Capítulo 15

1622 Words
DANTA PETROV NARRANDO. A noite estava cheia de luzes e vozes, mas nada disso realmente importava. Os meus olhos estavam fixos no jardim, onde Valentina desapareceu por alguns minutos. Todos ao redor pareciam absorvidos pelas músicas e risadas, mas eu enxergava além da superficialidade daquele evento. Ela achava que eu não notaria, que não veria os sussurros e os olhares. Mas eu vi. E Nicollo, aquele t**o, parecia não entender que há limites que não se ultrapassam, pelo menos não impunemente. Lá estava ele, de volta, com o seu semblante arrogante, acreditando que poderia roubar algo que já era meu por direito. Desde o confronto que tivemos, achei que ele entenderia, mas parece que as lições não foram suficientemente claras. E agora, vendo ele naquele jardim com Valentina, tocando ela como se tivesse algum direito, fica evidente que ele terá que aprender de outra forma e, desta vez, ele vai aprender por m*l. Valentina... Ela é inteligente, mas também é jovem. Jovem demais para perceber a gravidade de seus atos, para entender o poder que um homem como Nicollo pode tentar exercer sobre ela. No entanto, isso não muda nada. Ela será minha, assim como tudo o mais que eu desejo. Quando voltei para o salão, a música suave de uma valsa ecoava. O meu pai sugeriu que eu e Valentina dançássemos, como se fosse o ápice da noite, a união simbólica de duas famílias de poder. Caminhei até Valentina, o queixo erguido, o olhar fixo, como se ela fosse um prêmio que eu estava prestes a receber. Ela estendeu a mão, com um leve tremor, mas sorriu, aquele sorriso falso que ela tem aperfeiçoado nos últimos dias. Toquei a sua mão, sentindo o gelo na ponta de seus dedos, e a puxei para perto de mim. — Está pronta para a dança, minha noiva? — Perguntei, sem disfarçar a ironia na voz. — Sempre. — Ela respondeu nervosa. Ela tentou responder com confiança, mas eu sabia que as minhas palavras haviam deixado uma marca. O ar entre nós estava tenso, pesado com o que havia acontecido momentos antes no jardim. Os seus passos eram calculados, assim como os meus. Não era apenas uma dança; era um lembrete. Um lembrete de quem está no controle, e de que Nicollo não tem lugar entre nós. Enquanto rodopiávamos, eu me aproximei do seu ouvido e sussurrei: — Está nervosa,Valentina? Vi você com Nicollo no jardim. Acho que a nossa pequena conversa ainda não acabou, não é? Eu podia sentir o seu corpo enrijecer de leve, mas ela respondeu com uma falsa serenidade. — Não há nada entre Nicollo e eu — Ela mentiu, como se eu fosse um t**o a ser enganado. Não me preocupei em disfarçar o sorriso frio que surgiu no meu rosto. — Você não pode esconder nada de mim. — Continuei, deixando claro que o jogo que ela estava tentando jogar já havia sido vencido por mim. Quando a música terminou, os aplausos dos convidados preencheram o salão. Eu a conduzi para uma reverência formal, mantendo a minha mão firme na dela. Observei cada detalhe do seu rosto enquanto os aplausos ressoavam ao redor de nós. Valentina estava ciente, assim como eu, de que aquela dança havia sido apenas um prelúdio para algo muito maior. A batalha estava apenas começando. Depois da dança, liberei Valentina para que voltasse aos seus deveres como anfitriã. Caminhei até a mesa onde estavam as bebidas e servi um copo generoso de uísque. O líquido desceu queimando, mas foi reconfortante, quase tranquilizador. Enquanto eu bebia, mantive os meus olhos nela, à distância. Valentina estava cercada de convidados, sorrindo, conversando, tentando manter a máscara de tranquilidade. Mas eu podia ver além. Os seus olhares furtivos, a sua inquietação. Eu a conhecia bem demais para ser enganado. Cada gole de uísque me lembrava do que estava em jogo. A festa continuava em pleno vapor, mas o meu pensamento estava longe, já calculando os meus próximos movimentos. Valentina não sabe o quanto eu sou paciente. Nicollo, por outro lado, vai descobrir em breve que há consequências para cada ação. E essas consequências virão mais rápido do que ele imagina. Quando a festa começou a se dissipar, os convidados se retirando um a um, decidi que era o momento de finalizar a noite com Valentina. Eu a observei de longe, vendo como ela tentava, inutilmente, esconder o peso da noite nos seus ombros. Ela estava sozinha, os seus pais distraídos com os últimos convidados. Me aproximei lentamente, sem pressa. — Valentina — Chamei, em um tom que deixava claro que não haveria escapatória. Ela se virou para mim, o rosto mostrando o cansaço disfarçado com um sorriso educado. — Dante... — Ela disse, com a voz quase abafada. Me aproximei mais, sem tocar nela, mas com a minha presença dominando o espaço entre nós. — Precisamos conversar — Eu disse, calmamente. — Amanhã, voltarei para a