(Pither)
Conviver com Déborah na mesma casa estava sendo quase insuportável! Esther quase não aparecia... Fazia a maioria de suas refeições no quarto! E eu que tinha tantos planos pra gente, passo a maior parte do tempo lendo no quarto de Naná. Porque é o único lugar que Déborah não me encontra.
Eu tive uma idéia! Deixar Déborah entediada, se ela realmente se cansasse de ficar na minha casa, ela daria um jeito de voltar para a casa de seus pais. E aquela história de brigou com os pais, eu não engoli também! Déborah estava disposta a tudo e deixou isso bem claro quando apareceu aqui com aquele exame de laboratório. Que porventura está em meu poder também! Estou andando esperto com essa mulher.
Meus dias basicamente se resumiam em trabalhar e dormir! Na verdade eu que estava ficando entediado. Na maioria das vezes eu acordava no meio da noite e ficava pensando em Esther! Na primeira vez que a gente fez amor, nos seus beijos... Mas logo eu tinha que levantar e tomar um banho porque a situação ficava crítica depois disso.
No domingo eu dei uma passada na casa do Matheus, ele estava sozinho com Lorenzo. Ele me disse que na maioria dos dias seu irmão passa em casa, sozinho e triste.
- E você não sabe o que se passa com ele? Perguntei.
- Lorenzo é quieto! Quase não fala... E não se abre pra ninguém! Não dei muita continuidade no assunto, pois eu já estava de problemas até o pescoço. Matheus gargalhou quando contei da gravidez de Deborah.
- Como você é burro a ponto de deixar isso acontecer?! Matheus falou depois de conseguir parar de rir. - E agora vai casar com ela ainda?
- Não! Falei seco.
- Ué! Quando a mulher não estava grávida você queria... Agora que ela espera um filho seu, você desiste!
- O término foi antes dela aparecer em casa com o tal exame! Falei me explicando.
- Sério?! Ele se endireitou se no sofá. - E por que não quer se casar com ela mais?
- Por que eu estou apaixonado por outra mulher! Falei sem sentir vergonha.
Matheus levantou sua sobrancelha surpreso.
- Você apaixonado?! Hahaha conta outra! Não respondi. Senti meu celular vibrar era a Deborah, toquei em Ignorar. E voltei a colocar o celular no bolso.
Matheus me olhou pelo canto dos olhos e balançou a cabeça preocupado.
- Cara! Você tá enrascado! Essa mulher grudou em ti feito chiclete...
- Uma hora ela desiste! Falei tentando me convencer também.
- Vai Nessa!! Matheus sorriu. Lorenzo veio do quarto, se dirigindo a mim como se já soubesse da conversa.
- Déborah está morando na sua casa? Matheus e eu nos assustamos com a pergunta repentina dele.
- Está passando uma temporada! Falei o observando. Lorenzo sentou-se no sofá colocando no mudo a televisão.
- E ela está grávida mesmo? Outra pergunta que nos pegou de supetão. Ele só pode ter ouvido a nossa conversa.
- Sim... Ela diz que está! Falei ainda desconfiado.
- E você sabe quanto tempo ela está? Nessa hora Matheus e eu nos olhamos, as especulações de Lorenzo eram muito suspeitas. Nós nunca conversamos sobre Déborah, aliás a gente nunca conversou sobre nada.
- Eu não sabia que você tinha interesse em ser obstetra! Matheus o provocou. Ele ignorou o irmão completamente, se virando pra mim esperando respostas.
- É... Eu não sei! Déborah ainda não fez ultrassom... Por que o interesse?
- Aaah! Ele disfarçou. - Curiosidade! Ouvi vocês conversando do quarto... Assenti mesmo não acreditando. - Aliás Matheus indo viajar, você poderia ficar aqui Pither. Se quiser é claro?!
Não vou negar que a proposta era tentadora, pois isso seria minha carta de alforria de Deborah. Pelo menos por um tempo.
Também seria uma ótima oportunidade de descobrir o que Lorenzo anda tramando. Porque é evidente que ele esconde coisas! Mais pensei em Esther, mesmo que ela estivesse me evitando à dias, tudo ligava a ela. Eu ficava preocupado de deixar ela sozinha sobre o mesmo teto com a Déborah.
- Seria muito legal! Não descartei a possibilidade. - Se no caso eu mudar de idéia, te aviso!
Matheus me olhou sem entender nada, e eu muito menos, somente sorrimos. Enquanto Lorenzo subia o volume da televisão.
(Esther)
Há dias eu não falo com Pither! Minha saudade é quase arrebatadora, penso nele todos os dias. Sabendo que estamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Naná é minha única companhia, mas ela quase não descansa, Déborah a chama o dia todo pedindo e exigindo coisas.
