma escolha conveniente, uma união estratégica. Nada mais. E quanto mais eu tentava me convencer de que estava tudo bem, mais percebia o quanto estava infeliz. Quando finalmente terminamos a prova, eu estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Saímos do ateliê com a promessa de voltar em alguns dias para ajustes, mas eu sabia que nada do que acontecesse ali mudaria o peso que sentia no peito. No caminho de volta para casa, a minha mãe tentou me animar, falando sobre como o casamento seria lindo, sobre como eu estava prestes a começar uma nova fase da vida. Eu sorri e concordei, porque era isso que esperavam de mim. Mas, por dentro, eu sabia que estava cada vez mais distante desse ideal de felicidade. E, enquanto o carro passava pelas ruas movimentadas da cidade, eu me perguntava se algum dia teria a coragem de mudar isso.

Great novels start here

Download by scanning the QR code to get countless free stories and daily updated books

Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD