(Esther)
Quando ouvi a palavra Grávida', senti meu corpo balançar! Pither ficou em estado de choque, vi quando ele caminhou de costas parando no sofá. Ele soltou seu corpo, caindo sentado sobre as almofadas. Déborah veio até mim, com seu sorriso sarcástico.
- Não vai me dar os parabéns, Esther?!
Disse da forma mais maléfica possível. - Pither e eu vamos ser papais!
Perdi o chão na mesma hora. Olhei para Pither que passava sua mão pelos cabelos, e a outra sobre a barba.
- Parabéns Déborah! Falei. - Seu filho não podia vim em hora melhor!
Senhor Álvaro apareceu da cozinha e sorrindo se aproximou.
- Bom dia! É reunião de família aqui na sala?
- Bom dia Álvaro! Déborah o cumprimentou com toda a hipocrisia do mundo. - Eu vim trazer uma ótima notícia!
- Pois então diga! Ele respondeu. Enquanto Pither continuava mudo, de cabeça baixa, como se o assunto nem era dele.
- Eu fiz um teste de gravidez, e deu positivo! Senhor Álvaro arregalou seus olhos, deixando sua boca abrir sozinha.
- Eu não acredito!! Ele disse admirado. - Eu vou ser avô?!
E mais um pedaço do meu coração estilhaçou pela sala.
- Aaah! Não estava nos meus planos... O senhor sabe que eu trabalho no mundo da moda, mas um filho é sempre bem vindo!
- Com certeza... Ele disse orgulhoso. - E você Pither, deve estar radiante de felicidade?!
Senhor Álvaro se voltou para Pither, que nem pra ele olhou. Ele ficou sério por um instante, e depois voltou sua atenção para Déborah.
- Querida! Vamos para a sala de jantar? Quero que você me conte tudo sobre os preparativos do bebê!
Ele estendeu seu braço a Deborah e saíram da sala, conversando sobre a chegada da criança. Pither virou sua cabeça me olhando, seus olhos estavam marejados, ele estava acabado.
- Isso não está acontecendo!! Ele disse aflito.
Respirei fundo para não começar a chorar também. Pither passou as mãos pelo rosto e se levantou balançando a cabeça.
- Esther!! Ele disse me olhando. - Por que está dando tudo errado? Seus olhos continham sofrimento. - Não era pra isso acontecer!
- Você teve sua parcela de culpa, também! Falei.
- Eu juro que terminei com ela! Eu não sabia da gravidez... Eu não posso e nem quero ficar com a Déborah! Eu não a amo!
Me aproximei de Pither o fitando nos olhos.
- Isso não está mais em nossas mãos Néto! Meu coração batia acelerado. -Agora temos um inocente entre a gente!
- Eu não vou cair no golpe da Déborah!! Ele disse alterado. - É isso que ela quer! Que você me deixe! Você não percebe que é uma armadilha?!
- Armadilha ou não, aqui temos um exame!! Falei angustiada. - Neto eu sinto muito...
- Nãoo! Agora que a gente se entendeu!! Ele disse tocando na minha mão com seus dedos. - Tudo o que eu disse ontem era verdade... Esther eu amo você!
- Eu também amo você!! Mais não dá... Como vamos assumir nosso amor pras pessoas com a Deborah grávida?!
Falei sentindo uma lágrima escorrer pelo canto do olho. - Sempre vai a ver o seu filho entre a gente! Isso é demais pra mim!
- Você está desistindo? Ele perguntou com seus olhos vermelhos, maxilar tenso e a voz rouca como de costume.
- Deus sabe como eu quero ficar com você, Neto! Mas a gente não nasceu pra ficar juntos... Falei já sentindo meu rosto queimar.
- Eu não vou me casar com ela! Ele disse beijando minha mão. - Se você não me querer agora, eu vou te esperar... Você vai perceber que cometeu um erro e vai voltar pra mim!
Senti o nó na garganta se transbordar pelo rosto, e balancei a cabeça soltando sua mão. Me virando corri para o quarto subindo as escadas quase tropeçando.
(Pither)
Isso não é justo! Pensei. Sentei me no sofá encostando minha testa sobre as mãos. " Cara! Eu não tô rejeitando o meu filho, mas eu preferia que a mãe dele fosse a Esther!". Suspirei fundo e comecei a conversar em pensamentos como se alguém fosse me ouvir.
..." Sabe! Eu sei que não sou perfeito... Sou impulsivo, meio egoísta e não consigo me expressar como gostaria! Mas por outro lado, eu sou bonzinho, Esther mudou a minha vida completamente. Antes eu era um rebelde, bêbado e brigão... Adorava provocar o meu pai! Meu coração estava cheio de mágoas no que deu lugar para um grande amor! Amor que eu não sabia que poderia sentir um dia.
Esther me fez prestar atenção em coisas que eu desprezava. Conseguiu me fazer rir em momentos em que não tinha a menor graça. Ela deixa a vida mais leve, com seu jeito meigo, inocente e delicado. Eu finalmente consegui admitir o meus sentimentos pra ela! Aquele espaço vazio que eu tinha no meu coração foi preenchido... O meu corpo lateja quando eu toco em sua pele, ou beijo a sua boca! É algo surreal... Nem as Americanas me fizeram sentir o que eu sinto por ela! É como um ímã, não consigo me afastar! O desejo queima em minhas veias. Ontem ver ela se entregando pra mim outra vez, fez eu tomar coragem, e forças para entregar o meu coração a ela. Eu não tenho mais medo! O amor é algo sublime! E se o preço para ama-la e ficar meio bobo, eu aceito numa boa!"
Naná apareceu na sala vindo em minha direção. Levantei minha cabeça e olhei pra ela.
- Diz que é mentira, o que eu acabei de saber, filho?! Ela se aproximou e eu a abracei. - Você sabe que foi tudo planejado?!
Naná me abraçou forte e encostei minha cabeça no seu ombro.
- Planejado ou não, do que adianta se lamentar agora?! Falei.
Ela se afastou e encarou o meu rosto.
- Pither! Você não vai se casar com ela né? Naná disse apreensiva.
- Claro que não! Falei caminhando pela sala. - Não sou tão i****a!
- E o que vai fazer? Ela perguntou.
- Assumir o meu filho... Aliás ele não tem culpa de eu ser tão irresponsável!
- Não diz isso! Ela balançou a cabeça.
- Naná eu me sinto horrível! Falei me virando pra ela. - Eu perdi a Esther... E perdi pra sempre!
- Não se precipite filho! Ela está chateada... Esther vai pensar melhor!
- Não vai! Ela saiu arrasada... Disse que a gente não dá certo! Soltei o ar pela boca nervoso.
- Calma Pither! O tempo cura tudo...
- Que seja! Falei. - Agora vou para a clínica, antes que Déborah volte com o seu cinismo!
- Até mais tarde filho! Beijei seu rosto e fui trabalhar.
(...)
Pâmela me olhou assustada quando cheguei sem minhas roupas apropriadas. Eu estava desnorteado passei por ela dando " Bom dia" entre os dentes.
Entrei na minha sala, nem sei se ela respondeu. Sentei-me na cadeira e joguei meu corpo pra trás. Comecei a pensar no que ia fazer da minha vida.
(Esther)
Deborah venceu! Ela tinha uma carta na manga como dizia a minha diretora Míriam. Eu fui uma boba, achar que dessa vez as coisas iam fluir... E eu ia finalmente ser feliz.
Déborah foi embora, e o Senhor Álvaro nem foi para a clínica. Ouvi ele discutindo com o filho no escritório na hora do almoço. Pither gritava aos quatro cantos que não ia se casar com a Déborah! Ouvi ele dizer vários palavrões... Como "Se f**a" o prestígio da família! E mandando a imprensa e a Família D'Ávila " Para p**a que pariu!" Ouvi ele chamar Déborah de golpista, e interesseira várias vezes... Seu pai m*l conseguia falar! Mas pude ver que ele estava calmo. Seu filho por outro lado explosivo bateu a porta ao sair. Os empregados de simularam uma cena, fingindo que não ouviram o bate boca quando Pither chegou na cozinha. Seus olhos me encontraram e eu quase tive um colapso! Ele nem disfarçou dessa vez, fitou me por alguns instantes e saiu.
