(Esther)
Nessa hora uma crise de desespero me tomou. A nossa briga era contra o relógio, eu tremia tanto que sentia o sofá balançar.
- Vai dar tudo certo! Vamos ter fé! Naná disse se sentando ao meu lado.
- Diana se o pior acontecer...
- Shiiiii! Ela disse pegando a minha mão. - O meu menino é forte! Ele já acordou de um coma, vai sair dessa!
- Eu amo ele demais... Eu morreria se acontecesse alguma coisa com ele, Naná! Ela me abraçou e eu desabei ali.
- Chora filha! Ela disse massageando minhas costas. - Vai passar!
Ficamos abraçadas não sei se por minutos ou por horas. Pois o tempo não era benevolente com ninguém.
Eu via um movimento estranho no hospital, e eu sabia que o caso mais complicado era o dele.
Enfim Matheus chegou com o Miguel logo atrás. Eu me afastei de Naná e me levantei indo ao encontro deles.
- Miguel! O chamei quase suplicando.
- Fica calma Esther, hoje eu não bebi! Coincidentemente acordei e...
- Tá Miguel! Matheus o interrompeu. -Agora não dá tempo pra conversinhas!
- Eu vou até o ambulatório! Miguel me deu um sorriso reconfortante.- Ele vai ficar bem!
Os dois seguiram os corredores e eu voltei a ficar inquieta. Mil coisas passam pela nossa cabeça! A tensão é tão grande que a gente sente as veias quase secarem, e o sistema nervoso palpitarem em meio ao corpo.
Vi Senhor Álvaro tomar um remédio pros nervos. Naná orava baixinho ainda no sofá angustiada, e eu feito uma bomba relógio andava de um lugar para outro com o que me restou de um coração. Ainda muito tensa para sentir um pouco de alívio com a chegada de Miguel.
A espera era um martírio! Quando vi Miguel sair pela porta, eu analisei seu rosto estava sem expressão. Então meus olhos se voltaram para o seu braço onde tinha um esparadrapo colado, soltei o ar no mesmo instante.
- Deu certo! Ele suspirou quando chegou na sala de espera. - Agora vão opera-lo, espero que o corpo dele aceite o sangue...
Todos concordaram e voltaram às suas orações. Miguel veio até a mim.
- Vão extrair a bala! Eu já vi isso nos filmes, ele vai ficar bem!
Sua intenção de me fazer rir foi inútil.
- Obrigada! Eu sei que vocês estavam brigados...
- Esther independente de alguma diferença que eu tenha com o Pither, ele sempre vai ser a minha família!
Eu não conhecia Miguel direito, mas de um certo modo ele salvou a vida do Pither. Então o abracei para que ele soubesse como eu estava agradecida.
- Você vai ver a cirurgia vai ser um sucesso! O Pither vai voltar pra você com aquele jeito brincalhão, e ainda mais ciumento do que nunca! Olhei pra ele e sorri em meios as lágrimas.
- Eu amo ele Miguel! Falei passando minha mão pelos olhos.
- Ahh isso não me resta dúvidas! Ele deu tapinhas na minha cabeça. - Chora não menina! Isso só vai fortalecer ainda mais o amor de vocês!
(...)
" 4 Horas depois..."
Naná já foi medir a sua pressão duas vezes, Senhor Álvaro foi tomar um chá na cafeteria. Luísa e Matheus não se afastaram nenhum minuto da gente. Miguel também estava por ali desolado, esperando notícias assim como todos nós. Esperando um milagre!
Eu estava encolhida em um dos cantos, acho que nem tinha mais lágrimas para chorar. Só o que me restava era a confiança em Deus.
O médico apareceu secando a testa com um lenço, eu dei um pulo totalmente esperançosa.
- Terminamos a cirurgia, extraímos a bala e ele está instável... Estamos esperando o paciente voltar da anestesia e reagir!
O médico saiu e todos de certa forma ficaram conversando sobre uma possível melhora de Pither. Eu saí discretamente em meio a conversa e segui uma enfermeira até os corredores. Ela não percebeu, e eu continuei a seguindo até que chegamos em um determinado quarto. Ela entrou e eu fiquei a olhando pelo vidro, ela levava medicamentos em uma bandeja como injeções e soros. Quando avistei a cama vi Pither deitado como se estivesse dormindo, senti uma lágrima cair dos meus olhos.
- A senhorita não pode ficar aqui! Ouvi a voz de uma outra enfermeira que se aproximava.
- Deixa eu entrar um minuto? É só um minutinho!
- Eu não tenho permissão do médico! Ela disse ainda séria.
- Mais a senhora não vai proibir uma moça que está com o coração partido, de ver seu noivo entre a vida e a morte num leito de hospital?! Eu não tenho pai e nem mãe, minha única família se resume a ele! Por favor, deixe me vê-lo eu te imploro!
Ela balançou sua cabeça como se estivesse nervosa.
- Eu posso ser suspensa por isso... Tá! É dois minutinhos, nenhum minuto a mais!
- Obrigada! Falei agradecida.
(...)
Aqui estou eu de máscara, luvas e touquinha. Toda equipada para entrar no quarto do Pither. A minha primeira reação foi querer abraça-lo, ele parecia tão indefeso ali deitado naquela cama de hospital.
