(Esther)
Passando se alguns minutos eu vi que o dia estava amanhecendo. Luísa me avistou no fim daquele corredor e veio até a mim correndo.
- Meu Deus Esther, está todo mundo te procurando...
- Olha! Falei indicando com a minha cabeça o vidro do quarto.
- É o Pither! Ela disse se virando.- Esther... O amor de vocês é inspirador sabia?! Ela disse me dando um sorriso discreto.
Dei lhe um meio sorriso e olhei o meu príncipe mais uma vez.
- Ele vai ficar bem! Falei me sentindo forte pela primeira vez naquela noite.
- Olha Esther! Eu vou levar os meninos pra casa e vou dormir um pouco também... Assenti compreendendo o seu cansaço. -Mas se você precisar de qualquer coisa me ligue imediatamente! Eu volto mais tarde para ficar com vocês.
- Obrigada Luísa! Você é a melhor amiga que uma pessoa pode ter! Falei colocando meu braço sobre seu ombro e a abraçando.
- Imagina Esther! Hoje eu por você amanhã você por mim! Ela beijou meu rosto e deu um tapinha na minha mão. - Fica bem tá!
- Não conte a ninguém onde exatamente eu estou! Não pode ter alvoroço aqui... Ele está em observação! Falei.
- Tudo bem! Ela disse saindo e voltando junto aos outros.
Voltei meu foco para o quarto e ali eu fiquei o observando por algum tempo. Depois das seis e meia, um movimento diferente estava no corredor. Vi enfermeiros novos chegando e até os médicos não eram mais os mesmos. Ouvi eles pedindo planilhas e relatórios da noite anterior, eu sei que é errado, mas aproveitei esse descuido deles e joguei minha coberta no banco indo discretamente ao quarto do Pither.
Os enfermeiros estavam muito distraídos nem perceberam que a menina do cobertor não estava mais alí. Fechei a porta e me aproximei da cama vendo meu amor pela segunda vez.
- Oii! Eu não falei que ia voltar?! Toquei seu rosto sabendo que a qualquer momento alguém já ia me barrar, por isso aproveitei para acaricia-lo mais uma vez.
Vi suas sobrancelhas tremerem, depois seus olhos deram uma leve mexida. Meu coração quase saiu pela boca quando vi ele repetindo os movimentos tentando abri-los. Eles pareciam pesados pelo efeito anestésico que percorriam ainda seu corpo.
Pither piscou algumas vezes, então bem devagarinho pude ver o verde dos seus olhos resplandecer em mim. No início eles não tinham foco, vi sua boca abrir e ele vistoriar o lugar como se estivesse confuso.
- Bom dia meu amor! Falei mais perto do seu rosto.
- Onde eu estou? Ele disse com sua voz fraca e rouca.
- Tá tudo bem! Você está no hospital e eu estou com você!
Ele me olhou com seu olhar terno e encantador.
- Você é a enfermeira? Ele disse espontâneo.
- Não Neto! Eu sou a Esther! Falei não entendendo o que estava acontecendo.
-Hum... Ele respondeu sem se lembrar. E olhou as pessoas pelo vidro. - E a minha mãe? Que quarto ela está?
- A sua mãe? Perguntei surpresa.
- É eu capotei o carro e vi ela sendo arremessada para fora... Ele fechou os olhos como se sentisse o acidente.
"Meu Deus! Pither está unindo um acidente ao outro! Ele acha que está vivendo a sete anos atrás... E o pior não se lembra de mim!"
- A senhorita pode chamar a Naná? Ela é a pessoa que toma conta de mim.
- Neto! Você realmente não lembra de mim? Falei segurando a angústia para que ele não percebesse.
- A moça me chamou de Neto?! Engraçado... Ninguém me chama assim!
Soltei meu corpo num baque total, essa era a última reação que eu esperava dele. O médico entrou junto com a enfermeira, e eu sequei a lágrima que escondi no canto dos olhos.
- Aah então você já acordou?! O médico disse alegre ao entrar no quarto.
- E você é o que dele? O médico simpático perguntou ao se aproximar da gente.
Engoli em seco vendo Pither prestar atenção no que a enfermeira fazia trocando seus acessos e soros.
- Eu sou a noiva dele! Pither se virou pra mim com o cenho franzido, como se não entendesse do que eu falava. Desviei meus olhos dele e voltei a minha atenção para o médico. - Será que eu posso falar com o senhor um instante?
Ele assentiu e fomos para fora, me virei para o médico e ainda me contendo comecei.
- Doutor ele não se lembra de mim! Está associando esse acidente ao outro que teve aos dezoito anos de idade, onde levou a óbito a sua mãe! E meus olhos marejaram com a minha explicação desesperadora.
- Como é o seu nome? Perguntou.
- Esther senhor... Falei secando os olhos.
- Pelo que pude entender o paciente chegou aqui com uma bala alojada no fígado ontem a noite. Fizeram uma operação de risco e ele ficou em observação esperando o término da anestesia... Então Esther é normal que ele acorde confuso! Provavelmente ele continuará falando incoerências pois a lembrança mais forte da vida dele foi a morte da mãe!