Voltei a ajudar Olívia com as cenouras. Naná arrumava a mesa e Valdete foi aspirar o tapete. Antes ela passou por mim e disse com seu jeito engraçado.
- Égua não! O Doutorzinho engravidou mesmo aquela desnutrida? Perguntou ao pé do meu ouvido.
- Déborah está esperando um filho do Pither! Falei sem desviar a minha atenção do que estava fazendo.
- Mas quando?? Ela disse estabanada. Em linguagem Paraense ela quis dizer que "Eu só poderia estar brincando". - E tu vais ficar assim, de braços cruzados?
- E o que você quer que eu faça? Perguntei desanimada. Ela se aproximou mais quase sussurrando.
- Patroinha! Essa tal de Deborah tem cara de 'rampeira'... Tu não achas que ela pode ter 'engabelado' o Doutorzinho?
Naná apareceu na mesma hora e Valdete cortou o assunto indo para a sala. Eu fiquei quieta mas minha mente trabalhava sem descanso... O que a Valdete disse poderia ter muito sentido! Eu sabia que aquela "lagarta'' traía o Pither!E quem garante que esse filho seja mesmo dele?!
Balancei minha cabeça para espairecer pensamentos ruins. Como eu vou provar as suspeitas da Val e minha?!
- Tá tudo bem querida? Naná veio até a mim.
- Está sim Naná! Falei assentindo.
- Saiba que se precisar conversar... Eu estou aqui!
- Sim, eu quero! Me virei pra ela. - Mas não aqui!
Naná concordou apertando meu ombro e voltou para a sala de jantar. Pither não desceu para almoçar. Valdete me disse que não se atreveu a chama-lo no quarto, preferiu deixar aquele cômodo sem limpar mesmo. Senhor Álvaro permanecia quieto na mesa. A casa inteira estava em um completo silêncio, até que a campainha tocou.
Vi quando a Val foi abrir e voltou calada até nós na mesa.
- Doutor! O Senhor precisa ver uma coisa!
Ela parecia tão preocupada que não aguentei, e perguntei a ela quando Senhor Álvaro saiu.
- Espia! A tal de Déborah está aí patroinha! E de mala e tudo!
Me levantei e olhei pelo canto da porta avistando Déborah, e uma mala enorme que parecia ter vindo de mudança. Ela falava alguma coisa em voz baixa, encenando um falso choro. Senhor Álvaro assentiu e ela o abraçou de repente.
- A bruaca vai morar aqui não vai? Val perguntou ao meu lado.
- Pelo jeito sim! Falei ainda olhando pra eles.
- Pobre Doutorzinho, quero ver escapar dessa encrenca! Val também espiava junto comigo, quando vimos Pither descendo as escadas. -''É-g-u-a! O Doutorzinho tá descendo! Ai papai! A Déborah vai levar o farelo! "
-O quê??? Perguntei sem entender nada!
- Shiiiii! Val fez sinal para mim se calar. - É dizer da minha terra! Agora se arreda aí pra nós ouvir a pancadaria, galega!
(Pither)
Desci as escadas estressado, irritado, amargurado, indignado, aloprado... E bota mais "Ado" nisso! Vi Déborah parada na sala com uma mala gigantesca.
- Pither! Papai me chamou quando cheguei no último degrau da escada. - Déborah brigou com os pais, por isso vai passar uma temporada com a gente.
Olhei pra ela com a cara mais irônica que pude fazer.
-E o que eu tenho a ver com isso? Falei olhando pra ela.
- Como o que? Ela colocou sua mão na cintura. - Eu sou a mãe do seu filho!
- Deboraaaah! Falei seu nome exatamente assim. - Já vai ser um Karmann ter você aqui, não precisa ficar me lembrando disso à cada cinco minutos.
Déborah balançou sua cabeça incrédula. Eu me virei indo pra cozinha mas ela me chamou.
- Não vai levar as minhas coisas lá pra cima? Parei no caminho e respondi ainda de costas.
- Você está grávida! Não inválida! Voltei a andar em direção a cozinha.