Ontem eu vi Déborah gritando da sala que queria água, como se um filho a deixasse paraplégica.
- Isso é água comum! Que nojo! Eu só tomo água com gás... Ela gritou em meio a sala.
- Déborah você está grávida, o gás não faz bem para o bebê! Naná respondeu.
- Mas eu só tomo água com gás! Ela disse fazendo sinais, como se Naná fosse uma doente mental.
- Eu não vou trazer água nenhuma pra você! Se quiser você levante e pega!
Déborah esperava Pither sair e ficava provocando Naná. Seu hobby era pedir coisas e por defeito em tudo o que ela fazia.
- O que é isso? Ouvi Déborah gritando da cozinha, hoje de manhã.
- É leite! Naná disse pacientemente.
- Eu pedi suco natural... Sua voz era tão insuportável quanto ela...
- Déborah! Seu bebê precisa de cálcio! Há dias você não toma leite e ele...
- É MEU FILHO EU SEI O QUE É MELHOR PRA ELE! Sua voz ecoou pelos ares.
Balancei minha cabeça em frente ao quadro da Dona Raquel. Ela com certeza era o anjo da guarda do seu filho. Por isso pedi que fizesse alguma coisa rápido, antes que Naná ou qualquer um dos empregados perdesse a paciência e colocasse aquela mimada no seu lugar! Arriscando perder o emprego, não por Pither mas pelo Senhor Álvaro que estava radiante com a notícia do seu primeiro neto.
- Pode admirar o quanto quiser, mas você nunca será tão linda como a mãe dele! Déborah estava atrás de mim destilando o seu veneno. Desviei o olhar do quadro e me virei a ela.
- Nem você! Respondi friamente. Déborah me encarava esnobe como sempre. Usava vestido preto até os joelhos, e salto alto ignorando qualquer um que tentasse lhe parar. - Mas.... Continuei. - Você tem uma grande chance de ter uma filha parecida com a avó! Acredito que esse seja o sonho do Pither...
Déborah mexeu sua boca como se ficasse tensa. Aproveitei sua fraqueza e andei pela sala destemida.
- Sabe Déborah... Aposto que seu filho terá olhos claros! Pois a genética da família materna de Pither possuem essa dádiva! Caminhei em volta dela, a observando ficar muda. - Mas... Se por acaso puxarem você e os seus olhos, seu filho terá pelo menos o sorriso do pai... Ou o gênero! Alguma coisa ele se parecerá com o Pither... Aliás ele é o pai não é mesmo?
Parei em frente a Deborah a intimidando, ela levantou sua cabeça mostrando superioridade. Mas seus olhos mostravam medo.
- O que você está querendo insinuar?
- Eu?? Me fiz de desentendida. - Nada! Só estamos conversando sobre a possível aparência do seu bebê...
- Você está com inveja, Smurfette! Ela se aproximou de mim me encarando.- Por que eu tenho em meu ventre um filho do Pither! E você sabe que mais cedo ou mais tarde ele voltará para mim!! Pois Pither é muito família e jamais deixará a mãe do seu filho!
- Pode ser! Falei sorrindo com o canto da boca. - Mesmo que Pither volte pra você pelo bebê... Mas tem uma coisa que você nunca vai ter... O Amor dele!!
- Sua... Déborah tentou me insultar.
- Shiiiii! Fiz sinal para ela. - Déborah! Você é uma moça tão bem educada, pra querer me ofender assim!
Ela apertou seus olhos me odiando internamente. Sua fúria era visível como a mentira que ela pregou na família De Fragma.
- Eu juro que mesmo que seja a última coisa que eu faça na vida! Mas vou te tirar dessa casa!! Ela disse me ameaçando.
- Isso se você não for primeiro! Falei sorrindo. - Não se preocupe Déborah não estou disposta a dividir a casa muito tempo com você... Mas sem dúvidas vou esperar até o dia do bebê nascer! Não posso perder esse acontecimento por nada! Além disso tenho uma leve impressão que Pither vai me convidar para ser a madrinha!
Falei saindo da direção dela pois sabia que depois disso Déborah ia surtar. Ela pegou um vasinho da sala e jogou em mim, mas não acertou.
- Eu te odeio! Eu subi as escadas e voltei para o meu quarto ouvindo Déborah gritar enfurecida.
(...)
Eu sou humana, tenho defeitos, medos, fraquezas e as vezes eu erro feio! E me arrependo pouco tempo depois... No momento o meu arrependimento mais recente e estar evitando Pither à dias. Achando que dessa forma irei esquece-lo, mesmo sabendo que todo esse esforço é em vão.