- Doutor! Quanto tempo ele ficará assim? Perguntei aflita.
- Eu não posso diagnosticar agora... O cérebro humano é imprevisível. Pode demorar horas, dias, anos... E talvez ele nunca mais possa se lembrar!
(Pither)
Quando a Naná entrou no quarto eu enfim me senti com confiança. Ela estava abatida, olhos inchado e vermelhos.
- Oi meu filho! Como você está se sentindo?
- Estou me sentindo dormente... Falei me mexendo um pouco. - E o papai?
- Está aqui fora, esperando para entrar! Ela disse dando um meio sorriso.
- Você já foi ver a mamãe? Sabe se ela está bem? Perguntei.
Naná não me encarou. Seu olhar atormentado a entregou na hora.
- O que houve com a minha mãe, Naná?
- Pither! Você está meio confuso... Ela disse com a voz suave.
- Você está me escondendo alguma coisa que eu não sei?! Falei sério e em seguida tentei me levantar daquela cama.
- Pither não faça isso! Ela disse me segurando na cama. Foi aí que o lençol deslizou e eu vi um curativo na minha barriga. A ficha caiu!
- A minha mãe morreu não foi? Perguntei atento a sua resposta. - Me responde Diana!
Ela assentiu ainda cautelosa com a minha reação. Me deitei virando a minha cabeça pro lado analisando o quarto, canto por canto.
- Quanto tempo eu fiquei em coma? Perguntei sem olhar pra ela.
- Sete dias! Ela respondeu secando as suas lágrimas.
- E depois eu voltei pra casa... Você fez uma sopa pra mim, e meu pai desapareceu! Falei tendo alguns relapsos de memória do que tinha acontecido. - Diana eu me mudei pra Boston! Quanto tempo fiquei lá?
- Quase seis anos... Ela disse ainda alfita.
Fechei os olhos tentando me lembrar de mais coisas mais não consegui.
- Naná tem anos que ela está morta... Por que eu estou aqui novamente? E com esse corte horrível na barriga?!
- Pither tenta se acalmar! Por favor! Ela dizia preocupada.
- Me traga aquela enfermeira! Falei bravo. -Aquela que quando acordei estava aqui! A de olhos azuis!
- Pither ela não é... A interrompi.
- Anda logo Diana! Respirei fundo puxando o lençol impaciente.
Naná saiu triste e a porta se abriu de novo com a volta da tal moça misteriosa. Eu não a conhecia mais tê-la por perto me fazia muito bem.
- Me mandou chamar? Ela disse com um jeito angelical.
-Sim! Você pode medir a minha pressão? Falei me sentindo mais calmo.
- Me desculpe mas eu não sou enfermeira! Ela disse como se algo a machucasse.
- E quem você é? Perguntei curioso.
- Me chamo Esther! Ela disse com um olhar baixo.
- Se importa de me fazer companhia?
Ela balançou a cabeça em negativa, então pegou minha mão que estava sobre o lençol e a segurou de um jeito delicado.
- Você me conhece? Perguntei analisando seu rosto.
- Sim! Eu moro na sua casa! Ela disse se aproximando de mim.
- Sério? Perguntei agora conseguindo sentir mais o meu corpo, passando o efeito da anestesia. - E como foi parar lá?
- Você me trouxe! Ela disse dando um meio sorriso.
- E como você suporta o meu pai autoritário e cheio de manias?
- Ele está aprendendo a ser gentil comigo! Ela me disse paciente.
- Meu pai sendo gentil?! Sorri pela primeira vez. - Sabia que quando tento me mexer sinto um negócio estranho aqui do lado?! Falei reclamando.
- Quer que eu vá chamar o médico? Ela disse mostrando preocupação.
- Espera! Falei segurando sua mão para que não saísse. - Se você mora comigo e não é minha parente... Não que eu me lembre é claro! Mas você disse que vive na minha casa. Suporta o meu pai, supostamente me conhece... Por que estava aqui quando eu acordei?
Ela ficou muda por alguns instantes. Vi ela me varrer com os olhos como se aquilo fosse uma responsabilidade. Senti o peso de sua resposta.
- Porquê estou apaixonada por você! Arregalei meus olhos em surpresa. - Talvez você não se lembre de mim agora, de como nos conhecemos, das nossas risadas e de tudo o que passamos juntos...
- Me desculpa eu não sei quem é você... Faça eu me lembrar!
Ela assentiu e se aproximou de mim. A olhei assustado, mas seus dedos tocaram meu rosto de um jeito tão macio que eu desconheci o medo. Seus olhos azuis tocaram os meus, então seu nariz roçou a minha pele, ela me olhou uma última vez antes de seus olhos se fecharem e então me beijou. Acredite se quiser, e foi na boca ainda!!