O Pither apesar de sempre gostar de irritar o pai, e ser um cara um tanto impulsivo. Ele era forte! Perdeu a sua mãe tão jovem, que era uma âncora em sua vida! Depois voltou de um coma, e mesmo sem nenhum motivo real ele lutou e se formou. Mesmo sabendo que sua mãe não ia estar presente no dia da sua formatura.
Ele via a vida sem sentido, e nada mais tinha um valor ou significado! Mas uma coisa a gente sabe, ele nunca deixou de mostrar a Diana o quanto ela é importante na vida dele.
Quando eu encontrei ele pela primeira vez eu não sabia que ele era órfão de mãe. E nem que ele estava noivo de uma moça psicótica e ambiciosa. Também não sabia dos seus dilemas e nem de suas pirraças com o Doutor Álvaro! Mas eu vi um anjo! Alguém que cuidou de mim desde a primeira instância! Que nunca desistiu de me ajudar mesmo eu sendo teimosa, e recusando ajuda! Como eu disse ele não é perfeito... Mas é a melhor coisa que aconteceu na minha vida! Se ele não resistir ao que está acontecendo eu não tenho porque lutar! Eu devo isso a ele! Porque ele acreditou em mim, e melhor confiou em mim, quando todos me viraram as costas! Ele é lindo por dentro e por fora. E meu anjo da guarda não pode partir desse mundo sem saber que de alguma forma, eu sou diferente.
Ele estava deitado, sobre seu peito nu havia um lençol branco. Seus braços haviam vários acessos de soros por onde ele recebia todos os medicamentos necessários. Do lado esquerdo um aparelho registrava seus batimentos cardíacos... Eu não vou negar, eu jamais pensei que ia vê-lo naquela situação!
Silenciosamente eu me aproximei, coração ardente de tristeza e minhas mãos trêmulas alcançaram suas têmporas. Seus cabelos rebeldes caiam sobre o travesseiro, onde eu delicadamente os toquei com carinho. O aparelho fez um barulho, eu levantei meus olhos percebendo que seus batimentos cardíacos haviam sido aumentados...
" Ele sente a minha presença".
-Oi meu amor! Falei em sussurro. Ainda acariciando os seus fios sedosos. - Eu encontrei uma enfermeira boazinha que deixou eu vim te ver um pouquinho! Ele continuou imóvel, olhos fechados porém seus batimentos mostravam que ele estava me ouvindo. - Eu quero que saiba que sua família inteira está aí fora e estão torcendo por você! Até seu pai com aquele jeito dele marrento está muito preocupado... Neto! Você é o menino mais forte que eu já conheci! E eu sei que você vai sair dessa! Claro que vai! Você ainda não deu o meu gatinho de estimação que eu pedi. E a gente não voltou para a casa de campo, pra eu terminar o desenho da sua mãe...
Sorri ao lembrar dele reclamando do Sucrilhos, o gato do Miguel.
- Volta pra mim! Pra sua família... Eu quero que você saiba que ... Antes mesmo de você aparecer, sabe! A garganta deu um nó e meus olhos transbordaram em lágrimas. -Antes de você aparecer e me resgatar daquele orfanato eu já te conhecia... Uma vez eu sonhei que você chegava em um aeroporto. Hoje eu sei o que é aeroporto porque você me explicou, mas naquele momento eu não entendia! E você trazia malas... Você tinha um passaporte nas mãos, e parou no meio do caminho para certificar o seu vôo... Você estava voltando para o Brasil... Voltando pra casa! Depois de anos estudando. E então eu soube que naquele momento era um sinal, pra mim esperar só mais um pouquinho que a gente ia ser apresentado... Por isso quando eu falei pra você que eu realmente te esperei a minha vida inteira... Eu literalmente estava sendo sincera! Neto me perdoa por não te contar antes! Acho que você já percebeu que eu sou medrosa... Mas quero que saiba que eu sou diferente, e...
- Senhorita! A enfermeira me chamou. -Desculpa mais seu tempo acabou!
Assenti com a cabeça e voltei para Pither.
- Eu vou ter que ir... Mas vou estar bem alí do lado, esperando você acordar! Eu te amo Neto! Nunca se esqueça disso! Você é o amor da minha vida!
Saí do quarto quase desabando, e me sentei no banco que tinha no meio do corredor.
- Por favor, me deixe ficar aqui?! Eu juro que vocês não vão nem notar a minha presença... Mas não me afasta dele!
- Tabom... Ela disse comovida. Tirei todos aqueles equipamentos de proteção e me encostei no banco. Olhando meu amor pelo vidro.
A enfermeira trouxe um cobertor me entregando.
- Toma! Se vai passar o resto da madrugada aqui, pelo menos se sinta aquecida!
- Obrigada... Que horas são? Perguntei.
- São cinco e meia! Meu turno se encerra as sete. Então qualquer coisa é só me chamar!
Assenti agradecida por seu gesto solidário. E ela voltou a cuidar dos outros pacientes, me deixando naquele corredor. Onde me enrolei no cobertor, tirando meus sapatos que já doíam os pés, os colocando sobre o banco. E entrelacei minhas mãos em volta das minhas pernas, encaixando meu queixo sobre o joelhos. Dali eu não saía antes que ele acordasse.