(Esther)
- Esther! Luísa me abraçou ao se aproximar de mim. - Como você está garota?
- Bem obrigada! Ela cumprimentou o homem e ficou do meu lado o tempo todo, ouvindo a proposta daquele tal senhor.
Do nada meu coração começou a acelerar e senti meu rosto suar frio. Minhas mãos geladas estavam trêmulas e minha boca começou a ficar extremamente seca. Uma voz soava dentro de mim... O sonho Esther"
- Está tudo bem, Esther? Luísa disse cortando a conversa.
- Não! Não estou nada bem! Falei um pouco nervosa. - O Senhor se importa se conversarmos depois?
- Claro que não! Esse é o meu cartão! Ele disse me entregando. - Melhoras para a senhorita!
Assenti e me afastei com Luísa de braços dados a mim.
- Esther o que você tem? Está pálida!
- Luísa! Cadê o Pither?? Perguntei já me faltando ar.
- Ele está com o Matheus! Quer que eu vá busca-lo? Ela disse vistoriando o local com os olhos, percebi que ela dava sinal para alguém.
Matheus chegou alegre, quando nos viu daquela forma.
- Está acontecendo alguma coisa? Ele se aproximou de mim preocupado.
- Matheus onde está o Pither? Esther está se sentindo mal... Luísa disse rápida.
- Ele não está! Levantei meus olhos na hora. - A NOJENTA da Déborah passou m*l! E ela praticamente implorou que ele a levasse pra casa!
Senti uma pontada tão forte no coração que tive que me segurar em Luísa para não cair.
- Nãoo! Falei meio sem voz. - Ele não podia ter ido!
- Esther o que você está sentindo? Matheus segurou no meu braço e encarando meus olhos. Me analisava preocupado.
- Eu preciso falar com a Naná! Falei me afastando.
- Esther você não tá bem! Pode cair se sair andando desse jeito! Luísa me segurou, mas eu a ignorei e saí como se pisasse em ovos em meio a multidão.
Naná conversava com Senhor Álvaro com um copo de ponche em uma das mãos. Quando cheguei meia alterada, a puxando em um canto.
- Naná você precisa ligar imediatamente para a Polícia! Pither foi levar Déborah na casa dela...
Percebi que Naná estava meio aérea, quase não prestava atenção e não tinha foco em mim.
- DIANA! Gritei em meio a música, ela se virou pra mim imediatamente.
- O que foi Esther porque está gritando?
Nessa hora Matheus e Luísa chegaram atrás de mim.
- Luísa você está de carro? Perguntei.
- Sim, ele está estacionado aqui na frente...
- Você sabe chegar na casa da Déborah? Minhas pernas tremiam.
- Sim! Não fica muito longe daqui!
- Vamos então! Falei.
Luísa, Matheus, Naná e eu saímos feito disparate até o carro. Matheus dirigia enquanto eu roía as unhas no banco detrás.
- Você pode me explicar o que está acontecendo? Naná veio perguntar em meio ao meu alvoroço.
- Você precisa ver para entender... Dá pra ir mais rápido Matheus!
Falei desesperada enquanto todo mundo estava desnorteados sem entender nada. E eu lutava contra o relógio temendo ter acontecido minha trágica premonição.
- Matheus não pega a rua do semáforo! Falei de imediato pois no meu sonho Pither não passava por alí.
- Esther, mas o outro caminho a rua é deserta... Certamente Pither viria por aqui!
Luísa que também já não aguentava de tanta aflição questionou.
- Matheus faz o que Esther tá dizendo vai pela deserta! Que eu já estou ficando assustada!
Foi só Matheus cruzar a travessa que vimos o carro do Senhor Álvaro parado em um cruzamento.
- Meu Deus é o carro do Pither! Luísa disse assustada.
- Para o carro! Gritei abrindo a porta e saindo pela rua correndo feito uma louca, indo em direção ao carro dele.
Quando me aproximei vi que o parabrisa estava despedaçado, estilhaços por toda a parte. Os faróis estava arrebentados e muita sujeira no chão. Abri a porta e vi Pither caído sobre o banco, diante dele uma imensa poça de sangue.
- Pither! Meu Deus o que fizeram com você? Toquei no seu rosto tentando chamar a sua atenção mas ele não me respondeu. E o pior passou pela minha cabeça! Eu perdi o amor da minha vida!
Matheus se aproximou de mim assustado arregalando seus olhos ao ver o primo naquele estado.
- Alguém chama uma ambulância! Ele gritou pondo suas mãos sobre a cabeça. - Esther não mexa nele!
Senti uma cachoeira escorrer por meus olhos.
- Pither falar comigo! Gritei. - Seja forte meu amor! Toquei na sua mão sentindo o sangue esguichando por seu abdômen.
Matheus tocou no pulso dele muito angustiado.
- Ele tem pouco pulso mais esta vivo! Ouvi o grito ensurdecedor de Naná pela rua.