Eu também não devia ter irritado Déborah, ela está grávida! E mesmo que as suspeitas da paternidade sejam enormes. Devo ignora-la e não ficar batendo de frente, alimentando o seu ódio por mim.
Fui beber água quando ouvi o carro de Pither chegar. Déborah estava no sofá o esperando, fiquei do corredor de cima só observando.
Pither entrou e ela se levantou indo em sua direção.
- Aah não Déborah dá um tempo! Ele disse se virando e jogando as chaves na mesinha.
- Pither eu te liguei! E você não me atendeu! Ela disse de frente a ele.
- Eu estava ocupado! Falou desviando sua atenção dela.
- Eu não estou me sentindo bem! Déborah afinou sua voz para convence-lo. Ele levantou sua cabeça e a olhou nos olhos.
- O que você tem? Perguntou preocupado.
- Não sei! Sinto minha cabeça latejando e a visão ficando turva e... Déborah desmaiou nos braços dele. Pither a pegou no colo, e rapidamente a colocou no sofá. Ouvi ele chamando a Naná, e ela veio correndo ajudar.
Sorte que o Senhor Álvaro estava no quarto se não eu já imagino o escândalo que seria. Aos poucos Déborah foi voltando do desmaio, ela tocava a cabeça como se realmente doesse.
- Naná chame o meu Pai! Ele é cardiologista mas pode examina-la pelo menos!
- Não! Eu estou bem... Isso foi só estresse!
Ela disse tocando sua testa, Pither parecia realmente preocupado. Fiquei enciumada da forma que ele olhava pra ela, e a cobria de atenção.
- Déborah não seja teimosa! Naná chame o meu pai! Ele disse medindo a pulsação dela, com os dedos em seu braço.
- Foi a sua protegida, a Esther! Ela disse fazendo queixa.
- O que? Ele perguntou confuso.
- Sua amiguinha, me ofendeu e zombou de mim e do nosso filho hoje! Eu disse a ela que não podia passar nervoso, mas ela me deu as costas e continuou me provocando!
Naná balançou sua cabeça totalmente contra as reclamações de Deborah. Depois ela seguiu para a escada, a caminho do quarto do Senhor Álvaro.
Voltei para o meu antes totalmente desanimada. Fechei a porta e me joguei na cama. Ela com certeza estaria fazendo a cabeça dele agora, contra mim.
Ouvi vozes no corredor e passos que desciam e subiam as escadas, depois tudo ficou quieto. Tentei dormir para esquecer as minhas decepções, mais uma voz escoava na minha cabeça me chamando de intrusa. E eu via a imagem de Pither carinhoso com Deborah na sala.
Balancei minha cabeça tentando espairecer. Foi quando alguém bateu na porta, e ela se abriu.
Virei minha cabeça para o lado e era Pither lindamente em minha porta.
- Posso falar com você? Ele disse entrando dentro do quarto. A primeira coisa que me veio à cabeça foi ele questionando meu comportamento ofensivo com Déborah.
- O que você quer? Falei me levantando. Estava estressada, e ele fechou a porta. - Se veio reclamar do modo como agi com a Deborah, saiba que eu não consegui tolerar...
- Eiii! Relaxa... Eu não vi reclamar nada! Ele disse me olhando assustado.
- Ah não? Perguntei duvidosa.
- Não! Pither ficou frente a frente comigo. - Vim te pedir um favor!
Soltei meu corpo aliviada, mas me perguntando que tipo de favor eu poderia fazer a ele?
- Esther! Há dias eu prometi a secretária do meu pai que conseguiria uma pessoa pra ajuda-la, pelo menos na parte da manhã... E gostaria que você fosse, é... Trabalhar comigo!
- Eu?? Falei surpresa.
- Você não precisava ir se não quiser! Ele disse sem graça.
- Eu quero muito Neto! Falei animada. - Obrigada pela oportunidade!
- Eu... Queria ter falado antes, mas com a chegada da Déborah... E a gente tem dado uma afastada esses dias!
Pither estava cauteloso, como se avaliasse suas palavras. Ele estava triste eu pude ver nos seus olhos, aquele cara que me conheceu no orfanato voltou a ressurgir dentro dele.
- Tá tudo bem? Falei o fitando seus olhos. Ele assentiu que sim, mas eu não acreditei. - Neto se precisar conversar...
Pither roçou minha mão com seu dedo, meu coração deu uma palpitação.
- Esther sua proposta, ainda está de pé? Ele perguntou angustiado. Eu fiz cara de confusa, não sabia do que ele falava. - Saiba, que se tiver... Minha resposta É Sim! Eu aceito fugir com você...