Rússia. Preciso resolver alguns negócios antes do casamento. Fico fora por alguns dias, mas estarei de volta a tempo para nossa cerimônia. Valentina assentiu lentamente, quase aliviada. Era como se, por um momento, ela achasse que a minha ausência seria uma pausa em sua angústia. O que ela não sabia era que, mesmo de longe, eu estava sempre presente. — Claro, Dante. — A sua resposta foi suave, quase mecânica. — Resolva o que for necessário. Estarei esperando. Havia algo em sua voz, uma resignação contida. Ela sabia que não tinha escolha, que este casamento era mais do que apenas uma união romântica. Era um pacto de poder, de alianças, e eu não permitiria que Nicollo ou qualquer outro homem o destruísse. Sem dizer mais nada, dei meia-volta e caminhei em direção à saída da mansão dos Caccinis. O ar da noite estava mais fresco agora, mas a minha mente ainda fervilhava com pensamentos sombrios. Antes de seguir para o carro, decidi que havia um último detalhe a ser tratado. Eu precisava de alguém em campo, alguém de confiança, para garantir que tudo corresse conforme o planejado durante a minha ausência. Peguei o telefone do bolso do paletó e disquei rapidamente o número de Erick, o meu chefe de segurança. Ele não tardou a atender, como sempre eficiente, à disposição. — Senhor Petrov, no que posso ajudá-lo? A voz de Erick era grave, firme, o tipo de homem que não questiona ordens e executa tudo à risca. Perfeito para o tipo de situação que eu estava prestes a colocar em suas mãos. — Erick, preciso que fique na Itália por mais alguns dias — Ordenei, em um tom baixo, mas com autoridade suficiente para deixar claro que não havia espaço para objeções. — Quero que fique de olho em Valentina. Todos os passos dela. Não me interessa o quão insignificante pareça. Quero relatórios diários. Nada de encontrar Nicollo, nem qualquer outro homem, sem que eu saiba antes. Houve um silêncio breve do outro lado da linha, seguido pela resposta de Erick. — Claro, senhor. Cuidarei disso pessoalmente. Nada passará despercebido. Erick era discreto, meticuloso, e não havia ninguém melhor para manter Valentina sob vigilância sem levantar suspeitas. Com ele por perto, eu estaria em São Petersburgo, mas ainda controlaria cada movimento que ela fizesse. E, se Nicollo tentasse se aproximar, Erick o afastaria antes que qualquer coisa saísse do controle. — Não me decepcione, Erick — Acrescentei, com um tom de advertência. — Nunca, senhor. Desliguei o telefone, satisfeito. Agora sim, eu poderia partir com a certeza de que Valentina estaria sob o meu olhar, mesmo à distância. Caminhei em direção ao carro, onde o motorista já me aguardava, silencioso. O motor do carro ronronava suavemente enquanto eu deslizava para o banco de trás. O vidro fumê me separava do mundo exterior, e isso me agradava. Gosto de observar sem ser visto, de manobrar as peças do meu tabuleiro sem que os outros saibam que estão sendo jogados. O carro se movimentou em direção à pista de voo, a estrada passando como um borrão de luzes e sombras. Fiquei em silêncio, observando a noite através do vidro. Cada quilômetro que nos distanciava da mansão era mais um passo em direção ao controle absoluto. Eu precisava estar na Rússia para cuidar de alguns assuntos pendentes, mas Valentina e Nicollo não escapariam de mim. Valentina pode achar que ganhou um tempo de respiro, mas ela ainda está na minha rede. Cada movimento seu será calculado, cada sorriso, cada gesto será observado e relatado a mim. Nicollo, por sua vez, achará que pode continuar rondando o que não lhe pertence, mas a paciência que eu tinha com ele já se esgotou. O carro desacelerou quando chegamos à pista. O jato particular já estava pronto, as luzes acesas ao longo da pista refletiam no metal polido da aeronave. O piloto, à espera, se postava ao lado da escada, pronto para me receber. Desci do carro, ajeitando o paletó enquanto caminhava em direção ao jato. A noite estava clara, e o vento frio me atingiu no rosto, como um último alerta daquilo que estava por vir. Eu sabia que a Rússia me esperava com problemas que precisavam ser resolvidos, mas a minha mente ainda estava na Itália, com Valentina, e, mais importante, com Nicollo. Enquanto subia os degraus do jato, dei uma última olhada para o horizonte escuro. Eu retornaria em breve, e quando isso acontecesse, seria para encerrar de vez qualquer dúvida sobre quem estava no controle desta história. Me sentei confortavelmente na poltrona de couro, peguei um segundo copo de uísque e deixei o líquido dourado escorrer pela garganta. O avião começou a se mover lentamente, e enquanto ouvia o som das turbinas ganhando força, uma certeza se solidificava em minha mente: Nicollo não sairia impune.
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