- Meu filho não! Enquanto vários curiosos se aproximavam do local mediante aos gritos e desespero de todos.
Pither se remexeu no banco, parecia tremendo.
- O que ele tem? Perguntei entre gritos e lágrimas.
- Está agonizando... Matheus me disse abatido.
- O que isso quer dizer? Chorei de desespero.
- Eu sinto muito Esther!
(Pither)
Será que dói morrer? Essa é uma pergunta que ninguém te responde! E nem como você vai morrer... Tudo isso é um enigma! Mas de uma coisa eu sei, armaram pra mim! Disso eu tenho certeza!
Pude perceber o Corolla preto que me seguia desde a rua da Déborah. Eu tentei desviar, segui um outro trajeto e eles subiram outra rua, mesmo assim eu não respirei aliviado. Também nem deu tempo, eles cruzaram o meu caminho antes mesmo de eu conseguir ligar para alguém.
Não era assalto! Os marginais já desceram atirando, e não levaram nada! Juro por Deus, que naquele momento a única coisa que pensei foi em Esther! Depois que você vê uma calibre 38 apontada para você, raciocinar é algo bem difícil de se fazer... Mas eu pensei nela! Foi quando senti algo atravessar o meu corpo. Me joguei no chão e eles continuaram atirando. Cara! Dói! Dói muito levar um tiro, eu nunca senti tanta dor na minha vida... Mas o que eu mais desejava era que eles fossem embora.
Naquela rua deserta eu não vi como pedir ajuda! A camiseta branca já estava empapada com o sangue que fluía por todo o meu abdômen. Eu vou morrer aqui sozinho num banco de um carro! Numa rua deserta no centro de São Paulo!
"Mãe! Me dê forças para aguentar! Não tem ninguém que possa cuidar da Esther por mim..." A respiração está encurtando, sinto meu rosto suar frio! Acho que é a minha pressão que está caindo... " Deus! Me manda ajuda de onde quer que seja, eu... eu...! " Perdi a consciência.
(Esther)
-Me Perdoa meu amor! Vai ficar tudo bem, eu juro! Foi a única coisa que pude dizer antes de colocarem Pither numa maca, e o samu o levarem para o hospital.
O tempo todo ele pedia água! Acho que estava delirando. Os paramédicos estancaram o sangue. Enquanto Matheus ligava para o Senhor Álvaro que até então não sabia de nada. Naná chorava muito! Ela e Luísa foram ao encontro do pai de Pither. Enquanto eu fui para o hospital junto com o Matheus.
- Esther você tem que ser muito forte! Foi as palavras que ele me disse antes de chegarmos no hospital.
Enquanto Pither pedia água eu chorava em meio ao desespero. Você não sabe como é a sensação de que está perdendo alguém!! É como se arrancasse um pedaço de você!
Aquelas sirenes me davam tonturas, e eu estava muito enjoada! Acho que devido ao forte cheiro de sangue e o tumulto que fizeram na rua. Chegamos ao hospital, e eu desci correndo passando as mãos no rosto de Pither.
- Vai ficar tudo bem! Você é forte! Eu falava entre lágrimas e soluços.
- A senhorita não pode entrar na emergência! Por favor espere na recepção! Um dos enfermeiros me advertiu.
Parei no corredor enquanto o meu anjo seguia com os médicos para dentro da UTI.
- Ele não não pode morrer! Falei me virando para Matheus, e ele me abraçou com os olhos marejados.
- Esther! O Pither é forte! Eu já vi ele passar por algo parecido uma vez!
Assenti sentindo o meu rosto latejar. Eu o amava tanto não podia perde-lo dessa forma.
Senhor Álvaro e os demais chegaram e eu me afastei de Matheus.
- O que aconteceu com o meu filho? Vi um Álvaro desesperado e aflito.
Só o que as recepcionistas nos pediam eram calma!
Naná andava de um lado para o outro impaciente. Matheus e Luísa sentaram-se em um dos sofás e calados ficavam somente aguardando. O que nos restava era somente esperar.
E essa angústia que me sufocava, que me matava... Me levantei e fui até o banheiro, fechei a porta e praticamente me joguei no chão...
"Deus! Hoje me encontro aqui num banheiro de um hospital. Sei que ando meio afastada de ti, e te peço perdão pelas inúmeras vezes que deixei de orar por fraqueza ou até desobediência minha! Mas eis me Aqui! Te suplicando pela vida do Pither! Não leve-o! Por favor deixe o aqui, eu preciso muito dele! Sei que no céu há muitos anjos, e ele é o meu! Deixe o comigo... Não o leve, eu imploro! "
Alguém bateu na porta me tirando da total concentração.
- Esther?! Tá tudo bem? Era Naná. Eu estava de joelhos quando me levantei para abrir a porta e senti o mundo girando. Agradeci por estar num banheiro, pois tudo o que eu tinha comido infelizmente voltou. Enquanto eu ouvia Naná bater mais forte na porta.