(Esther)
Eu queria tanto que ele se lembrasse de mim que eu faria qualquer coisa. Inclusive beija-lo, mas acho que ele não sentiu nada! Enquanto eu me explodia por dentro... Queria que ele sentisse o mesmo!... Meu Deus! Esse amor não pode ter morrido dentro dele. As lembranças se vão mas o coração ninguém engana! Será que ele não consegue sentir nada com o meu olhar? Com o meu toque ou com o meu beijo? E o pior de tudo é, que mesmo que ele nunca consiga se lembrar vou ama-lo eternamente, e sempre com mais intensidade! Eu não me imagino sem ele! É o que eu peço todos os segundos dos meus dias a Deus... Que ele volte pra mim, porque se ele desistir eu perderei minha insanidade para sempre.
- O Senhor tem mais vida que um gato! Deve ter alguém lá no céu que gosta muito de você! O enfermeiro brincou entrando no quarto.
- Tenho Sim! Pither disse desviando seus olhos de mim para o enfermeiro que verificava seus medicamentos.
- Vamos dar uma olhadinha nesse curativo? Ele disse tirando o lençol e puxando o esparadrapo com calma. Uma coisa sobre mim, e eu não sabia... Eu tinha estômago para muitas coisas. Depois de tudo o que aconteceu eu fui perceber que nem o corte em sua barriga cheio de pontos não me assustava.
- Por que tiveram que fazer esse corte em mim? Pither perguntou confuso ao enfermeiro.
- O senhor tinha uma bala alojada, e precisou fazer uma cirurgia... Mais vai ficar bem!
O enfermeiro limpava o local onde foi feita a cirurgia e Pither voltou a me olhar. Não como antes, ele me via como uma estranha. Alguém que ele m*l conhecia.
- Quando eu posso embora? Ele perguntou ansioso para o enfermeiro.
- Logo! Você está se recuperando bem... Porém terá que ficar mais uns dias!
- Hospital me dá tédio! Pither disse fechando os olhos quando sentiu ardência ao se mexer na cama.
O Pai do Pither ainda não tinha entrado, e eu não poderia ser egoísta ficando com ele o tempo todo.
- Neto! Seu pai quer lhe ver... Eu... Eu volto mais tarde! Falei saindo e ele assentiu em seguida como se não se importasse.
Virei os corredores, e lágrimas rolaram pelos olhos. Sequei as disfarçando a angústia quando me aproximei de Naná.
- Eu pedi um táxi, vamos pra casa tomar um banho e nos alimentar! Assenti concordando com ela. Senhor Álvaro se aproximou vindo até a mim.
- Os peritos me disseram que tinham duas malas no porta malas do carro... Você sabe me dizer o porquê? Ele me perguntou, e eu abaixei minha cabeça sem graça. Pois sei bem que ele já sabia a resposta. - Vocês iam fugir não iam?
Balancei minha cabeça ainda sem encara-lo.
- E você Diana, sabia disso? Ele encarou ela com seu olhar sério.
- Sim senhor... Ela disse o olhando destemida.
- Pois bem! Eu não sei se dou uma bronca nas duas, ou as parabenizo pela honestidade! Levantei minha cabeça para olha-lo nos olhos. - Vão descansar! Eu vou ficar com o Pither! A polícia suspeita que pode ser uma tentativa de homicídio... Por isso não devemos deixa-lo um minuto sozinho!
- Senhor eu quero que saiba que o Pither perdeu parcialmente a memória... Suas últimas lembranças são de sua viajem para fora do país!
Ele assentiu entendendo perfeitamente o que eu queria dizer.
- Entendo... Não se preocupem ele vai ficar bem! Agora vão! O táxi já está aí na frente!
Naná e eu nos despedimos do Senhor Álvaro e voltamos pra casa. Na minha cara uma demostração total de desânimo! Eu estava extremamente feliz por ele estar reagindo, mas por outro lado eu sabia que estava o perdendo.
Chegamos em casa e Naná tentou acalmar os ânimos de todos os funcionários que tinham uma total devoção pelo menino, que eles praticamente o viram crescer. Querendo saber notícias.
Valdete sempre faladeira nos disse que Déborah tinha mandado buscar todas as suas coisas bem cedinho. E Naná se virou pra mim na mesma hora, como quem está pensando a mesma coisa que eu... "Suspeito!" Pensei.
Fui para quarto e tomei um banho. Tudo alí me fazia lembrar dele! A cama, o terraço, até o meu ursinho que também se chamava Neto... Parece que em todos os lugares haviam digitais, do que pra mim um dia foi sonho.
Depois do banho Naná bateu na porta, eu penteava os cabelos e pedi que ela entrasse.
- Eu sei que você é muito ruinzinha para comer, ainda mais agora com tudo o que está acontecendo... Por isso eu trouxe sua comida aqui pra cima!
- Obrigada Naná não precisava se incomodar! Eu amo você por isso! Falei vendo ela por a bandeja sobre a mesinha.
- Esther eu queria conversar com você! Assenti me sentando sobre a cama. - Filha! Você sabia que o Pither estava em perigo e onde exatamente ele estava... Por favor não minta pra mim como fez para os outros! Pois eu sei que não ia dar tempo de Pither te ligar! Como você descobriu?