Me sentei no chão batendo a cabeça sobre a parede fria e destravei a porta para que ela entrasse.
- O que houve filha? Ela disse me vendo naquele estado.
- Fica tranquila é só um m*l estar, eu já vou melhorar! A náusea voltou e eu vomitei outra vez.
- Não parece ser só um m*l estar... Ela me analisou preocupada.
- Eu só estou nervosa! Já trouxeram notícias do Pither? Perguntei respirando com dificuldades.
- Não! Ele está sobre os cuidados médicos! Ela voltou até a porta.- Filha eu vou esperar você aqui fora!
Balancei a cabeça enquanto abria a minha bolsinha, pegando meu lenço e limpando a minha boca. Eu não estava bem, mas precisava ser forte para aguentar aquela pressão.
Dei um jeito naquela bagunça do banheiro e voltei para a sala de espera.
- Esther como você soube que Pither estava em perigo? Foi a pergunta que o pai de Pither me fez quando eu fui beber água.
Eu não ia contar para o Senhor Álvaro que eu vi tudo num sonho misterioso. E que eu fui covarde o bastante para não contar para o filho dele.
- Ele me ligou minutos antes, dizendo que tinha alguém seguindo ele! Mas eu não consegui entender porque a ligação caiu em seguida.
Menti da forma mais r**m possível! Ainda bem que alí não era lugar em que as pessoas costumavam raciocinar muito.
Não se estava em jogo a vida do seu filho, pois ele descobriria o meu nervosismo.
" A culpa foi minha!" Era só o que eu conseguia sentir... Remorso! Eu devia ter prendido ele em casa, e cancelado aquela maldita exposição! Ele estava tão empolgado! Que nem por um segundo acreditou nos meus maus presságios.
O Pai de Pither muito abalado assentiu voltando para o seu lugar. Quando um homem vestido de branco chegou, só podia ser o médico.
- Vocês são os familiares? Ele perguntou sem emoção.
- Eu sou o pai dele! Senhor Álvaro tomou a frente.
- O caso do seu filho é crítico, a bala perfurou o fígado, e ele perdeu muito sangue... Quase infartamos na hora. -Estamos sem estoque de sangue. Precisamos de um doador com urgência! O paciente vai passar por uma cirurgia em seguida!
Ele saiu deixando o seu recado, enquanto rostos aflitos marcaram aquele lugar.
- O Senhor... Me virei para Álvaro. - O Senhor é o pai dele, precisa doar!
Ele abaixou a cabeça desapontado.
- Eu não posso! Eu não tenho o mesmo tipo sanguíneo do Pither! Ele deixou uma lágrima cair.
- Como não você é o pai dele?! Falei exasperada.
- Esther calma! Matheus se aproximou tocando meu ombro. - As coisas não são assim como você pensa! Não é porque eles são pai e filho que necessariamente tenham o mesmo sangue!
Meu coração que já não restava mais nenhum pedacinho a se quebrar terminou de trincar tudo.
- O sangue do Pither é raro! Como o da mãe dele! Senhor Álvaro parecia transtornado em não poder ajudar. - Precisamos de doadores O negativo. Pois pessoas desse tipo sanguíneo não aceitam outro doador!
- Matheus? Me virei procurando soluções.
- Me desculpe Esther meu sangue é A!
- Luísa? Falei dando um nó na garganta.
- Eu sinto muito o meu é AB!
"Isso não está acontecendo?!" Meu Deus eu preciso de sangue ou o meu amor vai morrer!
- Naná? Ela balançou a cabeça muito angustiada e chorando. Eu já sabia a resposta.
- Matheus será que eu não posso doar?
- Não Esther você é menor de idade! Eles não aceitam...
Sentei me no sofá completamente fora de si. Quem poderia aparecer assim e doar sangue para o meu anjo? E pior quem teria o mesmo tipo sanguíneo dele, com essa disposição de altruísmo uma hora dessas?!
Comecei a bater a perna no chão tentando pensar nas possibilidades! Eu não desejo esse desespero pra ninguém... É como se a vida da pessoa que você mais ama no mundo, estivesse dependendo de todos nós aqui fora!
- Esther! Matheus voltou se para mim se agachando. - Eu conheço uma pessoa que pode nos ajudar!
- O sangue é compatível? Perguntei eufórica.
- Sim! O sangue dele é O-!
- E o que você está esperando para trazer-lo? Falei ansiosa.
- Esther a pessoa de quem eu falo é o meu irmão Miguel! Engoli em seco no mesmo instante.
- Matheus! O Miguel vive bêbado não vai poder ajudar!
- Calma! Ele disse com esperança. - Eu vou busca-lo! A gente não tem outra alternativa...
- Faça o que for necessário!
Matheus assentiu, e pegando a mão da sua namorada saíram do hospital.